31 janeiro 2008

Qual é a lógica?

Ao contrário do que imaginávamos no retorno de Piracicaba, ainda não chegou ao fim a nossa tortura pelo interior.

Como parece não ter fim a reforma do gramado do Palestra, veio hoje a definição de que não poderemos jogar na nossa casa diante de Guaratinguetá (6, quarta, 21h50) e Guarani (9, sábado, 20h30).

Se houvesse um mínimo de lógica no proceder da nossa diretoria, os dois jogos (ou ao menos o primeiro) seriam deslocados para o local original, ou seja, a Arena Barueri.

Nada disso. A diretoria resolveu inventar uma vez mais.

E caprichou.

Teremos de jogar na longínqua São José do Rio Preto.

Não há limites para a ganância de faturar um troco a mais, e qualquer análise técnica deixa de fazer sentido.

Nossa estréia em casa virá apenas na 11ª rodada.

Espero que não seja tarde demais.

***

*Justiça seja feita: o Teixeirão tem condições de receber o Palmeiras. Dentro e fora de campo. É um alívio.

Calma, palmeirense!

Vai parecer desculpa de jogador, mas eu não consigo pensar de outra forma: o Palmeiras poderia jogar ontem mais uns três tempos completos e a porra da bola não entraria no maldito gol do Ituano. Tantas foram as vezes em que a bola passou na frente do gol dos caras que eu perdi a esperança lá pelos 25 minutos do segundo tempo.

Mas tal sentimento só valeu por ontem e é incapaz de apagar a certeza de que este time ainda vai nos trazer muitas alegrias. Tropeços como esse iriam acontecer, cedo ou tarde, e estão presentes mesmo na trajetória dos vitoriosos times de 93 e 94. O que eu tento transmitir agora, a meu modo, pode ser traduzido no título deste post: calma, palmeirense! Este time ainda vai acontecer.

Deixemos o tempo se encarregar de colocar tudo em ordem. Ao menos a primeira etapa de ontem serviu para demonstrar algo necessário: este Diego Souza sabe o que fazer com a bola. Ainda restam dúvidas sobre o Lenny, mas consigo ver um futuro promissor assim que vier o entrosamento entre Valdivia e o novo camisa 7. E, quando isso acontecer, dá para esperar um Alex Mineiro mais matador, sem ter que vir buscar a bola no meio.

Sei que nada disso apaga a sofrível derrota - tampouco os cinco pontos que jogamos no lixo -, mas a responsabilidade por este último tropeço deve recair muito mais sobre a diretoria, como explicado logo abaixo.

O Palestra está de volta na próxima quarta.

Chega de inventar besteiras!

***

OS FANFARRÕES DE PIRACICABA
Já inicio este texto pedindo desculpas aos amigos do interior. Mas é necessário escrever o que vem a seguir.

Para começo de conversa, a Prefeitura de Piracicaba só pode estar de brincadeira. Não é possível que tenha passado por reformas o local que freqüentamos ontem. Não é possível! Excetuando-se o pântano de Caio Martins, em Niterói, é certamente o pior estádio que eu já visitei entre outros quase 40 e em mais de 15 anos de arquibancada.

A começar pelo gramado, um pasto indecente, que não permitia à bola o simples direito de rolar sem trepidações. O trecho próximo à arquibancada central, por exemplo, tinha condições equivalentes às de qualquer campo de várzea mal cuidado. Uma aberração - e a nossa diretoria foi vistoriar o local antes! Como pode?

É bom mencionar ainda a existência de um pântano logo atrás das placas de publicidade do gol à nossa esquerda. Acreditem: havia até mato crescido por ali!

A conservação do lado externo deixa muito a desejar, com os muros do estádio sem qualquer sinal de manutenção, perdendo de longe para o que se via do outro lado da rua, no cemitério.

E aí chegamos ao que mais interessa, a arquibancada. Vejam vocês que há, quase no alambrado, alguns buracos abertos (cobertos por grades) que exalam um terrível odor de esgoto. A arquibancada, em si, esta também merece críticas e não apenas pelo visual detonado.

Chegamos, por fim, ao amigo roedor. Sim, continuo a defender o rato do Pacaembu, mas é desagradável procurar um banheiro - que não existe - e se deparar com um rato bem ao lado do covil onde supostamente algumas cidadãs preparavam os lanches que seriam servidos aos torcedores. Higiene zero, em um ambiente decrépito, encravado abaixo da arquibancada, sem luz e com lixo espalhado.

Ah, se eu achei o banheiro? Somente os químicos, nada mais.

Vejam só: o estádio Barão de Serra Negra, que supostamente acaba de ser reformado, não tem banheiro para os torcedores da arquibancada e apresenta um pasto onde deveria haver o gramado. E mostra um estado de conservação deprimente, digno das escadarias do setor de visitantes da Vila Belmiro.

Como podem dizer que aquilo passou por alguma reforma?

Se de fato isso aconteceu, como diabos estava antes?

E o pior: como puderam aprovar este campo?

Espero que isso sirva de lição - mais uma! - para que a nossa diretoria pare de inventar merda. A transferência do nosso mando para um local inadequado, sem condições de trabalho para os atletas, foi determinante para a derrota.

Felizmente acabou; voltamos à nossa casa na próxima quarta!

30 janeiro 2008

FSP: quanta má vontade...

Quando não tem assunto a FSP adora jogar com números. Talvez para dar visibilidade ao Datafolha, surgem reportagens as mais desinteressantes, do tipo "Rodada opõe times com melhor aproveitamento em casa no último campeonato" ou "Times paulistas são os que mais erram passes no primeiro turno".

Em geral, o que se vê é uma enorme forçação de barra, com manipulação grosseira das estatísticas, de acordo com os interesses da pauta (assim, os números nunca mentem).

Hoje, no entanto, os caras extrapolaram.

No dia em que estréiam Diego Souza e Lenny - o
início do novo time -, lá vem a chamada para o jogo do Palmeiras, o primeiro em Piracicaba desde 1995: "Palmeiras vê seu pior Luxemburgo na largada".

Como é que é!?

Vem a explicação:

"Das três passagens anteriores que teve pelo clube alviverde – 1993/1994 e 1996 –, que resultaram em títulos estaduais, a campanha atual mostra a pior largada do treinador na competição em que se tornou especialista”.
Quer dizer então que a FSP está querendo comparar campanhas após quatro rodadas – e duas semanas –, quando todos estão em início de temporada e em fase de ajustes?

E ainda faz essa comparação entre o time atual, ainda sem os reforços, e os elencos de 1993/94 e 1996, à época já montados?

Será que eles vão entrar na onda do "se o campeonato terminasse hoje, o time X estaria rebaixado e o Y estaria classificado"?

Fato é que a matéria vai além:

“O Palmeiras é o terceiro colocado, com oito pontos. Está a quatro da líder Ponte Preta e também é superado pelo Guaratinguetá”.
Ok, é verdade. Como se sabe, a Ponte Preta (dos três jogos em casa até aqui) está preocupada com a arrancada rumo ao título porque já não tem mais espaço em sua enorme sala de troféus. Cabe lembrar que o time de Campinas sempre foi campeão nas temporadas em que assumiu a liderança nas rodadas iniciais.

Por sua vez, o tradicional Guaratinguetá foi um ponto à frente apenas porque o Verdão levou um gol no final de seu último jogo.

Ademais, pouco importa o fato de o alviverde ser o terceiro (3º!) colocado, o melhor da capital e atualmente na zona de classificação para a segunda fase.

Aí vem a cutucada:

“Mesmo com o apoio da Traffic (...), o aproveitamento de 66,7% merece ressalvas”.

Ah, estava demorando. As ressalvas são para a campanha 2-2-0 ou para a empresa que investe no clube?

No mais, tomo a liberdade de fazer breves considerações:

Campanha de 66,7%, ou seja, 2-2-0. Time invicto, sendo um dos jogos o clássico na Vila e nenhum efetivamente no nosso estádio. Nada desesperador, certo?

Até porque as campanhas de 1993 (3-0-1, com derrota para o SCCP e a ressalva de que Luxa assumiu no meio da temporada, já com o time pronto), 1994 (3-1-0) e 1996 (3-1-0) são praticamente iguais.

Aliás, palmeirense: você prefere um começo como o atual, invicto, ou um que registra três triunfos e uma goleada (0 x 3) sofrida para o maior rival?

E mais: se nosso amigo Valmir tivesse cérebro, a campanha de 2008 seria equivalente às de 1994 e 1996, anos em que Luxemburgo tinha sob seu comando nomes como Antônio Carlos, Cléber, Roberto Carlos, César Sampaio, Edílson, Zinho, Edmundo, Rivaldo, Evair, Cafu, Müller, Djalminha, Luizão etc.


