12 julho 2021

"Forasteiros", o livro

Forza Palestra já vai para cinco anos de merecido repouso, mas, de quando em quando, sigo escutando uma pergunta cheia de razão: “Barneschi, cadê o livro que você prometeu?”


Bom, está aqui:


























Sim, amigas e amigos, o dia 13 de julho de 2021 marca o lançamento oficial de “Forasteiros - Crônicas, vivências e reflexões de um torcedor visitante”, meu primeiro e tão sonhado livro, publicação original da Editora Grande Área. 

As leitoras e os leitores do Forza Palestra sabem o quanto o blog atuava em defesa do torcedor visitante, e este foi o tema escolhido para minha estreia como escritor. O livro chega para contar a história deste protagonista que, solenemente ignorado pela mídia esportiva, explora arquibancadas hostis só para deixar suor e lágrimas em um pedaço de concreto isolado por grades e cercado por adversários. 

“Forasteiros” é um livro sobre futebol, mas os jogadores são personagens secundários, irrelevantes até. Não há espaço para análises táticas ou técnicas, e as raras descrições do que acontece dentro de campo têm função acessória diante do que realmente me interessa: as torcidas, os embates entre rivais, as interações sociais que se estabelecem em ambientes grandiosos e outrora populares. É uma obra dedicada a caravanas de ônibus, epopeias aeroportuárias, caminhadas torcedoras de um estádio a outro, batalhas campais. 

São 32 capítulos pensados meticulosamente para espelhar minha trajetória de 1.014 jogos em quase uma centena de estádios - e também as noites maldormidas em bons hotéis ou pulgueiros miseráveis e mais os botecos, as andanças por metrópoles ou pequenas cidades, os aeroportos, as rodoviárias, tudo aquilo que faz parte da vivência de quem viaja para ver um time ir a campo por 90 minutos. 

Tem de tudo um pouco, de decisões de Libertadores a jogos esquecidos no interior paulista, de duelos aguerridos nos maiores estádios do país a experiências quase antropológicas em pequenas canchas dos subúrbios bonaerenses. De gols redentores no último minuto até derrotas acapachantes em noites invernais. Tem o Superclássico argentino, o dérbi de Avellaneda e o Clássico Paceño a 3.600 metros do nível do mar. Tem o Corinthians x Vasco do Diego Souza, o confronto entre Los Borrachos del Tablón e PM no Morumbi e mais a porradaria do Campeón del Siglo em 2017. 

Os relatos funcionam como um registro histórico e sentimental de pelo menos 45 estádios em 28 cidades, percorrendo países como Brasil, Argentina, Bolívia, Chile e Uruguay. Há homenagens a canchas tão díspares quanto Caio Martins e Mineirão, Ilha do Retiro e Prudentão, Pituaçu e Olímpico. A Argentina, vocês podem imaginar, ocupa posição de destaque, em um percurso por nove canchas da Grande Buenos Aires, de La Boca a Mataderos, de Nuñez a Sarandí, de Avellaneda a Caballito. 

Tudo tem um significado e foi pensado nos mínimos detalhes: a capa com o Cilindro de Avellaneda, o gigantesco prefácio de Luiz Antonio Simas, as fotos de Gabriel Uchida (FotoTorcida), a escolha dos títulos (do livro e dos capítulos), o projeto gráfico cheio de personalidade, as referências culturais que aparecem de quando em quando. 

Ficou bonito, se me permitem deixar a modéstia um pouco de lado. 

E demorou, eu sei. Mas “Forasteiros” chega em grande estilo, com o padrão de excelência da Grande Área, a principal editora de livros de futebol do país. Agrupadas em um único volume, as crônicas, narrativas e reflexões constituem uma despudorada declaração de amor à arquibancada, ainda mais necessária nesses tempos sombrios em que ela virou parte das nossas mais intensas fantasias. 

Espero que, com o livro em mãos, vocês, leitoras e leitores, possam se sentir transportados para cada um dos estádios que dão sentido às nossas vidas. 

À arquibancada!

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SERVIÇO:

"Forasteiros” estará em pré-venda exclusiva na loja da Editora Grande Área a partir das 9h de 13/07/2021, terça-feira. Vai chegar ao mercado livreiro (Amazon, redes de livraria, canais de e-commerce etc.) depois de algumas semanas - e vai ter e-book também -, mas a compra direta com a editora garante condições especiais, conteúdos extras e a oportunidade de receber o livro muito antes.

15 dezembro 2015

Doces bárbaros















Meu texto sobre o título da Copa do Brasil está lá no ESPN FC.

Dezenas de ônibus estacionam em fila por todo o corredor exclusivo. Impossível avançar. Param os veículos e também a multidão que se aglomera mais à frente, ao lado, atrás, nas duas mãos da avenida. Rojões espocam, sinalizadores iluminam a noite, bombas-fumaça dão uma coloração esverdeada a um ambiente já explosivo. Os passageiros, sem alternativa, descem dos coletivos, o motorista desliga o motor, o cobrador filma aquela gente extasiada.

Um sujeito mais afoito se pendura na janela do ônibus. Dá um impulso e projeta o corpo para o teto. Outro vai atrás. Depois, mais um. Logo, são dúzias de torcedores em cima dos coletivos e das paradas do canteiro central da avenida Franscisco Matarazzo. Pulam, cantam, vibram. Erguem rojões, os fogos sacodem as janelas da zona oeste, os gritos de guerra tomam conta de toda vivalma a vestir verde e branco. Ao chacoalhar dos ônibus, transeuntes se assustam e atônitos policiais não sabem bem o que fazer – acabam por fazer nada.

Um desavisado que passasse por aquela avenida na noite visceral de 2 de dezembro de 2015 pensaria estar diante de um cenário de barbárie. Não deixa de ser verdade: o que se viu em todo o entorno do antigo estádio Palestra Itália nas horas anteriores e seguintes à decisão da Copa do Brasil foi uma demonstração absolutamente selvagem do amor de uma torcida pelo seu time. Por mais de 12 horas a vizinhança da moderna arena palmeirense testemunhou cenas capazes de transformar a mais despudorada noite de carnaval do mundo em uma festa de criança. Cenas de um amor desesperado e uma obsessão pelo título que acabou vindo muito por conta dessa devoção toda.
 
A verdade é que não houve, em toda a história centenária do estádio Palestra Itália, uma festa comparável à que fez a torcida palmeirense para celebrar a Copa do Brasil. Nem a final da Libertadores, nem os tantos duelos continentais disputados durante a efervescente era Felipão, nem qualquer clássico contra rivais históricos: não há termos de comparação. O 2 de dezembro de 2015 do palmeirense foi amor puro e intenso, tão bárbaro quando doce, fruto tanto da carência de títulos quanto do ambiente criado nas semanas anteriores aos jogos.

O elenco alviverde era tido pela mídia esportiva como o azarão diante de um adversário que ‘encantava’ pelo futebol rápido, vistoso e eficiente. O torcedor se alimentou dessa descrença ‘especializada’, dos palpites que davam o alvinegro praiano como virtual campeão, das provocações de jogadores rivais, da editora que publicou um pôster antecipado do oponente e de tudo mais que pudesse servir de combustível emocional.

Criou-se, pois, um clima de ‘nós’ contra ‘tudo e todos’. E, sob essa ótica, caberia ao torcedor virar um jogo que parecia perdido. Caberia a nós, os da arquibancada, dar o empurrão que faltava para que o time superasse a pretensa superioridade do rival. Se a vitória por 1-0 havia colocado o alvinegro em vantagem, servira também para manter o Palmeiras vivo e com relativa confiança, mais ainda depois de ver o adversário perder tantas oportunidades.

Incumbido desta tarefa, o palmeirense depositou naquela finalíssima toda a sua energia, como se fosse aquele o momento de salvar um ano que teve lá seus grandes momentos, mas que poderia terminar decepcionante sem o título. Toda essa energia foi canalizada por cada torcedor que trocou o sofá e todos os outros lugares do mundo pelas imediações do estádio.

Evitar aglomeração?

Pois a multidão alviverde tomou toda a região desde a tarde de quarta. Foi a nossa resposta contundente ao patético apelo da gestora do estádio para que evitássemos aglomerações e nos comportássemos como escoteiros. Pois aglomeramo-nos. Fizemos festa. Colaboramos – e muito – com a “prática do comércio ambulante”. Compramos tudo o que nos foi oferecido e, lá pelo meio da madrugada, demos por encerrado todo o estoque de cerveja dos que aproveitaram nossa festa para, honestamente, fazer uns trocados. E cantamos, vibramos, entramos em campo e jogamos com o time muito antes da noite chegar.

Lá pelas 18h, o sagrado cruzamento da Turiassu com a Caraibas já sinalizava o tamanho da festa que estava por vir. Éramos milhares, e mais dos nossos chegavam por todos os lados, como se houvesse espaço para mais gente. Em meio a todo o estoque de rojões e sinalizadores da cidade, o vento trazia um cheiro característico para os mais antigos: o das bombas-fumaça. “I love the smell of napalm in the morning”. Bandeiras desfraldadas, a bateria da Mancha Verde a ditar o ritmo, todas as músicas de arquibancada entoadas em sequência.

