28 fevereiro 2010

A ressaca de 2009

2009 não terminou, ao menos não para o torcedor palmeirense, que continua a viver a ressaca de um título que nunca veio. É claro que não se pode atribuir a isso a derrota de hoje, mas o que este blog pretende destacar é a apatia que tomou conta do palestrino neste 2010 pouco promissor.

Escrevo isso tomando por base o meu caso e o de muitos dos meus amigos, figuras das mais participativas na arquibancada do Palestra e de outros estádios do Brasil e do mundo. Para todos nós, 2010 é um ano marcado pela desconfiança.

Tanto é assim que o desgaste de 2009 nos levou a tirar o pé no Paulistão: ao contrário de todos os anos anteriores, não fomos ainda para o interior (nada de Ribeirão, Bragança ou Rio Claro, para ficar em alguns exemplos). É uma decisão consciente, pois nenhum de nós quer chegar ao final da temporada sem energia, e ela não pode ser queimada em noites de domingo catastróficas, caso desta última, na distante Rio Claro.

Estamos cumprindo apenas com a obrigação e indo a todos os jogos no Palestra. E só, pois o desânimo e a desconfiança não estimulam doses de sacrifício que foram bastante comuns nos últimos anos. Aliás, nem os jogos no Palestra empolgam, tanto é assim que eu sequer escrevi algo sobre os 4 a 0 diante do Flamengo/PI na última quinta - não havia o que escrever; as piadas contadas na arquibancada foram mais interessantes.

Isso se reflete também na pífia média de público pagante nos primeiros jogos do ano, conforme pode ser observado a seguir.
Médias de público (seis primeiros jogos no Palestra):

2010: 9.419
2009: 17.306
2008: 20.419
2007: 16.005
2006: 19.622
2005: 10.925
2004: 8.719

(Cumpre dizer que eu já tinha esses números prontos desde sexta. Mas aí a FSP se antecipou e hoje, em uma reportagem das mais preguiçosas, fez a comparação apenas entre 2009 e 2010. O grande problema é que o repórter não foi conferir as fichas técnicas e equiparou os números de agora com os de jogos do último ano disputados em Ribeirão Preto e no Pacaembu.)

Tudo isso para dizer que a ressaca parece não ter fim. E, a julgar pelo que vimos hoje à noite em Rio Claro, deveremos todos ganhar quatro finais de semana de folga em abril.

***

Quinta, 21h30; domingo, 19h30; quarta, 21h50.
Não há quem aguente isso...

***

Do nosso amigo Paulo Castilho, o promotor, no Painel FC de hoje:

"Eu não tenho medo de que me batam. Agora eu quero ver bater na minha frente"

Posso entrar na fila? Em sendo assim, caro e midiático promotor, seja bem-vindo a este blog. O histórico aí do lado está a seu dispor.

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"Febre de bola", página 103:

"Às vezes tomo consciência. entre meus amigos torcedores do Arsenal, de uma rivalidade sutil mas perceptível: ninguém gosta que lhe seja contado algo que não saiba sobre o clube - a contusão de um dos reservas, digamos, ou uma alteração iminente no desenho das camisas, algo crucial como isso - por um dos outros."

24 fevereiro 2010

Avanti, do fracasso ao desrespeito

Tá lá no Painel FC de hoje:

Empacado. O Palmeiras já faz testes de um novo plano para tentar substituir o Avanti, programa de sócio-torcedor lançado como a salvação financeira do clube e que, após quatro meses, não conseguiu nem 2.000 associados.

Não, diretoria, não é o caso de fazer testes. A solução, apresentada por este e por outros blogs e fóruns de torcedores já há muitos meses, é bem mais simples do que a engenhosidade que levou os senhores Dezembro e Zucato a lançar o tal programa Avanti. Direto e reto: torcedor quer garantia de ingressos para todos os jogos da temporada. Isso e nada mais; o resto é frescura.

Não é o caso de repetir novamente os argumentos já debatidos à exaustão por este blog sobre o tal Avanti. Apenas faço a indicação para os posts anteriores, que resumem bem a sucessão de erros que já fez o programa nascer condenado ao fracasso retumbante:

11.01.2010: Avanti, um erro conceitual

11.01.2010: O Palmeiras e o sócio-consumidor (3)

26.11.2009: O Palmeiras e o sócio-consumidor (2)

15.11.2009: O Palmeiras e o sócio-consumidor

O fracasso fica mais evidente a cada dia e, já no domingo, a caminho do Palestra, a entrevista do senhor Mauro Zucato teve momentos constrangedores. Ele assumiu que o programa foi lançado no momento errado, de maneira precipitada, se enrolou todo ao (tentar) explicar questões básicas e não soube nem dizer qual era o telefone da central de atendimento. Um despreparo completo.