***

Apenas a título de curiosidade, as tais campanhas anteriores:

1993

21.04 Rio Branco 1 x 2 Palmeiras
24.04 Palmeiras 2 x 0 Ituano
28.04 Palmeiras 3 x 0 Guarani
02.05 SCCP 3 x 0 Palmeiras

1994

26.01 Ferroviária 0 x 2 Palmeiras
29.02 Bragantino 2 x 2 Palmeiras
02.02 Palmeiras 5 x 0 Ponte Preta
05.02 Ituano 1 x 6 Palmeiras

***

PIRACICABA, 19h30

*R$ 30 o ingresso mais barato. Mais o dinheiro do álcool e do pedágio. Às 19h30 em Piracicaba. Obrigado, diretoria e FPF!

*Se alguém precisar, ainda tem lugar no carro.

29 janeiro 2008

Nos bastidores sujos do futebol

Ok, digamos que a arbitragem tenha prejudicado o SPFC no último domingo. Digamos; os dois lances são discutíveis. A meu ver, não foi pênalti e eu teria assinalado gol do atacante dos caras. Mas é a minha visão de lances duvidosos. Na dúvida, Sálvio apitou em favor do SCCP. Pouco quer dizer. Mas os torcedores do SPFC, indignados por encontrarem quem não segue o padrão de apitar em favor deles, exigem o veto ao tal juiz.

E não é que conseguem?

Depois de terem herdado 12 pontos das benevolentes arbitragens do último Campeonato Brasileiro, eis que os caras ainda têm a coragem de exigir veto a um árbitro? Logo eles, que construíram toda a vantagem do ano anterior com base na complacência dos homens do apito?


Se for assim, ao menos seis árbitros teriam de ser vetados em jogos do Palmeiras, por tudo o que fizeram do início ao fim da competição.

E o que dizer do sr. Wilson de Souza Mendonça - volto a insistir nisso -, aquele que, em uma decisão de Libertadores, deu um passe para o contra-ataque e ainda inventou um pênalti para o SPFC já na marca dos 40 do segundo tempo?

(Ah, se fosse o contrário... a imprensa teria feito escândalos sem fim.)

Não contente em fazer o que fez em maio de 2006, o sujeito voltou a apitar jogos do Palmeiras em 2007 - somente para nos prejudicar de maneira acintosa.

E o bandeirinha que anulou nosso gol no último clássico contra elas?

Vou além: o que dizer do tal Marcio Rezende, que simplesmente cavou seu nome na história de dois Campeonatos Brasileiros, ao inverter o campeão de 1995 e contribuir para a pouca vergonha de 2005?

Este cara nunca foi vetado!

Mas agora vem o SPFC e faz escândalo por conta de supostos erros em uma única partida da fase classificatória do Campeonato Paulista?

Pensando bem, não dava para esperar outra coisa de quem sempre acha que tem mais direito que os outros.


Que força de bastidores eles têm, não?

26 janeiro 2008

Bando de pilantras

Ingresso a R$ 30!?

Os comentários que eu fiz no post anterior já deveriam embutir a desconfiança de que algo muito sujo estava por vir.

Na surdina, no meio de um feriado, sem divulgação, sem release da assessoria de imprensa e sem notícias em sites ou jornais, a diretoria do Palmeiras colocou à venda os ingressos para Palmeiras x Mirassol, logo mais à noite em Barueri.

Não, eles não reduziram o preço dos ingressos dos setores centrais (R$ 50 e R$ 60). Fizeram o oposto: aumentaram o valor cobrado pelo
tobogã atrás do gol, o setor popular (de R$ 20 para R$ 30).

R$ 30!?

Nada justifica cobrar R$ 30 do cidadão que pretende se deslocar até Barueri para assistir a um Palmeiras x Mirassol.

Nada justifica querer afastar o torcedor palmeirense de seu time em um momento tão importante.

R$ 30?

No fim do mês?

Em Barueri?

Às 20h30 de um sábado?

Pior do que essa pilantragem, só mesmo a covardia de não comunicar o fato à torcida.
E como os nossos amigos jornalistas pouco se importam com o palmeirense, coube ao torcedor ser pego de surpresa na bilheteria. Isso, é claro, na base da teimosia, pois nada foi dito sobre o início das vendas.

Diretoria de pilantras e covardes!

***

1. Dizem por aí que o jogo da próxima quarta-feira, em Piracicaba, contra o Ituano, terá ingressos de arquibancada a R$ 40!

2. R$ 40 em Piracicaba, R$ 30 em Barueri, R$ 50 em Marília. Para onde esses caras querem levar o futebol?

3. Algo me diz que teremos de pagar R$ 30 no Palestra.

4. 19h30 no portão principal da Arena Barueri!


5. Sábado, 20h30. Obrigado, Del Nero!

24 janeiro 2008

Imprensa 2 x 0 Valdivia

Confronto direto entre Palmeiras e Marília:
31-23-6-2-60-18

Em Marília:
16-11-5-0-31-8

E vieram com o papinho de que esse time era líder do campeonato? Pô, líder após duas rodadas não existe!

Fato é que o Palmeiras precisou apenas de um futebol burocrático para voltar com a vitória e ganhar posições na tabela. Simples assim.

E o bad boy Valdivia mais uma vez apanhou a rodo.

Tomou soco na cara, chute no nariz, bolada no saco...

... e levou mais um amarelo por nada.

2 x 0 para a imprensa!


***

Números divulgados agora pela assessoria de imprensa do Palmeiras: Valdivia sofreu 10 das 29 faltas cometidas pelo time do Marília.

23 janeiro 2008

Tabela mutante

A imprensa noticiou, mas não por inteiro, as últimas modificações na tabela do Campeonato Paulista, obra do nosso amigo Del Nero. A versão original, diga-se de passagem, já ficou ultrapassada. Ao torcedor, fica o recado: antes de se programar, é recomendável consultar o site da FPF, em Competições/ Alterações de jogos para conferir as últimas modificações.
Eis aqui o registro das útimas mudanças (oficiais) para o Palmeiras:

5ª rodada: Palmeiras x Ituano
Original: 30/01/2008, 4ª f., 17h30, Arena Barueri
Alterado: 30/01/2008, 4ª f., 19h30, Barão de Serra Negra, Piracicaba
Motivo: Solicitação do mandante

9ª rodada: Juventus x Palmeiras
Original: 16/02/2008, sáb., 18h10, sem local definido
Alterado: 16/02/2008, sáb., 16h, sem local definido
Motivo: Solicitação do PPV

Cabe ressaltar que, com enorme atraso, Del Nero viu sumir a sua brilhante invenção das 17h30 de quarta-feira. Mas permanece a insistência com a aberração das 19h30. E voltaremos a jogar no sábado às 16h (fazia tempo!), mas ainda sem local definido - devido às reformas no Pacaembu -, contra o Juventus da Mooca.

Palmeiras x Guaratinguetá (7ª rodada) e Palmeiras x Guarani (8ª rodada) devem acontecer no Palestra. Depende ainda da liberação do gramado, mas é bem provável que estejamos de volta à nossa casa antes do previsto.

Com todas as mudanças, é esta a nossa tabela atualizada:

CAMPEONATO PAULISTA/2008

17.01 5ª f. 19h30 Palmeiras 3 x 1 Sertãozinho – Arena Barueri, Barueri
20.01 dom. 16h Santos 0 x 0 Palmeiras - Vila Belmiro, Santos
23.01 4ª f. 19h30 Marília x Palmeiras - Bento de Abreu, Marília
26.01 sáb. 20h30 Palmeiras x Mirassol - Arena Barueri, Barueri
30.01 4ª f. 19h30 Palmeiras x Ituano – Barão de S. Negra, Piracicaba
02.02 sáb. 18h10 Noroeste x Palmeiras - Alfredo de Castilho, Bauru
06.02 4ª f. 21h50 Palmeiras x Guaratinguetá - Palestra (extra-oficial)
09.02 sáb. 20h30 Palmeiras x Guarani - Palestra (extra-oficial)
16.02 sáb. 16h Juventus x Palmeiras – a definir
20.02 4ª f. 21h50 Rio Claro x Palmeiras - Augusto Schimdt, Rio Claro
23.02 sáb. 20h30 Palmeiras x Rio Preto - Palestra
02.03 dom. 16h SCCP x Palmeiras - Morumbi
09.03 dom. 16h Bragantino x Palmeiras - Marcelo Stéfani, Bragança
12.03 4ª f. 21h50 Palmeiras x Ponte Preta - Palestra
16.03 dom. 16h Palmeiras x SPFC - a definir
23.03 dom. 16h10 Paulista x Palmeiras - Jaime Cintra, Jundiaí
26.03 4ª f. 20h30 Palmeiras x Portuguesa - Palestra*
30.03 dom. 16h Palmeiras x São Caetano - Palestra*
06.04 dom. 16h Grêmio Barueri x Palmeiras - Arena Barueri, Barueri

Semifinal:13.04 dom.*20.04 dom.*
Final:27.04 dom.*04.05 dom.*

*Ainda sem definição de dia e horário.

22 janeiro 2008

Valdivia, o bad boy

Valdivia apanhou, apanhou e apanhou...

... e ainda levou a culpa.


