30 janeiro 2011

Canindé, 0-2!


Quatro vitórias consecutivas, eu sei, são capazes de despertar no palmeirense ilusões das quais poderemos nos arrepender depois. Portanto, é sempre melhor manter os pés no chão. E eu entendo que, mais do que o desempenho do time, a arrancada das últimas rodadas deve ser mais festejada por esses 12 pontos que devem garantir uma boa posição na tabela lá no meio de abril.

De certa forma, as quatro vitórias seguidas (três delas fora de casa) compensam um pouco da desvantagem de um time que vai realizar apenas nove partidas como mandante (devido à má campanha de 2010). Quanto ao que temos dentro de campo, é cedo ainda, mas preciso admitir minha surpresa com as presenças de Pardalzinho e Adriano. Foi depois da entrada deles que o jogo no Canindé ganhou outro ritmo, e aí os gols no final apenas premiaram a melhor qualidade técnica do Palmeiras.

Sim, temos ainda muitos problemas, em especial com o nulo Rivaldo fazendo besteira na esquerda, com um Márcio Araújo que merecia demissão por justa causa depois do que fez contra o Goiás, mesmo com alguns desacertos na defesa, e especialmente com a falta de um camisa 9. Mas vivemos hoje uma tarde de Palmeiras no Canindé, com uma vitória que é sempre complicada. E por isso mesmo a torcida tem motivos de sobra para comemorar e terminar este domingo como se fosse um daqueles domingos felizes dos anos 90.

***

1. É sempre bom voltar ao Canindé, e eu só lamento que, com a Portuguesa na Série B do Brasileiro, isso vá acontecer apenas uma vez a cada dois anos. Por sinal, naqueles casos em que o Palmeiras não pode atuar no Pacaembu (devido a jogos do SCCP), o Canindé é uma opção muito melhor que a Arena Barueri. Que tal fazer isso no próximo dia 23 de março (contra o Linense)?

2. Que me desculpem os que não concordam, mas eu não aceito e não entendo a presença desta maldita camisa amarela em jogos como este - e em nenhum outro!

3. Últimas vitórias no Canindé:
30.01.2011: Portuguesa 0-2 Palmeiras - 9.304
11.03.2006: Portuguesa 1-2 Palmeiras - 6.196
07.10.1998: Portuguesa 2-3 Palmeiras - 11.713
01.05.1996: Portuguesa 1-2 Palmeiras - 21.960

4. Por sorte, parece que não tivemos nenhum encontro entre torcidas entre a tarde e a noite deste domingo. Ótima notícia. Pode jogar o discurso no lixo, promotor!

Um domingo perigoso

Jogos deste domingo:

17h, Canindé: Portuguesa-Palmeiras
17h, Barueri: Santos-SPFC
19h30, São Bernardo: São Bernardo-SCCP

Por determinação dos gênios da FPF e com o consentimento dos bravos e valorosos homens do 2º BP Choque e dos diligentes e comprometidos promotores públicos, estarão circulando pela Grande SP entre a tarde e a noite deste domingo as torcidas dos 4 grandes clubes do estado (mais a Portuguesa). Todas elas fazendo uso de transporte público (leia-se Metrô e trens da CPTM) e percorrendo grandes distâncias para chegar a estádios que ficam ao sul, ao norte e ao oeste. Uma combinação que é perfeita para quem quer ver confrontos por aí.

Imagino nossos amigos promotores ansiosos pelo reencontro com os microfones e com as páginas de jornal. Teve um aí, aquele, que já se antecipou e ontem mesmo mandou ver uma notinha na coluna social.

Parabéns a todos os envolvidos! E parabéns à FPF, por marcar dois clássicos para o mesmo horário e por deixar o sábado sem jogos para então colocar os cinco times grandes jogando no mesmo dia. É genial!

Vamos ao Canindé! Além da vitória do Palmeiras, é justo esperar deste domingo que nada de ruim aconteça pelas periferias de SP. E aí o discurso vazio de alguém que espera pelo pior vai direto para o lixo.

28 janeiro 2011

É dia 6!!!

