30 abril 2015

Os 16 do Nobre

O discurso é bem ensaiado. Tanto que se adapta aos números e às circunstâncias com extrema facilidade:

“Não governo para dois mil que vão aos jogos do Palmeiras fora de casa. Governo para 16 milhões”.
Paulo Nobre, tentando justificar a obsessão doentia por torcida única em clássicos – e também em outros jogos

“Eu administro o Palmeiras para 16 milhões de pessoas. Não só para 30 mil, 40 mil que vem ao estádio”.
Paulo Nobre, irônico, abusando das habituais falácias e fazendo pouco caso dos 40 mil que pagamos valores extorsivos para ver o Palmeiras disputar a primeira final em sua nova casa e mais ainda daqueles que foram alijados do estádio

Houve o tempo do Nobre choramingando pela falta de dinheiro em caixa. Também o tempo do Nobre que não queria ser refém do centenário – e que quase arrastou clube e torcida para o inferno do rebaixamento. Veio, depois, o Nobre “capacho do MP” – e este continuará na ativa até que seja feita a sua vontade doentia. Este mesmo apostava na tática de maltratar os números para criar falácias travestidas de argumentos. E há agora, na iminência de um título, o Nobre prepotente, que joga aos leões (ou aos peixes, como quiserem) o seu torcedor.

Não, Nobre não governa para os, segundo ele, “dois mil” que vão aos jogos do Palmeiras fora de casa. Tampouco para os “30 mil, 40 mil que vem ao estádio”. Menos ainda para os que não podem arcar com a extorsão nossa de cada semana no novo Palestra. Nobre governa para seu próprio ego e, no máximo, para sua corja de aduladores. Nobre governa para seu irrefreável apetite por dinheiro e, com boa vontade, para uma meia dúzia de asseclas.

Meia dúzia? Melhor seria dizer 16. Os mesmos 16 que apareceram ao lado do mandatário alviverde em um confortável camarote no estádio de nosso maior rival, em foto que circulou livremente pelas redes sociais. Não, não vou aqui publicar a imagem em questão, mas os 16 que ali aparecem, ao lado de um Nobre com a língua de fora, são os cúmplices que dizem amém para todas as atrocidades que vêm sendo cometidas por esse sujeito contra a Sociedade Esportiva Palmeiras e contra sua gente.

Por sinal, cabe repetir que a ida de 1.886 representantes de verde ao estádio de Itaquera ocorreu contra a vontade de Paulo Nobre. Só fomos até lá porque avalizados por Mário Gobbi, presidente do SCCP até a véspera do dérbi ocorrido em nosso estádio em fevereiro. Foi Gobbi que, ao bater o pé em entrevista coletiva na antevéspera do jogo, garantiu a presença de 1.500 visitantes no nosso estádio e, de quebra, assegurou que pudéssemos ir a Itaquera dois meses depois.

Se dependesse de Nobre, o Palmeiras não teria tido sequer um torcedor no Itaquerão. Nossos atletas teriam entrado em campo diante de 40 mil inimigos, sem qualquer respiro em meio a uma pressão que viria de todos os lados. Não se ouviria um grito sequer de incentivo às nossas cores, os jogadores não teriam para onde correr na hora da comemoração, não haveria nada – a não ser uma pequena corja reunida em um camarote escondido – a representar 16 milhões em meio à massa adversária. E nada disso aqui teria acontecido.

Fomos, 1.886, até território inimigo de trem e caminhando 8km na ida e na volta, sob chuva. E faríamos tudo de novo, porque é nosso direito e nosso dever. Mas, no que dependesse de Nobre e de seus asseclas, o Palmeiras seria representado no Itaquerão – e em outras canchas – por aquele pequeno grupelho que tomou o poder para achacar a torcida semana após semana.

Esqueçam os 16 milhões do discurso falacioso.

O ego de Nobre enxerga toda essa gente como cifrões.

Daí então que, na base do “eu acho”, “eu penso”, “eu acredito” e “eu quero”, responde às demandas da torcida com ingressos a obscenos R$ 88 para ver um jogo no telão, ignora as manifestações populares e perpetua uma sequência de atentados contra o palmeirense: como se não bastasse o ingresso a R$ 210 para a finalíssima (e eu venho fazendo esse alerta há meses), Nobre coloca em risco os palmeirenses que terão de ir comprar os bilhetes logo na casa do rival. Uma temeridade sem tamanho.