Para alguns pilantras da imprensa, vejam só, já é possível associar a El Mago o título de bad boy.

A
té porque, como se sabe, bom mesmo é o Imperador Adriano, aquele nobre exemplo de atleta que teve todos os seus pecados purificados ao pisar no moderno santuário do Morumbi.

21 janeiro 2008

Estava nos planos

Com o time ainda em construção, ficou de bom tamanho o empate em Santos. Poderíamos até ter voltado com a vitória, mas o resultado não foi de todo ruim. Era algo certamente previsto nas projeções da comissão técnica. Como a seqüência da tabela é favorável (cinco jogos em casa, três fora e um com campo neutro), dá para esperar um bom desempenho até o clássico contra o SCCP. Até lá, com os reforços em ação e o time mais organizado, as coisas serão diferentes.

De resto, choveu em Santos não tão forte como em muitas outras ocasiões, mas de maneira ininterrupta, como não é comum. E fica tudo agravado pelo tratamento nada agradável que nos é oferecido, pelo misto de incompetência e má vontade da Polícia Militar, pela constante dificuldade para comprar um ingresso e pela espera de meia hora para deixar o estádio.

18 janeiro 2008

Temos um matador!!!

Quatro anos e muitas trolhas depois, o Palmeiras tem enfim um camisa 9 de respeito. Após dois gols em dois jogos-treino, Alex Mineiro estreou oficialmente. Perdeu lá o seu gol feito, após passe magistral de Valdivia, mas resolveu tudo quando a bola veio pelo alto. Dois cruzamentos, dois toques certeiros, dois gols de cabeça.

E não foi só pelos gols, mas pelo que fez em todo o jogo, que Alex Mineiro deixou boa impressão na estréia em Barueri. Centro-avante típico, o cara sabe jogar com e sem a bola, faz bem o pivô, sabe tocar de primeira ou prender a bola, o que for necessário.

De resto, um começo aceitável de um time ainda em construção, sem três dos novos reforços e com pouco tempo para treinar.

Há muito corrigir - e tem nego ganhando bem pra isso -, mas as perspectivas são animadoras, especialmente porque a equipe conseguiu encurralar seu adversário durante a maior parte do jogo mesmo em um gramado com dimensões bastante reduzidas.

Agora dá pra acreditar. A começar por domingo, na Vila cheia de areia. Uma hora a bola começa a entrar por lá...

***

CASA CHEIA?

Público de ontem na Arena Barueri: 8.020 pagantes. A capacidade, dizem, é de 15 mil. Mas, vejam só, muita gente ficou do lado de fora, sem ingresso. E muita gente ainda vai ficar sem ingressos, ao menos enquanto a diretoria insistir com a ganância de comprar R$ 50 e R$ 60 pelos setores centrais.

Ontem, apenas o setor A, atrás do gol, estava cheio. Afinal, paga-se R$ 20, o piso da FPF, para ficar naquele tobogã (que lembra um estádio argentino). São 7.700 lugares, quase a totalidade dos 8.020 presentes.

O que não dá para esperar é que alguém pague R$ 50 (ou R$ 60) e ainda vá até Barueri ver um simples jogo do Paulista.

Ou a diretoria reduz o valor dos dois setores centrais ou o público dos primeiros jogos "em casa" nunca vai superar a casa dos 8 ou 9 mil.

Chega de ganância!


***

RECADO AO MADUREIRA

Ao final da saudação aos 11 em campo, o canalha recebeu o aviso: “Ô, Luxemburgo, presta atenção: a Mancha Verde não perdoa traição”. Muito justo diante do que aconteceu seis anos atrás - e do que pode ainda acontecer. O cara tinha mais é que ficar calado. Mas não; veio com uma resposta patética, da qual extraio isto aqui: “Eu espero que a torcida seja fiel e não abandone o time nos momentos mais difíceis".

É muita cara-de-pau! Quando foi que a gente abandonou o time? Nenhum de nós ganha R$ 500 mil por mês para tomar chuva em Barueri! A gente vai até lá e ainda paga por isso. Porque temos amor à camisa. Se você não entende isso, deveria mais é ficar quieto. Faça a sua parte, não crie problemas e enfie o seu dinheiro no bolso. Mas faça valer cada centavo!

17 janeiro 2008

Vida nova

Nunca antes nesta década uma temporada começa de modo tão promissor quanto esta de 2008. Muito pelo novo técnico, outro tanto pelos reforços e, em especial, pela mentalidade desta diretoria que aí está. Um título (seja ele qual for) é o mínimo que se pode sonhar. É o que eu espero, no Paulista, na Copa do Brasil ou no Brasileiro. Não há esperanças infundadas; há, isso sim, perspectivas.

O propósito deste blog nunca foi fazer a análise de jogadores (os que saem os ou que entram), motivo pelo qual vocês não acharão qualquer comentário anterior sobre Elder Granja, Alex Mineiro, Diego Souza, Lenny e Preá; tampouco sobre Caio. Tanto que eles sequer foram citados por aqui. O que joga é a camisa sempre; os nomes vão e vêm. Por isso, as discussões são bem mais amplas.

Que os nomes acima compensem o dinheiro que foi investido.

E que 2008, a partir de Barueri, seja o ano que todos esperamos.

Por sinal, de todo o transtorno que repesenta ir a esta cidade da Grande SP para assistir a um jogo em casa, o bom é que a viagem de trem começa exatamente na estação Palmeiras/Barra Funda. Pena que o indecente horário, 19h30, não jogue a favor.

A gente se encontra lá, na arquibancada atrás do gol.

14 janeiro 2008

Pelo direito de ficar em pé

Já que os dirigentes brasileiro adoram seguir as besteiras que vêm do futebol europeu, é bom que fiquem atentos também à nota abaixo, da edição de janeiro da revista Trivela:

De pé
A Uefa pretende rever a regra que proíbe os torcedores de acompanhar em pé partidas de torneios da entidade. O presidente Platini reuniu-se com alguns representantes de associações de fãs da Inglaterra, Escócia, Alemanha, França, Itália e Dinamarca. Os torcedores pedem que seja seguido o exemplo do Werder Bremen, que permite tal prática em suas partidas na Bundesliga.


Fui procurar mais informações sobre o assunto e encontrei isso aqui. Não tive tempo de me aprofundar, mas deu pra perceber que este encontro foi parte de uma espécie de congresso da Uefa na cidade de Nyon, Suíça. Se alguém tiver como correr atrás dos desdobramentos
em sites da Itália ou da Inglaterra (ou de outras línguas compreensíveis), eu agradeço.

De toda forma, é bom saber que o presidente da Uefa abriu diálogo com os torcedores de toda a Europa. Bom seria se fôssemos minimamente ouvidos por aqui.

13 janeiro 2008

Pré-estréia em Barueri

Pouco (ou quase nada) se pode extrair de um jogo-treino. É mais treino que jogo. O desta tarde/noite (Palmeiras 2 x 1 São Bento/SP), em Barueri, portanto, serviu mais para o time reconhecer a sua casa provisória nas quatro primeiras rodadas caseiras do Paulistão.

Para nós, torcedores, foi uma pré-estréia, uma oportunidade de conhecer o que iremos enfrentar nestes jogos em Barueri.

Quando falo em ‘enfrentar’, faço referência ao cenário externo, nada convidativo.

Não que seja complicado chegar até lá; pelo contrário. O local é um pouco distante, é fato, mas o principal obstáculo é o trânsito caótico, algo que, se não hoje, será problemático nos brilhantes horários do nosso amigo Del Nero.

Os problemas continuam na chegada ao estádio, que fica em uma enorme bocada. Sim, bocada!

E o pior: não tem lugar para estacionar o carro.

Dizem os policiais locais que um estacionamento de dimensões razoáveis, ao lado do portão principal da Arena Barueri, estará aberto na próxima quinta-feira.

É bom que esteja; do contrário, a situação será insustentável.

Há favelas, algumas, ao redor do campo. E uma longa avenida, inabitada e dividida por um córrego. Nada além disso. Não há prédios, nem estacionamentos privados. Fica uma sensação de vazio, até porque não se vê qualquer sinal de transporte público.

Antevejo problemas para estes quatro jogos, com expectativa de público na casa dos 15 mil torcedores.

A tal Arena Barueri pode até vir a ser um estádio-modelo no futuro, mas hoje, ao menos do lado de fora, não passa de um enorme canteiro de obras.

Só para exemplificar: não há bilheterias bem sinalizadas, e o grande destaque do lado externo é um enorme morro que foi concretado.

Resta saber qual será a organização da Prefeitura para estes quatro jogos do Palmeiras. O exemplo de hoje, com portões abertos e cerca de três mil torcedores, não foi nada promissor.

11 janeiro 2008

E mais essa agora?