Tenho pra mim que só foi tão exacerbada a festa porque o novo estádio acabou por excluir muitos dos que estavam habituados a fazer a festa na arquibancada em tempos áureos – gente das organizadas, em especial. Sem poder comprar os ingressos, que passaram agora às mãos de um novo tipo de público, esses torcedores se viram obrigados a fazer a festa na rua. Antes. Durante. E depois. Se não seria possível cantar lá dentro para empurrar o time à vitória, então o jeito era participar do Corredor Alviverde na Matarazzo ou preencher cada centímetro quadrado das ruas que circundam a nossa casa. A história mudou para eles, e eles arquitetaram a noite histórica da torcida.

A coexistência de duas multidões distintas (a que entrou e a que sempre esteve lá) explica a dificuldade para se locomover ao redor do estádio durante toda a noite. Levava-se, tranquilamente, 10 minutos para percorrer um quarteirão, sendo carregado pela massa por sobre um caminho repleto de garrafas e latas. Não era possível virar o corpo para o lado sem esbarrar em alguém. E, como acontece em qualquer local com grande concentração de pessoas, houve quem se aproveitasse para praticar atos ilícitos ou cometer excessos. Contra emissoras de TV, jornalistas, indivíduos ou o patrimônio público.

Fato é que uma multidão desordenada abraçou um estádio por toda a noite, como quem fica de prontidão para garantir que tudo vai terminar bem, e um espetáculo belíssimo aconteceu dentro do nosso estádio graças ao entendimento entre a diretoria do clube e lideranças da organizada. O adversário sentiu o peso da torcida já no primeiro lance do jogo – e o nosso se fortaleceu graças ao grito de cada um que vestia verde. E nem todos os stewards do mundo seriam capazes de evitar uma cena belíssima: a torcida acompanhou o jogo em pé à beira do campo.

Fizemos história

Entendo, e até respeito, que alguém queira classificar tudo isso como selvageria. Que os vizinhos se sintam incomodados por não conseguir dormir. Que há quem tenha sido prejudicado pela exacerbação de todo esse sentimento. Que muitos possam ter queixas ainda mais graves a fazer ou até mesmo que os bravos, valorosos e destemidos homens do 2º BP Choque tenham ficado sem saber como agir diante de tão incomum manifestação – porque a verdade é que ficaram, e devemos a isso o fato de não termos tido mais um massacre na porta de casa.

Mas que não venha a gestora do estádio me dizer que uma noite como a que vivemos neste 2 de dezembro é “tão importante quanto o respeito aos moradores do entorno”. Até porque muitos deles não nos respeitam.

Nunca o entorno esteve tão dentro do jogo. Todo torcedor que girou a catraca pensou, em vários momentos da final, naquele inédito mar elétrico de gente em pé na rua esperando, sem arredar pé, o desfecho daquele dia selvagem. De modo que sair de um estádio nunca se pareceu tanto com entrar em um estádio. Esse pessoal abriu mão de ver o jogo com clareza, em troca de sentir o Palmeiras com todos os sentidos. Isso a crítica especializada em HD nunca vai entender. Não há mapa de calor para isso.

Além da Copa que fomos buscar no grito e da festa sem igual, travamos uma disputa por território. Não apenas o físico, o do entorno do estádio, mas o território simbólico, aquele do confronto entre o modelo das novas arenas e a cultura da arquibancada, entre interesses corporativos e a manifestação popular, entre o autoritarismo e a espontaneidade, entre a agenda de domesticação do torcedor e a certeza de que mandamos na nossa casa.

Fizemos história, senhoras e senhores! Vencemos essa Copa junto com o time. E, para que isso acontecesse, tivemos também de vencer a batalha pelo nosso território. Nunca é só um jogo que está em jogo. Avanti!

02 dezembro 2015

Seremos Palmeiras!

























Vila Belmiro, Santos/SP, quarta-feira à noite. Chove. Lá estamos, 824 alviverdes, pela quarta vez no ano. Chove como choveu em todas as outras vezes que lá estivemos – pelo menos é assim que registra a memória coletiva.

Somos 824, e tão acostumados estamos a representar o Palmeiras naquele estádio que é quase possível identificar pelo nome cada um dos que ali estão – é um sentimento de irmandade muito comum aos que viajamos para defender nossas cores por todos os lados. Daí então que, bem do meio daquele puxadinho que nos é destinado, nasce um canto (retrô) que logo vai ganhando força:

“Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Seremos campeões! (mais uma vez)”.

Seremos?

Talvez sim. Talvez não. E cada um de nós, eu imagino, vem sendo perseguido pelas mesmas inquietações, alternando momentos de confiança extrema, de pura ansiedade e de um pessimismo de tirar o sono. Ninguém escapa: os 40 mil privilegiados que estaremos no Palestra; os milhares aglomerados do lado de fora; os milhões que, pelo mundo, gritarão em direção à zona oeste da metrópole.

Eis que minha mente viaja longe, duas décadas em direção a um passado glorioso, para lembrar de tardes e noites dos princípios da minha adolescência no estádio. Eram poucos jogos ainda, uma meia dúzia ao ano, porque a mim não se permitia mais do que isso. Eram tempos, aqueles, em que cantávamos essa mesma música com enorme naturalidade, como se fosse impossível que as coisas tomassem outro rumo: sim, seríamos campeões – e, invariavelmente, fomos.

Agora já não se pode ter tanta certeza assim. A história inspira confiança; o time, nem tanto. A camisa nos precede e vai a campo; mas também a defesa que tomou gols em 29 dos últimos 30 jogos. Lá estará também a torcida que vem transformando o estádio inteiro em um Gol Norte nos jogos decisivos; mas também o treinador que parece não saber o que está fazendo. O retrospecto ajuda ou atrapalha, a depender da análise que se queira fazer. A arbitragem? Bom, trata-se de um obstáculo a mais. O adversário? É (ou está) melhor, bem sabemos. A mídia? É tão inimiga que isso pode até ser um fator de motivação.

E, sejamos pragmáticos, esse clima de desconfiança quanto à capacidade de reverter o resultado acaba até nos fortalecendo. Porque nossa história foi construída assim, à base de muita superação, de entrega, de perseverar quando nada mais nos era permitido. Como diz mestre Ezequiel: “Nunca duvidem do Palmeiras. Nunca. Enquanto existir uma camisa verde com um P no peito, deve haver respeito”.

Foi com esse espírito que, três anos atrás, a massa alviverde entrou em campo para empurrar em direção a nosso último troféu um catadão aos frangalhos: Bruno-Arthur-ThiagoHeleno-LeandroAmaro-MaurícioRamos-Juninho-Henrique-Assunção-JoãoVitor-MárcioAraújo-DanielCarvalho-Mazinho-Betinho. Um time obsceno, para dizer o mínimo. E campeão.

É a isso que devemos nos apegar para cantar que “seremos campeões! (mais uma vez)”. À festa que fizemos na noite fria de Curitiba em 2012. Aos segundos intermináveis entre o cruzamento para a área e o leve desvio de um herói improvável para fazer ecoar um estampido seco no gol de fundo do Couto Pereira. Às noites em que a Arena Barueri guardou para si muito da alma e do espírito do velho Palestra. À jornada felipônica que vivemos no saudoso Olímpico porto-alegrense. Ao petardo de Darci na semifinal de 1998. Ao tiro salvador de Agnaldo Liz em um pouco lembrado 1 a 0 contra o Botafogo. Ao gol espírita do eterno Oseas. À festa que fizemos nas molhadas arquibancadas do Morumbi naquela tarde de sábado. E, por que não?, aos dois gols de Euller quando tudo já estava perdido.

Devemos, também, lembrar com carinho de cada capítulo da trajetória que nos trouxe a este 2 de dezembro de 2015. O desnecessário sufoco contra o ASA. Os arroubos geniais do menino Jesus no Mineirão – e lá estivemos, poucos e bons, a empurrar o time quando ainda nem sonhávamos com o título. O empate suado que fomos buscar em um sempre inóspito Beira-Rio. O improvável cabeceio de Girotto que fez, pela primeira vez, o novo Palestra se parecer com o velho Palestra. Seis mil palestrinos em uma noite mágica no Maracanã e um pênalti redentor. O Gol Norte se espalhando por todo o estádio diante de um rival preso na garganta desde 2009. Barrios duas vezes. A defesa de Prass. Os pênaltis. A explosão. O alívio. E a final na Baixada: o pênalti não marcado, os gols perdidos de parte a parte, as discussões, a tensão onipresente, a nossa torcida fazendo mais barulho que os mandantes já na madrugada...

Não pode ter sido à toa.

“Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Seremos campeões! (mais uma vez)”.

Seremos?

Certeza não se pode ter, mas lutaremos por isso. Queremos a Copa. Queremos buscar o que é nosso. E faremos, a partir da arquibancada, tudo o que for possível e imaginável para que isso aconteça.

