29 setembro 2013

Longe de casa

Não há muito o que dizer sobre o modorrento empate sem gols contra o América/RN. O time foi muito mal, o treinador, ainda pior, e o resultado acabou sendo o mais adequado para a fria tarde de sábado em São Paulo. Ao menos, se é que serve de alento, não fomos derrotados - algo que poderia ter ocorrido se não tivéssemos um bom goleiro. Por fim, seguimos na mesma toada, com amplas vantagens sobre o vice-líder e sobre o quinto colocado. Tudo como antes.

Mais importante que isso, no entanto, é observar o prejuízo que teremos com a perda absurda de dois mandos de campo e com o consequente acúmulo de seis jogos seguidos longe de São Paulo.

O camisa 10 escolheu bem os termos ao definir a decisão do STJD, este antro de vagabundos desqualificados, como "palhaçada". É isso aí mesmo. Porque o tribunal repete decisões equivocadas, desmedidas e desproporcionais em nome de um conceito torpe de justiça e não leva em conta que tais punições não têm qualquer efeito prático, porque não atuam diretamente sobre a causa dos supostos incidentes que estão sendo julgados.

Mas não é momento de entrar nesse debate. Quero me concentrar nos efeitos técnicos da decisão. Afinal, a campanha alviverde em sua casa provisória, o Pacaembu, neste 2013 é a melhor que o clube já ostentou como mandante desde o longínquo e inesquecível 1999.

Vejam abaixo os dados, que consideram os mandos de campo no Palestra entre 1999 e 2010 (até maio) e no Pacaembu entre 2010 (a partir de maio) e 2013:













Notem os senhores que uma vitória no último sábado teria colocado a campanha 'caseira' em 2013 como superior até mesmo à obtida em 1999 - e então seria necessário buscar o comparativo com uma trajetória ainda melhor, a de 1996.

Em que pesem a qualidade dos adversários ora enfrentados e mesmo o fato de já termos perdido seis mandos de campo neste ano, é de observar a ascensão no Pacaembu desde que teve início a reforma do Palestra (algo que eu já havia observado em abril deste ano).

Depois de um primeiro semestre de 2010 titubeante (mas com grande média de público, devida à Copa Sul-Americana e ao "efeito Felipão") na cancha municipal, o Palmeiras sofreu no biênio 2011/2012 com a constante indecisão da dupla de imbecis Tirone/Frizzo, dispersando seus mandos de campo entre Pacaembu, Canindé e Arena Barueri - daí o baixo número de jogos no Paulo Machado de Carvalho.

2013, no entanto, foi o ano da consolidação de uma única casa (mérito da nova gestão, conforme eu já registrei anteriormente) e então o Palmeiras disparou para um aproveitamento de quase 80% dos pontos no estádio municipal - as duas derrotas aconteceram em um tropeço inconsequente contra o Penapolense e depois contra o Tijuana. De resto, foram 18 vitórias em 25 jogos.

Agora partimos para um período de quase um mês longe de São Paulo, e a diretoria poderia levar em conta esta situação, o iminente retorno à Série A e também os muitos deslocamentos pelo país ao buscar uma solução adequada para definir o local destes dois jogos de punição que teremos de cumprir.

Se o prejuízo técnico parece incontestável, é de se esperar ao menos que a escolha de nossos dirigentes possa minimizar este impacto e permitir ao torcedor da capital o direito de poder viajar para ver o time em campo em pelo menos um desses dois duelos.

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_Para os que defendem austeridade sem colocar os pés na arquibancada, jogar em São Paulo ou em qualquer lugar do interior é a mesma coisa. Para quem vai a todos os jogos, no entanto, essa indefinição sobre o local é quase uma tortura. Porque disso depende boa parte da nossa programação de vida: viagens, passagens aéreas, pedidos de folga, deslocamentos intermináveis, horários ruins.

27 setembro 2013

Sobre vagabundos em geral

O Palmeiras foi punido com a perda de dois mandos de campo na Série B. O motivo? Uma briga bastante localizada entre dois pequenos grupos de torcedores - porque é necessário relativizar o ocorrido, não o equiparando ao que seria uma briga entre organizadas. Tal incidente se deu antes de Guaratinguetá/SP 1-1 Palmeiras, o primeiro julgamento se efetivou com a absolvição do clube, mas um certo vagabundo do STJD resolveu recorrer até conseguir, como agora, que o clube fosse punido.

Breves considerações sobre:

1. O STJD segue tomando decisões arbitrárias e desproporcionais - e estão de parabéns os jornalistas que tanto se esforçaram para conferir poder desmedido a este órgão tão nocivo ao futebol.

2. Igualmente arbitrárias e desproporcionais foram as duas punições recentemente aplicadas ao SCCP - totalizando seis jogos longe de casa. Ou seja: não se trata de perseguição a este ou àquele clube, mas sim de um cenário em que o tribunal perdeu todo e qualquer parâmetro e então passa a distribuir punições descabidas sem o menor critério. Tem-se uma política repressora sem que isso atinja da maneira correta os verdadeiros culpados.

3. São bastante conhecidos os responsáveis pela briga em Guaratinguetá - um deles, em particular. Em que pese o descompasso na decisão do STJD, é necessário apontar isso. Já não é a primeira vez que um pequeno grupo de vagabundos prejudica o Palmeiras.