A revista Trivela de janeiro (conteúdo não disponível na internet, apenas na edição impressa) traz uma reportagem intitulada "Show me the money". Transcrevo abaixo o lide, mais do que suficiente: 

"O Campeonato Brasileiro deverá ter uma novidade na temporada 2008. Em todas as rodadas de fim de semana, uma das partidas será disputada às 11:00 da manhã de domingo. E por que motivo os jogadores poderão ter que atuar sob o sol do meio-dia? Para satisfazer a vontade do mercado asiático de exibir partidas do Brasileirão no nobre horário local." 

Diz ainda a reportagem que os clubes lucraram U$ 1,5 milhão em 2007 com a venda dos direitos de transmissão para o exterior. U$ 3 mi, na verdade, mas metade fica com a emissora de TV. U$ 1,5 milhão para 20 clubes? É dinheiro de pinga!!!

10 janeiro 2008

Reconhecimento de terreno

Antes da aguardada estréia contra o Sertãozinho, daqui a uma semana, o Palmeiras pega o São Bento, da segunda divisão paulista, na mesma Arena Barueri que será a nossa casa nos quatro primeiros jogos da temporada. Não chega a ser amistoso (é só um jogo-treino), mas terá portões abertos. Domingo agora, 18h. É uma boa oportunidade para conhecer o campo de jogo (e especialmente o caminho até lá) e avaliar o novo (?) time do Palmeiras.

08 janeiro 2008

Tudo à venda

Do Painel FC de hoje:

24 horas no ar
Antes mesmo de o Campeonato Paulista começar, a FPF avalia que valeu a pena dar liberdade para a TV marcar jogos em horários incomuns, como às 11h. Após a federação decidir as rodadas, executivos da Globo e de seu canal fechado definiram os horários de maneira que tivessem condições técnicas de transmitir 100% do Estadual, graças ao pay-per-view. "Os clubes do interior estão conseguindo mais dinheiro dos patrocinadores porque vão jogar sempre com televisão", disse o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero.

Sertãozinho, 11h?

Barueri, quarta, 17h30?

Sábado, 20h30?

Ah, não tem dinheiro que pague...

***

Ainda sobre o Paulistão, recomendo este post do OV.

07 janeiro 2008

Quanto vale o show?

Como não sou pago para ser jornalista aqui (e nem para mais nada, é bom dizer), levantei apenas algumas informações relevantes sobre o assunto "Direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro". Deixo o espaço aberto, pois é possível que outros visitantes do blog tenham dados mais precisos, atualizados e/ou confiáveis.

O interesse é mostrar o óbvio: que a Rede Globo paga um valor irrisório para transmitir o Campeonato Brasileiro (e todos os demais).

Daniel Castro, colunista da Ilustrada, noticiou recentemente que o C13 receberá R$ 300 milhões pelos direitos de transmissão de todos os 380 jogos do BR-2008. Este valor, rateado entre os 20 clubes da Série A, deve chegar a R$ 480 milhões a partir de 2009, ainda que o canal do bispo tenha oferecido R$ 600 milhões, 25% a mais.

Fiquemos, para efeito da comparação que vem a seguir, com o montante de 2008, ou seja R$ 300 mi.

Basta considerar o que ganha com as cotas de publicidade para a emissora de TV dobrar esse valor. Assim informou, em 3 de setembro, o Meio & Mensagem: à época, Ambev, Casas Bahia, Itaú, Vivo e Volkswagen teriam de pagar entre R$ 105 mi (sem placas nos estádios) e R$ 120 mi (com placas) cada uma para renovarem a participação do pacote do futebol em 2008. A Coca-Cola corria por fora.

Temos então um valor estimado de R$ 525 mi a R$ 600 mi.

Superávit dos bons para quem desembolsou a bagatela de R$ 300 mi.

Já seria um lucro considerável, mas é bom levar em conta que há outras fontes de lucro sobre esta mesma matéria-prima.

A começar pela venda dos direitos internacionais de transmissão (alguém sabe dizer se vai direto para o caixa deles ou se entra algo para os clubes?), passando ainda pelos dividendos obtidos com Globo.com, G1, Globo News, SporTV, Premiere e em todos os demais veículos da família Marinho.

Não sei também se os outros canais têm de pagar alguma coisa pela cessão dos direitos (aqueles dois minutos que são liberados em cada jogo da rodada). Por sinal, como nada é claro neste relacionamento Globo-C13-clubes-CBF, eu não duvidaria se soubesse que ninguém tem essa informação.


Pelo sim, pelo não, poucos negócios são tão lucrativos.

E, eis o grande problema, os caras ainda se dão ao direito de inventar os horários que bem entendem e manipular a paixão do brasileiro de acordo com suas conveniências.

Quem paga a conta é o torcedor!

Para finalizar, deixo-o com mais uma declaração de Marcelo Campos Pinto, diretor geral da Globo Esporte, o braço esportivo do grupo:

"É imperativo investir na melhoria dos estádios. Só assim poderá se aumentar os preços e ter no Brasil o que a Europa conquistou no final dos anos 90, quando um novo público passou a freqüentar os estádios, sendo responsável por uma grande fonte de receita dos clubes".

04 janeiro 2008

Mais sobre alma e elitização

O Fernando fez um comentário interessante no último post, e eu entendo que o assunto merece um debate maior. Vou colocar aqui alguns argumentos e depois o espaço fica aberto para opiniões contrárias ou a favor.

1. Admito que há um certo romantismo na nossa maneira de encarar as coisas. Por mais que sejamos todos jovens, gostamos do futebol como ele é tradicionalmente. Não dentro de campo, com viadagens de jogo bonito e tal ou com saudosismos babacas do tipo "não se fazem mais jogadores como antigamente", mas da forma como ele se consagrou do lado de fora: um esporte popular;

2. De acordo com este princípio, qualquer tentativa de elitização deve ser combatida;

3. Concordo que os clubes precisam ganhar dinheiro. Portanto, devem vender camisetas, bonés, chaveiros, mochilas, cadernos, kits, DVDs, o escambau. Qualquer iniciativa é válida, inclusive comercializar o gramado ou a rede do gol. E isso se aplica até mesmo a bichinhos de pelúcia. Se nego está disposto a pagar por isso e dar dinheiro para o clube, que assim seja. Para o clube e não para o camelô, como bem lembrado pelo Fernando. Até porque é uma boa maneira de o sujeito que não vai ao estádio contribuir financeiramente;

4. Aí alguém vai questionar: porra, se você admite a hipótese de vender bichinhos de pelúcia, por que sempre dá um jeito de alfinetar a iniciativa do SPFC? Pois bem, eu respondo: porque é tão grande a complacência da imprensa que eu me reservo o direito de não deixar passar em branco. Como foi uma idéia nascida no Morumbi as manchetes foram todas positivas, sempre na linha do "Visionários dirigentes do SPFC mantém a vanguarda com genial estratégia de marketing". Nunca se questiona nada que vem de lá. Se isso tivesse origem no Palestra Itália, no entanto, eu aposto que alguém encontraria algo pejorativo para usar no abre da matéria. Vejo algumas hipóteses: diriam que os bichinhos não teriam o selo de qualidade de alguma associação dos fabricantes de brinquedo ou que foram reprovados em testes do Inmetro; ou que o porquinho de pelúcia não teria as especificações características de um porco de verdade; ou que o preço de venda para o consumidor é abusivo; ou que as dimensões do símbolo do Palmeiras estariam em desacordo; ou qualquer merda do tipo. Fato é que a notícia não teria conotação positiva. Vide o exemplo do gramado do Palestra, cuja divulgação na imprensa veio com certo desdém, bem ao contrário do tratamento destinado aos revolucionários, modernos e exemplares dirigentes do nosso inimigo;

5. O debate não tem a ver com lucros sobre a paixão, mas sim com a manutenção da origem de todo este sentimento, que se dá não pela TV ou pela venda de produtos, mas no estádio. No cimento da arquibancada, para ser mais preciso;

6. Desta forma, me preocupa sobremaneira notar como se deu o processo na Inglaterra (e no restante da Europa), culminando com a exclusão das camadas populares e a transformação do esporte em um entretenimento para quem pode pagar muito alto. Um país como o Brasil não pode admitir isso;

7. Eu não quero meu time na "oitava divisão". Imagino que ninguém queira. Mas se este for o preço a pagar, que assim seja!

8. Alma não tem preço!

02 janeiro 2008

O esporte que vendeu sua alma


Oitava divisão inglesa: futebol com alma
Crédito da foto neste link.


Ok, a Inglaterra nos deu o futebol. Sejamos gratos por isso. Mais de século se passou, e o esporte bretão ganhou o mundo. Felizmente não todo, e é bom que os USA permaneçam à margem, fiéis a seus 'esportes' idiotas. Digo isso não por temor ao eventual potencial esportivo dos caras, mas sim pela terrível infuência que eles exercem. Se o futebol tivesse força por lá, sua mercantilização, hoje capitaneada pelos ingleses (de novo eles!), seria um caminho sem volta por aqui.

Estou falando da morte anunciada do futebol. Pelo menos do futebol como conhecemos hoje, popular por natureza. Há quem queira transformá-lo em entretenimento.