Seremos Palmeiras! E isso, esperamos, haverá de ser o bastante.

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- Sobre o infeliz comunicado da gestora do estádio – e a conivência de um Palmeiras vítima de uma gestão elitista –, o post do Paulo Silva Jr. é mais do que necessário. De minha parte – e espero que relativizem o exagero –, a mensagem que deixo para cada palmeirense é a seguinte:
“Aglomeremo-nos. Compremos todas as cervejas e lanches do comércio ambulante. E mijemos no portão de cada dona Antonieta da Pompeia. Que os vizinhos do entorno respeitem o estádio que define aquela região há mais de século.”

- Outro ponto importante: muito cuidado com a PM. Antes, durante e depois do jogo. Lembremo-nos do que aconteceu em 2008, em 2012 e agora mesmo em 2015.

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Texto originalmente publicado no ESPN FC.

20 outubro 2015

Além da expectativa

Escrevi um post, há duas semanas, solicitando que nossa diretoria tivesse o devido cuidado com o torcedor palmeirense por ocasião da partida decisiva que iremos disputar no Maracanã. O pedido era simples: que parte da carga de ingressos fosse comercializada aqui em SP, no nosso estádio, e também pela internet.

Eis que a diretoria alviverde foi além de qualquer expectativa:

Sim, os bilhetes para o setor visitante estão sendo vendidos nas bilheterias do Palestra Italia e também na internet, pelo site do Maracanã. O inesperado: sócios Avanti (de qualquer plano) têm direito a 50% de desconto no ingresso como visitante - de R$ 50 para R$ 25.

R$ 25 por um ingresso para uma semifinal de Copa do Brasil, vejam os senhores! Ninguém poderia esperar por isso, mas nossa diretoria conseguiu uma condição absolutamente vantajosa para todos nós que iremos ao Rio.

Registro aqui meu agradecimento à diretoria e reitero que isso deveria ser uma prática em todos os jogos do Palmeiras como visitante - não necessariamente o desconto, porque isso depende de uma série de variáveis, mas sim a venda aqui em SP.

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_Nossa diretoria errou feio ao colocar o público do Gol Norte (inclusive as organizadas) no tobogã na partida contra o Grêmio. Mas corrigiu o erro e as coisas voltam à normalidade no duelo contra o Sport: público do Gol Norte entrando pelo portão principal e ingresso a R$ 40. Parabéns!

_Até amanhã no Maraca!

08 outubro 2015

Sobre ingressos e a tabela do Paulistão

Um post exclusivamente propositivo – e é justo esperar que, em benefício da Sociedade Esportiva Palmeiras e em defesa do seu torcedor, a diretoria ao menos leve em consideração as sugestões aqui apresentadas:

1. Sobre ingressos para a semifinal da Copa do Brasil

É sabido que a gestão atual não dá muita importância a “torcedores visitantes” – sejam eles os adversários que visitam a nossa casa, sejam os alviverdes que viajamos para ver o Palmeiras em outras canchas. Mas vou deixar de lado, ao menos por ora, apontamentos outros a respeito do tema para me concentrar na semifinal da Copa do Brasil.

Fato é que o Palmeiras vai enfrentar o Fluminense no Maracanã e muitos de nós iremos até lá. É de se esperar, pois, que nossa diretoria tenha a decência de solicitar ao clube carioca a cota de ingressos de visitante (em torno de 7 mil, ou 10%) para venda nas bilheterias do Palestra Italia e também pela internet. Neste segundo caso, facilita muito o fato de o nosso adversário trabalhar também com o sistema do Futebolcard.

Afinal, se já existe uma parceria estabelecida com o Flamengo para que os bilhetes de visitante sejam vendidos por este sistema, seria de bom tom agora firmar o mesmo acordo com o Fluminense para que palmeirenses tenhamos essa facilidade no jogo do Rio e os cariocas também no jogo a ser disputado aqui em SP.

Nas duas fases anteriores, contra Cruzeiro e Internacional, os ingressos foram vendidos apenas no Mineirão e no Beira-Rio, em um processo que não foi exatamente dos mais agradáveis e/ou seguros. Em ambos os casos, o Palmeiras não solicitou a carga para venda em SP ou por um sistema online (Cruzeiro e Inter também usam o Futebolcard) e colocou seu torcedor em risco. Agora, com o Rio aqui bem perto, é de se esperar que muito mais gente compareça; cabe ao Palmeiras defender o seu torcedor.

2. Sobre a tabela do Paulistão/2016 

Já se sabe desde agora que o nosso estádio será palco de três grandes shows entre os dias 17 e 26 de março do próximo ano. Será um intervalo grande, possivelmente impedindo jogos alguns dias antes e outros tantos depois.

Uma vez que a tabela do Paulistão ainda não foi divulgada, o Palmeiras pode – e deve – se movimentar para reduzir os prejuízos causados pela indisponibilidade de seu estádio. Basta, para isso, solicitar à FPF, por ocasião da montagem da tabela, que o alviverde seja visitante nas rodadas 11 e 12 – logo aquelas que coincidem com os dias de shows.

Há ainda indefinições quanto à outra competição que disputaremos no primeiro semestre (se a Libertadores ou se as fases iniciais da Copa do Brasil), mas essas tabelas serão resolvidas mais adiante. A do Paulista, por sua vez, já será conhecida agora em outubro, e então o Palmeiras já deve se posicionar para evitar um prejuízo ainda maior do que o que já vai ter.

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No primeiro caso, é questão de boa vontade; no segundo, de articulação. Em ambos, há somente vantagens para o Palmeiras e para os palmeirenses.

05 outubro 2015

BR/2015: números de uma campanha bipolar

O Palmeiras sofreu neste domingo a sua primeira derrota (em absurdas 10!) no Brasileirão/2015 por mais de um gol de diferença. Tal situação, por sinal, não ocorria desde a fase classificatória do Paulista, em um horrendo 0-2 para o Red Bull em Campinas. O fato de termos sofrido antes nove derrotas pela diferença mínima (0-1 ou 1-2, sempre) não tira o peso de tais insucessos. Afinal, é difícil afirmar qual das derrotas sofridas neste Brasileiro/2015 foi a mais irritante: se os dois tropeços diante de pequenos em casa, se o apagão em Goiânia, se o fato de termos ressuscitado Cruzeiro e Coritiba em partidas apáticas, se os fracassos grotescos diante dos catarinenses...

Fácil é constatar que, em que pesem todas as evoluções registradas neste ano, temos ainda um time pouco confiável e que corre riscos em demasia (conseguimos sair de campo sem levar gol apenas uma vez nos últimos 19 jogos). Temos um time capaz de vitórias grandiosas (superamos todos os grandes, à exceção do Atlético/MG, neste 2015) e de vexames absurdos quase que na mesma medida. Temos um time que oscila entre partidas de superação absoluta e atuações modorrentas. Temos um time que constrói capítulos marcantes de nossa história contra outros grandes, mas que não consegue se impor diante dos pequenos.

Daí então que parece inevitável olhar para esta campanha irregular no Brasileiro/2015 (29j-13v-6e-10d) e ficar com a sensação de que o grupo que aí está conseguiu jogar no lixo muitos dos momentos marcantes que foram construídos ao longo da competição.

Bem ao contrário do que é do meu feitio, não seguirei dando minha opinião sobre o que estamos vivendo. Vou apenas deixar alguns números para apreciação e análise de cada um de vocês. São estatísticas que eu vou atualizando jogo após jogo e que me parecem relevantes para entendermos o momento atual. Acompanhem e tirem suas próprias conclusões:

Campanha em casa
14j-9v-3e-2d (71,4%)
Campanha fora de casa
15j-4v-3e-8d (33,3%)

Contra times do eixo Rio-SP 10j-8v-2e-0d (83,3%)
Contra times de todos os outros estados 19j-5v-4e-10d (42,2%)

Nos clássicos estaduais
5j-3v-2e-0d (73,3%)
Contra cariocas
4j-4v-0e-0d (100%)

Jogando no Sul do país (RS, SC e PR)
6j-0v-1e*-5d (5,5%)
*o solitário empate foi obtido em um jogo com portões fechados

Jogando fora do eixo Rio-SP (como visitante*)
10j-0v-2e-8d (6,6%)
*exclui-se, pois, o jogo contra a Ponte em Cuiabá/MT 

Contra outros grandes (10 clubes) 15j-8v-4e-3d (62,2%)
Contra os pequenos (9 clubes)
14j-5v-2e-7d (40,4%)

Contra os times do 1º ao 10º lugar
14j-7v-4e-3d (59,5%)
Contra os times do 11º ao 20º lugar 15j-6v-2e-7d (44,4%)

Contra os times de SC como mandante 4j-4v-0e-0d (100%)
Contra os times de SC como visitante
3j-0v-1e-2d (11,1%)

As derrotas sofridas neste BR/2015
Palmeiras 0-1 Goiás/GO
Figueirense/SC 2-1 Palmeiras
Grêmio/RS 1-0 Palmeiras
Palmeiras 0-1 Atlético/PR
Cruzeiro/MG 2-1 Palmeiras
Coritiba/PR 2-1 Palmeiras
Atlético/MG 2-1 Palmeiras
Goiás/GO 1-0 Palmeiras
Internacional/RS 1-0 Palmeiras
Chapecoense/SC 5-1 Palmeiras 

As vitórias como visitante
SCCP/SP 0-2 Palmeiras
Ponte Preta/SP 0-2 Palmeiras (fomos um visitante com 98% da torcida)
Vasco/RJ 1-4 Palmeiras
Fluminense/RJ 1-4 Palmeiras

Campanha no Palestra Italia em 2015
30j-22v-4e-4d* (77,7%)
*todas as derrotas em casa foram sofridas pelo mesmo placar (0-1) 
**se acrescido o jogo contra o Grêmio, no Pacaembu, o aproveitamento chega a 78,4% 

Há muito o que depreender dos números acima – alguns são bem assustadores. Mas, por ora, eu gostaria apenas de contrapor alguns cifrões – porque há entre os nossos quem só consiga entender essa linguagem:

Rodada 29 
SPFC e SFC jogaram em casa, venceram e ultrapassaram o Palmeiras na tabela de classificação. O SFC tomou nosso lugar no G4; o SPFC nos jogou para a sexta colocação.

