11 abril 2012

Turiassu, 1840 (9)



*por Roberto Bovino

"E lá vinha eu de novo, na pista da esquerda da Sumaré; ainda não existia a maldita faixa de motos na avenida que me jogava na boca da Turiassu. Já no cruzamento da Brasil com a Rebouças, eu começava a calcular o público daquele jogo, conforme o número de carros com camisas ou bandeiras alviverdes.

Num passado recente, mas ainda sem tantos radares, marronzinhos e tantas outras proibições que São Paulo têm hoje, eu vinha costurando os carros com o rádio no AM em volume descomunal, pensando que cada segundo a menos no trânsito resultava em uma cerveja a mais na Turiassu.

Pronto: rotatória da praça Marrey Jr. contornada, meus chapas já na rua acenando para aonde eu deveria parar o carro.

Della Via Pneus, a última conferida para saber se não tinha esquecido os cigarros no carro.

- Fala patrão, hoje dá 10 mil! Tem que ganhar de qualquer jeito!

Era assim que os três figuras me recebiam ao estacionar o carro.

Quando atrasado, ganhava ingresso. Sem grana, pagava depois, no último jogo da temporada, um abraço e 100 contos pro peru de Natal.

A convivência de 15 anos fez com que eu visse o filho do guardador de carros crescer e se formar na faculdade.

Na verdade, não eram guardadores, muito menos flanelinhas, já faziam parte de tudo que representava uma noite de jogo no Palestra.

Após uma bela vitoria, as cervas e o papo no Alviverde se alongavam, e, ao voltar, só o meu carro parado, e meu amigo cuidando.

Dava uma carona até a Eusébio:

- Até domingo patrão!

- Até, e guarda minha vaga!

Saudades da minha casa..."

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Nota pessoal: eu odeio flanelinhas. Todos eles. São uma praga. Tantos e tantos anos de estádio e uma obsessão por rotas alternativas me levaram a não ter problemas com eles, uma vez que sei bem onde estacionar, não tão longe do campo, mas já fora da vista deles. Tenho por eles um ódio que sem tamanho, mas o texto do Boi, grande amigo, mostra que pode haver romantismo mesmo quando em referência a tais criaturas...

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Crédito da foto: reprodução do Google Maps.

8 comentários:

André / Americana disse...

O episódio dos flanelinhas tá pra romance mesmo. Pq contra o bugre foram muitos carros riscados. Se em campinas é essa putaria, há lugares ainda piores!

Em Piracicaba os putos cobram R$20,00 e somem rapidinho, não "guardam" carro algum. Em Jundiaí, contra o Paulista eu enfiei o carro na área de imprensa, na base da conversa...pq tava simplesmente impossível estacionar nos entornos do estádio.

O único lugar que já tenho "esquema" é nas proximidades do Pacaembu...o tiozinho guarda o carro, fica lá até o fim e sempre toma umas com a gente, já que o cooler tá sempre cheio. E sai por R$10,00!

São tantos os personagens que envolvem o futebol, que dá pra fazer um monte de série Barneschi.

CASSELLl disse...

Eu só paro o carro (coloco no presente, pois voltarei em breve) na Apinajés, na rua do Itaú...

Elver disse...

Odeio flanelinhas e não tenho compaixão nenhuma deles em qualquer que seja a situação.

Amico, to escrevendo uma das minhas lembranças sobre uma ida ao estádio. Lhe envio assim que estiver ok e, se for de seu agrado, autorizo que a publique.

Abraços

Bruno Mazucatto disse...

Grande Beto! Belo texto.

Fazia esse mesmo tipo de análise de público, no entanto, saindo da Mooca, meu cálculo se baseava na movimentação da R. da Mooca e do Elevado Leste-Oeste.

Me fez lembrar da final da Copa do Brasil de 1996. Eu, com meus 12 anos incompletos, cheguei a pensar que todos os carros parados no trânsito ali embaixo da Pça. Roosevelt estavam indo em direção ao Palestra.

E, de fato, deveriam estar.


Abraços,

Bruno Mazucatto.

Anônimo disse...

Uma pergunta fora do contexto:

Existe algum time da Itália alviverde?

ULTRAS LAZIO 1900 disse...

Sim, existe o Avelino. Tem o Chieti, mas esse é verde e preto

Anônimo disse...

http://www.asavellino.it/

A.S. Avellino

gostei do nome do autor do texto xD

Danilo Faria disse...

Parei de ler no "maldita faixa de motos". Muitos Palmeirenses são motociclistas e graças a essas faixas garantem a vida de mais um palestrino a ida do estádio, trabalho e etc.

Add ao seu egoísmo a maldita faixa de pedestre e já já a maldita ciclovia. Por que pelo visto você deve morar em seu carro.