Mas não há de ser nada; o que importa, para Nobre, é colecionar recordes de arrecadação, vomitar discursos falaciosos e prepotentes para refutar manifestações em contrário e, claro, encher o camarote com seus aduladores.

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Ao zelador – e ele vai entender:
Enquanto uns trabalham e cuidam de suas vidas, há os aduladores que, revestidos de pequenos poderes, se sentem no direito de proclamar vantagem a partir de coisas ainda menores.

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Pouca gente viu, mas... ... faltava ainda uma hora para o jogo do último domingo quando um representante do Choque entrou no gramado do nosso estádio. Vestia a mesma farda que vestiam os bravos, valorosos e destemidos homens que massacraram a nossa torcida no último dia 8 de fevereiro. Era também a mesma farda dos bravos, valorosos e destemidos homens que agrediram um dos nossos no Itaquerão, um domingo antes. Sua imagem apareceu no telão. Ele segurava um diploma ou algo que o valha. O sistema de som não funcionou bem e não foi possível entender exatamente o que ocorria, mas fato é que houve uma homenagem a um homem do Choque (que, imagino, representava a instituição) dentro da nossa casa, diante dos olhos de muitos que foram massacrados no dia 8 de fevereiro. Foi quase um salvo-conduto para que os bravos, valorosos e destemidos homens do Choque descessem a porrada nos nossos.

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Post publicado originalmente no 3VV - e o nível dos comentários ali é bem evidente da alienação que tomou conta de boa parte da nossa torcida.

20 abril 2015

Aqui, sim!

























São Paulo, Itaquera, extremo leste.

Dizem Diziam que por ali se ergueu um estádio que somente traria alegrias para a tal torcida que se autoproclama o que é e o que não é. Lá, no alto de um descampado bem ao leste de onde surgiu a metrópole, a casa nova foi, por pouco menos de um ano, o que dela se pensava pretendia: jogou-se ali uma Copa do Mundo; construiu-se uma invencibilidade notável; teceram-se loas ao mármore dos banheiros, às latrinas que vieram do Japão, à modernidade onipresente; lamentou-se por assentos plásticos que não deveriam existir; criou-se uma conexão entre time, torcida e estádio; gastou-se e ganhou-se dinheiro com tudo, inclusive com faixas e adereços evocando uma pretensa infalibilidade da nova casa.

Mas...

Mas a história pesa. E as camisas pesam, umas mais do que as outras.

(...)

2015, abril, 19. Fim de tarde. Da esquina sudeste do novo estádio, o olhar se desvia do campo apenas para avistar a persistente neblina que paira por entre as luzes que vêm da marquise. Em campo, os dois rivais eternos protagonizam um duelo à altura das tradições do dérbi paulistano. Também na arquibancada. Ao sul e ao leste (e por todos os outros cantos), a torcida rival parece acreditar no que diz: "Aqui, não", dispara-se a todo momento. A autoconfiança cede espaço à arrogância: "Aqui, não", proclama-se.

Havia, do outro lado, ao norte, um novo telão. Dois, aliás, cada qual com imagens distintas. O placar, no entanto, só funciona quando convém - os gols visitantes o deixam em compasso de espera por longos minutos. A leste e a oeste, entre setores superior e inferior, longos displays de led, cujos gols têm algumas centenas de vogais e consoantes, ficam a disparar mensagens de incentivo, letras de músicas ou recados querendo instaurar uma nova ordem ("É proibido fumar", "Respeite o lugar marcado", "Devolva a bola"). Pura poluição visual, a distrair a atenção do que realmente importa: a cancha.















Aqui, sim.

Rola a bola. Em campo, Palmeiras e Corinthians - assim mesmo. Um clássico gigantesco. Taticamente, tecnicamente, emocionalmente. Na entrega de lado a lado, nas opções criadas, nas chances, nos gols, nas defesas, na bola que vai à trave, nas alternativas, nas falhas de lá e daqui. E também nas torcidas, ambas de parabéns pelo espetáculo proporcionado. Um clássico como há muito não se via.