Sem me estender muito agora, faço questão de copiar, na íntegra, o texto da brilhante reportagem de Marcos Alvito, publicada na edição de dezembro da notável revista Piauí.

O título, copiado logo acima por motivos óbvios, sintetiza bem os mais de 30.000 caracteres: “O esporte que vendeu sua alma”. A linha fina, por sua vez, resolve o assunto em poucas palavras: “Como o rude desporto bretão se tornou um ramo privilegiado da indústria do entretenimento”. Genial!

Ao final do texto, com trechos destacados em amarelo, comentários pertinentes, pois infelizmente já visíveis por aqui.


O ESPORTE QUE VENDEU SUA ALMA
Como o rude desporto bretão se tornou um ramo privilegiado da indústria do entretenimento
“Não quer que o chutem também, vagabundo jogador de futebol?” É com essas palavras, seguidas de um pontapé, que o leal conde de Kent agride um mordomo que ousara desrespeitar o rei. É uma cena da tragédia Rei Lear, escrita há 400 anos por Shakespeare. Naquele tempo, o futebol era considerado um jogo da ralé, e ser chamado de jogador era um xingamento. Não era para menos, porque consistia em um enfrentamento generalizado entre duas aldeias, muitas vezes com vítimas fatais. A turma tentava carregar uma esfera de couro – geralmente a bexiga de um animal – até a aldeia adversária. Lá chegando, a comemoração era quebrar tudo. Não havia nenhuma regra, e a balbúrdia era tanta que reis e autoridades tentaram proibir o jogo durante séculos.

Em Islington, ao norte de Londres, fica o estádio do Arsenal. O clube foi fundado por operários de uma fábrica de munições e até hoje o bairro onde fica o Emirates Stadium é relativamente pobre. Para chegar ao estádio, seguindo as placas colocadas desde a estação de metrô, passa-se por um restaurante boliviano, lojas por alugar, um pub que ostenta várias bandeiras do clube e um escritório onde imigrantes africanos podem enviar dinheiro para seus parentes. Contrastando com a vizinhança, o Arsenal é um dos clubes mais ricos do mundo e o canhão, símbolo que remete às suas origens, agora jaz numa parede revestida de mármore.

O Emirates Stadium, um colosso de concreto que mais parece um aeroporto ou um shopping center, custou 400 milhões de libras (1,6 bilhão de reais). Embora comporte mais de 60 mil torcedores, comprar ingresso para um jogo do Arsenal é missão quase impossível. Ingresso garantido, só para os que têm um cartão permanente (o season ticket) que dá direito a assistir a todos os jogos. Custa a bagatela de 990 libras (cerca de 4 mil reais), mas a lista de espera pode demorar até quinze anos. Para ficar na lista, é preciso pagar 45 libras (180 reais). Descendo um degrau na hierarquia pecuniária dos torcedores (ou consumidores?), há os sócios-torcedores. Pagando cerca de 30 libras (120 reais) por ano, eles podem comprar ingressos para todos os jogos – mas só depois de descontados os reservados aos que têm o cartão permanente. Nesse caso, os ingressos custam 40 libras (160 reais), no mínimo.
E existe, finalmente, a categoria dos reles mortais, que poderão comprar ingressos só se sobrar algum. Os quatro grandes times (Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester United) praticamente não vendem ingressos assim, pois os donos do cartão permanente e os sócios-torcedores fazem valer seus privilégios. Para os outros times, ainda é possível comprar um ingresso ou outro para jogos menos importantes. (1)
Depois de dias de tentativas, consegui finalmente comprar um ingresso para o jogo do Fulham contra o Bolton Wanderers, talvez por acontecer numa quarta-feira à noite: pontapé inicial às 19h45. E sem dúvida porque a partida equivalia a um Náutico x América-RN. Paguei a módica quantia de 32 libras (128 reais) para sentar em um buraco na primeira fila, um ótimo lugar para ver a marca das chuteiras dos jogadores. Com o mar de chuva e o frio – o verão inglês ainda não foi informado do aquecimento global –, eu teria direito a ficar encharcado e batendo queixo por noventa minutos. Depois de uns quinze minutos, fui para um assento na parte coberta, bem sequinho. Pena que era em frente a uma das colunas de sustentação da arquibancada.

Os clubes da primeira divisão não teriam necessidade, aparentemente, de cobrar tão caro pelos ingressos. Somente com direitos de transmissão das próximas três temporadas, os vinte clubes da divisão de futebol mais rica do planeta ganharão 2,7 bilhões de libras (cerca de 11 bilhões de reais). A isso se soma a venda de inúmeros produtos. Se não se consegue comprar ingresso para um jogo do Arsenal, é possível freqüentar uma das duas gigantescas lojas do clube. Na ausência de dribles, passes milimétricos e cabeçadas certeiras, há quem se contente com uma caneca vermelha, bolas de golfe com o símbolo do canhão, meias, chaveiros, almofadas, pijamas, canetas, balas, cadernos, chocolates, relógios e até camisas do Arsenal com o nome do torcedor gravado, a quase 200 reais cada uma.

Além das quinquilharias, o fiel torcedor poderá gastar o seu dinheiro com o Arsenal de diversas maneiras: fazendo a assinatura da tevê a cabo para ver os jogos, pagando para receber mensagens no seu celular com as últimas notícias do clube, comprando um passe eletrônico para ver os gols pela internet, adquirindo o DVD da última temporada ou as dezenas de enciclopédias, biografias e autobiografias que são publicadas todos os anos. Caso não seja suficiente, pode-se apostar em dezenas de lojas diferentes, e pela internet também. Apostar em tudo: se o Arsenal será campeão, se vai ser rebaixado, se irá se classificar para as copas européias, quanto vai ser o placar do jogo, quem vai marcar o primeiro gol, em que minuto da partida... Sem falar no pão-nosso-de-cada-dia: as páginas esportivas dos jornais, as revistas especializadas e, é claro, a cervejada no pub com os amigos, vendo e comentando os jogos da rodada.

Como o jogo da ralé virou uma máquina de fazer dinheiro? O processo se confunde com a transformação de um jogo rural violento e selvagem num esporte praticado nas escolas mais aristocráticas da Inglaterra. Os professores tinham enorme dificuldade em conter pupilos originários de uma camada social superior. Os filhos da aristocracia desrespeitavam e, às vezes, agrediam seus mestres. Eram o terror da região em torno das escolas: estupravam camponesas, destruíam pubs, batiam nos aldeões. Entre eles mesmos havia violência. Os calouros eram tratados pelos veteranos como servos, inclusive no abuso sexual. Os diretores tiveram a idéia de canalizar a energia destruidora para uma atividade física.

Foi assim que, usando o pátio do colégio como campo, aos poucos o futebol virou um esporte, embora de início as regras fossem transmitidas oralmente e variassem de escola para escola. Como jogar era privilégio dos veteranos, durante muito tempo os calouros serviram apenas para marcar a linha lateral. A idéia funcionou e, com o tempo, os diretores conseguiram diminuir as arruaças nas escolas. Eram apoiados pela Igreja, que professava a doutrina do “Corpo são em mente sã”. Cansar os meninos era uma maneira de evitar os pecados. Os alunos cresciam e iam para as melhores universidades, aonde chegavam com vontade de bater bola. Havia um problema: os alunos vinham de escolas diferentes e não existia uma regra comum. Algumas escolas permitiam carregar a bola com as mãos e chutar livremente a canela dos adversários. Era a regra da escola do Rugby Football, de onde derivou o rúgbi. Antes das partidas, os times tinham que combinar com quais regras jogariam. Até que uma reunião interclubes na Freemasons’ Tavern, em 1863, adotou a regra que proibia o uso das mãos (exceto para o goleiro) e os pontapés (a não ser na bola).

As federações e campeonatos foram criados com impressionante rapidez. O motivo: a ralé, que inventara o jogo e o havia praticado durante séculos, apesar das proibições, aderiu logo ao novo esporte. Ele passou a ser jogado, nas cidades, pelos operários que fizeram a revolução industrial, ganhando salários miseráveis e morando em cortiços insalubres. Quando eles se organizaram em sindicatos e conseguiram arrancar dos patrões a meia jornada de trabalho aos sábados, aproveitaram o tempo livre para jogar futebol. Por isso, até hoje, o horário tradicional do futebol na Inglaterra – cada vez mais desrespeitado pela televisão – é sábado, às três da tarde, a hora em que o pessoal largava o macacão e calçava as chuteiras. (2)

Jogado ou assistido, o novo esporte logo se tornou o principal divertimento dos moradores das cidades (junto com o álcool). Inclusive as mulheres jogavam, até 1902, quando a Football Association proibiu os clubes de manterem equipes femininas. Todo mundo lucrava: o industrial via seus operários criarem mais um vínculo com a fábrica, o dono do pub vendia mais cerveja, os jornais vendiam como nunca; surgiram empresas de material esportivo, prometendo a bola mais redonda e a chuteira mais possante. Depois dos times de fábrica, vieram times de paróquias, times dos freqüentadores de pubs, times de profissionais liberais e aristocratas. À medida que a Inglaterra expandia seu império, o futebol ganhava novos adeptos nas colônias, até se tornar o esporte mais popular do planeta.