4. Como a decisão do tribunal é irrecorrível, o Palmeiras vai completar seis jogos na Série B (de um total de 19) sem poder exercer o mando na capital paulista. Ou seja: um terço da trajetória fora de casa. Em outros termos: 13 jogos em SP e 25 jogos fora de SP. De novo: é necessário fazer algo contra os responsáveis.

5. Para piorar, as punições serão 'pagas' justamente em duas partidas noturnas, em uma mesma semana (terça ou sexta). Ou seja: fica ainda mais difícil sair de SP em direção ao interior para ver o Palmeiras. A depender do local escolhido, fica impossível mesmo.

6. Por favor, não repitam o mesmo erro de sempre.

25 setembro 2013

"A burrice agora é pública"

"A burrice era privada, mas agora é pública"
Bernardo Carvalho, escritor

Jornalista que sou, mantenho o costume diário de ler ao menos dois jornais, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, ambos na versão impressa (faço questão de esfregar o papel na cara dos deslumbrados que vivem de apregoar o seu fim). Assino estes dois jornais e mais cinco revistas mensais (igualmente impressas) - e vejo outros e outras tantas esporadicamente. Daí então que tenho o hábito de ler não apenas o noticiário esportivo (aos quais dedico cada vez menos tempo), mas todas as outras editorias. Não é à toa que, de tempos em tempos, aproveito aqui no blog algumas matérias e notas que não estão no radar da maioria.

Ainda assim, os senhores haverão de pensar que a frase que abre o post está deslocada, fora de contexto, talvez fruto de um engano ou algo do tipo. Longe disso. A frase em questão, publicada na Ilustrada (caderno cultural da Folha) do último sábado, é apenas a mais inspirada da entrevista concedida pelo escritor Bernardo Carvalho por ocasião do lançamento de seu mais recente livro, "Reprodução".

"Do que trata este livro?", os senhores haverão de perguntar.

Sugiro que leiam a entrevista que contém a frase e, para completar, uma breve crítica de "Reprodução". Para os menos pacientes, deixo-os com um elucidativo trecho retirado da orelha do livro: "...parece encarnar um típico (e problemático) personagem da nossa época: leitor de revistas semanais, comentarista de blogs (onde vitupera em caps lock contra as minorias), com um saber supostamente enciclopédico (graças à Wikipedia) e um éthos reacionário, encarna um tipo anti-intelectual que iria ganhar força em virtude do espaço relativamente livre da internet".

É como eu sempre digo: o espaço de comentários em portais de notícia é um antro de imbecis. Os de esporte, em especial. Os de política, de maneira mais nociva. Mesmo aqui, neste humilde blog, há os ignóbeis que eu preciso eliminar de tempos em tempos. Não é um fenômeno exclusivo deste século; o problema todo é resumido naquela única frase: "A burrice era privada, mas agora é pública".

Está aí o Twitter que não nos deixa mentir.

A essa altura, você deve estar se questionando o porquê de toda essa explanação em um blog de futebol. Pois é, boa pergunta.

A verdade, senhores, é que o lançamento do livro veio em bom momento, assim como a entrevista publicada na Folha de S.Paulo. Porque foi ainda na última semana que nos deparamos com alguns correligionários do exército da austeridade vomitando na rede os mais degradantes preconceitos. Coisa grotesca mesmo, nascida a partir de um pensamento reducionista, atrasado e, por que não dizer?, criminoso.

Daí que, contrariando resoluções que eu acabara de tomar, me flagrei perdendo preciosos minutos da minha vida para desmontar o sujeito - como se ele próprio já não tivesse se encarregado disso.

Estava com o texto quase pronto e desisti de publicar. E desisti porque simplesmente você vai lá e arranca a cabeça do sujeito para na sequência surgir outro igual a ele. Sim, o tipo em questão era cúmplice, por exemplo, daquele tipo reacionário, racista e elitista que foi devidamente dissecado aqui.

A indigência mental não tem limites, senhores. Bem ao contrário da minha paciência.

E se a burrice agora é pública, o mesmo se aplica à covardia. Os tipos em questão não passavam de covardes incógnitos antes; agora, no entanto, têm uma interface digital para tornar públicas a burrice, a indigência mental e a covardia.

Para finalizar, deixo-os com o posicionamento do Dissidenti, grupo ao qual eu pertenço, por ocasião das asneiras proferidas na semana passada por essa corja racista, elitista e reacionária. É tão atemporal quanto necessário:





















23 setembro 2013

Palmeiras 2-1 Sport

Em meio ao marasmo sem fim representado por esta maldita Série B, é preciso buscar algum tipo de motivação extra. Se a vitória sobre o Sport em um Pacaembu tomado havia sido um dos alentos da catastrófica campanha no Brasileiro do ano passado, eis que coube novamente a este adversário a tarefa de nos proporcionar uma vitória um pouco mais satisfatória.

Cumprimos a missão da tarde de sábado: afundamos o Sport e fizemos a nossa parte para sua permanência na Série B por mais um ano. Porque o roubo de que fomos vítimas no jogo do turno não poderia ficar impune.

Além da vitória, da larga vantagem e da proximidade do fim deste martírio, foi particularmente reconfortante neste sábado observar o pobre atacante reserva do Sport se aquecendo ali à nossa frente durante boa parte do segundo tempo. Bem perto da grade que foi quase arrombada em 2003, ouviu toda sorte de impropérios e acabou nem entrando em campo. Bem poderia ser a última vez que precisamos encontrar esse sujeito.