 Aos cifrões:

Média de renda do Palmeiras como mandante no BR/2015: R$ 2.167.955,00 (ticket médio: R$ 67)
Renda do SPFC na rodada 29: R$ 287.345 (ticket médio: R$ 25,96)
Renda do SFC na rodada 29: R$ 298.780 (ticket médio: 39,88)

Peço que ignorem os fatos de o SPFC viver uma crise aparentemente indissolúvel desde o início do BR/2015 ou de o SFC ter iniciado a competição como candidato ao rebaixamento. Mas tomem os números acima como um bom referencial para a próxima vez que um canalha aparecer na sua frente querendo apontar uma relação direta entre ingresso caro e time bom. Falácias são combatidas assim.

03 junho 2015

705

Fica aqui o registro para a posteridade: em clássico contra o SCCP, no Itaquerão, em 31/05/2015, o Palmeiras se viu representado na arquibancada por 705 de seus propalados 16 milhões de torcedores - diante de pouco mais de 29 mil rivais.

De novo: SETECENTOS E CINCO.

Da carga de 1.800 ingressos destinados à torcida visitante, mais de mil ficaram na bilheteria.

O que isso representa: nunca antes o Palmeiras levou tão pouca gente a um estádio em duelos contra seus rivais paulistanos. Nunca.

A pergunta que se faz: como isso pôde acontecer?

Bom, basicamente porque a parcela da torcida que vai a todos os cantos se viu sufocada pela precificação doentia do senhor Paulo de Almeida Nobre, ao mesmo tempo em que a claque que o bajula comprovou ser incapaz de colocar os pés em outro estádio que não o Palestra Italia.

É emblemático que este clássico tenha ocorrido exatamente em um dia 31. Se gente como Paulo Nobre desconhece o significado da expressão "fim do mês", a dificuldade de fechar as contas antes de cair o próximo salário afeta boa parte da torcida - em especial os dispostos a encarar o transtorno de um jogo em Itaquera (que consome metade de um domingo entre a ida e a volta para casa). A maior parte dos habituados a tal sacrifício se viu impossibilitada de desembolsar R$ 100 por um ingresso - ainda mais com o bolso machucado depois de tantos meses direcionando pequenas fortunas para bancar o Avanti e os bilhetes inflacionados em casa ou fora (R$ 100 na semifinal do Paulista, R$ 210 na final etc.). Daí então que saímos da Barra Funda em direção à zona leste não os 1.500 habituais, mas cerca de 400.

Quanto aos aduladores da gestão que aí está, muitos dos quais se apoiam em discursos falaciosos para avalizar práticas elitistas, não se pode esperar muita coisa. Alguns poucos, é bem verdade, até se fazem presentes lá entre os 16 do Nobre, mas essa gente dos camarotes não conta muito para efeito de apoio ao time.

(Aliás, como tem passado, zelador? Muita bajulação ao #deusnobre? Muitas vistorias a estádios que você nem imaginava conhecer antes de virar puxa-saco? Muito nepotismo?)

Como eu já venho dizendo há tempos (a começar por este post aqui, de fevereiro), é o próprio torcedor do Palmeiras que vai pagar já está pagando a conta pela insanidade de um único sujeito. Ao cobrar R$ 200 R$ 100 da torcida do SCCP no clássico do Paulista, o mandatário alviverde acaba impondo um valor mínimo a se cobrar dos palmeirenses que resolverem empurrar o time contra seu maior rival fora de casa. (E o ingresso a R$ 200 pode se concretizar no Morumbi, uma vez que não houve acordo com a diretoria no SPFC no duelo em que afastou-se a torcida visitante pelo bolso).

Tem-se, pois, que todas as torcidas que forem ao Itaquerão pagarão um preço fixo igual ao cobrado dos locais (R$ 50), reservando-se apenas e tão somente aos palmeirenses um valor diferenciado (R$ 100), em represália aos preços praticados no nosso estádio.

O mesmo acontecerá no Morumbi, na Vila Belmiro, no Rio, em Minas, em Porto Alegre, em Curitiba, em Florianópolis, em qualquer cancha. O torcedor palmeirense será punido em todos os estádios visitados pelo Palmeiras apenas e tão somente porque a política de precificação levada a cabo pelo senhor Paulo de Almeida Nobre é desconectada da realidade e não tem qualquer compromisso com quem avança além das fronteiras da Pompéia.

Paulo Nobre, aquele que arruinou o centenário da Sociedade Esportiva Palmeiras, passa para a história também como o responsável por fazer o alviverde imponente ser representado por apenas 705 torcedores logo no dia de nossa primeira vitória em clássicos na condição efetiva de visitante - porque na anterior, em 2002 contra o SPFC, a arquibancada ainda era dividida ao meio.

Paulo Nobre é o responsável por selecionar pelo bolso quem pode e quem não pode ir empurrar o clube como visitante - mas os seus escolhidos simplesmente não estão a fim de fazer tal sacrifício pelo Palmeiras. Por conta de sua mentalidade, foram impedidos de ver o Palmeiras disputar um clássico na cidade de São Paulo mais de mil palmeirenses que conhecem o significado da expressão "fim do mês".

Ou se muda a política de precificação para as torcidas visitantes na nossa casa ou o torcedor palmeirense seguirá pagando muito caro pela insanidade de uma única pessoa.

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Consta, no borderô da partida, que cada um dos 705 visitantes pagou R$ 100 pelo bilhete, totalizando R$ 70.500. Não foi bem assim.

Muitos efetivamente pagaram R$ 100. Eu, por exemplo. Fui até a bilheteria do Pacaembu e comprei lá o meu ingresso:
















Para conselheiros do clube, no entanto, os mesmos ingressos estavam disponíveis por módicos R$ 25:

















Como explicar isso?

Qual é a justificativa para a venda a R$ 25 (1/4 do valor cobrado do torcedor que foi à bilheteria) de ingressos que tiveram a "Sociedade Esportiva Palmeiras" como cliente?

Se R$ 70.500 entraram nos cofres do SCCP, quem pagou por essa diferença entre o valor arrecadado pelo nosso rival e o que foi cobrado dos conselheiros da SEP?

Com a palavra, Nobre e seus aduladores.

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Mais dois posts altamente necessários sobre a insanidade financista que tomou conta do Palmeiras e que vai custar muito caro para as próximas gerações:

Não falta competência. Falta é bom senso

Avanti cobra ingresso de Maria Eduarda. Ela tem seis meses

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Sobre a maiúscula vitória obtida em território inimigo, creio ser o caso de apenas reproduzir o post escrito após a semifinal do Paulista. Aqui, sim. De novo.

11 maio 2015

O rei está nu

Em campo, um time nervoso, afobado, errando o que podia e o que não podia. Vem mais um ataque do adversário que, outrora saco de pancadas, virou carrasco. A bola chega, como que por acaso, aos pés de um pobre diabo. Gol. Parte do estádio irrompe em um grito que merece ser estudado: "Ei, Mancha, vai tomar no cu."

Por quê?

A resposta: porque a organizada, em protesto contra o vigente processo de elitização, passara os 90 minutos calada, com cada um de seus integrantes sentado no devido lugar, adotando exatamente o comportamento que é ditado por muitos dos que partiram para a ofensa: o de uma plateia no teatro.

É isso, sem tirar nem por.

Mas é necessário avançar no debate.

O que, afinal, motivou a voracidade daqueles que frequentam os setores centrais e os camarotes do nosso novo e moderno estádio?

Apresento algumas hipóteses e deixo aberto o espaço para que os leitores escolham a mais palatável. Fiquem à vontade.