Enquanto se alastrava pelo mundo, na pátria-mãe do esporte, contudo, o público diminuiu ano a ano, entre 1950 e 1986. A única exceção foi em 1966, quando a Inglaterra ganhou, em casa, sua única Copa do Mundo (graças a uma bola que não entrou). Entre 1985 e 1986, o público inglês do futebol alcançou o número mais baixo da história: 16,5 milhões de espectadores, contra 41 milhões em 1949. Embora a partir de 1986 tenha havido uma recuperação, a grande virada ocorreu com a criação da primeira divisão, a Premiership, em 1992.

A nova primeira divisão do futebol foi financiada por um espetacular contrato de exclusividade, firmado com a BSkyB, tevê a cabo do bilionário australiano Rupert Murdoch, que queria usar o futebol como ponta-de-lança para a implantação da televisão por assinatura na Inglaterra. Os ingressos aumentaram enormemente de preço: cerca de 300% nos sete anos iniciais da primeira divisão. A majoração não visou somente a melhorar os balanços financeiros dos clubes.
Um dos seus objetivos era substituir os torcedores de origem operária por consumidores de classe média, excluindo os indesejados por meio de preços proibitivos. Era a transformação do futebol num ramo privilegiado da lucrativa indústria do entretenimento. (3)
Em nome da segurança, desencadeou-se um processo de higienização dos estádios de futebol, agora transformados em shopping centers ou, nas palavras dos sociólogos Tim Crabbe e Adam Brown, “‘palácios do prazer’ onde o espetáculo é ‘produzido’ para uma variedade de ‘consumidores’”. Os estádios de futebol, antes considerados territórios sagrados dos clubes e de seus torcedores, muitas vezes são vendidos para construtoras, erigindo-se “arenas multiuso” em lugares distantes do bairro onde tudo começara, privando a vida comunitária de um dos seus centros mais importantes. (4) Os novos estádios, exatamente como no modelo americano, tomam o nome das empresas que os financiaram ou, como se costuma dizer, dos patrocinadores do clube: Reebok Stadium (Bolton Wanderers), Ricoh Arena (Coventry City), Emirates Stadium (Arsenal), Kingston Communications Stadium (Hull City), Walkers Stadium (Leicester City) etc. Os campeonatos, devido à inevitável veiculação de notícias na mídia, agora também vendem seus nomes: a primeira divisão é Barclays Premier League e a segunda é chamada (com todos os cacoetes do marketing) de Coca-Cola Championship.

Dinheiro não tem alma e tampouco nacionalidade. Nove dos vinte clubes da primeira divisão têm proprietários estrangeiros. Inglês ou não, quase nenhum deles é verdadeiramente ligado ao futebol. São pessoas como um ex-cabeleireiro que fez fortuna como dono de cassinos (Birmingham City), um empresário islandês (West Ham), os herdeiros de um barão da indústria do aço (Blackburn Rovers), o dono da cadeia de restaurantes Planet Hollywood (Everton), um ex-primeiro-ministro da Tailândia investigado por corrupção (Manchester City), um milionário da indústria da carne e um peso pesado do mercado financeiro (Liverpool), um mal-afamado bilionário russo da indústria do petróleo (Chelsea) e o dono do Cleveland Browns, um time de futebol americano (Aston Villa).

Quem está prestes a ingressar nesse seleto, mas pouco respeitável clube, é o oligarca da indústria dos metais Alisher Usmanov, amigo de Vladimir Putin e conhecido como “O homem duro da Rússia”. Um título e tanto, em se considerando o estilo de negócio que hoje lá impera. Ele está prestes a comprar o Arsenal, o último dos quatro grandes ainda em mãos inglesas. O curioso é que os bilionários nem se importam em tomar prejuízo. Numa única temporada (2005–2006), o todo-poderoso Roman Abramovich, dono do Chelsea, perdeu 80 milhões de libras (320 milhões de reais).

Como também é da tradição inglesa, criaram-se associações de torcedores de resistência à mercantilização absoluta do futebol. (5) A “tomada” do Manchester United pelo milionário americano Malcolm Glazer é um exemplo. Os torcedores invadiram as lojas dos patrocinadores cantando e atrapalhando os negócios. Iniciaram boicotes contra essas mesmas empresas e até contra o clube, ameaçando não renovar seus season tickets. Acontece que o “Man U”, como é conhecido o time, tem dezenas de milhões de torcedores na China, no Japão, na Coréia. Ou seja, não é mais um clube, é uma multinacional do entretenimento esportivo.
Vencidos, mas não derrotados, os torcedores ingleses do Manchester viraram as costas para o clube e prometeram nunca mais voltar – e nem assistir aos seus jogos pela televisão. Em 2005, criaram um novo clube, o FC United of Manchester, e começaram tudo de novo, a partir da décima divisão. “Os Rebeldes”, como se intitulam, foram campeões logo no primeiro ano e no segundo ano subiram novamente, agora para a oitava divisão. Inspiraram-se no exemplo dos torcedores que criaram o AFC Wimbledon, em 2002, insatisfeitos com aquilo que um torcedor chamou de “o roubo do nosso clube”: a transferência do estádio para uma localidade distante a mais de 100 quilômetros. (6)
Os exemplos pululam. Inconformados com a venda do estádio do clube para uma companhia imobiliária, torcedores do Brentford formaram um partido, que lançou catorze candidatos (um deles foi eleito) em um pleito regional. A resposta mais original, e literalmente na mesma moeda, veio do grupo que criou o site MyFootballClub. A idéia é tão simples quanto genial. Por 35 libras (140 reais), menos do que um ingresso para um jogo da primeira divisão, você se torna dono e técnico de um time de futebol. Promoção “Paga um, leva dois”: torna-se dono porque o clube será dirigido a partir do voto unitário dos milhares de proprietários; e técnico porque terá direito a escolher a escalação da equipe, sem ter de ficar eternamente reclamando do time com quatro volantes de contenção. “Parece brincadeira, mas não é. Cerca de 20 mil pessoas aderiram e, com as 700 mil libras arrecadadas, em novembro passado o site anunciou que havia fechado um acordo para comprar pelo menos 51% das ações do Ebbsfleet United, um time da quinta divisão.”

Há também aqueles que continuam a torcer pelo seu clube e a freqüentar os estádios; estes têm nos fanzines uma forma de expressar seu descontentamento. Tais fanzines são publicações dos torcedores que começaram a ser divulgadas na segunda metade dos anos 80, inspiradas em fanzines musicais que existiam desde meados da década de 70, ligados, sobretudo, aos punks.
Eram, em parte, uma reação à histeria da imprensa e das autoridades em relação ao hooliganismo, e àqueles que tendiam a ver em todo torcedor um criminoso em potencial. (7)
Os fanzines foram importantes para agrupar os torcedores em defesa dos seus interesses, pois levaram à criação de associações. Serviram para lutar contra o aumento do preço de ingressos, contra a venda do estádio do clube e também como plataforma para enfrentar problemas mais amplos, como o plano governamental (da época de Margaret Thatcher) de implantar um cartão obrigatório para identificar o torcedor que quisesse freqüentar o estádio. Entre 1988 e 1990, o número de fanzines saltou de vinte para mais de 200, graças à facilidade de edição proporcionada pelos computadores. Com o desenvolvimento da internet, os fóruns de torcedores hoje são os sites e listas de discussão, mas alguns fanzines ainda persistem. Somente no jogo entre Birmingham e West Ham, pude comprar dois deles: The Zulu e Made in Brum. O primeiro é o mais radical e engraçado. A relação de amor e ódio mantida com o clube é bem resumida na capa, onde se lê: “Birmingham City Football Club: destruindo esperanças e sonhos desde 1875”. The Zulu custa metade do valor de um programa oficial feito pelo clube, e é muito diferente.
Os valores da publicação são explicitados em cinco princípios, ilustrados por um camisa nove urinando em cima da camisa nove do adversário daquela tarde, o West Ham:

Como um apaixonado e leal torcedor dos Blues, tenho direito a:

1. Tomar uma cerveja ou duas antes do jogo e chegar ao estádio quando eu quiser.

2. Torcer da forma mais radical, gozando e gesticulando para os adversários, intimidando-os o máximo possível.

3. Usar a língua inglesa do jeito que eu quiser.

4. Recusar-me a aceitar as instruções idiotas dos funcionários do estádio.

5. Reagir à vitória, ou à derrota, da porra do jeito que eu quiser, e sair do estádio da forma que corresponda ao resultado. Nós somos famosos por verbalizar nossa torcida e nossa paixão, por mais que isso ofenda aqueles que desejam uma primeira divisão pacífica, quieta e silenciosa como uma biblioteca.