E então, dentro de campo, não há faixas, telões ou displays que façam a diferença. Porque é lá dentro que tudo que se decide e, torno a dizer, há camisas que pesam mais do que as outras. Há camisas que pesam quando mais se precisa delas. Que se fazem notar nos momentos extremados. Que imploram por um jogo como o de ontem.

"Enquanto existir uma camisa verde com
um P no peito, deve haver respeito".

O Palmeiras tal como conhecemos andou ausente, bem sabemos. Perdemos a mão, caímos algumas vezes, sofremos mais que o suportável. Mas continuamos sendo Palmeiras. Ainda mais diante do rival que adoramos colocar no devido lugar.

Porque, a despeito de sequências adversas como a atual, sempre teremos 1993 - e o mosaico pré-jogo entrou em campo, tenham certeza disso. Sempre teremos 1974. E 1999/2000, cujos pênaltis, todos eles, vieram a campo no anoitecer de Itaquera. E sempre teremos cada uma das vitórias grandiosas que fizeram do Palmeiras o gigante que ele é. Inclusive esta última, pois, em que pese a frieza dos números (alguns dirão, inutilmente, que segue o tabu recente e que não caiu a invencibilidade), a conquista que alcançamos é maior do que todas as muitas vitórias que deixamos de conseguir nestes últimos anos.

Para todo o sempre, o empate no segundo confronto entre Palmeiras e Corinthians no extremo leste da cidade virá acompanhado de um asterisco. E ele destacará, em letras garrafais, que o Palmeiras triunfou no primeiro jogo decisivo que se disputou no estádio onde, dizem diziam, ninguém poderia superar o time mandante.

A vitória que figurará para as estatísticas virá muito em breve. E outras tantas. Mas a história haverá de proclamar o 19 de abril de 2015 como o domingo em que Itaquera viu o triunfo de 14 camisas verdes, um técnico que ousou além do que parecia ser sensato e 1.800 guerreiros que seguimos até território inóspito para defender o peso da história contra a arrogância dos incautos alvinegros.

Aqui, sim.

E em qualquer lugar onde houver Palmeiras.

(...)

14 pênaltis depois...

... a neblina seguia no céu de Itaquera. Aos poucos, o Itaquerão foi se esvaziando. Cada um dos 36 mil do outro lado teve de deixar o estádio ouvindo, em alto e bom som, a festa dos 1.800 intrusos de verde - uma retirada que doeu bem mais do que eles querem admitir. E então, já apenas os de verde por ali, a neblina ganhou a companhia da chuva. Providencial. Para lavar a alma de cada um dos 1.800 guerreiros que cantamos pelos milhões que ali gostariam de estar.



























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Breves considerações finais

_Finda a batalha, por quase uma hora ficamos confinados, isolados em território inimigo. O display de led agradecia a presença de uma tal nação. Ao fundo, um som ininterrupto: o hino do rival foi executado algumas dezenas de vezes. Ninguém pareceu se incomodar, tamanha era a festa.

_No caminho entre estádio e estação de trem, percorrem-se ruas estreitas e estritamente residenciais. Aqui e ali, no entanto, há alguns estabelecimentos comerciais e que tais. Igrejas, por exemplo. Havia cinco ou seis delas, todas evangélicas, no trajeto. Pelo horário (saímos do estádio às 19h30 e chegamos à estação às 20h30), coincidiu de a multidão palestrina passar por cada uma delas no horário dos cultos. Bons momentos para resgatar uma música lá dos anos 1990: "O senhor é palmeirense/ Palmeirense eu também sou..."

_Vejo que o treinador adversário reclama do regulamento. Pois ele deveria se lembrar do seguinte: em 2011, o Palmeiras, dono da melhor campanha, foi eliminado, nos pênaltis, pelo SCCP (dirigido por ele), depois de fazer a melhor campanha. É futebol, meu amigo.

_Parece haver reclamações, novamente, relacionadas a assentos de plástico danificados. Pois eles não deveriam estar ali - a exemplo do que acontece lá do outro lado. Simples assim.

_Da mesma forma que tentam utilizar imagens de televisão para identificar e punir torcedores infratores, deveriam agora se preocupar com a identificação do bandido que agrediu torcedores que apenas comemoravam. Vejam aqui e aqui imagens do flagrante.