(  ) A - Foi uma espécie de chilique, coisa momentânea, compreensível se levarmos em conta o autor do gol que nos colocou em desvantagem no placar. Depois daquilo, alguém haveria de pagar o pato e, convenhamos, não poderia existir alvo melhor do que uma torcida organizada. Afinal, é muito cômodo se posicionar contra "aquele bando de bandidos e marginais travestidos de torcedores".

(  ) B - A reação foi assim uma espécie de manifestação neoliberal e em defesa da elitização no futebol. "Quem esses caras pensam que são para protestar contra #deusnobre, o benevolente homem de negócios [???] que transformou o Palmeiras em uma potência dentro e fora de campo?". "Tem que aumentar ainda mais o preço do ingresso para conseguirmos expulsar esses vândalos". "Se você for Avanti 5 estrelas, tiver Itaucard Platinum e for um dos 500 primeiros, consegue pagar um valor baixo pelo ingresso; essa gente precisa parar de reclamar sem motivo". "Não tem dinheiro? Então fique em casa e veja pela TV, seu pobre!"

(  ) C - Foi, de certo modo, um despertar de consciência, com muita gente se dando conta da verdade inesgotável: sem a força da organizada, o estádio não vibra. Mas, afinal, não há certa contradição aqui? Vejamos: os caras têm se esforçado tanto para transformar nossa casa em um teatro (com preços obscenos, com vergonhosas micagens no telão e com um presidente que deseja impor a torcida única à força) e, quando conseguem, xingam logo aqueles que permitiram que isso acontecesse? Ou, posto de outro modo, seria a revolta dos que se sentiram desnudados com a inoperância do restante do estádio? Aí, ficando evidente a incapacidade de empurrar o time dentro de campo por conta própria, o que fazem é ofender os que jogaram luz sobre a apatia generalizada?

(  ) D - Nobre, seus asseclas e todos aqueles que, palmeirenses ou não, atuam em nome da agenda elitista podem ter ido tão longe na causa que já há quem se porte exatamente conforme o esperado: são consumidores e não torcedores. Se o cidadão está pagando (caro) pelo acesso ao estádio, entende que está contratando um pacote que deve incluir, entre outros mimos, um bando de selvagens a pular e a cantar incessantemente para que ele, sentado confortavelmente em sua cadeira numerada, possa desfrutar do espetáculo. É como o sujeito que vai ao zoológico e resolve xingar o leão porque ele não apareceu naquele dia. "Eu paguei o combo completo! Por que esses animais não vão cantar hoje?". Não demora muito e alguém vai acionar o Procon porque a organizada não fez festa.

E então, caro leitor, que alternativa melhor explica o xingamento entoado por parcelas mais abastadas do público em reação ao protesto da torcida organizada?

De minha parte, vejo uma combinação de todos esses fatores, uns mais do que outros.

O coro de "Ei, Mancha, vai tomar no cu" ressalta a fragilidade por trás de tudo o que pensam os defensores da política elitista e excludente do senhor Paulo Nobre. Porque, vejam os senhores, a entidade Mancha Verde foi atacada exatamente por não desempenhar a função que costuma exercer em todos os jogos e em qualquer estádio, mesmo contra a vontade do mandatário que aí está. A entidade Mancha Verde foi atacada por se comportar passivamente, como ocorre em boa parte do estádio, e por seguir exatamente o padrão de comportamento que se espera nessas 'novas arenas'.

O coro de "Ei, Mancha, vai tomar no cu" acabou por validar o protesto, ao expor uma torcida rachada e que, muito pela política excludente da gestão que aí está, já não tem mais a mesma força de antes. Se o que queria a Mancha era "colocar em questão o papel importante das torcidas organizadas e o quanto elas são fundamentais para transformar o estádio em um caldeirão", então o objetivo foi plenamente alcançado.

O rei está nu e a contradição, colocada: os defensores da elitização praticam preços de teatro e querem festa de arquibancada; tentam impor um novo padrão de comportamento e exigem incentivo de uma torcida que se vê mais excluída do estádio a cada dia que passa.

Decidam-se, pois. É uma coisa ou outra, e o jogo deste sábado representa um marco neste embate entre um Palmeiras popular, aberto a todos e com torcida em todo o país e um Palmeiras excludente, idealizado para os que têm muito dinheiro e se preocupam mais em aparecer no telão e em aplaudir a renda.

Por ora, fica uma triste constatação: será muito difícil esquecer o dia em que, na nossa casa, atacou-se quem estava defendendo os setores mais populares da nossa torcida.

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Fever Pitch (Nick Hornby), páginas 76 e 77:

"Os grandes clubes parecem ter se cansado das suas torcidas, e sob certo aspecto quem pode culpá-los? Jovens trabalhadores e homens de classe média baixa trazem consigo problemas complicados e ocasionalmente perturbadores; os diretores e presidentes podem argumentar que eles tiveram sua chance e a desperdiçaram, e que as famílias de classe média - o novo público-alvo - não só irão se comportar bem, como pagar muito mais para fazê-lo. Esse argumento ignora questões básicas que envolvem responsabilidade, justiça e o papel que os clubes têm ou não a representar nas suas comunidades. Mas mesmo sem essas questões, parece-me haver uma falha fatal nesse raciocínio. O prazer que um estádio de futebol pode proporcionar é, em parte, uma mistura do vicário com o parasítico, porque a não ser que a pessoa poste-se no Lado Norte, no Kop ou na Ponta Stretford, fica dependendo dos outros para que a atmosfera seja criada; e a atmosfera é um dos ingredientes cruciais da experiência futebolística. Essas torcidas imensas são tão vitais para os clubes quanto os jogadores, não só porque seus membros são eloquentes no seu apoio, não só porque fornecem aos clubes grandes somas de dinheiro (embora esses fatores não deixem de ser importantes), mas porque sem as torcidas ninguém se daria ao trabalho de ir ao jogo. O Arsenal, o Manchester United e todo o resto têm a impressão de que as pessoas pagam para ver Paul Merson e Ryan Giggs, e é claro que elas fazem isso. Mas muita gente - o pessoal das cadeiras que custam vinte libras, e os caras dos camarotes-executivos - também paga para ver a torcida que foi lá ver Paul Merson (ou para escutar a torcida gritar com ele). Quem iria comprar um camarote-executivo se o estádio estivesse cheio de executivos? O clube vendia os camarotes incluindo a atmosfera de graça, de modo que o Lado Norte gerava tanta renda quanto qualquer um dos jogadores. Mas quem irá fazer o barulho agora? Será que a garatoda suburbana de classe média ainda virá com suas mamães e papais se o barulho tiver de ser feito por eles mesmos? Ou será que se sentirão tapeados? Porque a realidade é que os clubes estão lhes vendendo ingressos para um espetáculo no qual a atração principal foi afastada para dar lugar a eles. Mais uma coisa sobre o tipo de plateia que o futebol resolveu atrair: os clubes vão ter de garantir a qualidade, garantir que não haverá anos de vacas magras, porque o novo público não tolerará fracassos. Essas pessoas não são do tipo que irá ver o time jogar contra o Wimbledon em março, estando em décimo primeiro lugar na Primeira Divisão e fora de todas as disputas de títulos. Por que deveriam ir? Elas têm muitas outras coisas para fazer. Portanto, Arsenal... nada de escritas perdedoras de 17 anos de duração, feito aquela entre 1953 e 1970, certo? Nada de ficar flertando com o rebaixamento, feito em 1975 e 1976, nem nada de meia década sem sequer chegar a uma final, feito a que nós tivemos entre 1981 e 1987. Nós, fregueses de caderno, aturamos tudo isso, e pelo menos 20 mil de nós aparecíamos lá por pior que o time jogasse (e às vezes jogava muito, muito mal mesmo); mas essa turma nova... não tenho tanta certeza assim."

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O Leandro Iamin, brilhante, fez uma análise bem racional de todo este cenário. Vale pelo texto em si e para que se tenha noção, a partir dos comentários, do nível de alienação e afetação que tomou parte de boa parte de nossa torcida. É absolutamente desesperador.

04 maio 2015

Em frente




















Perdemos um Campeonato Paulista que poderia ser nosso se detalhes tivessem pesado a nosso favor – mas eles pesaram contra. Deixamos escapar o 23º título estadual em meio a falhas individuais e azares coletivos. Perdemos, afinal, porque faltou a intensidade que sobrou em outros momentos desta trajetória e porque o adversário soube aproveitar melhor as oportunidades.

Acontece; é o futebol.

Ao deixar a Vila Belmiro ontem, a sensação era bem diferente da que me nos perseguiu em todas as eliminações de anos anteriores. O Palmeiras/2015 não foi campeão (ainda?), mas tampouco se aperfeiçoou na terrível arte das derrotas absurdas, inexplicáveis e impossíveis. Pelo contrário: dessa vez conseguimos encontrar explicações para a derrota, e elas são não apenas razoáveis, mas também aceitáveis.

Dessa vez, senhores, não há terra arrasada; é tudo questão de promover os ajustes necessários.