E ainda acrescentam, em letras colossais:

NÃO DEIXEM OS PUNHETEIROS QUE ROUBARAM O NOSSO JOGO ROUBAREM TAMBÉM A NOSSA PAIXÃO. (8)


Os fanzines, hoje em dia, muito mais do que divertirem, proporcionam um espaço para manifestações contra a hipercomercialização do futebol. Os aficcionados desesperados torcem por um time que jamais ganhou uma competição nacional, mas continuam fiéis a um clube de mais de 130 anos. Fiéis, mas por quanto tempo? Um deles confessa em Made in Brum: "Eu sempre vou amar o Birmingham City Football Club e esse amor nunca vai morrer, eu sei disso. Mas o que acontece em certos períodos da história do nosso clube faz você pensar se realmente vale a pena o tempo, o esforço e a montanha de dinheiro que você gasta para vê-los chutar a bola mais uma vez.
(9)
Essa paixão, expressa de uma forma mais organizada e politizada do que no Brasil, faz da Inglaterra o verdadeiro país do futebol. Não somente por ter sido onde ele nasceu e se transformou em esporte, mas porque as raízes históricas fazem com que a cultura do futebol seja mais profunda, e esteja fortemente ligada à construção de identidades locais, regionais, de classe e até religiosas. É possível, todavia, que a excessiva comercialização esteja colocando em risco a continuidade da tradição. Uma pesquisa realizada pela própria primeira divisão, no ano passado, revelou que a idade média do público dos seus jogos é de 43 anos. Hoje, menos de um em cada dez tem menos de 24 anos.
Os torcedores jovens assistem aos jogos nos pubs ou vêem os melhores momentos pela internet. (10)
O envelhecimento dos torcedores foi, de certa forma, uma política consciente dos novos donos do futebol. Os freqüentadores mais velhos têm maior poder de consumo e causam menos problemas do que os bandos de jovens que formavam os hooligans. (11) Estes não deixaram de existir, apenas passaram a freqüentar os jogos das divisões inferiores, nas quais a vigilância é menor e ainda é possível arranjar uma briga. E cujos ingressos têm preços menos proibitivos. Tive uma prova disso quando fui assistir a Nottingham Forest versus Leeds na terra de Robin Hood.

Parecia apenas um jogo da terceira divisão entre duas ex-potências, mas foi muito mais. A surpresa começou no caminho para Nottingham. Quando o trem parou em Derby, vi uma grande confusão na plataforma, envolvendo dezenas de policiais e uma pequena multidão. Assim que a porta do vagão se abriu, entrou um grupo de uns vinte torcedores do Leeds. Quando percebi, eles me rodeavam. Todos levavam uma lata (grande) de cerveja na mão e cantavam, alegremente: “Nós vamos ganhar o campeonato”. Os que estavam sentados perto de mim correspondiam ao protótipo do hooligan: cabeças raspadas, tatuagens, pescoços largos, poucos dentes da frente. E eu estava de camisa vermelha da seleção inglesa, a cor da camisa do adversário deles, o Forest. Como dizem que a melhor defesa é o ataque, saí puxando conversa. Disse logo que eu era brasileiro, torcedor do Flamengo, e puxei da carteira uma figurinha do Zico para comprovar. Foi o que bastou para ser adotado pela turma.

Nossa recepção na estação de Nottingham foi tensa. Havia policiais por todo lado, dois deles filmando a nossa chegada. Ao sairmos à rua, ninguém do grupo sabia o caminho direito e a toda a hora falavam ao celular com alguém, tentando descobrir a melhor rota. Para eles, a questão era chegar sãos e salvos a um pub neutro, onde pudessem beber mais cerveja antes do apito inicial. Fizemos uma rota em ziguezague, por ruas menos movimentadas, com o pessoal olhando para os dois lados e para trás também, aparentemente com medo de uma emboscada. Fiz amizade com os mais velhos da turma, uns cinco trintões que não trajavam nada que pudesse identificá-los como torcedores do Leeds. É uma das precauções básicas dos hooligans. O grupo destacou-se do restante e eu colei neles. Fomos guiados pelo celular até a área do Notts County, um clube local que é rival do Forest. Um dos meus novos amigos, um baixinho atarracado e forte, explicou o problema quando passávamos por alguns torcedores do Forest. “Enquanto forem um grupo pequeno nós podemos lidar com eles, o problema é se encontrarmos um grupo maior, uns trinta.” Naquele momento, contando comigo, um vegetariano pacifista, éramos seis...

O amigo baixinho disse que o futebol hoje é all about money, money. Não há mais jogadores fiéis ao clube. “Só nós, torcedores, somos fiéis.” Depois de alguns litros de cerveja, bebidos em poucos minutos, partimos para o estádio, meia hora antes de o jogo começar. Novamente fizemos um caminho sinuoso, passando por policiais montados a cavalo, outros segurando cães. Os policiais estavam com cassetetes, o que não é comum na Inglaterra. Tudo indicava que aquele jogo não seria dos mais tranqüilos. E não foi. Depois de o Leeds derrotar o time da casa por 2 a 1, na saída do estádio, jovens torcedores do time vitorioso tentaram invadir a estação de trem.

Os ingressos a 50 libras (200 reais) e os esquemas de fidelidade da primeira divisão impossibilitam a presença desse tipo de torcedor. Há quem ache tudo isso muito natural, apenas mais um exemplo do império das leis de mercado. Mas as conseqüências danosas estão visíveis por toda a parte. (12) Clubes tradicionais endividam-se irremediavelmente, tentando, em vão, contratar jogadores que lhes permitam competir com as equipes turbinadas pelo farto (embora de origem duvidosa) dinheiro de generosos oligarcas. Alguns fecham as portas, outros vendem seus estádios e muitos definham dia a dia. O apoio dos torcedores, o coração de qualquer clube, começa a faltar. Antes eles eram ligados ao clube local ou do bairro, já os novos adeptos querem torcer por um time vencedor, que compra craques no mercado mundial e aparece na televisão. (13) É cada vez mais fácil ver crianças com as cores do Liverpool, do Arsenal e, principalmente, do Manchester United. A montanha de recursos proveniente da televisão fica totalmente concentrada na primeira divisão, que, aliás, foi criada para isto mesmo: para não ter que dividir a grana com as outras divisões, ou seja, com os clubes mais pobres. Na verdade, o abismo entre os clubes acentua-se no interior da própria primeira divisão. Nos últimos quinze anos, apenas quatro clubes conseguiram ser campeões. O futebol começa a ficar sem graça.

Os novos donos do futebol inglês parecem ter adotado o modelo americano: o esporte como show business. Nos Estados Unidos o esporte profissional movimenta duas vezes mais dinheiro do que a indústria automobilística, e sete vezes mais do que Hollywood. Dentro dos novos estádios-shopping, muitas vezes o grito ou o canto dos torcedores é abafado pela música dos alto-falantes, no melhor estilo NBA. Os locutores procuram orquestrar e controlar as emoções dos torcedores. Estes são obrigados a torcer sentados, permanentemente vigiados pelos circuitos internos de televisão e por uma multidão de zelosos funcionários. (14) Durante um jogo do Birmingham City contra o West Ham, um desses funcionários proibiu-me de tirar fotos com minha humilde e despretensiosa câmera fotográfica. A explicação: o espetáculo é propriedade do clube. E dele agora fazem parte os mascotes infantilóides, como bichos de pelúcia gigantes: leõezinhos, elefaninhos, cachorrinhos. À venda na loja do clube, é claro. (15)

Num ponto crucial, contudo, o modelo original é superior. Embora visando unicamente ao lucro, os empresários do esporte americano sabem que o valor da sua mercadoria depende de algo chamado competição. O esporte é um negócio com certas especificidades. O historiador holandês Johan Huizinga lembrava, em seu Homo Ludens, que o feitiço despertado pelo jogo depende em grande parte da tensão proveniente da incerteza e do acaso. Exatamente para preservar o valor comercial do seu produto, os dirigentes do futebol americano buscaram garantir esse elemento essencial, tomando medidas concretas para evitar um desequilíbrio de poder financeiro entre as franquias. Diminuindo a incerteza, desaparece a magia do jogo. Por isso, desde o momento em que ligaram seu destino à televisão, eles estabeleceram que os recursos fossem igualmente divididos entre as equipes. Na década de 90, ainda com a mesma preocupação, fixaram um teto salarial, resolvendo, de uma só tacada, dois problemas: a escalada astronômica da remuneração e o possível desequilíbrio entre as equipes.