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_O camisa 11 fez dois gols. Se dependesse de alguns dos nobres e novos dirigentes à frente do Palmeiras, ele teria sido doado há questão de dois meses.

_Chegamos à 17ª vitória em 24 jogos, mas é forçoso insistir no seguinte ponto: nossa defesa sofreu mais um gol idiota, mas poderia ter sofrido outros dois ou três. Se o treinador não consegue resolver isso, é o caso de repensar o treinador, não?

18 setembro 2013

-15

Passamos por cima do Avaí com uma contundência ofensiva que destoa da fragilidade defensiva (até quando vamos aguentar essa zaga desprotegida pela falta de um bom primeiro volante?). Mas é forçoso observar o fato de um clube grande como o Palmeiras terminar o jogo com três pênaltis não marcados (dois deles acintosos) e com um impedimento que, se não anotado - como não deveria -, poderia resultar em gol. Portanto, o Palmeiras massacrou o seu adversário em Florianópolis, mas a vitória poderia não ter vindo em função dos erros grotescos de uma arbitragem temerária, de duas falhas (uma delas constrangedora) de um de nossos zagueiros e do fato de a zaga seguir constantemente desprotegida.

Ao menos neste último caso, a responsabilidade é toda do nosso treinador. Quanto às falhas dos homens da retaguarda, cabe registrar ainda que o empate de sábado em Belo Horizonte deve ser creditado ao camisa 3 - um zagueiro não pode nunca entrar em uma dividida com o pé mole. Por fim, os erros da arbitragem verificados nesta terça-feira são tão graves quanto a conivência dessas mesmas criaturas com as agressões de que foram vítimas nossos atletas (no sábado e na terça). Mas aí é evidente que a emissora de TV não terá nenhum comentarista de plantão para ligar desesperado para os vagabundos do STJD...

Faltam 15!

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Por falar em vagabundos, os da CBF enfim anunciaram o desmembramento das rodadas 25 a 29 da Série B. Eis, portanto, a nossa programação já conhecida:

28/09, sábado, 16h20: Palmeiras x América/RN - Pacaembu
01/10, terça, 21h50: Oeste/SP x Palmeiras - São José do Rio Preto
05/10, sábado, 16h20: ABC/RN x Palmeiras - Natal
08/10, terça, 19h30: Palmeiras x Figueirense/SC - Pacaembu
11/10, sexta, 21h50: Palmeiras x Guaratinguetá/SP - Pacaembu

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A notícia é:





















Pois bem, o que teria a dizer sobre isso o blogueiro que defende os clubes de empresa como se fossem a solução para todos os problemas? O que teria a dizer ele, com quem já discuti tantas e tantas vezes, para defender a existência dessas aberrações que se prestam apenas a satisfazer interesses empresariais momentâneos? E, dando sequência a isso, como defender o trabalho profissional do nosso nobre CEO agora que o seu grande projeto recente chega ao fim de maneira assim tão vexatória?

16 setembro 2013

Turiassu, 1840 (20)











Qual é a melhor pizza de SP?

A pergunta é difícil - há dezenas, talvez centenas, de respostas possíveis -, mas eu vou cravar a minha: Papa Genovese.

Não que eu seja especialista no assunto, mas é que nenhuma outra boa pizzaria desta metrópole poderia me proporcionar tantas e tão boas lembranças quanto aquela que outrora ocupava a esquina da Turiassu com a Cayowaá.

Porque foi ali, entre rodadas de chope que eu quase nunca pude aproveitar (a idade não permitia), carpaccios e infindáveis sabores de pizza, que eu senti o gosto de vitórias grandiosas e me dei conta de fracassos até hoje não digeridos.

Ali, minutos depois do jogo, tomava-se contato - por meio das então modernas telas planas de 29" - com as imagens pasteurizadas do que acabáramos de viver em toda a sua plenitude na arquibancada. Os nossos gols - e os dos adversários -, as falhas individuais, as grandes defesas, os muitos gols perdidos, o apoio da massa, os tantos roubos de que fomos vítimas dentro de casa...

Nas vitórias, a pizzaria parecia pular a cada gol, a cada lance de perigo, a cada lembrança boa que acabava de se consolidar em nossas mentes. Nas derrotas, lamentava-se os erros, os roubos, as más atuações. Entre margheritas, sicilianas e tantos queijos, cada momento voltava a ser vivido com a nitidez que nem sempre (ou quase nunca) existe no campo.

O curioso é que lembro com mais clareza dos insucessos e tropeços na Papa Genovese do que propriamente das vitórias. Não sei dizer o motivo, mas talvez seja o fato de as derrotas terem de ser digeridas, e então já se fazia tudo de uma vez, ali mesmo. Mas a coisa toda parecia mais propícia a um tom de lamentação tão particular do palmeirense: reclamar da substituição feita pelo técnico, maldizer o atacante que perdera um gol feito, já traçar o prognóstico para a rodada seguinte, acompanhar os minutos finais de um jogo de algum rival que começara mais tarde... tudo acompanhado por uma belíssima pizza, claro.

Tanto é assim que me recordo do comentário que meu avô fez em algum momento da madrugada de 17 de junho de 1999: "Você está tão quieto... nem parece que fomos campeões". Eu não soube explicar; mas é que lutamos tanto e foi tão difícil chegar àquele momento que eu troquei a felicidade por um alívio sem tamanho. O tamanho daquela vitória eu só viria a entender bem depois...