Se outras eliminações recentes me faziam deixar o estádio praticamente carregado, sem forças e sem condições psicológicas de esboçar qualquer reação, o Paulistão de 2015 teve para o Palmeiras um efeito revigorante. Tanto que eu deixei aquela pocilga não de cabeça baixa e com a certeza de que acabara de acompanhar uma derrota traumática, mas de peito aberto, vociferando contra os mandantes ali do setor ao lado e com a certeza de que é preciso seguir em frente.

Até sábado!

30 abril 2015

Os 16 do Nobre

O discurso é bem ensaiado. Tanto que se adapta aos números e às circunstâncias com extrema facilidade:

“Não governo para dois mil que vão aos jogos do Palmeiras fora de casa. Governo para 16 milhões”.
Paulo Nobre, tentando justificar a obsessão doentia por torcida única em clássicos – e também em outros jogos

“Eu administro o Palmeiras para 16 milhões de pessoas. Não só para 30 mil, 40 mil que vem ao estádio”.
Paulo Nobre, irônico, abusando das habituais falácias e fazendo pouco caso dos 40 mil que pagamos valores extorsivos para ver o Palmeiras disputar a primeira final em sua nova casa e mais ainda daqueles que foram alijados do estádio

Houve o tempo do Nobre choramingando pela falta de dinheiro em caixa. Também o tempo do Nobre que não queria ser refém do centenário – e que quase arrastou clube e torcida para o inferno do rebaixamento. Veio, depois, o Nobre “capacho do MP” – e este continuará na ativa até que seja feita a sua vontade doentia. Este mesmo apostava na tática de maltratar os números para criar falácias travestidas de argumentos. E há agora, na iminência de um título, o Nobre prepotente, que joga aos leões (ou aos peixes, como quiserem) o seu torcedor.

Não, Nobre não governa para os, segundo ele, “dois mil” que vão aos jogos do Palmeiras fora de casa. Tampouco para os “30 mil, 40 mil que vem ao estádio”. Menos ainda para os que não podem arcar com a extorsão nossa de cada semana no novo Palestra. Nobre governa para seu próprio ego e, no máximo, para sua corja de aduladores. Nobre governa para seu irrefreável apetite por dinheiro e, com boa vontade, para uma meia dúzia de asseclas.

Meia dúzia? Melhor seria dizer 16. Os mesmos 16 que apareceram ao lado do mandatário alviverde em um confortável camarote no estádio de nosso maior rival, em foto que circulou livremente pelas redes sociais. Não, não vou aqui publicar a imagem em questão, mas os 16 que ali aparecem, ao lado de um Nobre com a língua de fora, são os cúmplices que dizem amém para todas as atrocidades que vêm sendo cometidas por esse sujeito contra a Sociedade Esportiva Palmeiras e contra sua gente.

Por sinal, cabe repetir que a ida de 1.886 representantes de verde ao estádio de Itaquera ocorreu contra a vontade de Paulo Nobre. Só fomos até lá porque avalizados por Mário Gobbi, presidente do SCCP até a véspera do dérbi ocorrido em nosso estádio em fevereiro. Foi Gobbi que, ao bater o pé em entrevista coletiva na antevéspera do jogo, garantiu a presença de 1.500 visitantes no nosso estádio e, de quebra, assegurou que pudéssemos ir a Itaquera dois meses depois.

Se dependesse de Nobre, o Palmeiras não teria tido sequer um torcedor no Itaquerão. Nossos atletas teriam entrado em campo diante de 40 mil inimigos, sem qualquer respiro em meio a uma pressão que viria de todos os lados. Não se ouviria um grito sequer de incentivo às nossas cores, os jogadores não teriam para onde correr na hora da comemoração, não haveria nada – a não ser uma pequena corja reunida em um camarote escondido – a representar 16 milhões em meio à massa adversária. E nada disso aqui teria acontecido.

Fomos, 1.886, até território inimigo de trem e caminhando 8km na ida e na volta, sob chuva. E faríamos tudo de novo, porque é nosso direito e nosso dever. Mas, no que dependesse de Nobre e de seus asseclas, o Palmeiras seria representado no Itaquerão – e em outras canchas – por aquele pequeno grupelho que tomou o poder para achacar a torcida semana após semana.

Esqueçam os 16 milhões do discurso falacioso.

O ego de Nobre enxerga toda essa gente como cifrões.

Daí então que, na base do “eu acho”, “eu penso”, “eu acredito” e “eu quero”, responde às demandas da torcida com ingressos a obscenos R$ 88 para ver um jogo no telão, ignora as manifestações populares e perpetua uma sequência de atentados contra o palmeirense: como se não bastasse o ingresso a R$ 210 para a finalíssima (e eu venho fazendo esse alerta há meses), Nobre coloca em risco os palmeirenses que terão de ir comprar os bilhetes logo na casa do rival. Uma temeridade sem tamanho.

Mas não há de ser nada; o que importa, para Nobre, é colecionar recordes de arrecadação, vomitar discursos falaciosos e prepotentes para refutar manifestações em contrário e, claro, encher o camarote com seus aduladores.

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Ao zelador – e ele vai entender:
Enquanto uns trabalham e cuidam de suas vidas, há os aduladores que, revestidos de pequenos poderes, se sentem no direito de proclamar vantagem a partir de coisas ainda menores.

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Pouca gente viu, mas... ... faltava ainda uma hora para o jogo do último domingo quando um representante do Choque entrou no gramado do nosso estádio. Vestia a mesma farda que vestiam os bravos, valorosos e destemidos homens que massacraram a nossa torcida no último dia 8 de fevereiro. Era também a mesma farda dos bravos, valorosos e destemidos homens que agrediram um dos nossos no Itaquerão, um domingo antes. Sua imagem apareceu no telão. Ele segurava um diploma ou algo que o valha. O sistema de som não funcionou bem e não foi possível entender exatamente o que ocorria, mas fato é que houve uma homenagem a um homem do Choque (que, imagino, representava a instituição) dentro da nossa casa, diante dos olhos de muitos que foram massacrados no dia 8 de fevereiro. Foi quase um salvo-conduto para que os bravos, valorosos e destemidos homens do Choque descessem a porrada nos nossos.

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Post publicado originalmente no 3VV - e o nível dos comentários ali é bem evidente da alienação que tomou conta de boa parte da nossa torcida.

20 abril 2015

Aqui, sim!

























São Paulo, Itaquera, extremo leste.

Dizem Diziam que por ali se ergueu um estádio que somente traria alegrias para a tal torcida que se autoproclama o que é e o que não é. Lá, no alto de um descampado bem ao leste de onde surgiu a metrópole, a casa nova foi, por pouco menos de um ano, o que dela se pensava pretendia: jogou-se ali uma Copa do Mundo; construiu-se uma invencibilidade notável; teceram-se loas ao mármore dos banheiros, às latrinas que vieram do Japão, à modernidade onipresente; lamentou-se por assentos plásticos que não deveriam existir; criou-se uma conexão entre time, torcida e estádio; gastou-se e ganhou-se dinheiro com tudo, inclusive com faixas e adereços evocando uma pretensa infalibilidade da nova casa.

Mas...

Mas a história pesa. E as camisas pesam, umas mais do que as outras.

(...)

2015, abril, 19. Fim de tarde. Da esquina sudeste do novo estádio, o olhar se desvia do campo apenas para avistar a persistente neblina que paira por entre as luzes que vêm da marquise. Em campo, os dois rivais eternos protagonizam um duelo à altura das tradições do dérbi paulistano. Também na arquibancada. Ao sul e ao leste (e por todos os outros cantos), a torcida rival parece acreditar no que diz: "Aqui, não", dispara-se a todo momento. A autoconfiança cede espaço à arrogância: "Aqui, não", proclama-se.

Havia, do outro lado, ao norte, um novo telão. Dois, aliás, cada qual com imagens distintas. O placar, no entanto, só funciona quando convém - os gols visitantes o deixam em compasso de espera por longos minutos. A leste e a oeste, entre setores superior e inferior, longos displays de led, cujos gols têm algumas centenas de vogais e consoantes, ficam a disparar mensagens de incentivo, letras de músicas ou recados querendo instaurar uma nova ordem ("É proibido fumar", "Respeite o lugar marcado", "Devolva a bola"). Pura poluição visual, a distrair a atenção do que realmente importa: a cancha.















Aqui, sim.

Rola a bola. Em campo, Palmeiras e Corinthians - assim mesmo. Um clássico gigantesco. Taticamente, tecnicamente, emocionalmente. Na entrega de lado a lado, nas opções criadas, nas chances, nos gols, nas defesas, na bola que vai à trave, nas alternativas, nas falhas de lá e daqui. E também nas torcidas, ambas de parabéns pelo espetáculo proporcionado. Um clássico como há muito não se via.

E então, dentro de campo, não há faixas, telões ou displays que façam a diferença. Porque é lá dentro que tudo que se decide e, torno a dizer, há camisas que pesam mais do que as outras. Há camisas que pesam quando mais se precisa delas. Que se fazem notar nos momentos extremados. Que imploram por um jogo como o de ontem.