O 3-1 sobre o Paulista de Jundiaí deixou o Pacaembu envolto em um inusitado clima de tranquilidade na noite desta quinta-feira. Não houve sobressaltos, o time mostrou força e bateu o adversário com uma facilidade que há muito não se via - e com belos gols, vale ressaltar. É claro que nada disso deve servir para o palmeirense criar novas ilusões - nós bem sabemos o risco disso -, mas ao menos parece que dessa vez não passaremos por um vexame como a 11ª colocação no Paulista do ano passado.

Temos, no entanto, além do jogo do próximo domingo, no Canindé, três provas de fogo para este time (e para Felipão): 6 de fevereiro (SCCP), 27 de março (SPFC) e 3 de abril (SFC). O que vale destacar aqui é o, digamos, desarranjo na confecção da tabela: dos quatro clássicos na primeira fase, faremos três fora (incluindo o Santos, mesmo já tendo jogado lá na primeira fase de 2010!) e apenas um (logo contra o SCCP no Pacaembu!) em "casa".

É preciso manter o foco no que realmente interessa. Como bem cantamos ontem, É dia 6!!!

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Breves considerações:

*Muitos podem não se lembrar, mas o Paulista de Jundiaí é um precursor de aberrações como o Grêmio Itinerante Prudente de Barueri e o Americana Guaratinguetá. Sim, porque lá atrás, entre o final dos 1990 e o começo desta década, o Paulista perdeu até o seu nome tradicional: foi Lousano Paulista (virou vôlei, é?) e também Etti Jundiaí. E os dois nomes ficaram na história do Palmeiras como nossos adversários de um jogo só.

*O público de ontem, 6.113 pagantes, foi pequeno sim, mas é o público condizente com o cenário todo: jogo no inexplicável e obsceno horário das 21h50, ingresso a R$ 30 no fim do mês, chuvas em SP, torcida ainda bastante desconfiada. Nem a volta de Marcos serviu para levar mais gente ao estádio municipal. 

*De qualquer forma, vale um registro histórico: ao longo da última década, os jogos do Palmeiras contra o Paulista aqui em SP ficaram marcados por vitórias quase sempre fáceis e públicos decepcionantes: 2004 (5-2 e 2.746), 2005 (3-1 e 5.238), 2007 (4-2 e 14.352) e 2009 (1-0 e 6.533, esta também no Pacaembu). Alguém haverá de lembrar da exceção recente, também em 2004, pela semifinal do Paulista daquele ano: na ida, no Palestra, 19.308 pagaram para ver o empate em 1 gol. Na volta, em Araras, tomamos 0 a 2 no começo e depois 1 a 3. Fomos buscar o empate com um gol já nos descontos do segundo tempo, uma façanha digna do Palmeiras. Depois, em outra façanha digna do Palmeiras, perdemos nos pênaltis. 

*Isso tudo veio à cabeça agora sei lá por qual motivo. Talvez por um certo saudosismo decorrente de conversas com bons e velhos amigos na arquibancada do Pacaembu. 

*Por fim, guardem esta data: 17 de abril. Neste dia, pela última rodada da primeira fase do Paulistão, acontece o clássico Grêmio Itinerante Prudente de Barueri x Americana de Guaratinguetá. Lá em Presidente Prudente.

26 janeiro 2011

DIRETAS JÁ!

Arnaldo Tirone, o aprendiz de tirano, em entrevista ao programa Cartão Verde, aquele que já conseguiu reunir em uma mesma bancada figuras como Juca Kfouri, Flavio Prado e Armando Nogueira:

"Não sou contra a democracia, mas o Palmeiras não está preparado para isso. Minha prioridade é organizar o clube, com calma."

Sim, senhores, o Palmeiras, pensa essa gente, não está preparado para a democracia. Para essa gente, o gigante Palmeiras deve sempre ser conduzido por meia dúzia de velhos morféticos, interessados mais em preservar seus feudos dentro do clube do que em manter um gigante tal como ele é. Esta gente está mais preocupada em viver das migalhas do poder e em sustentar a área social do que com o sucesso do mais vitorioso entre os clubes brasileiros.

DIRETAS JÁ!