Querem mais? A tal loja virtual com descontos em produtos adidas e Samsung, um dos chamarizes do projeto, não está no ar. E, acreditem, quatro meses depois, ele pediu paciência ao torcedor: mais um mês para lançar a porra da loja virtual.

Inccompetência à parte, eles não tinham o direito de ofender o torcedor palmeirense. Foi exatamente o que fizeram no tal livrinho de apresentação do jogo da última quarta (contra o São Caetano). Vejam só o anúncio publicado para divulgar o projeto:



É inacreditável! Aí a coisa passa a ser pessoal, Zucato e Dezembro.

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"Febre de bola", página 163:

"A namorada que tentara, e não conseguira, me fazer voltar à razão na manhã seguinte à partida com o Villa foi comigo ao jogo com o Watford, na primeira experiência dela com o futebol ao vivo. De certa forma, foi uma introdução ridícula: havia menos de 20 mil pessoas no estádio, e a maioria dos que se encontravam lá havia ido apenas para registrar sua reprovação a tudo o que ocorrera. (Eu pertencia à outra categoria: aqueles que estavam lá porque sempre estavam lá.)

O lunático da Baixada

Eu nunca nem pensei em ir ao Cirque du Soleil. Pra falar a verdade, tive agora de procurar o nome no jornal porque nem sabia como escrever essa porra. Não tenho muita informação sobre o tal circo, mas presumo, a julgar pelos preços praticados, pelo tipo de gente que vai lá e por toda a badalaçação, que o público que frequenta este ambiente é tratado com o devido respeito. Mais até: ao comprar um ingresso (caro), qualquer um terá direito a um lugar que permite visão de todo o espetáculo.

É aí que chegamos à infeliz decisão e à descabida declaração do novo presidente do Santos FC: "Num espetáculo que traz artistas de primeira grandeza é justo que o preço seja diferenciado. Por isso o Cirque du Soleil têm ingressos com preços diferentes." E assim, meus caros, o sujeito fez disparar o valor cobrado por uma arquibancada: de R$ 30 para R$ 80.

Prometo deixar de lado qualquer comparação envolvendo futebol e circo ou torcida e plateia. Ao menos por hoje, não será necessário. A questão toda é que o sujeito que vai ao circo tem um lugar decente para ver o jogo. Aliás, esqueçam o 'decente'. Digamos que o sujeito tem um 'lugar' para "ver o jogo".

É tudo o que não têm os torcedores que se dispõem a frequentar a Vila Belmiro. Lá do setor visitante, não é possível enxergar nem mesmo o gol que fica logo abaixo da arquibancada - isso depois de subir por escadas que mais parecem catacumbas. E aí o cara ainda vem cobrar R$ 80 pelo ingresso?

Saiu o pilantra do Teixeira. Entrou o lunático de agora. As coisas sempre podem piorar... Dia 14/03 tá chegando: vai ser a nossa vez de ir ao circo.

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"Febre de bola", página 194:

"Embora saibamos que qualquer coisa - Mickey Rourke, couve-de-bruxelas, a estação de metrô em Warren Street ou dor de dente - possa fazer as pessoas forjarem uma cadeia de pensamento que termina conosco num dos elos, já que as associações que as pessoas podem ter conosco são infindáveis e particulares, nunca sabemos quando isso pode acontecer. É algo imprevisível e arbitrário. Com o futebol, essa aleatoriedade não existe: você sabe que em noites como a noite do campeonato de 1989, ou em tardes como a tarde do desastre de Wrexham em 1992, você está nos pensamentos de vintenas, talvez até de centenas, de pessoas. E adoro isso, o fato de antigas namoradas e outras pessoas - com quem perdeu contato e que provavelmente nunca mais verá - estarem sentadas em frente a seus aparelhos de tevê pensando, momentaneamente mas todas ao mesmo tempo, Nick, só isso, e ficarem felizes ou tristes por mim. Ninguém mais tem isso, só nós."

22 fevereiro 2010

O cúmulo da cara-de-pau

Dizem os tricolores (e parte da imprensa, é evidente) que o árbitro teve influência no resultado do clássico de domingo. E eu me apresso em dizer que sim, ele teve influência. Afinal, se não fosse covarde, teria marcado o pênalti em Robert quando o placar já indicava 2 a 0 e o SPFC ficaria com dois a menos.