"Enquanto existir uma camisa verde com
um P no peito, deve haver respeito".

O Palmeiras tal como conhecemos andou ausente, bem sabemos. Perdemos a mão, caímos algumas vezes, sofremos mais que o suportável. Mas continuamos sendo Palmeiras. Ainda mais diante do rival que adoramos colocar no devido lugar.

Porque, a despeito de sequências adversas como a atual, sempre teremos 1993 - e o mosaico pré-jogo entrou em campo, tenham certeza disso. Sempre teremos 1974. E 1999/2000, cujos pênaltis, todos eles, vieram a campo no anoitecer de Itaquera. E sempre teremos cada uma das vitórias grandiosas que fizeram do Palmeiras o gigante que ele é. Inclusive esta última, pois, em que pese a frieza dos números (alguns dirão, inutilmente, que segue o tabu recente e que não caiu a invencibilidade), a conquista que alcançamos é maior do que todas as muitas vitórias que deixamos de conseguir nestes últimos anos.

Para todo o sempre, o empate no segundo confronto entre Palmeiras e Corinthians no extremo leste da cidade virá acompanhado de um asterisco. E ele destacará, em letras garrafais, que o Palmeiras triunfou no primeiro jogo decisivo que se disputou no estádio onde, dizem diziam, ninguém poderia superar o time mandante.

A vitória que figurará para as estatísticas virá muito em breve. E outras tantas. Mas a história haverá de proclamar o 19 de abril de 2015 como o domingo em que Itaquera viu o triunfo de 14 camisas verdes, um técnico que ousou além do que parecia ser sensato e 1.800 guerreiros que seguimos até território inóspito para defender o peso da história contra a arrogância dos incautos alvinegros.

Aqui, sim.

E em qualquer lugar onde houver Palmeiras.

(...)

14 pênaltis depois...

... a neblina seguia no céu de Itaquera. Aos poucos, o Itaquerão foi se esvaziando. Cada um dos 36 mil do outro lado teve de deixar o estádio ouvindo, em alto e bom som, a festa dos 1.800 intrusos de verde - uma retirada que doeu bem mais do que eles querem admitir. E então, já apenas os de verde por ali, a neblina ganhou a companhia da chuva. Providencial. Para lavar a alma de cada um dos 1.800 guerreiros que cantamos pelos milhões que ali gostariam de estar.



























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Breves considerações finais

_Finda a batalha, por quase uma hora ficamos confinados, isolados em território inimigo. O display de led agradecia a presença de uma tal nação. Ao fundo, um som ininterrupto: o hino do rival foi executado algumas dezenas de vezes. Ninguém pareceu se incomodar, tamanha era a festa.

_No caminho entre estádio e estação de trem, percorrem-se ruas estreitas e estritamente residenciais. Aqui e ali, no entanto, há alguns estabelecimentos comerciais e que tais. Igrejas, por exemplo. Havia cinco ou seis delas, todas evangélicas, no trajeto. Pelo horário (saímos do estádio às 19h30 e chegamos à estação às 20h30), coincidiu de a multidão palestrina passar por cada uma delas no horário dos cultos. Bons momentos para resgatar uma música lá dos anos 1990: "O senhor é palmeirense/ Palmeirense eu também sou..."

_Vejo que o treinador adversário reclama do regulamento. Pois ele deveria se lembrar do seguinte: em 2011, o Palmeiras, dono da melhor campanha, foi eliminado, nos pênaltis, pelo SCCP (dirigido por ele), depois de fazer a melhor campanha. É futebol, meu amigo.

_Parece haver reclamações, novamente, relacionadas a assentos de plástico danificados. Pois eles não deveriam estar ali - a exemplo do que acontece lá do outro lado. Simples assim.

_Da mesma forma que tentam utilizar imagens de televisão para identificar e punir torcedores infratores, deveriam agora se preocupar com a identificação do bandido que agrediu torcedores que apenas comemoravam. Vejam aqui e aqui imagens do flagrante.

17 abril 2015

1.800

















Domingo, 19.04.2015. Seremos 1.800 guerreiros de alma verde em território inóspito, bem longe de casa. Todos prontos para a guerra. À enorme nação palestrina que ficará do lado de fora, fica a garantia de que lutaremos por vocês. Seremos a voz dos muitos milhões que gostariam de estar naquele pequeno espaço de arquibancada em meio às fileiras inimigas. Seremos poucos e bons, e lutaremos até o fim. Pela honra alviverde. Pela nossa camisa. Pela história. Pelo futebol.

A história pesa, senhores. A história nos precede, nos apresenta e nos fortalece. A história vai a campo. A história joga. A história decide. Quando surgir no gramado o alviverde imponente, junto estarão as grandes vitórias conquistadas em quase um século de história. Elas também jogam.

1.800 guerreiros de alma verde. Seremos os representantes de toda uma nação. Em alma, em espírito e na voz que haverá de se fazer ouvir por toda a metrópole a partir de seu lado leste. Seguiremos juntos, desde a nossa casa até o outro extremo da cidade. De trem. E a pé, por entre ruas desconhecidas. 
E assim voltaremos.

Aos 11 que vão a campo, só um pedido:
"Que honrem a camisa e lutem sem parar". Nós lutaremos juntos!


























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_Domingo, 12h - pontualmente. Saída da estação Barra Funda. Plataforma da CPTM. Trem expresso até Itaquera.

_E sim, o texto aí é basicamente o mesmo de jogos anteriores (com pequenas alterações, porque agora o estádio é outro). Eu não conseguiria escrever nada melhor. Nem precisaria.

14 abril 2015

A negação do outro



















2015, março, 25. O Palmeiras impôs ao SPFC a mais inapelável vitória em muitos anos de Choque-Rei. Foi um massacre, com o 3 a 0 não fazendo justiça ao que se viu dentro de campo. Mas, ao final de tudo, perto do apito derradeiro, havia, entre os quase 26 mil presentes ao novo Palestra, não mais do que uma dezena de torcedores visitantes. Uma dezena. Dez. Contavam-se, pois, em duas mãos os tricolores em solo alviverde. Para muitos, aquilo não fez a menor diferença. Para outros, fez toda a diferença do mundo. Para Paulo Nobre, responsável direto pelo vazio no setor visitante, foi uma vitória. Para o futebol, uma derrota imensurável.

Indo além da crítica à mentalidade elitista que vem extorquindo o palmeirense jogo após jogo, vou me concentrar nos efeitos futuros presentes de uma conduta em específico do mandatário de plantão: a nociva articulação para excluir as torcidas visitantes do estádio alviverde – e, por consequência, a torcida do Palmeiras de outras canchas.

Não pensem, pois, que o intuito de Nobre é a exclusão dos visitantes apenas em clássicos – o que, por si só, já seria gravíssimo. A verdade é que ele não medirá esforços enquanto não puder implantar, no Palestra, um regime de negação do outro, no caso, o adversário. Não é questão de um interesse momentâneo ou de mero alinhamento com autoridades constituídas; é, isto sim, aspiração decorrente de uma visão que entende o frequentador dos estádios não como torcedor, mas como consumidor – e isto, notem, é ele quem diz.

A mentalidade doentia do mandatário alviverde entende o torcedor visitante como uma figura indesejada, como alguém que não deveria estar ali, como se o "outro" não existisse.

De início, Nobre tentou excluir a torcida do SCCP do primeiro dérbi em 40 anos no nosso estádio: fez-se de capacho do Ministério Público, foi artífice do massacre imposto à nossa torcida na rua Turiassu e, calado, perdeu a primeira batalha. Sua ‘redenção’ veio no clássico seguinte, contra o SPFC: a exclusão da torcida visitante se deu por uma confluência de fatores, eles todos diretamente ligados ao indecente valor de R$ 200 por um ingresso. Ali, senhores, abriu-se um precedente perigosíssimo: a torcida visitante foi excluída de um jogo (de um clássico, ainda pior) pelo aspecto financeiro.

A verdade é que os visitantes têm enfrentado um cenário dos mais adversos desde a reinauguração do Palestra, em novembro passado, com o preço dos ingressos oscilando entre R$ 140 e R$ 200. Detalhe: para partidas absolutamente corriqueiras, de uma fase inicial de Campeonato Paulista. CENTO E QUARENTA REAIS! DUZENTOS REAIS!

Não vou aqui jogar luz sob a argumentação empregada por Nobre para defender tais valores – ela é, como quase tudo que vem dele, inconsistente. Tampouco vou me debruçar sobre uma análise, digamos, acadêmica sobre as motivações e implicações desse processo de “negação do outro” – até porque não sou a pessoa mais preparada para isso. Mas vou, aí sim, apontar as intenções e os efeitos decorrentes da articulação levada a cabo pelo presidente da S.E. Palmeiras.