25 janeiro 2011

Sobre o aniversário de SP

Como de costume, muitas foram as homenagens de jornais e revistas ao aniversário de 457 anos da cidade de São Paulo. Ok, tudo muito justo e tal, mas eu acredito que este blog tem a função de, a cada novo 25 de janeiro, dar publicidade ao maior atentado que um veículo de comunicação já cometeu contra esta metrópole e contra seus habitantes. É assim que, ao término desta breve introdução, deixá-los-ei com um post que, publicado em 2009, merece ser lembrado a cada ano para que os responsáveis por ele se envergonhem e, quem sabe em um surto de dignidade, ponham fim a suas vidas desprezíveis:

Que cidade é essa? (25.01.2009)


21 janeiro 2011

O retorno do nefasto

 
Crédito da foto: Mario Viviani 

Chico Lang era lembrado pelos palmeirenses na saída de qualquer jogo disputado nos anos 1990 e 2000 bem no trecho da foto acima. Era um canto irônico até, revestido não do ódio que se dedica aos inimigos, mas do desprezo que se empresta a um pobre coitado que não se leva a sério. Era um grito popular porque puxado por qualquer um que estivesse passando pelo fosso do Palestra, bem abaixo da numerada coberta. Os que entravam na onda pareciam acreditar que pudesse estar em uma daquelas cabines o "jornalista" da TV Gazeta. Que nada; ele é daqueles comentaristas de estúdio que não devem pisar em um estádio há anos. 

Veio a primeira metade da década perdida (2001-2010) e o grito perdeu força; o palmeirense elegeu um novo alvo, este sim nocivo. Rumo à Turiassu depois de cada jogo, a multidão acostumou-se a olhar para algum camarote qualquer acima das numeradas do Palestra Italia para então disparar toda sorte de ofensas contra o nefasto que se eternizava no poder. Os gritos, raivosos, enunciavam o inconformismo de uma torcida que sequer poderia imaginar tudo o que viria a sofrer nos anos seguintes. 

Os gritos (de guerra) contra o nefasto se mutiplicaram. Partiam da arquibancada, chegavam à numerada e ganhavam força na passagem pelo fosso, pois dali parecia mais fácil se fazer ouvir pelo maldito. Que nada; ele normalmente não estava lá no alto, mas sim em qualquer outro lugar (lembrem-se do episódio em que ele foi flagrado no supermercado durante um Palmeiras x SCCP). 

Gritava-se na esperança de que ele fosse ouvir. Ou gritava-se para seus pares, para outros dirigentes, para os conselheiros canalhas, para a imprensa até. Gritava-se para extravasar o desejo de mudança. Gritava-se porque simplesmente não cabia ficar calado. Gritava-se por liberdade. Gritava-se pelo Palmeiras. 

Depois de 2005, vieram dois mandatos do bananão e mais este, frustrante, do Belluzzo. O legado é o cenário caótico em que estamos mergulhados. Do estádio para dentro, um time capenga, salários atrasados, uma torcida abandonada. Para fora, pior: dívidas milionárias, clube dividido e a façanha de eleger um sucessor e quatro vices que são apoiados pelo nefasto, logo aquele que levamos tanto tempo para expulsar. 

Órfão, o palmeirense fica sem saber quem xingar ou contra quem protestar. E fica temeroso de que os tempos do nefasto Mustafá Contursi tenham uma sobrevida que só será possível pela incompetência de todos aqueles em que depositamos nossa confiança. 

E agora, ao contrário de antes, sequer poderemos deixar a nossa casa pelo fosso e gritar algo como "Tirone, vai se foder, o meu Palmeiras não precisa de você". Porque não estaremos em casa. E, pior, quando voltarmos a ela, o fosso não mais existirá. 

*** 

*Espero estar enganado quanto a isso tudo, mas é fato que um sujeito que aceita manter qualquer tipo de relação amistosa com o nefasto já começa o mandato sob enorme descrédito.

16 janeiro 2011

Ainda em 2009

Os vagabundos que entraram em campo no fatídico 24 de novembro de 2010: Deola; Márcio Araújo, Maurício Ramos, Danilo e Gabriel Silva; Edinho, Marcos Assunção, Tinga (Ewerthon) e Lincoln (Dinei); Kleber e Luan.