Reclamam os nossos inimigos da expulsão de Xandão. Pois vejam os senhores que o zagueiro cometeu uma falta no primeiro tempo e levou amarelo. Justo. Aí, no segundo tempo, comete outra falta merecedora de cartão amarelo. Diz a regra que amarelo + amarelo = vermelho, e assim se deu a expulsão. Nada a contestar.

Mas o que perturba mesmo é ouvir reclamações logo de uma corja de canalhas que passou os últimos anos colecionando favorecimentos explícitos em jogos contra o Palmeiras. Temos pelo menos um roubo por ano, todos a favor do SPFC. Deixemos aqui o link de cada um deles, pois teremos mais dois confrontos no ano:

24.02.2009: o pênalti não marcado em Diego Souza

20.10.2008: a expulsão de Diego Souza

13.04.2008: o gol de mão de Adriano

29.08.2007: o gol anulado de Max

03.05.2006: o juiz arma o contra-ataque e inventa o pênalti

25.05.2005: Sálvio Spinola apronta a primeira...

E isso foi só uma breve reconstituição. Digamos então que, ao contrário do que aconteceu, o SPFC tivesse sido prejudicado ontem. Digamos... Ainda assim, só mesmo sendo muito cara-de-pau para reclamar de alguma coisa.

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"Febre de bola", página 169:

"Nenhum primeiro-ministro - por mais maníaco, injusto ou perverso que seja - tem o poder de fazer comigo o que um técnico do Arsenal pode fazer, e não é de se espantar que quando penso nos quatro técnicos com quem tive de conviver e a quem sobrevivi, penso neles como parentes."

18 fevereiro 2010

A vitória da mediocridade

Perplexidade, inconformismo, decepção. Da surpreendente notícia da demissão de Muricy Ramalho à inaceitável confirmação do novo treinador, passando pelas tantas especulações sobre o que levou a este cenário desolador, o palmeirense sentiu hoje um pouco de tudo isso. Há vozes discordantes, é claro, mas a grande massa, já cansada de sofrer, se vê entregue a uma corja de covardes, desses tantos que há décadas vêm parasitando o gigante Palmeiras.

Depois do que aconteceu hoje, é impossível esconder a decepção com o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, sobre quem depositamos as mais sinceras esperanças um ano atrás. O palmeirense – e eu me permito aqui transferir meu sentimento para grande parte da coletividade – foi apunhalado pelas costas ao saber da dispensa do técnico. Pior: às vésperas de um duro embate contra o nosso inimigo mortal.

Não que Muricy fosse ídolo, longe disso. Impressiona até que, em se tratando de Palmeiras, um treinador com campanha tão pífia pudesse ficar tantos meses imune à pressão que costuma recair sobre aqueles que ocupam o banco de reservas à frente da numerada coberta. O ponto é que o torcedor enxerga as limitações do time e as besteiras da diretoria e, mais que isso, sabe das boas intenções e da capacidade inquestionável de Muricy.

Bastou isso para dar ao treinador um voto de confiança, o mesmo que foi covardemente retirado por esta corja que se apossou do futebol do Palmeiras. Belluzzo, Cipullo, Hawilla, Gennaro, Savério, Prado, Cecílio, todos eles; não escapa um. Temos aí um pouco de tudo: incompetentes, coniventes, omissos, canalhas, inaptos, crápulas que só enxergam cifrões, o diabo.

Muitas são as versões que correm por aí sobre o que poderia explicar a demissão de Muricy Ramalho. Pouco importa qual é a verdadeira. O que fica é a traição cometida contra milhões de palmeirenses. Faltou coragem a quem comanda o clube; prevaleceram a covardia e o jogo de interesses, nessa politicagem suja que contamina cada alameda do Palestra Italia. A decepção é enorme.

A demissão de Muricy é a vitória dos medíocres e covardes.

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“Febre de bola”, página 28:

“Eu não conseguia entender o que via naquela imagem. Como os jogadores podiam vibrar depois de terem sido humilhados daquele jeito (junto comigo, é claro) sete dias – sete dias – antes? Como um torcedor que sofrera em Wembley do jeito que eu sofrera podia se levantar e festejar um gol insignificante num jogo insignificante? Eu costumava ficar olhando para a fotografia minutos a fio, tentando detectar ali dentro algum indício do trauma da semana anterior, alguma insinuação de pesar ou de luto, mas não havia nada; aparentemente todo mundo, menos eu, havia esquecido aquilo. Já na minha primeira temporada como torcedor do Arsenal eu fora traído pela minha mãe, pelo meu pai, pelos jogadores e pelos meus colegas torcedores.”