17 abril 2015

1.800

















Domingo, 19.04.2015. Seremos 1.800 guerreiros de alma verde em território inóspito, bem longe de casa. Todos prontos para a guerra. À enorme nação palestrina que ficará do lado de fora, fica a garantia de que lutaremos por vocês. Seremos a voz dos muitos milhões que gostariam de estar naquele pequeno espaço de arquibancada em meio às fileiras inimigas. Seremos poucos e bons, e lutaremos até o fim. Pela honra alviverde. Pela nossa camisa. Pela história. Pelo futebol.

A história pesa, senhores. A história nos precede, nos apresenta e nos fortalece. A história vai a campo. A história joga. A história decide. Quando surgir no gramado o alviverde imponente, junto estarão as grandes vitórias conquistadas em quase um século de história. Elas também jogam.

1.800 guerreiros de alma verde. Seremos os representantes de toda uma nação. Em alma, em espírito e na voz que haverá de se fazer ouvir por toda a metrópole a partir de seu lado leste. Seguiremos juntos, desde a nossa casa até o outro extremo da cidade. De trem. E a pé, por entre ruas desconhecidas. 
E assim voltaremos.

Aos 11 que vão a campo, só um pedido:
"Que honrem a camisa e lutem sem parar". Nós lutaremos juntos!


























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_Domingo, 12h - pontualmente. Saída da estação Barra Funda. Plataforma da CPTM. Trem expresso até Itaquera.

_E sim, o texto aí é basicamente o mesmo de jogos anteriores (com pequenas alterações, porque agora o estádio é outro). Eu não conseguiria escrever nada melhor. Nem precisaria.

14 abril 2015

A negação do outro



















2015, março, 25. O Palmeiras impôs ao SPFC a mais inapelável vitória em muitos anos de Choque-Rei. Foi um massacre, com o 3 a 0 não fazendo justiça ao que se viu dentro de campo. Mas, ao final de tudo, perto do apito derradeiro, havia, entre os quase 26 mil presentes ao novo Palestra, não mais do que uma dezena de torcedores visitantes. Uma dezena. Dez. Contavam-se, pois, em duas mãos os tricolores em solo alviverde. Para muitos, aquilo não fez a menor diferença. Para outros, fez toda a diferença do mundo. Para Paulo Nobre, responsável direto pelo vazio no setor visitante, foi uma vitória. Para o futebol, uma derrota imensurável.

Indo além da crítica à mentalidade elitista que vem extorquindo o palmeirense jogo após jogo, vou me concentrar nos efeitos futuros presentes de uma conduta em específico do mandatário de plantão: a nociva articulação para excluir as torcidas visitantes do estádio alviverde – e, por consequência, a torcida do Palmeiras de outras canchas.

Não pensem, pois, que o intuito de Nobre é a exclusão dos visitantes apenas em clássicos – o que, por si só, já seria gravíssimo. A verdade é que ele não medirá esforços enquanto não puder implantar, no Palestra, um regime de negação do outro, no caso, o adversário. Não é questão de um interesse momentâneo ou de mero alinhamento com autoridades constituídas; é, isto sim, aspiração decorrente de uma visão que entende o frequentador dos estádios não como torcedor, mas como consumidor – e isto, notem, é ele quem diz.

A mentalidade doentia do mandatário alviverde entende o torcedor visitante como uma figura indesejada, como alguém que não deveria estar ali, como se o "outro" não existisse.

De início, Nobre tentou excluir a torcida do SCCP do primeiro dérbi em 40 anos no nosso estádio: fez-se de capacho do Ministério Público, foi artífice do massacre imposto à nossa torcida na rua Turiassu e, calado, perdeu a primeira batalha. Sua ‘redenção’ veio no clássico seguinte, contra o SPFC: a exclusão da torcida visitante se deu por uma confluência de fatores, eles todos diretamente ligados ao indecente valor de R$ 200 por um ingresso. Ali, senhores, abriu-se um precedente perigosíssimo: a torcida visitante foi excluída de um jogo (de um clássico, ainda pior) pelo aspecto financeiro.

