29 janeiro 2013

Turiassu, 1840 (15)

Tenho outras ideias de texto para dar sequência à série, mas, antes disso, é o caso de relembrar os episódios anteriores, um a um. Este post cumpre o objetivo de reunir todos os 14 capítulos anteriores da série “Turiassu, 1840” e mais alguns dos posts anteriores que fizeram referência ao inesquecível estádio Palestra Italia:

Turiassu, 1840 (1)
"O pré-jogo mistura expectativa, ansiedade, preocupação, confiança, apreensão, medo às vezes. A hora de entrar no estádio parece não querer chegar. Alguém, radinho de pilha ao pé do ouvido, confirma a escalação do time e passa a informação adiante. Cresce a expectativa. Lá no alto, o refletor corta a noite escura. Ouve-se o primeiro canto do lado de dentro. Temos uma guerra pela frente. Hora de seguir para a cancha."

Turiassu, 1840 (2)
"Porque o meu Palestra terá sempre fendas entre os lances de arquibancada, e haverá sujeira do jogo anterior entre elas: cascas de amendoim, papéis, restos de qualquer coisa. Porque eram logo essas fendas que nos permitiam sentir a arquibancada vibrar a ponto de quase pular junto com a massa."

Turiassu, 1840 (3)
"Tem fila também para o outro lado, na bilheteria - confesso não entender como alguns têm o sangue frio de só deixar para comprar ingresso na última hora. Muita gente. Que me perdoem os que se sentirem ofendidos, mas eu não enfrento a fila. Nunca. Direito adquirido."

Turiassu, 1840 (4)
"Torcedor tem a ilusão de que o mundo para quando o seu time vai a campo - eu sou assim. O Palestra, aberto para a metrópole e por isso mesmo mais integrado a ela, sempre provou o contrário. O alviverde vai a campo e há quem siga com afazeres outros, às vezes ao alcance da nossa vista. Pobres coitados..."

Turiassu, 1840 (5)
"Guardei e trago na retina o gol marcado aos 29 minutos, bem como registrei e levarei para sempre – na memória, no coração e no fundo da alma – cada canto do Estádio em que estive pelos 20 anos que se seguiram até que tudo aquilo que conheci por casa viesse a ser demolido, a fim de que um novo Estádio (desta vez, Arena) viesse a ser construído."
*por Bruno Mazucatto

Turiassu, 1840 (6)
"874T/10. O Lapa T era quase certeza de enquadro. Ainda mais na volta (já como Ipiranga) e à noite. Mas era tão grande a multidão ali espremida no quarteirão final da Venancio Aires que não restava opção: se despontava o Ipiranga dois quarteirões adiante, em meio à escuridão, sabíamos que seria aquele o nosso transporte de volta. Turiassu, Marechal Deodoro, Angélica, Paulista, Paraíso, Vila Mariana, Lins, Cambuci, Dom Pedro, Museu."

Turiassu, 1840 (7)
"A descida na Turiassu foi inesquecível. Numa terça-feira à tarde, na cabeça de um menino recém-chegado do interior, não deveria haver nada que remetesse a uma partida de futebol. Mas a prosaica visão, logo de cara, de dezenas de varais de ambulantes cheios de camisas do Verdão me fizeram perceber que aquele lugar não era apenas um estádio de futebol."
*por Conrado Cacace

Turiassu, 1840 (8)
"Por sinal, minhas melhores lembranças do Palestra estão todas ligadas ao que existia de mais, digamos, ultrapassado no nosso estádio. Por exemplo: reconheço os méritos das (nem tão) novas torres de iluminação, mas o meu afeto pertence todo àquelas desgastadas e antiquadas torres de ferro que se erguiam por trás da arquibancada."

Turiassu, 1840 (9)
"E lá vinha eu de novo, na pista da esquerda da Sumaré; ainda não existia a maldita faixa de motos na avenida que me jogava na boca da Turiassu. Já no cruzamento da Brasil com a Rebouças, eu começava a calcular o público daquele jogo, conforme o número de carros com camisas ou bandeiras alviverdes."
*por Roberto Bovino

Turiassu, 1840 (10)
"5h27. Ônibus e mais ônibus chegam e vão despejando gente na Turiassu. A caminho do trabalho, os vidros embaçados pelo orvalho da madrugada, ocupantes dos coletivos ficam intrigados com tanta gente na rua àquela hora da madrugada. Até o cobrador, que dormia desde a Praça Ramos, estica o olho para saber o que se passa."

Turiassu, 1840 (11)
"Voltei à arquibancada. O placar já apontava 1 a 0. "Perdi o gol, porra!" Mais três viriam, sem que isso significasse necessariamente uma noite memorável. Confesso não fazer a menor ideia de como foram aqueles gols. Vejo agora, pesquisando em meus arquivos, que foram marcados por Galeano, Tuta, Magrão e Alexandre. Não me lembro de nada disso. Mas lembro claramente de ter conhecido ali, naquela noite, a salinha dos coxinhas no Palestra."

Turiassu, 1840 (12)
"Quem por ali passa, de carro ou a pé, já não se depara mais apenas com um imenso vazio; o velho Palestra ressurgirá. O olhar perdido, antes sem entender o que se passava naquele lugar onde antes havia um estádio, agora mira o futuro, à espera do que está por subir novamente. Será um estádio diferente, é claro, mas ainda assim será o Palestra Italia. No mesmo local. Com a mesma vizinhança. Com os mesmos de sempre – e com os novos que virão com as gerações seguintes."