A dívida

Contavam-se nos dedos os torcedores do "grande" São Caetano no setor destinado aos visitantes do estádio Palestra Italia nesta chuvosa madrugada de Cinzas. Eram 10. 10! Talvez um time do Acre, com o devido respeito, pudesse contar com uma plateia maior do que a que foi torcer pelo clube do ABC paulista, logo aqui do lado. E o Palmeiras, o gigante Palmeiras, esforçou-se a ponto de ser humilhado dentro da sua própria casa, engolindo um 1 a 4 que ainda ficou barato. Os quatro gols dos visitantes, é bom registrar, não foram acompanhados do temido barulho que costuma vir da torcida rival. Não havia torcida. Não havia rival. Havia, isso sim, um Palmeiras destroçado, fragilizado, sem comando, sem líderes, sem raça, sem atitude, sem entrega, sem suor. Havia um arremedo de time e os gols do "grande" oponente vieram todos, do primeiro ao quarto, acompanhados de um sentimento de incredulidade. Tanto é assim que não tivemos os protestos inflamados de derrotas nem tão contundentes como esta última; tivemos deboche, ironia e gritos direcionados aqui e ali. Virou piada. De parte a parte, rostos outrora tomados por lágrimas se permitiram sorrisos amarelados, um tanto acostumados àquele cenário de tortura que foi o segundo tempo. A tristeza foi suplantada pelo conformismo, e, de quando em quando, a chuva vinha do céu para lembrar que tudo pode piorar. Antes do fim, os 10 simpatizantes que vieram do ABC foram convidados pela PM a se retirar. Não houve resistência; eles não tinham mais o que fazer por ali. Ficamos os outros 3.314 abnegados palestrinos a acompanhar um espetáculo grotesco. E a impressão que se tem é que ainda vamos ficar pagando por muito tempo a dívida contraída por um título que nunca veio...

***

*Executando-se um jogo da descartável Copa Sul-americana, o público de ontem foi o pior do Palestra Italia nos últimos quatro anos.

*OBRIGADO, OLIMPIA/PAR! Nem vocês sabem o bem que fizeram ao futebol oito anos atrás.

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"Febre de bola", páginas 199 e 200:

"Porque seja qual for a boate, peça ou filme a que você for, seja qual for o concerto que você ouça ou o restaurante onde você coma, a vida estará acontecendo em outros lugares na sua ausência, como sempre acontece; mas quando estou em Highbury vendo jogos como esse, sinto que o resto do mundo parou e está reunido do lado de fora dos portões, esperando para ouvir o placar final."

11 fevereiro 2010

Boa, Del Nero

Ontem, às 20h30, no estádio Palestra Itália, o Palmeiras B bateu por 3 a 1 o SC Barueri em jogo válido pela série A3 do Campeonato Paulista de 2010. Com ingressos de arquibancada a R$ 10, tivemos uma renda de R$ 1.530 para um público de 131 pagantes. Prejuízo certo, mais ainda porque marcaram o jogo para o período noturno, exigindo o uso da iluminação.

Parte do duelo, vejam o absurdo, aconteceu ao mesmo tempo em que o time profissional estreava na Copa do Brasil, lá em Teresina. Em sendo assim, não dava para esperar muitos palmeirenses, a não ser os familiares dos atletas.

Do lado do visitante, difícil imaginar quem poderia ir ao jogo, já que trata-se de um time sem torcida, sem cidade e sem alma. Cabe dizer, por sinal, que não se deve confundir o SC Barueri com o Grêmio Barueri de Presidente Prudente. Porque o SC Barueri é um clube que comprou o Campinas do Careca (e também a sua vaga na A3), enquanto o Grêmio Barueri fez as malas e se mandou para o Mato Grosso do Sul. Bizarro, não?

Isso tudo para mostrar que o imbecil que marcou Palmeiras B x Barueri, um jogo sem qualquer interesse, para uma quarta-feira às 20h30 (concorrendo com o jogo do time profissional) é o mesmo que, uma semana antes, permitiu que Palmeiras x Portuguesa fosse disputado às 17h de uma quinta-feira útil.

O nome dele é Marco Polo Del Nero.

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"Febre de bola", página 196:

"A Liga deixa qualquer um fazer qualquer coisa que quiser - mudar a hora marcada para o pontapé inicial, o dia do jogo, os times, as camisas, não importa; nada é problemático demais. Enquanto isso os torcedores, os fregueses que pagam, são tratados como idiotas crédulos e cordatos."