A partir da Papa Genovese, em especial daquela varanda lateral, era possível acompanhar a Turiassu se esvaziando devagar, a iluminação do Palestra persistindo por algum tempo, torcedores comendo os seus sanduíches de pernil, outros esperando o ônibus, o trânsito se dispersando lentamente, a madrugada tomando conta da metrópole, alguns bêbados isolados aqui e ali, o silêncio se fazendo notar... o gigante estádio Palestra Italia adormecendo pouco a pouco.

Até que um dia resolveram derrubar aquele lugar para construir uma loja de móveis. Errado, muito errado...

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Agradecimentos especiais ao meu tio, que sempre me levava para jantar lá depois dos jogos (foi quando eu aprendi a gostar de carpaccio e da pizza romana), e ao meu avô, pela companhia nas poucas e boas vezes em que vinha do interior para ver o Palmeiras.

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A imagem que abre o post evidentemente não é a ideal, mas parece não existir na rede nenhuma foto da fachada da Papa Genovese. Nenhuma. Em sendo assim, tive de apelar para a única imagem disponível, um informe que o grande mestre Ezequiel foi encontrar em um antigo tabloide do Palmeiras.

Se alguma boa alma tiver uma foto daquela tão saudosa fachada, peço que me envie, por favor.

12 setembro 2013

Em pé

A notícia, caso ainda não tenham visto, é: “Palmeiras sugere setor popular no Allianz Parque [sic], mas WTorre não deve acatar”

Eu poderia fazer uma longa explanação sobre o direito de ver um jogo de futebol em pé. Poderia, mas isso já foi feito por gente muito boa lá do Impedimento. Poderia ainda escrever um tratado sobre a cultura da arquibancada ou sobre os hábitos do torcedor de futebol. Poderia, por fim, fazer um post daqueles contundentes para colocar no devido lugar os responsáveis pelo crime que está para ser cometido. Poderia, mas não tenho mais paciência para gente obtusa.

Serei breve:

-É absurdo que o Palmeiras seja obrigado, dentro de casa, a se submeter a interesses nefastos. Mas o contrato, fica aqui a ressalva, foi assinado por outra gestão, e compete aos signatários o dever de explicar: (1) por que se permitiu tal submissão?; e (2) por que não se tomou, desde o início, a decisão de ter um setor sem cadeiras?

-Em tendo partido da gestão atual a reivindicação para um setor popular (e, portanto, sem cadeiras), registro aqui o meu reconhecimento: obrigado pela tentativa.

-Ao senhor Walter Torre (porque se ele dá nome à empresa, recai sobre ele a responsabilidade), tenho a dizer o seguinte:
Seja inteligente. Com ou sem cadeiras, ficaremos em pé. Quer você queira, quer você não queira. E aí, se você insistir na canalhice, sabe-se lá o que vai ser das cadeiras. Seja inteligente.

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Tomando emprestada a frase do Mauricio Brum lá no Impedimento:

"Quanto aos outros estádios, que desgraçadamente não têm arquibancadas previstas, talvez só nos reste dizer: vida longa aos construtores de Arenas, para que possam ver sentados o dia em que voltaremos a torcer em pé."

11 setembro 2013

Marasmo

Nem adianta esperar algo diferente: até o final de novembro, não vamos ter nada além do que vivemos na noite de ontem na cancha municipal. Refiro-me não só ao marasmo dentro de campo (nem mesmo um pênalti perdido com 0-0 no placar chega a incomodar), mas ao que tivemos do lado de fora também. Porque, ao contrário de 2003, não há agora o efeito "vamos levar o Palmeiras de volta". Porque, com os modorrentos pontos corridos e com quatro vagas em disputa, o Palmeiras já estava de volta antes mesmo de começar o campeonato. E aí, meus caros, o desinteresse dos historicamente menos presentes é inevitável, não faz muito sentido pagar R$ 40 para um jogo da Série B, os horários não ajudam... e um público de 9 mil pagantes é mais ou menos o que se pode esperar.

Alguém poderá dizer: "mas o Avanti agora tem um ranking para privilegiar os torcedores mais assíduos e isso estimula a presença em todas as partidas". Menos, menos... porque os que vamos a todos os jogos somos os mesmos de sempre. Já nos reconhecemos de longe e tal situação só pode mudar se tivermos um time bom e que esteja disputando decisões atrás de decisões. Mas...

Mas o Palmeiras/2013 abdicou de tudo o que poderia disputar e, com isso, já comprometeu mesmo o ano seguinte. Enquanto se comportar a gestão atual como se fosse a direção de um banco e enquanto pensarem os nobres dirigentes que vitórias e títulos pertencem ao terreno do "imponderável", nada disso vai mudar.

Acostumem-se, portanto, nos oito jogos que nos restam como mandantes até o fim do ano, a chegar ao Pacaembu meio que para cumprir obrigação e às vezes sem nem saber o nome do adversário (que diferença faz?). Preparem-se para ver um time que vai lá cometer seus erros e que talvez nem jogue bem, mas que invariavelmente vai chegar à vitória (foram 15 em 21 jogos no total, 7 em 8 no Pacaembu). Aí uma meia dúzia vai gritar o nome de chileno vagabundo daqui, a Mancha vai xingar uns e outros dali, e, bem ou mal, sobreviveremos todos a esse marasmo insuportável.

Faltam 17.

09 setembro 2013

Teoria e prática

Já que os austeros da "gestão profissional" não entendem a língua que se fala na arquibancada, é o caso de falar a língua deles - se é que alguns ali vão realmente entender.