Os vagabundos que entraram em campo ontem, 15 de janeiro de 2011, no mesmo Pacaembu: Deola; Vitor, Maurício Ramos, Danilo e Rivaldo (Vinícius); Márcio Araújo, Marcos Assunção, Tinga e Lincoln (Patrik); Luan e Kleber (Dinei).

Dos 11 titulares na vexatória eliminação da Copa Sul-Americana, menos de dois meses atrás, foram a campo ontem nove deles.

2010 não acabou, e, para piorar, traz junto com ele o maldito 2009, outro ano que também insiste em não ter fim.

O que vimos ontem no gramado do Pacaembu foram os vagabundos que nos tiraram o direito a uma final em Avellaneda, entregando para o pequeno Goiás uma classificação que era impossível de ser perdida. Vimos um catadão sem condições de vestir a camisa alviverde.

Vimos um bando sem qualquer organização, sendo que alguns dos vagabundos ali presentes já deveriam ter recebido a demissão por justa causa na própria noite de 24 de novembro de 2010.

E não adianta porra nenhuma dizer que tiveram pouco tempo para treinar e o escambau. A verdade mesmo é que este bando de vagabundos não vai nos levar a lugar algum. Pior que isso: nem mesmo a torcida, se fizer força como nunca antes, consegue levá-los além de um empate em casa com um time pequeno qualquer do interior paulista. Mais do que o jogo sofrível que vimos ontem, o que perturba é a falta de perspectivas de uma torcida abandonada pelo seu clube. Continuamos em 2009.

14 janeiro 2011

O retorno. Jogo 1

Em meio à desesperança que inevitavelmente toma conta de uma torcida completamente abandonada pelos incompetentes dirigentes do clube, eis que voltamos amanhã a campo. Por mais que o sentimento seja o de que nada de muito positivo pode acontecer neste ano, é também inevitável ser tomado agora pela ansiedade comum a cada início de temporada.

Já fica desde agora o desejo de chegar o quanto antes ao Pacaembu, reencontrar os amigos, sentir de novo aquele inconfundível cheiro que antecede um jogo de futebol (sim, ele continua, mesmo tendo o nosso prefeito vagabundo proibido as barracas de pernil) e passar o quanto antes pelas catracas do portão principal do Pacaembu. É claro que dessa vez vai faltar o reencontro com a nossa casa de verdade, com os bares da Turiassu, com as alamedas do clube e tudo aquilo que constitui a nossa essência de torcedores de estádio. Começamos o ano um tanto órfãos, é verdade, mas a camisa do Palmeiras vai a campo e nós vamos junto.

É o início de mais uma temporada. Mais algumas dezenas de jogos em casa, outras tantas viagens pelo interior paulista e por outros estados, provavelmente mais derrotas vergonhosas, inexplicáveis e absurdas, daquelas que só o Palmeiras é capaz de alcançar. E também algumas alegrias efêmeras, um grande jogo aqui e ali, gols que ficam para sempre na memória de estádio, mesmo algumas vitórias fora de casa que nos fazem lembrar do gigante que sobrevive à incompetência de um bando de dirigentes inaptos.

O Palmeiras é sempre maior. E nós vamos junto com ele. Sempre e em todos os cantos onde houver Palestra.

Ao estádio municipal!

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Amanhã: Buim? 17h30?

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Eu não poderia deixar os meus leitores, muitos dos quais não devem ter o costume de ler outros cadernos que não o de esporte, sem algumas notinhas publicadas hoje na coluna da Mônica Bergamo (Ilustrada, Folha de S.Paulo):

DUCHA GELADA

Uma partida de futebol de garotos de até 11 anos acabou em briga de adulto no Paulistano, o clube mais elitizado de SP. No final de novembro, o time da casa recebeu na sede, nos Jardins, o clube Esperia, de Santana, zona norte. A provocação entre torcidas foi parar na delegacia. O empresário José Corona Neto e sua mulher, a promotora Maria Lia Pinto Porto Corona, sócios do Paulistano, registraram ocorrência no 78º DP. Lia teria levado um soco no rosto, cortado o lábio e quebrado um dente. "Estavam xingando as crianças de "viado, bicha". Quando falei "vamo [sic] manter o nível", uma senhora interpretou que eu disse que ela era baixo nível", diz a promotora.