07 fevereiro 2010

Tributo ao mau-caráter


Que diferença existe entre os dois lances?

Peço desculpas aos que esperavam um relato do nosso 3 a 2 em Bragança Paulista, mas este blog fala apenas a partir da arquibancada e eu não fui hoje para o interior. Fiquei por aqui e vi o jogo à distância mesmo, de tal forma que não faz muito sentido escrever sobre algo que vocês puderam ver da mesma forma que eu - e eu não sei ver o jogo pela TV.

Confesso que nem sabia muito o que escrever, mas aí fui ver as capas dos sites esportivos e me deparei com as reclamações do goleiro do SPFC sobre a paradinha de Neymar. Ora, ora, vejam que curioso: o rei da adiantada, o sujeito que mais avança nas cobranças de pênalti, vem reclamar da paradinha do atacante adversário...

"Falei para ele aproveitar, porque só no Brasil se pode fazer essas coisas. Logo, logo vai estar na Europa. Isso não é paradinha, é um paradão. Mas aqui pode". Eis aqui a frase do goleiro tricolor.

Notam-se o despeito, a incapacidade de assumir o mérito do adversário e a arrogância que caracteriza o arqueiro.

Esse sujeito é o mesmo que, ao falhar duas vezes em um jogo da seleção brasileira, declarou ter sido aquela "a melhor atuação de um goleiro com a camisa da seleção nos últimos anos".

É o mesmo que, ao falhar em um gol decisivo numa partida de Libertadores, disse que só não fez a defesa porque o atacante adversário (no caso Dodô) errou o chute. Ou seja, o cara que fez o gol errou; o goleiro que tomou o gol não. Porque ele nunca erra.

Ele não errou também quando forjou uma proposta do Arsenal em 2001 para logo depois ser desmascarado pelos arrojados, pioneiros e visionários dirigentes do Morumbi. Tomou um mês de suspensão e, ainda assim, não assumiu a culpa.

E aí, quando perde, se põe a inventar desculpas e a desmerecer tudo é que é feito pelo adversário. Falta só pegar a bola e levar pra casa. Seja como for, ficou estirado no chão depois da paradinha e ainda, pra fechar a conta, tomou um gol de letra.

***

É bom notar ainda que as manchetes de sites e jornais tratam a paradinha de Neymar com certo rancor, como se houvesse algo de errado naquilo tudo. A própria imprensa esportiva, ao sempre tratar as coisas com pesos diferentes, é muito responsável pela empáfia do goleiro.

E as adiantadas, porra?

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"Febre de bola", páginas 20 e 21:

"Eu já comparecera a eventos públicos antes, é claro; fora ao cinema e à pantomima, e fora ver minha mãe cantar no coro de White Horse Inn, na Prefeitura. Mas aquilo era diferente. As platéias de que eu participara até então haviam pago para se divertir, e embora de vez em quando se notasse uma criança impacienteou um adulto bocejando, eu nunca observara rostos conhecidos de fúria, desespero ou frustração. A diversão como sofrimento era uma idéia inteiramente nova para mim, e parecia ser algo que eu vinha aguardando."

05 fevereiro 2010

Tudo errado


Empatamos em casa uma vez mais e eu bem poderia reaproveitar agora parte do texto utilizado para comentar o empate de 10 dias atrás, contra o Ituano. Deixaria de lado o trecho contra a arbitragem - que foi ok neste 1 a 1 com a Portuguesa -, mas tudo o que se refere ao senhor Pablo Armero vale hoje como lá atrás. Eis aqui.

A culpa, no entanto, não parece ser tanto do camisa 6, que esboçou em duas reações (na lamentação pós-cagada e na saída para o vestiário, depois do jogo) o seu completo descontrole emocional. A escalação foi uma temeridade no domingo e também neste empate diante da Lusa, de tal forma que cabe questionar: por que, Muricy, não colocar o tal Eduardo ou mesmo improvisar o Wendel? Mas o Armero não, pelamordedeus!

Dois pontos foram para o lixo, mas a imagem deste empate esquecível é a que está logo acima, de um Setor Visa ocupado por pouco mais de uma centena de testemunhas (vamos aguardar o borderô com o número oficial). Não se trata aqui nem da habitual nulidade de parte dos frequentadores do Visa, mas sim do absurdo que é a realização de um jogo de Campeonato Paulista às 17h de uma quinta-feira.