Pouco importa a minha opinião sobre o conteúdo abaixo. É, afinal, apenas uma teoria. Compartilho com os senhores:




































A prática, essa sim, vem ao caso:



















Meu comentário sobre isso:

Não é (só) uma questão de cortar despesas; é uma questão de buscar as receitas que devem ser a rotina de um gigante como o Palmeiras. E só se consegue receita no futebol com um time vitorioso. Para o Palmeiras, caro CEO, vencer não faz parte do "imponderável"; vencer é o único caminho possível.

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_Primeiro texto: publicado na página 2 do caderno Mercado da Folha de S.Paulo de 07/09/2013.

_A nota foi publicada no Painel FC de 06/09/2013.

06 setembro 2013

"Entre os vândalos"

"O essencial em um trabalho jornalístico é seu imperativo de objetividade. Cabe a ele registrar e transmitir a verdade dos fatos, como se a verdade estivesse ali, exposta à visitação, aguardando a chegada do repórter. Tal é a premissa do jornalismo objetivo. O que esta premissa exclui, como qualquer estudante de literatura moderna lhe dirá, é aquele fato incerto e relativo referente ao responsável pela reportagem, a moderna noção de que não existe o percebido sem aquele que percebe e que excluir as circunstâncias envolvendo a história é relatar uma inverdade. Tais circunstâncias poderiam incluir o fato de você ter corrido para apanhar um avião, ter tido muito o que beber no caminho, ter chegado e percebido que está vestido para os trópicos quando na verdade está quase nevando, que você esqueceu suas meias de lã, que você trouxe apenas lentes de contato, que você, afinal de contas, não vai conseguir a entrevista e que então, às quatro e meia, você deve registrar sua história, sendo obrigado a criá-la em sua maior parte. Poder-se-ia argumentar que as circunstâncias têm mais do que um peso casual na verdade relatada.

Não é minha intenção contar uma inverdade e sinto-me compelido, portanto, a ressaltar que, nesse momento, pouco depois de cruzar com a tão desoladora figura do sr. Wicks, o repórter tomou consciência de que as circunstâncias envolvendo sua história tinham se tornado relevantes e significativas e que, caso ignoradas, seu relato dos fatos que se seguem estaria amplamente incompleto. E suas circunstâncias eram as seguintes: o repórter estava muito, muito embriagado. 


Ele não poderia, portanto, lembrar de muita coisa quanto à viagem de ônibus, exceto uma vaga e nebulosa ideia de que havia menos gente no ônibus dessa vez e que, espantosamente, o motorista era o mesmo. O outro fato de que se lembra é o de ter chegado."


























Na Inglaterra, jornalista americano se deixa seduzir pela conduta de hooligans locais (as brigas, as bebedeiras, o fanatismo pelo clube) e, sem perceber, se torna um deles.

Alguém aí pode pensar que esta é a sinopse de "Hooligans" ("Green Street Hooligans"), o filme de 2005 com Elijah Wood.

Até poderia ser. Mas não é.

É, na verdade, uma forma um pouco forçada (eu admito) de apresentar o livro "Entre os vândalos" ("Among the thugs"), de Bill Buford, jornalista americano radicado em Londres. Mas verdade mesmo é que o filme guarda muita relação com o livro - não que seja baseado nele, mas a inspiração é inegável.

Narrado todo ele em primeira pessoa, "Entre os vândalos" é um mergulho no submundo das "firmas" inglesas da década de 1980, tempo das tragédias de Hillsborough e de Heysel e de todo aquele cenário que mudou o futebol mundial para sempre.

Sem cerimônias e sem muito pudor, Buford apresenta uma profusão de personagens doentios, sujos e desdentados. Mais que isso: cruéis, bêbados e perversos. É notável o apuro jornalístico com que o autor se dedica a entender um mundo que tem muito pouco a ver com sua realidade: ele vai fundo na investigação, corre riscos, apanha da polícia, se envolve com os tipos mais violentos que já frequentaram um estádio de futebol. Não há condescendência no tratamento concedido pelo autor para apresentar essas figuras: o relato é cru e, por vezes, repelente - não há como simpatizar com alguns dos personagens a que somos apresentados.

Buford, no entanto, não esconde que, em certos momentos, se deixa seduzir pelo poder da multidão, pelo fascínio imposto pela massa, pela perda da identidade quando se faz parte de um aglomerado violento. Ou, como bem resumido na apresentação do próprio livro: "Mais do que fazer um exercício de sociologia do comportamento grupal patológico, Buford nos mostra como a experiência da violência de massa, partilhada sob o manto do suposto anonimato, exerce um apelo insidioso, por vezes irresistível, até mesmo às mentes mais esclarecidas".

Ao longo de 321 páginas, o autor flerta com torcidas de clubes bem pequenos (Cambridge, por exemplo) e médios (West Ham) e vai até a Escócia (um Celtic-Rangers); mas é junto aos torcedores do Chelsea e especialmente do Manchester United que ele passa mais tempo.