CARTÃO VERMELHO
Segundo o BO, Corona Neto teria provocado a torcida adversária. "Ele disse que nós éramos uns pobretões da zona norte", conta a advogada Cláurea dos Santos Chalian, mãe de um jogador do Esperia, que venceu a partida por 1 x 0. Os visitantes dizem que entraram pelos fundos do Paulistano e ficaram sob a mira de seguranças.

NO RINGUE
Áurea Monteiro dos Santos, 70, é apontada como a agressora de Lia. A septuagenária teria dado um tapa na promotora, reagindo ao ser chamada de "velha esclerosada". Corona chegou a ser suspenso pelo Paulistano.

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Paulistano. Sabem a que outro clube isso remete? E há alguma coincidência no fato de termos envolvida na história uma promotora? Onde está numa hora dessas outro promotor, o doutor Paulo Castilho, sempre diligente e comprometido com os interesses do povo? E aí, Castilho, como fica isso? E o Estatuto do Torcedor? E as suas entrevistas? E a sua indignação?

10 janeiro 2011

Geração Winning Eleven

Futebol moderno: eis aí a expressão abominável para o verdadeiro torcedor. Este blog já abordou muitas das consequências maléficas desta praga dos nossos dias, mas não tinha encontrado ainda o momento adequado para tratar de um aspecto que, embora secundário, é bastante relevante para os ideais desta página: refiro-me à Geração Winning Eleven. 

Pois é, você que me lê certamente conhece alguém (irmão, primo, amigo... ou você mesmo, vai saber) que sabe de 1 a 11 (ou de 22 a 99, de acordo com os tempos modernos) a escalação dos principais times europeus. Até de aberrações como o Chelsea, a definição perfeita desses tempos de futebol moderno (notem a quantidade de camisas do Chelsea pelas ruas de SP...). 

Não vá pensar você que essa gente conhece a escalação do Liverpool, do Milan, do Barcelona ou do Real Madrid por ter o hábito de acompanhar os campeonatos europeus com afinco ou mesmo de estudar a história dos clubes e do futebol europeu. Nada disso! A relação desses jovens (alguns nem tão jovens assim) é com o videogame e eventualmente com qualquer tipo de material que se preste ao serviço de propagação desses clubes como empresas globais, mais preocupados que estão em vender camisas e bugigangas na China, nos Estados Unidos, no Japão. Ou no Brasil... 

É a Geração Winning Eleven. São jovens que desconhecem a história do futebol e que simplesmente se deixam levar pelo que é apregoado por marqueteiros, quer sejam eles daqui ou de fora. 

Problema deles, dirão alguns. Bom, provavelmente é mesmo, e eu deveria mais é querer distância de pessoas que vão contra a identidade do futebol. Acontece que surgiu, nesses últimos dias, o momento em que o embate se fez necessário. Tudo começa com uma discussão travada via Twitter entre o grande palestrino Felipe Giocondo e alguns sujeitos que se dizem integrantes da Arsenal Brasil, “a primeira torcida organizada do Arsenal na América Latina”. 

Nego fez site, blog, Twitter e tal, e aí foi dar as caras em um programa da ESPN Brasil, proclamando, vejam os senhores, um certo amor pelo Arsenal, clube londrino que não tem qualquer relação com o Brasil ou com o nosso futebol (como nenhum outro clube do exterior, cabe dizer). Isso posto, alguns dos senhores podem estar se questionando: o que tem de mal nisso? 

Bom, acontece que não há menor condição moral de alguém torcer por um time que não é do seu país. É evidente que o cara que resolve fazer isso deve ter lá o seu direito constitucional, mas o que se discute aqui é o desrespeito à cultura do futebol. Mais do que um simples jogo e acima de quaisquer interesses financeiros, o futebol é uma manifestação cultural completa, e deve ser compreendido como tal. Mas sim, esta é apenas a minha opinião. 