Eis aqui a pretensão do presidente “win-win”: em não surtindo efeito as alianças escusas com autoridades constituídas (ou seja, se ele não tiver êxito como capacho do MP), ele seguirá tentando asfixiar os visitantes pelo bolso (ingressos a preços abusivos = setor visitante às moscas). Nobre, acreditem os senhores, é muito mais perigoso do que parece: em seu âmago, ele pensa ter direito de determinar quem pode e quem não pode entrar no estádio Palestra Italia. E sua ambição, ou pelas vias pretensamente legais ou pelo bolso, é eliminar por completo o setor de visitantes do nosso estádio: “Paulo Nobre enxerga o nosso estádio como seu brinquedinho e, como tal, quer definir quem com ele pode ou não pode brincar”.

Colocando em segundo plano a gravidade por trás da empreitada em si, é o caso de ressaltar o seguinte: nos 50% de jogos do Palmeiras disputados fora do estádio Palestra Italia, o palmeirense é este “outro”. É o “outro” que viaja para empurrar o Palmeiras à vitória por todos os cantos do Brasil. E é o “outro” também que, maioria entre os 16 milhões de palmeirenses, vive bem longe de São Paulo e tem raríssimas oportunidades de ver “surgir o alviverde imponente”. É o “outro” que ostenta a camisa alviverde em metade das vezes em que o Campeão do Séxulo XX vai a campo.

Para Nobre, no entanto, o palmeirense como “outro” não interessa porque não contribui para os cofres do clube. Tanto é assim que ele já admitiu algumas vezes “não fazer questão de solicitar a carga de ingressos nos jogos do Palmeiras como visitante”.

É um raciocínio por demais perigoso: ao negar o "outro" que vem visitar o estádio Palestra Italia (pelo bolso ou pela vontade desmedida de não aceitar sua presença em nossa casa), o presidente do Palmeiras está negando o "outro" que é o torcedor palmeirense em todos os demais estádios deste país.

(...)

Eis então que seremos o “outro” neste duelo do próximo domingo, na zona leste, contra o arquirrival cuja torcida Paulo Nobre tentou impedir de vir à nossa casa, na outra ponta da linha 3 do Metrô.

Notem, por favor, que, se tivesse obtido êxito como capacho do MP há pouco mais de dois meses, o Palmeiras iria para esta semifinal histórica sem torcida. Sem torcida!

Como tal aberração não se concretizou (e nossa ida a Itaquera no próximo domingo está sendo avalizada pela reação virulenta do então presidente do SCCP), teremos de enfrentar agora somente a reciprocidade no preço dos ingressos – conforme eu já havia adiantado antes mesmo do dérbi na nossa casa.

(...)

Deixando novamente de lado as implicações sociológicas, listo algumas das consequências deste processo de “negação do outro”:
  • Erosão do relacionamento com os "coirmãos" – e o Palmeiras pode vir a ser a agremiação mais odiada do Brasil perante dirigentes adversários e torcedores (inclusive porque está se isolando ao tomar a frente de um processo nefasto);
     
  • Consolidação de uma imagem perante a opinião pública de clube elitista e excludente;
     
  • Exclusão gradual (pelo bolso) do palmeirense como torcedor visitante – uma vez que a reciprocidade tende a se tornar uma medida corrente;
     
  • No caso da parcela da torcida que viaja para ver jogos em outras cidades e estados, o reflexo tende a ser esportivo, uma vez que o time perderá apoio substancial na arquibancada;
     
  • Em longo prazo, este processo de exclusão (ou de limitação da presença) da nossa torcida em outras praças tende a reduzir o apelo do clube pelo Brasil afora – e, no final das contas, isso se reverte em menos receita para a instituição. 
(...)

Como resolver isso?

  • De imediato: o valor cobrado pelo Gol Sul (e, por consequência, do visitante) precisa cair substancialmente, se equiparando ao valor do Gol Norte – e sobre isso eu já escrevi aqui. O Palmeiras não pode, em hipótese alguma, ser o único clube do país que cobra da torcida visitante um valor muito superior ao que é cobrado no setor mais barato do estádio. Além de moralmente condenável, já está mais do que comprovado que a conta acaba sendo paga pela nossa torcida e, em última instância, pelo próprio Palmeiras.
     
  • Em médio prazo: repensar o espaço destinado à torcida visitante (inclusive porque é privilegiada a exposição daquele espaço na transmissão televisiva).

12 abril 2015

É dia 19!

Chegamos à semifinal. Agora é guerra!

Sobre os ingressos (cerca de 1.800) que serão destinados à nossa torcida para o duelo no Itaquerão, breves considerações:

_Se tivesse obtido êxito na sua tentativa de impor um clássico com torcida única no dia 8 de fevereiro (o primeiro dérbi no Palestra em 40 anos), Paulo Nobre teria relegado o Palmeiras a disputar uma semifinal contra o seu maior rival sem torcida.

_É provável que, neste próximo domingo, tenhamos de pagar a conta pelos obscenos valores que têm sido cobrados das torcidas visitantes no Palestra. Já faz tempo que eu venho escrevendo sobre isso, e agora deve vir a fatura.

_No sábado último, a Ponte Preta recebeu os mesmos 1.800 ingressos para sua torcida. Eles foram distribuídos parte para as organizadas e parte para os torcedores mais assíduos no programa de sócio-torcedor do clube campineiro (grupos que, é bem verdade, acabam se confundido). Basta, portanto, boa vontade para que PARTE da nossa carga de ingressos vá para os melhores colocados no rating do Avanti.

_Gostaria de reforçar a palavra "parte" no item acima. É imprescindível que outra parte, substancial, dos ingressos seja direcionada para venda na bilheteria (do Palestra, e não do Pacaembu). Afinal, a presença das organizadas é essencial para garantir a logística e o apoio na arquibancada.

08 abril 2015

Reféns

Complete a lacuna com uma palavra:
“O palmeirense é um ___________ por natureza”.

Algumas opções: torcedor, apaixonado, fanático, otimista/pessimista, corneteiro, sofredor, exigente, aficionado, crítico, devoto, ensandecido, neurótico, bipolar, confiante/cético, intolerante, forte, guerreiro, vitorioso, maluco, vencedor, crédulo/incrédulo, determinado, empolgado, incansável, louco, doente, insistente, persistente, obsessivo, insano... 

Todas podem se aplicar – e algumas centenas mais. Afinal, não há um único tipo de palmeirense, mas vários. Os adjetivos e substantivos sugeridos traduzem, de certa forma, muitas das características normalmente associadas ao torcedor alviverde. São atributos que podem ser vinculados a cada um de nós em momentos distintos.

Mas qual seria a sua palavra se fosse necessário escolher apenas uma?

Antes de responder, sugiro, por favor, que você tenha em mente o significado de “natureza”: 













O que respondeu a criatura que temporariamente preside a Sociedade Esportiva Palmeiras?

Bom, a frase dele, em entrevista para a Folha de S.Paulo, foi a seguinte: “O palmeirense é um consumidor por natureza”.

Consumidor.

Para o mandatário de plantão, a natureza do palmeirense tem pouco a ver com sua atitude em uma arquibancada – ou em qualquer outro lugar. Segundo ele, a natureza do palmeirense não diz respeito a caráter, temperamento, comportamento ou o que quer que seja. Para o rentista que enxerga os frequentadores do novo Palestra não como torcedores, mas como cifrões, o palmeirense pode ser definido não por algo relacionado ao hábito de “torcer”, mas pelo ato de “consumir”.

É uma frase que diz muita coisa nesses tempos em que o torcedor palmeirense é extorquido na hora de entrar em sua própria casa.

Alguém aí haverá de dizer que estou dando muito peso a uma simples declaração, que estou tomando o todo pela parte, que estou fazendo uma interpretação maldosa da terminologia empregada. Sinto dizer, mas está longe de ser isso. Porque o senhor presidente do clube segue, dia após dia, contaminando o Campeão do Século XX, outrora conhecido pelo seu caráter inclusivo, com uma visão excludente e distorcida da realidade. Sequer os números, estes que pretensamente embasam suas demonstrações públicas de esquizofrenia, param em pé, como se pode depreender da mentira por trás dos "6.000 lugares perdidos", das muitas contestações ao obsceno preço dos ingressos e da análise sobre as despesas do novo estádio.

Sob Nobre, aquele que tem obsessão por ser refém (da construtora) ou não ser refém (do centenário, aquele que foi arruinado por seus erros), quem se torna refém é o palmeirense.

Tornamo-nos, todos, inclusive os asseclas, reféns de uma mentalidade elitista, altamente financista e que atribui valor ao palmeirense não pelo apoio que presta ao clube, mas pelo dinheiro de que dispõe para consumir. Tornamo-nos reféns de um presidente que, desconectado da realidade, enxerga o nosso estádio como seu brinquedinho particular – e, como tal, quer definir quem com ele pode ou não pode brincar. Tornamo-nos reféns de uma política de precificação doentia, que limita a capacidade de público do novo Palestra, segrega parte substancial da torcida e tenta excluir a torcida visitante pelo bolso.

Paulo Nobre, como se vê, não entende nada de futebol. Nem do que é ser torcedor. Nem de Palmeiras. E nem mesmo de números, pois tropeça neles a cada nova declaração.