"Assim, com a nova temporada, fui para Stamford Bridge. Eu tinha conhecimento sobre o Chelsea, a reputação de seus torcedores e o "barracão" - as arquibancadas cobertas no lado do campo que era ocupado, em pé, pela torcida do Chelsea. Cheguei cedo. Vi diversos policiais pelo caminho - eles estavam em cada parada ao longo do District Line do metrô -, mas quando atingi a estação Fulham Broadway eles estavam por toda parte. Viam-se cães no topo das escadarias da estação do metrô e, do lado de fora, cavalos carregando policiais munidos de cassetetes de 1,20 metro. Em meu trajeto, rumo ao estádio, vi homens com rádios: havia um praticamente a cada esquina. Um helicóptero circulava no céu, enquanto furgões percorriam com lentidão os pubs e as ruas estreitas. Ocorreu, então, algo que eu jamais poderia ter imaginado. Ouvi o trotar de cavalos, o som penetrante de vidro se estilhaçando e vozes berrando insultos. Vinha descendo pela Broadway uma escolta formada por dez cavalos e uma corrente de policiais cercando um grupo compacto, porém numeroso, de talvez mil pessoas: eram os visitantes."

Em especial na primeira parte (são três), há passagens memoráveis, elas todas facilmente reconhecíveis por quem não apenas vê o seu time jogar em casa, mas também viaja o país para isso. Buford encara algumas viagens arriscadas com grupos de torcedores que ele mal conhece; por mais que o cenário seja diferente e que os tempos sejam outros, a identificação é quase imediata:

"E assim quatro ônibus de torcedores chegaram, trazendo-os para o jogo ao qual haviam sido proibidos de comparecer, apenas para descobrir que uma porção de gente se adiantara a eles. De onde teriam vindo? A praça estava abarrotada. Enquanto nos espremíamos por ali, alguém acenou para nós, uma das mãos agitando-se loucamente acima da cabeça e a outra segurando o pênis, urinando dentro de um chafariz. Não se podia ter dúvida alguma quanto à sua nacionalidade, ou, nesse sentido, quanto à de qualquer dos demais, exemplares famintos e inchados de uma raça insular que, castigados pelo forte sol italiano, tinham tirado suas camisas, uma grande e gorda manifestação da história dos horários de funcionamento dos pubs, de litros e litros de cerveja e de incalculáveis quantidades de salgadinhos com sabor de bacon."

Bebe-se cerveja no submundo das "firmas" como em nenhum outro lugar do mundo. A meu ver, os melhores trechos do livro estão logo no terceiro capítulo, quando Buford viaja com os hooligans do United para um jogo decisivo contra a Juventus, em Torino:

"Perguntei a ele se poderia me informar onde estávamos.
Itália, ele respondeu. Estamos na Itália; e, em seguida, como que a título de esclarecimento: carcamanos de merda.
Eu disse, é claro, é claro, sabia que estávamos na Itália. Mas saberia ele onde na Itália?
Juventus, respondeu, ao fim de uma pausa, desconfiando tratar-se de uma pergunta capciosa. E acrescentou novamente, então, como que para reforçar a autoridade de sua afirmação: carcamanos de merda.
A cidade da Juventus?, perguntei.
É isso aí, ele disse. Pausa. Carcamanos de merda."

Tem mais ainda:

"Ele descreve o episódio na Itália. "Você se lembra do momento em que entramos no estádio? Todo mundo começou a atirar coisas em nós - garrafas, latas, pedras, tudo. Fiquei com uma cicatriz na testa, onde algum italiano me acertou com uma haste de bandeira. Éramos apenas duzentos. Éramos nós contra eles, e não fazíamos a menor ideia do que iria acontecer. Havia uma porção de sentimentos diferentes. Medo, raiva, euforia. Nunca senti nada parecido. Todos sentimos aquilo e cada um de nós agora sabe que passou por algo importante - algo sólido. Depois de uma experiência dessas, a gente não vai se separar. A gente nunca vai se separar. Seremos companheiros pela vida toda."

Em uma das tantas vezes em que menciona o "poder da multidão", Buford descreve a condição dos estádios ingleses naqueles anos:

"É uma experiência de contato físico constante e para isso contribui a forma como as arquibancadas são projetadas. Elas assemelham-se a cercados para animais e, tal como eles, oferecem tão somente a mais elementar das acomodações: um portão que é trancado assim que os espectadores entram; uma grade para impedi-los de abandonar a área ou saltar para o gramado; um lugar para eventuais intervalos - para lidar com a sede e a fome elementares; um lugar para urinar e defecar. (...) As condições são medonhas, mas essenciais: há um consenso de que qualquer coisa mais civilizada poderia diluir a experiência."

O momento do gol:

"E então, depois do silêncio, a explosão. Havia lugar e espaço a meu redor, e a multidão, explodindo, dilatando-se, erguia-se alguns centímetros acima do chão. Um estranho, que momentos antes parecera ameaçador e agressivo, agarrou-me ambas as mãos. Outro me abraçou. Virei-me e fui beijado no rosto. Fui abraçado novamente. Todos estavam em movimento, quando, subitamente, o movimento extrapolou meu entendimento e eu estava tropeçando para a frente, todos estavam tropeçando para a frente, despencando pelos degraus da arquibancada. Rolei por vários degraus - cinco, seis - e quando olhei para cima não havia ninguém em pé. Todos tinham caído e, apesar disso, a comemoração prosseguia. As pessoas se levantaram apoiando-se nos joelhos e estavam aos berros. Sempre eufóricas, algumas rolavam de um lado para o outro, dando chutes no ar, gritando de alegria, como se estivessem sofrendo uma confusão."