Daí que o amigo Felipe Giocondo foi lá dialogar com os sujeitos que formam essa suposta torcida organizada de sofá. Comecemos pelo fato de ser ofensivo falar em "torcida organizada" quando tudo o que os negos sabem fazer é ver o jogo do time (?) pela TV, a bunda escorada no sofá, a mais de um continente de distância. Ok, adiante. 

Fosse só isso, e eu sinceramente teria ficado na minha, porque, afinal, há muitas outras preocupações quando se trata de futebol. Se tivessem os alienados de sofá apenas retrucado a argumentação do Giocondo, e eu igualmente teria ficado na minha. 

No entanto, e aqui reside o problema, acabei me deparando com a alienação dos comentários pseudo-britânicos, e aí não deu pra segurar. Vamos começar por este aqui:

  

"Quantos títulos o seu time tem?" "O seu time/sua torcida teve repostagens (não seriam reportagens?) exclusivas na Globo ou ESPN?" "Sorry if we are the best!"? Vou me abster. Seguimos com outro bom exemplo:

   

Está feita a comparação: "times de futebol são como bandas de música". E eu poderia aqui tecer comentários infindáveis sobre a inadequação da proposição e mesmo sobre as implicações do que está sendo dito, mas acredito que meus leitores são inteligentes o bastante para entenderem o que está por trás do raciocínio. Tem mais: 

   

Ora, ora, ora. O sujeito apelou para o discurso vazio dos títulos. Parece até um pretenso soberano falando, não? Interessante notar que o time para o qual o cara supostamente torce é um dos poucos ditos grandes da Europa sem título da UCL. Mas o ponto aqui não diz respeito à questão dos títulos, mas sim à maneira como ele argumenta. "Sucesso"? "Paixão"? Só pode ser brincadeira. Mais um pra finalizar:

 

Eis então que lá de Fortaleza, cidade que em muito se assemelha ao norte de Londres, o sujeito vem ostentar o seu orgulho de torcedor de sofá. Bonito, muito bonito... 

Em todos os casos acima expostos, não é à toa a opção por um time que disputa a Premier League, torneio que há muito perdeu a sua essência, hoje com times formados quase que integralmente por estrangeiros. Quem banca isso? Magnatas do petróleo, empresários americanos, mafiosos russos, o escambau. Alma? Bom, isso ficou nos tempos de Nick Hornby, nos tempos de Highbury... 

Por favor, torcedores organizados de sofá, não vão me dizer que não sabem quem é Nick Hornby. Por favor, não façam isso! 

Em Soccernomics, O livro, há um capítulo ("Are soccer fans polygamists?") todo dedicado a estudar o posicionamento dos clubes europeus como empresas globais, dispostas a fazer (???) torcedores (??????) em todos os cantos do mundo. Torcedores? Bom, a palavra mais adequada é "consumidores", uma vez que o objetivo dos grandes europeus quando se trata de América Latina ou Ásia é um só: vender. O discurso da tal diretora de torcidas organizadas (???) do clube londrino reflete bem essa visão expansionista: “Queremos que o Arsenal seja um clube mundial”

Portanto, um brasileiro que se diz torcedor do Arsenal é na verdade um consumidor da Geração Winning Eleven. Torcedor, nunca é demais dizer, é aquele que vai ao estádio! 

Por favor, deixem o futebol em paz! Só isso!

08 janeiro 2011

Dignidade em falta

Palmeiras, Grêmio e Flamengo são três gigantes do futebol brasileiro. São três clubes que, para além de qualquer crise momentânea, têm torcidas e histórias que os sustentam incondicionalmente e para todo o sempre. Isso posto, é de se lamentar o ridículo papel de seus dirigentes, eles todos rastejando atrás de um vagabundo que já foi jogador de futebol lá atrás.

Tenho evitado ao máximo as páginas esportivas neste início de ano, em especial porque quero ficar distante da putaria em que se transformou a negociação com o irmão do vagabundo, um crápula que deve estar aproveitando bem os muitos almoços e jantares em churrascarias. Do pouco que chega até mim - normalmente pelo Twitter ou por comentários ocasionais -, lamento também o interesse da imprensa esportiva em prolongar a história.