Corro o risco de me tornar chato, mas prefiro não me calar diante disso e de tudo mais que tem de errado no futebol brasileiro. E destaco que o senhor Marco Polo Del Nero deveria ampliar e colocar a foto acima em um quadro na sua imponente sala no prédio da FPF. É um belo incentivo para que ele continue utilizando as suas tardes de ócio para arrumar maneiras cretinas de prejudicar a vida do torcedor.

***

Presidente Belluzzo e diretoria,

Deixando de lado as cobranças por reforços, gostaria de saber se algum de vocês pensou em cobrar da FPF o prejuízo ocasionado por este jogo às 17h de uma quinta-feira? Ou vocês não levaram em conta que, se realizado às 20h30, o jogo seria acompanhado por um público pelo menos duas vezes maior?

***

Você conseguiu, Del Nero: não poucas vezes me senti culpado por estar no Palestra Itália, a minha casa, nesta quinta-feira. Enquanto olhava para o trânsito lá do outro lado e imaginava as pessoas todas trabalhando no "horário comercial", eu me senti culpado por me esforçar tanto para estar lá na hora do jogo. Pelo menos por algumas horas, eu me senti um vagabundo como você.

***

"Febre de bola", página 17:

"Afinal, o futebol é um ótimo jogo e tudo mais, mas o que diferencia aqueles que se satisfazem com meia dúzia de jogos por temporada - assistindo às grandes partidas e se afastando das peladas, numa postura certamente sensata - daqueles que se sentem obrigados a comparecer a todos? Para que viajar de Londres a Plymouth numa quarta-feira, sacrificando um feriado precioso, para ver um jogo cujo resultado já foi efetivamente decidido na primeira partida em Highbury? E se esta teoria do ato de torcer como terapia estiver perto da verdade, que inferno estará enterrado no subconsciente das pessoas que vão aos jogos da Taça Leyland DAF? Talvez seja melhor nem sabermos."

04 fevereiro 2010

A conta que não fecha

Surgiu hoje, solta em matéria da Folha de S.Paulo, a primeira tentativa de explicação para a realização de Palmeiras x Portuguesa às 17h de uma quinta-feira de trabalho. Tá lá:

"Atendendo a pedidos da TV (pay-per-view), a partida será disputada às 17h, horário com enorme potencial para tempestades torrenciais..."

Eu já suspeitava mesmo que fosse coisa da de TV e, pior, que tivesse algo a ver com o famigerado pay-per-view, um símbolo supremo desta praga que se convencionou chamar de "Futebol Moderno". Aí eu tentei concluir um raciocínio lógico (e modesto) sobre o tema, mas a conta não fecha. Vejamos:

Pay-per-view não é assim algo muito barato. Logo, as pessoas têm de ganhar um bom salário para bancar esta, digamos, mordomia. Para isso, claro, precisam trabalhar. E em que pese o fato de Del Nero ser um vagabundo inimigo do torcedor, as pessoas normais costumam trabalhar numa quinta-feira às 17h. Não por vontade própria, mas porque, até prova em contrário, quinta-feira às 17h faz parte do que se convencionou chamar de "horário comercial". Logo, as pessoas que teriam dinheiro para pagar o pay-per-view devem estar trabalhando neste horário famigerado e, em consequência, não poderão assistir à porra do jogo.

Faz sentido o raciocínio, não faz?

Porque eu juro que tentei, meus amigos, mas nada justifica o pedido da TV e mesmo a aceitação da FPF. Sei lá se isso é moderno demais pra minha cabeça de torcedor de estádio ou então se já mudaram os conceitos de "horário comercial" ou "dia útil". Não sei. Se aconteceu algo assim, eu não percebi porque eu estava trabalhando (e vocês também, provavelmente) enquanto Del Nero passava suas tardes de ócio pensando em como complicar a vida do torcedor.

***

Por sinal, o Palmeiras deveria cobrar da FPF (e da Globo) a diferença entre a renda que vai obter hoje à tarde e a que conseguiria se o jogo acontecesse às 20h30.

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"Febre de bola", página 81:

"... mas minha vida foi medida em compromissos do Arsenal, e todo evento de alguma importância tem uma sombra futebolística. A primeira vez que fui padrinho de casamento? Perdemos por 1 a 0 para o Spurs na terceira rodada da taça da Liga, e escutei o erro trágico de Pat Jennings em meio ao vento da Cornualha num estacionamento. Quando terminei o meu primeiro caso amoroso de verdade? No dia seguinte a um empate decepcionante por 2 a 2 com o Coventry em 1981."