Buford dedica boa parte de seu esforço para entender também o estranho nacionalismo dos ingleses, de uma indisfarçada xenofobia, um tanto mais forte quando se está "representando" a seleção inglesa no exterior. Em Cagliari, por exemplo, em duelo contra a Holanda pela Copa de 1990. Não há qualquer sinal de futebol. Há apenas uma multidão desordenada que passa o dia entrando em confronto contra os policiais locais. Buford faz parte desse exército desordeiro:

"Esta fase da multidão - esta fase muito, muito feliz - durou aproximadamente quatro minutos. Durante esses minutos, todos, eu inclusive, sentiram o prazer de pertencer, algo semelhante ao prazer de ser estimado u amado. Havia também outra sensação de prazer, prazer este derivado do poder, ainda que esse poder não tenha sido exercido, ainda que fosse apenas um poder em potencial: o poder de uma multidão que tomara conta de uma cidade".

E então, senhores, fechamos assim:

"Na minha concepção, um evento desportivo fora sempre uma diversão paga, assim como uma noite no cinema; uma troca: você entregava uma pequena parcela de seus proventos, sendo recompensado com um intervalo de tempo (uma ou duas horas) de prazer, normalmente caracterizado por determinados aspectos - comida apetitosa, banheiros em bom estado, uma multidão sob controle, um lugar para estacionar o carro -, cuja tendência era encorajá-lo a voltar na semana seguinte. Para mim, isso era o normal. Podia ver que estava equivocado. Que princípio governava os eventos esportivos britânicos? A impressão era de que, em troca de algumas libras, você obtinha uma hora e 45 minutos caracterizados pela máxima exposição às piores condições climáticas possíveis e ao maior número de obstáculos - transporte precário, ausência de estacionamento, um aglomerado progressivamente perigoso na única saída existente, um tanque repelente e infecto para urinar, mudanças de última hora quanto ao horário do início da partida - a desencorajá-lo de alguma vez tornar a comparecer a um jogo.
No entanto, ali estavam todos, passando seu sábado.
(...)
... e, muito embora não pudesse dizer que conseguia estabelecer contato com qualquer um "deles", descobri, ainda assim, que estava criando gosto pelo jogo. Descobrira um jeito de me colocar em pé nas arquibancadas e assistir à partida - um avanço sofrível. Na verdade, eu já começava a apreciar as condições das próprias arquibancadas. O que, admito, me causou surpresa. Não me parecia algo natural, nem lógico. Era, segundo me parece agora em retrospecto, algo semelhante ao álcool ou o tabaco: repugnante num primeiro momento; prazeroso com algum esforço; viciante com o tempo. E, no fim, quem sabe, um pouco autodestrutivo".

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Onde comprar: aqui, aqui ou aqui. Ou em qualquer boa livraria.

E aqui a Folha de S.Paulo traz um bom - e longo - trecho do livro, logo um que dá início à história.

04 setembro 2013

Mundos diferentes

Daí você deixa o estádio quase no dia seguinte (morte lenta e dolorosa a todos os responsáveis pelo futebol às 21h50), liga o rádio do carro para ouvir algo acerca do tenebroso empate sem gols que acabou de presenciar e o porta-voz do gigante Palmeiras é uma figura que, 20 anos passados, só se atualizou mesmo na auto-imposta denominação de seu cargo.

Diz o CEO: "Eu estou muito, muito satisfeito. Cumprimos a nossa meta e fomos muito melhores do que o esperado".

Seguem-se gargalhadas cínicas (está te fazendo bem o generoso salário, CEO?).

Depois, incapaz de apresentar alguma explicação para o imbróglio do zagueiro titular que foi doado e agora devolvido, o CEO busca reiterar o seu contentamento (e, ao que parece, de mais gente): "Estamos muito, muito felizes."

Por quê?, eu gostaria de saber.

Mais discurso vazio e o complemento vem com risos cínicos.

...

De um lado, a torcida que encarou o obsceno horário das 21h50 para ver o pífio desempenho de um time que acabara de ser vergonhosamente eliminado da única competição digna que restava em mais este ano perdido.

Do outro, dois dirigentes que se escondem atrás de nomes pomposos e de um exército de covardes e austeros capachos para vilipendiar dia após dia o patrimônio maior da SE Palmeiras.

Você, por exemplo, está muito "satisfeito" com o Palmeiras na Série B, mas com a "meta cumprida"? E se diria "muito feliz" com o "balanço no azul" enquanto o alviverde imponente apanha do Atlético/PR? E você, caro palestrino, solta gargalhadas cínicas pela madrugada paulistana depois de ver o Verdão empatar sem gols contra um certo Chapecoense?

São mundos diferentes. Cabe a cada um escolher a defesa do Palmeiras ou de um falido sistema de gestão que se pretende "profissional" e "moderno".

02 setembro 2013

On the road - Fortaleza/CE



















Nossa defesa vai muito bem, obrigado. Melhor ficou depois da generosa doação de um dos zagueiros titulares. Dada a excelência de nossa retaguarda, não vou, pois, entrar em comentários detalhados acerca da primorosa atuação dos camisas 6, 3 e 36 (eram estes os números, correto?). Vou tratar, isto sim, de temáticas às quais não estão muito afeitos os nobres correligionários da gestão ora à frente do Palmeiras: aquelas relativas à vivência em estádios de futebol. Sabem como é: ir a campo não é muito a praia dessa gente deslumbrada que vibra com o "balanço no azul".