Faltou dignidade aos dirigentes dos três gigantes. Faltou decência. Faltou vergonha na cara.

Quanto ao desfecho dessa putaria toda, só me importa mesmo que este vagabundo nunca venha a frequentar a zona oeste de São Paulo. A se confirmar isso, restará o consolo de saber que a nossa torcida foi a única que não se prestou a um papel ridículo. Enquanto os gremistas prepararam uma festa para depois se dizerem traídos (de novo, porra?), os mulambos fizeram até bandeira para o pilantra; do nosso lado, indiferença. Ao menos isso.

05 janeiro 2011

Desesperança

Voltaram de férias os vagabundos que protagonizaram no final do ano passado o vexame que condensa o nosso sofrimento de uma década. Peço licença então para voltar a um certo domingo de janeiro de 1990 (ok, dia 28), quando eu, ainda muito muito moleque, abri o jornal logo cedo e vi a manchete: “Palmeiras inicia mais uma temporada para sair da fila”. Era algo assim, talvez com outras palavras, mas o impacto da mensagem ficou na minha cabeça desde então. Havia na matéria um tom de desesperança, como se aquele time estivesse iniciando mais um ano de sofrimento para a torcida, e como se nada fosse possível para tirar o gigante Palmeiras daquela situação em que os títulos só se aproximavam para que, na iminência deles, fôssemos apresentados a derrotas improváveis.

O alviverde, quase 14 anos sem um título sequer àquela altura, jogou na tarde de domingo contra a Ferroviária, no Canindé – era a isso que fazia referência o jornal. O time venceu, em um típico 1-0 contra o time de Araraquara – o placar se repetiria, então de maneira triunfal, nos anos de 1993 (lá) e 1995 (aqui), sempre pelos pés de Edmundo. A questão toda é uma só: a desesperança de hoje é ainda mais intensa que a daqueles anos aparentemente tão sombrios.

Pode ser fruto do meu amadurecimento em duas décadas, do sofrimento acumulado em quase sete centenas de jogos no estádio ou mesmo do cenário caótico em que estamos mergulhados, mas o fato incontestável é que nenhum palmeirense com um mínimo de senso crítico pode esperar por algo de positivo da temporada que se inicia agora. É verdade que o futebol costuma nos surpreender a toda hora, mas isso só tem acontecido contra o Palmeiras - e nunca a favor.

É então que, confrontado com a notícia de que voltaram de férias os vagabundos que conseguiram impor à torcida alviverde um vexame sem precedentes há 40 dias, eu passei a invejar um pouco a sensação daquele menino que, 21 anos atrás, leu o jornal e enxergou algo além da desesperança por trás daquelas poucas palavras. Senti inveja da inocência de quem não sabia o que se passava nas alamedas do Palestra Italia e, portanto, se permitia sonhar com a redenção ao final da temporada.

O título não veio em 1990. Também não em 1991, tampouco em 1992. Mas 1993 chegou e marcou o início de sete anos de títulos em profusão e de elencos que, de tão bons, conseguiam vencer os adversários e também o próprio Palmeiras. A esperança reprimida do início dos anos 1990 abriu espaço para outras sensações, e o futebol passou a fazer ainda mais sentido do que antes.

O problema é que agora, depois de tanta demonstração de incompetência, de vergonhas que se sucedem uma após a outra e de acompanhar ano após ano um time que avança de maneira inacreditável na arte das derrotas absurdas, o palmeirense já não se permite nem mesmo o direito à ilusão comum a cada início de temporada. Longe de imaginar quem será o destaque da temporada ou até onde poderemos chegar em cada competição, o torcedor já se prepara para novos fracassos e para mais crises criadas dentro de casa e até especula, diante da mais uma vez convidativa tabela da Copa do Brasil, contra qual pequeno e desprezível clube vamos cair dentro de casa.

Em meio aos ídolos que fracassaram no retorno, à completa falta de reforços, aos dirigentes que só sabem criar problemas em vez de resolvê-los e diante de uma negociação desproposital e constrangedora com este certo vagabundo que já foi jogador de futebol um dia, tudo é desesperança. E agora, para piorar, sequer temos um lugar para chamar de casa.