03 fevereiro 2010

Medo do quê?

Do L!Net:

Árbitros temem trabalhar nos jogos do Palmeiras

Árbitros de São Paulo temem trabalhar nos jogos do Palmeiras, no Paulistão. Dizem que o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, assumiu o comando da arbitragem e que foi dele a ordem para suspender Paulo Cesar de Oliveira. Lembram, inclusive, que Cléber Abade é o preferido no Palestra. O tamanho da suspensão ao árbitro da Fifa criou comoção entre os juízes.


***

O título impressiona, não? Aí, no texto, descobrimos que os nossos amigos árbitros de futebol estão “comovidos” com a suspensão imposta ao senhor Paulo César de Oliveira. De resto, a nota não informa nada, e serve apenas para tumultuar. Não dá pra levar a sério, ainda mais em se tratando da fonte, mas a verdade é que filho da puta nenhum tem medo de atuar nos nossos jogos. Se tivessem, o Palmeiras não seria o clube grande mais prejudicado do futebol brasileiro.

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Começou cedo
Por falar nessa corja, eis que Cleiton Xavier pode ser punido com seis jogos pela reclamação de domingo. Ora, ora, vejam os senhores, que ele levou um amarelo injusto e depois mais um apenas por dito o seguinte: "Apita uma pra nós, porra! Você só apita pra esses caras". E isso lá é passível de julgamento? Começou a viadagem...

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“Febre de bola”, página 43:

"Ganhamos por 3 a 0 na partida de volta em Highbury, e homens já adultos saíram dançando pelo campo e chorando de alívio.
(...)
Não fui a Wembley, e vinte anos depois isso ainda me deixa ressentido."

02 fevereiro 2010

A dupla O.O.

Dia após dia, a diretoria de futebol do Palmeiras acumula fracassos, chapéus e bolas nas costas no que diz respeito à contratação de atacantes. As desculpas, esfarrapadas tanto quanto é possível, são recicladas e as trapalhadas se avolumam a ponto de ultrapassar a barreira do constrangedor. A dimensão exata do problema pôde ser observada no último domingo, quando o Palmeiras dispôs de um único atacante de ofício (de qualidade bem questionável) para enfrentar o seu maior rival.

Dadas as condições, é inevitável a lembrança de alguns nomes que há bem pouco tempo fizeram as vezes de homens de frente do nosso Palestra. É então que este post abre uma exceção para falar individualmente de dois atletas: Ortigoza e Obina.

Começando pelo paraguaio.

A pergunta: por que o deixaram sair se hoje ele seria tranquilamente o titular deste ataque capenga de 2010? Notem que eu condiciono a sua titularidade à falta de opções melhores, mas o ponto central é que Ortigoza, que assumiu a camisa 30 do Gladiador, nunca decepcionou o torcedor palmeirense.

Longe de ser um craque, mostrou-se um atacante voluntarioso, esforçado e batalhador, que nunca desistia das jogadas – é o que queremos de nossos atletas, não? Ortigoza foi certamente um dos jogadores mais úteis do Palmeiras nos últimos anos. Não se machucou, não teve problemas disciplinares, nunca se incomodou com a condição de reserva, se empenhou em todos os momentos. Agradou à torcida, parecia ter bom ambiente com o grupo e, a não ser que provem o contrário, não representaria um investimento assim tão alto.

A dispensa do paraguaio, portanto, é inexplicável. E domingo, se estivese em campo, ouso dizer que alcançaríamos ao menos o empate diante do SCCP.

Vamos agora de Obina, sobre quem venho ensaiando escrever há tempos. O que vem a seguir, peço que me entendam, cumpre o papel de mea-culpa, um tanto atrasada, é verdade, mas justa.

Deixo de lado qualquer julgamento sobre o episódio que desencadeou a saída de Obina. Não seria justo agora criticar a diretoria porque ali, no auge dos acontecimentos, pareceu a decisão correta.

A verdade é que Obina chegou ao Palmeiras, em maio de 2009, não como reforço, mas como piada pronta. Eu mesmo cheguei a dizer que a contratação era uma afronta à torcida, e foi assim mesmo que encarei toda aquela onda do Madureira, que logo o colocou para jogar contra o Nacional-URU, no Palestra, no fatídico jogo em que ele, o Madureira, nos enterrou na Libertadores.

Obina estreou, não fez feio e começou a construir no Palestra Itália uma trajetória surpreendente. E eu, que esperava algumas contusões, episódios folclóricos, e dois ou três gols em pouco mais de uma dezena de jogos, tive logo de assumir o meu erro.