Se vamos falar sobre estádios, comecemos pela aparência: a do novo Castelão é belíssima - em que pesem todos os senões inerentes a um local construído segundo o tal Padrão Fifa. Como eu não conheci o Castelão antes da sua reconstrução para a Copa, não tenho como muito como fazer considerações sobre o que mudou. Verdade é que o estádio é muito bem resolvido por dentro e por fora.

Isso não impede, no entanto, que eu faça a seguinte consideração: se você colocar no Castelão alguém com um nível de conhecimento de estádios que seja ao menos razoável e disser que ele está no novo Mineirão, a pessoa não terá como discordar.

Isso posto, vamos em frente:

A maior deficiência do estádio diz respeito a uma característica que é um problema mais de Fortaleza e menos da arena: mobilidade urbana. Há praticamente uma única via de acesso a partir dos bairros mais centrais - e, presumo eu, das áreas onde vive a maior parte da população (norte, leste e oeste). Não há qualquer meio de transporte de massa nas imediações (nem pensem em trem ou Metrô) e mesmo as linhas de ônibus são poucas e insuficientes (a bem da verdade, me lembro de ter visto antes do jogo apenas um coletivo por ali, perdido em meio ao monte de carros).

Se o transporte individual desponta como praticamente a única opção, já dá para se ter uma ideia do transtorno. Pois ele fica ainda pior se você considerar as obras que tomam conta da cidade e a falta de vias paralelas à avenida que conduz ao estádio. Daí então que, em pleno sábado à noite, levava-se quase uma hora para percorrer um trecho de pouco mais de quatro quilômetros. Um caos, acentuado pelo déficit de inteligência dos responsáveis pelo trânsito local.

Houve quem se atrasasse para o jogo. E a situação pareceu ser ainda pior do nosso lado, com os cerca de 6 mil palmeirenses que lá estivemos tendo de encarar um tratamento deplorável por parte do policiamento local (vestidos com fardas que pressupunham certo nível de especialização: "Segurança em eventos"). Muito em função das grades que cercam tudo por ali, tivemos os palmeirenses um tratamento animalesco, dificultando o acesso do público e colocando em risco a multidão que se empurrava para conseguir chegar até as catracas. Uma situação grotesca.

















(Após o jogo, os policiais locais conseguiram fazer ainda mais besteira, revelando total incompetência para escoar a torcida visitante: mesmo depois de meia hora de espera ao término da partida, as criaturas deixaram fechados os dois portões de saída, obrigando quase seis mil pessoas a se empurrarem de um lado para o outro, em um estúpido vaivém, por alguns minutos.)

Do lado de dentro, a comprovação do que já se insinuava lá fora: com ingressos a preços razoáveis, a torcida local era a torcida de sempre: o povão, as organizadas, uma massa habituada aos estádios. Ou seja: o estado do Ceará se antecipou ao movimento que deve se repetir em breve em todo o país (com as práticas elitistas sucumbindo aos estádios sendo ocupado pelo povo).

Exceção feita às cadeiras retráteis (que conferem bom espaço para permanecer em pé), a todo aquele ambiente com cara de novo e a um ou outro elemento decorativo, não havia ali qualquer sinal de Padrão Fifa: a festa foi bonita, o barulho, muito alto (a acústica amplia o volume, mas dificulta a compreensão do que é cantado), não havia lugares numerados nem instrutores idiotas e TODOS assistiram ao jogo em pé. Não houve qualquer tipo de restrição, ninguém criou caso e o futebol prevaleceu. Ao menos do nosso lado.

Das coisas que impressionam no Castelão, a iluminação merece destaque. Alguém me falou durante o jogo: "Parece que é dia...". Cara, é mais do que isso: é mais claro do que o sol do meio-dia. Não há sombras, e eu confesso que, por puro saudosismo, vou sentir saudade dos tempos em que prevalecia em nossos estádios a iluminação de boate. 

Acabei ficando no setor inferior, mais perto do campo. A visão é privilegiada do gol à nossa frente, mas não do outro lado. E tenho a impressão de que seria melhor a panorâmica a partir do setor superior, onde se posicionou a Mancha.

Por falar em Mancha, presente em grande número, é de se lamentar a restrição imposta à colocação de faixas das organizadas nos muros da arquibancada. Foi assim do nosso lado e também do outro - a Cearamor não pôde exibir a sua faixa também.

Já depois do jogo, em meio à batalha para conseguir voltar para "casa", o Castelão deixa uma última imagem para os visitantes: barracas e mais barracas de comida e bebidas com cadeiras para os interessados. Todas repletas de torcedores do time cearense. Tudo muito informal, honesto e típico.

Ao final, o balanço do Castelão é positivo. O público lá presente era o verdadeiro público do futebol, afetações parecem não ter espaço entre os locais e os pequenos poréns aqui e ali parecem facilmente contornáveis: o tempo e a sequência de jogos vão se encarregar de fazer o Castelão se adaptar à cultura do futebol - e não o contrário.


















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Quem viaja para ver o seu time em outros estados sabe muito bem que há aqueles jogos em que você volta para casa satisfeito por arrancar um empate. A Série B, vejam vocês, nos tomou esse direito. Porque você vai encarar um jogo desses bem longe de casa, com estádio tomado pela torcida rival, e, mesmo assim, não consegue se contentar com o empate. Na Série B, a vitória é obrigatória sempre, mesmo diante de um rival empurrado por quase 40 mil pessoas.

Faltam só 20 rodadas para terminar este inferno...

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Esses "XXX" no lugar de supostos números de fila, assento e subsetor mostram bem o quanto o futebol resiste em Fortaleza...