No caso do futebol de bola redonda, a entrada selvagem do capital tem desfigurado o jogo. Surgiu uma elite mundial de clubes globalizados e plenamente transformados em empresas, como o Milan, o Manchester United, o Real Madrid. (16) A concentração de recursos permite monopolizar os melhores jogadores, provenientes dos quatro cantos do planeta. Campeonatos nacionais, antes equilibrados, agora têm um ou dois favoritos. Muitos clubes nem mais competem com esperança de conseguirem o título – cada vez mais improvável –, mas apenas com a pretensão de se classificarem para uma das várias competições européias, bastante lucrativas. Não é mais tudo pela vitória. Agora, é tudo pelo equilíbrio contábil. (17) Por falar em finanças, as minhas estavam abaladas pelas despesas com a compra de ingressos. Passei a apelar para os jogos da segunda divisão, mas o preço das entradas – por volta de 30 libras (120 reais) – continua-va a destroçar meu orçamento. Foi assim que acabei indo ver o clássico Leamington versus Sutton Coldfield, jogo da British Gas Business Football League Midlands Division. Traduzindo: a oitava divisão. Dentre os 4 mil clubes de futebol da Inglaterra, talvez não haja um grito de guerra mais original do que o do Leamington: “Vamos lá... Freios!” Freios? É porque o Leamington tem sua trajetória ligada à história da indústria automobilística na região de Warwickshire, no centro da Inglaterra. Embora tenha sido fundado em 1891, antes de o futebol chegar ao Brasil, o Leamington só se tornou um clube de maior expressão em 1946, ao ser encampado pela Lockheed, a maior empregadora da cidade e fabricante de sistemas hidráulicos... de freios. O declínio da indústria automobilística levou o clube a vender seu estádio e a fechar as portas em 1988. Um fanático grupo de torcedores, entretanto, manteve acesa a chama do clube e, em 2000, refundou o Leamington. O clube subiu várias divisões em poucos anos e já voltou ao lugar onde estava antes de ser extinto: a oitava divisão.

Nela, a realidade é completamente diferente da bilionária primeira divisão. Seus jogadores, semiprofissionais, trabalham na construção civil, são faxineiros, funcionários de escritório etc. Alguns são estudantes universitários. Eles treinam à noite, por duas horas, nas terças e quintas-feiras. Recebem apenas uma ajuda de custo, girando em torno de 100 libras (400 reais) por semana.

Marcus Jackson, o atlético e ofensivo lateral direito dos “Brakes” – apelido do Leamington; freios, em inglês –, resumiu assim seus objetivos: “Aproveitar meu futebol e me divertir no fim de semana”. Aos 28 anos, ele não tem grandes esperanças, mas se sente feliz em poder jogar, depois de ter fraturado o fêmur, o que levou os médicos a decretarem o fim da sua carreira. Ele acha que os Brakes têm uma chance de vencer o campeonato deste ano. Pedreiro autônomo, ele tem que parar de trabalhar mais cedo quando os Brakes jogam no meio da semana. Marcus Jackson e seus companheiros são treinados por Jason Cadden, 38 anos, um ex-ponta-esquerda que teve sua carreira interrompida por causa de uma contusão no joelho. Ele começou a dirigir clubes comunitários e há sete anos é técnico dos Brakes. Não é seu único emprego: ele também trabalha como técnico em várias escolas para complementar sua renda. Diz que ganha o suficiente para “pagar as contas”. Os jogadores são descobertos por ele ou por olheiros do clube, torcedores que enviam dicas. Acha que o futebol profissional de hoje está um pouco fora da realidade, com salários estratosféricos e a circulação de um volume absurdo de dinheiro.

O presidente do clube, David Hucker, é um compenetrado senhor de 58 anos que trabalha como consultor da prefeitura. Voluntário, não recebe um centavo do clube. Além de buscar o contato com os torcedores do Leamington, Hucker divulga o clube no rádio e nos jornais. Ele mesmo escreve uma coluna comentando os jogos do time, publicada em mais de um jornal local e no site do clube. Parece estar dando certo, pois, naquela tarde de sábado em que o Leamington enfrentou o Sutton Coldfield, o novo estádio abrigou um público recorde para aquela divisão: 648 pagantes! Hucker estava contentíssimo.

A bilheteria, com o ingresso a 6 libras (24 reais, bem barato para a Inglaterra), representa apenas 10% dos recursos do clube. Além do patrocinador – uma empresa de materiais de construção, que gera 25% da renda –, a principal fonte de arrecadação é o bar. Há outras fontes menores, como os anúncios em torno do campo ou no programa do jogo. Sim, um clube da oitava divisão faz um programa para cada jogo, amistoso ou oficial. Com orgulho, Hucker revela que o clube não deve uma libra a ninguém: “Somos donos do estádio, construímos tudo pouco a pouco, temos feito lucro ano após ano. É a única maneira”. A administração impecável e o profissionalismo são o que mais impressionam um brasileiro acostumado ao caos administrativo do futebol pentacampeão do mundo. Cheguei a Leamington de trem e tive apenas que atravessar a rua para pegar a van gratuita, contratada pelo clube para levar os torcedores até o estádio. Depois de dez minutos de viagem, chegamos ao campo, construído no meio do nada. Paguei meu ingresso e fui dar uma olhadinha no estádio. Bem, estádio é uma maneira de falar. Por enquanto, o que há é um gramado muito bem cuidado e cerca de 300 lugares sentados. Há uma pequena casinha de madeira onde são vendidas camisas, chaveiros e os tradicionais cachecóis do clube. Mas nada de bolas de golfe. Nem sinal de mascotes ou lojas de apostas. Do lado de fora, fica um quadro com as escalações dos dois times escritas com uma caneta Pilot.

Começa a partida: o Leamington no seu tradicional uniforme, camisa amarela, calções pretos e meias pretas, versus o Sutton Coldfield, todo de azul. Os Brakes começam no ataque: Ben Mackey, um rechonchudo atacante, abre o placar com um forte chute após um minuto de jogo. Aos dezenove minutos, os visitantes têm um pênalti a seu favor, mas Richard “Mozza” Morris, o bravo goleiro dos Brakes, salva a tarde. Os azuis pressionam bastante durante todo o jogo, mas o Leamington faz aquilo que se espera de um time com o apelido de “freios” e segura o resultado até os 41 minutos do segundo tempo. Depois de uma bela jogada de Richard Adams, James Husband dispara um petardo com a canhota e sela o resultado de 2 a 0 para os Brakes. Ninguém segura os freios... A maior parte do público assiste ao jogo de pé, ao lado do campo, de onde dá para ouvir os jogadores reclamando do juiz, o técnico passando instruções e até as provocações entre os jogadores. Muito simpático. Aqui, o futebol parece ainda ter alma. (18)


***

Se tiveram paciência de chegar até aqui - e os verdadeiros amantes do futebol terão -, não custa nada acompanhar meus breves comentários:
(1) Uma coisa é facilitar a venda dos ingressos para toda a torcida. Outra, bem diferente, é marginalizar a grande massa apenas para criar grupos privilegiados.
(2) A Globo segue o modelo que vem de fora.
(3) Rupert Murdoch. Eis o nome.
(4) Para essa gente, a palavra higienização assume um sentido literal.
(5) Fica claro porque tem muita gente querendo acabar com as torcidas organizadas por aqui.
(6) Triste, muito triste...
(7) Histeria da imprensa e das autoridades? Vejam só...
(8) Absolutamente genial e irretocável.
(9) Quem é que já não pensou isso por aqui?
(10) Dá-lhe sofá!
(11) Mais do que o preconceito contra torcedores organizados, o que me irrita é a expressão “poder de consumo”.
(12) E há quem defenda a elitização...
(13) É o que acontece com o SPFC por aqui.
(14) Não é uma realidade distante por aqui.
(15) ... e Piu-Piu, Frajola etc.
(16) Saem os torcedores, entram os consumidores.
(17) Emblemático.
(18) Espero que meus filhos não vejam o pai como uma figura folclórica por manter hábitos como esses...

E os reforços?

2007 terminou com a perspectiva de um 2008 vencedor. Novo patrocinador, dinheiro em caixa, parcerias, treinador de peso, Arena Palestra, tudo de uma vez. Por sinal, muito se falou dos tais R$ 40 mi da Traffic, mas até agora nada aconteceu. Com um único reforço e algumas dispensas, o time não parece tão mais forte se comparado ao que fracassou na última temporada. Sem querer cornetar, fica a pergunta: e as contratações?

01 janeiro 2008

Direto do Rio

Para começar bem o ano, duas pequenas observações após mais uma virada de ano na Cidade Maravilhosa:

1. Fui ao Maracanã, na quinta passada, assistir ao festivo Flamengo 1987 8 x 5 Amigos do Zico. Antes que venham comentários idiotas, ressalto que foi um fato casual, já que eu estava de passagem pela Tijuca pouco antes do tal jogo. No fim das contas, foi bom rever Djalminha, Edmundo e Zinho, entre outros. Como é bom também reencontrar o Maracanã (mesmo com o gramado detonado) e, vá lá, ver uma torcida que ama o time de verdade (35 mil pagantes por quase nada).

2. Por falar em Flamengo e em Maracanã, parece cada vez mais improvável a ocorrência de brigas entre RRN e TJF. É claro que há desentendimentos – eu mesmo vi dois no intervalo –, mas o fato é que a TJF acabou. Enquanto a Raça fazia a sua parte no lugar de sempre, a TJF não foi capazes de reunir mais do que 30 torcedores lá do outro lado da arquibancada. Ao que parece, foram desbancados pela tal Urubuzada.