Turiassu, 1840 (13)
"Aquele pedaço de arquibancada, impedido de ser demolido por pura birra de quem, por um acaso, possui o poder da caneta, simboliza o obstáculo que muitas vezes os poderosos de plantão nos impuseram. E sempre conseguimos mostrar a eles que somos superiores. Aquele pedaço de concreto simboliza o nosso orgulho. O nosso orgulho por não baixar a cabeça ante imposições. Aquele pedaço de concreto é o orgulho palmeirense, o orgulho de ser palmeirense."
*por Paulo Emilio N Rodrigues

Turiassu, 1840 (14)
"De sua janela, ele viu o Palmeiras vencer aquele título de 1976, a Libertadores e outros mais, todos guardados em sua memória até o último dia de vida. Acompanhou vitórias grandiosas e vexames improváveis, títulos e humilhações, partidas notáveis em domingos ensolarados e duelos obscuros em noites chuvosas. Presenciou esquadrões inesquecíveis e times que não mereciam ter pisado em solo sagrado. Torceu por craques que fizeram história e suportou alguns que não deveriam nunca ter vestido o manto alviverde. Vibrou igualmente com e por cada um deles."

Turiassu, 1840
"Talvez os peregrinos que vão até esse lugar e se apoiam na cerca olhando a devastação estejam procurando avaliar o que estão perdendo. Porque as marteladas não podem atingir as memórias e tenho certeza que diante de todos, torcedores do clube ou não, ao passar por esse lugar alguma coisa os atinge, como quem atravessa algum célebre campo de batalha, lendário, fabuloso. Lá se travaram grandes duelos, lá houve grandes vitórias, grandes conquistas e grandes derrotas. Desfilaram por lá as maiores equipes do Brasil e da América do Sul em combates inesquecíveis. Lá foi o estádio de um grande. Fica na Rua Turiaçu, Perdizes."
*por Ugo Giorgetti

A despedida
"Aprendi a te amar ainda sem grades ou separações físicas na arquibancada e sem o setor elitista, o que me permitia migrar de um lado para o outro sem restrições, ainda que com o intuito pouco nobre de maldizer rivais ou inimigos que tantas vezes já vieram te visitar. Acima de tudo, o bom era exercer o saudável hábito de andar de um lado para o outro para encontrar os amigos."

Imortalidade
"O olhar que percorria cada canto da arquibancada por vezes parecia se perder, absorto, sem saber para onde ir ou quando voltar. Parecia. Se era mesmo assim, certo é que não estava preso a lugar algum, mas sim a um dia outro que não o que vivemos ontem. O que se percebia no semblante dos palestrinos que cruzamos os portões do Palestra Itália neste sábado, 22 de maio de 2010, era a resignação de quem não pode fazer nada mais, a não ser dizer adeus."

Palestra Eterno
"Tenho a impressão que vou subir junto com o ataque no ar, estacionar alguns metros acima, e cabecear sozinho pro fundo da rede. Quero ouvir aquele som indecifrável que precede o grito de gol. O som dos pulmões que se enchem de ar respirando fundo. O pressentimento se tornando real."
*por Felipe Giocondo

O Palestra em 20 jogos
"Lembro mais de abraçar meu irmão na hora dos pênaltis, com os joelhos postados no cimento da arquibancada, depois de todo o sufoco dos 90 minutos. E lembro muito, com precisão cinematográfica, de tudo o que sofri para conseguir os ingressos: a noite sem dormir, a invasão da Papa Genovese na madrugada, a manhã que chegava com a expectativa pelos ingressos, o empurra-empurra, a confusão que fechou o Turiassu na hora do almoço, o alívio com os ingressos na mão."

O Palestra em -10 jogos
" Depois do jogo, o mais difícil era consolar cada um dos palestrinos que deixavam o estádio e chegavam, já desolados e destruídos, ao bom e velho ponto de ônibus da rua Venâncio Aires. Voltamos todos em um silêncio sem precedentes. Ainda hoje, quase 10 anos depois, lembro de cada curva da volta para casa: não veio nem o 875H nem o 874T; tivemos de voltar de 407M, encarando todo o caminho pelo centro da cidade. Foi uma noite muito longa..."

3 comentários:

Leonardo disse...

Postagem espetacular!

Mais alguns meses e estarem de volta ao Palestra, a nossa casa e o lugar em que me sinto mais confortável no mundo.

Leonardo Nakamura.

luiz disse...

Barneschi , veja a cara de pau desse gordo e repare nas três matérias de épocas distintas como ele muda de opinião rapidamente fiquei inconformado com a tamanha hipocrisia desse cara que é tratado como ídolo aqui no Brasil por ganhar somente uma copa onde foi carregado nas costas por outros jogadores

http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u566393.shtml

http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2012/02/ronaldo-defende-ricardo-teixeira-e-um-grande-amigo-e-estou-com-ele.html

http://esportes.terra.com.br/futebol/copa-2014/ronaldo-ataca-imprensa-tem-que-entrar-no-entusiasmo-do-povo,66e7df2ac9c8c310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html

Rodrigo Barneschi disse...

Cara, Romário sempre pisou na cabeça desse tal Ronaldo. Sempre. Romário é muito maior. Dentro e fora de campo e sob qualquer ponto de vista.