Obina, vejam os senhores, fez gol logo na segunda partida, em Barueri. Depois desencantou a colecionar episódios notáveis com a nossa camisa. Foi dele, por exemplo, o toque de cabeça que, já aos 40 e tantos minutos no Centenario de Montevideo, passou a centímetros da trave esquerda do Nacional/URU, selando a nossa eliminação.

Foram de Obina os três gols na vitória sobre o SCCP lá no MS. Mais três vezes ele foi à rede na memorável vitória sobre o Goiás (4 a 1), quando o Palmeiras ensaiou uma redenção que ficou só mesmo na aparência. E, por fim, foi dele o gol de cabeça grosseiramente roubado no Maracanã em 2009.

A passagem de Obina pelo Palestra Itália foi tudo, menos apática. E este blog precisava abrir uma exceção para reconhecer isso tudo. Não adianta muito, eu sei, mas é o que eu posso fazer.

Agora, pensem em um ataque Ortigoza e Obina. Não é a dupla dos sonhos, longe disso. Mas eles poderiam ter mudado a história do clássico de domingo. E, acima disso, seriam bastante úteis para a sequência da temporada. Vale o registro.

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"Febre de bola", página 133:

"... em casa, esperamos derrotar quase todo mundo, e não interessa como isso seja feito. Esse compromisso com os resultados significa, inevitavelmente, que os torcedores e os jornalistas tendem a ver os jogos de maneiras profundamente diferentes. Em 1969 vi George Best jogar, e marcar, pelo Mancheter United em Highbury. Tal experiência deve ter sido profunda, como ver Nijinsky dançar ou Maria Callas cantar, e embora às vezes eu realmente fale sobre isso dessa maneira, para torcedores mais jovens ou para aqueles que não viram Best jogar por ouras razões, meu relato afetuoso é, em sua essência, falso: detestei aquela tarde. Toda vez que ele pegava a bola eu me assustava, e desejava na hora, como suponho que deseje hoje em dia, que ele estivesse contundido."

01 fevereiro 2010

Fratura exposta

O que vimos ontem à tarde no Pacaembu foi mais um catadão que um time do futebol. Chances foram criadas à exaustão, mas foram todas elas enganosas, típicas de quem parte para o abafa mesmo sabendo-se incapaz de chegar ao gol. É como se levantassem as bolas para a área e ficassem virando o jogo na intermediária adversária apenas para se livrarem o quanto antes do peso de definir a jogada. E poderiam tentar ontem por mais duas ou três horas sem que viesse o empate. 

O clássico serviu para expor a fratura de um time que deixa de ser time ao menor problema. Assim, eis que fomos visitar o nosso maior rival, vejam só, com apenas um meia de criação e com um único atacante de ofício, sendo que já tivemos reservas muito melhores do que ele em tempos próximos. 

E mesmo Muricy, que fez o que pôde diante da falta de opções no banco, cometeu uma temeridade ao ressuscitar a triste figura de Pablo Armero. Disso nasceu a jogada do gol adversário e todo o resto - que poderia ter nos complicado ainda mais. 

Desse jeito não vai dar! O clássico trouxe essa certeza, tanto quanto a de que a nossa diretoria capricha nas demonstrações de incompetência (refiro-me ao caso Sacconi, que, entre ir e voltar, desfalcou o Palmeiras apenas contra o seu maior rival). A fratura está exposta. E eu sinceramente não consigo esperar nada além do catadão que temos aí. Vem sofrimento pela frente.

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Voltar ao Pacaembu para um Palmeiras x Corinthians é um alívio enorme depois do exílio de três jogos (e quase dois anos) quase no Mato Grosso do Sul. E cabe elogiar aqui o trabalho do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar do lado de fora. Tudo muito bem feito, divisão adequada, separação correta, sem invenção, sem repressão. Dessa vez, nem o nosso amigo promotor Paulo Castilho conseguiu promover confusão entre as torcidas. Que venham os próximos clássicos no Pacaembu.

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"Febre de bola", página 82: "Portanto, a memória de um obsessivo talvez seja mais criativa que a memória de uma pessoa comum; não no sentido de inventarmos coisas, mas no sentido de termos uma memória cinematográfica barroca, cheia de inovações como cortes descontínuos e telas divididas. Quem mais, senão um torcedor de futebol, usaria uma bola perdida num campo lamacento a 450 quilômetros de distância para recordar um casamento? Ser obsessivo requer uma louvável agilidade mental."