A verdade é que os visitantes têm enfrentado um cenário dos mais adversos desde a reinauguração do Palestra, em novembro passado, com o preço dos ingressos oscilando entre R$ 140 e R$ 200. Detalhe: para partidas absolutamente corriqueiras, de uma fase inicial de Campeonato Paulista. CENTO E QUARENTA REAIS! DUZENTOS REAIS!

Não vou aqui jogar luz sob a argumentação empregada por Nobre para defender tais valores – ela é, como quase tudo que vem dele, inconsistente. Tampouco vou me debruçar sobre uma análise, digamos, acadêmica sobre as motivações e implicações desse processo de “negação do outro” – até porque não sou a pessoa mais preparada para isso. Mas vou, aí sim, apontar as intenções e os efeitos decorrentes da articulação levada a cabo pelo presidente da S.E. Palmeiras.

Eis aqui a pretensão do presidente “win-win”: em não surtindo efeito as alianças escusas com autoridades constituídas (ou seja, se ele não tiver êxito como capacho do MP), ele seguirá tentando asfixiar os visitantes pelo bolso (ingressos a preços abusivos = setor visitante às moscas). Nobre, acreditem os senhores, é muito mais perigoso do que parece: em seu âmago, ele pensa ter direito de determinar quem pode e quem não pode entrar no estádio Palestra Italia. E sua ambição, ou pelas vias pretensamente legais ou pelo bolso, é eliminar por completo o setor de visitantes do nosso estádio: “Paulo Nobre enxerga o nosso estádio como seu brinquedinho e, como tal, quer definir quem com ele pode ou não pode brincar”.

Colocando em segundo plano a gravidade por trás da empreitada em si, é o caso de ressaltar o seguinte: nos 50% de jogos do Palmeiras disputados fora do estádio Palestra Italia, o palmeirense é este “outro”. É o “outro” que viaja para empurrar o Palmeiras à vitória por todos os cantos do Brasil. E é o “outro” também que, maioria entre os 16 milhões de palmeirenses, vive bem longe de São Paulo e tem raríssimas oportunidades de ver “surgir o alviverde imponente”. É o “outro” que ostenta a camisa alviverde em metade das vezes em que o Campeão do Séxulo XX vai a campo.

Para Nobre, no entanto, o palmeirense como “outro” não interessa porque não contribui para os cofres do clube. Tanto é assim que ele já admitiu algumas vezes “não fazer questão de solicitar a carga de ingressos nos jogos do Palmeiras como visitante”.

É um raciocínio por demais perigoso: ao negar o "outro" que vem visitar o estádio Palestra Italia (pelo bolso ou pela vontade desmedida de não aceitar sua presença em nossa casa), o presidente do Palmeiras está negando o "outro" que é o torcedor palmeirense em todos os demais estádios deste país.

(...)

Eis então que seremos o “outro” neste duelo do próximo domingo, na zona leste, contra o arquirrival cuja torcida Paulo Nobre tentou impedir de vir à nossa casa, na outra ponta da linha 3 do Metrô.

Notem, por favor, que, se tivesse obtido êxito como capacho do MP há pouco mais de dois meses, o Palmeiras iria para esta semifinal histórica sem torcida. Sem torcida!

Como tal aberração não se concretizou (e nossa ida a Itaquera no próximo domingo está sendo avalizada pela reação virulenta do então presidente do SCCP), teremos de enfrentar agora somente a reciprocidade no preço dos ingressos – conforme eu já havia adiantado antes mesmo do dérbi na nossa casa.

(...)

Deixando novamente de lado as implicações sociológicas, listo algumas das consequências deste processo de “negação do outro”:
  • Erosão do relacionamento com os "coirmãos" – e o Palmeiras pode vir a ser a agremiação mais odiada do Brasil perante dirigentes adversários e torcedores (inclusive porque está se isolando ao tomar a frente de um processo nefasto);
     
  • Consolidação de uma imagem perante a opinião pública de clube elitista e excludente;
     
  • Exclusão gradual (pelo bolso) do palmeirense como torcedor visitante – uma vez que a reciprocidade tende a se tornar uma medida corrente;
     
  • No caso da parcela da torcida que viaja para ver jogos em outras cidades e estados, o reflexo tende a ser esportivo, uma vez que o time perderá apoio substancial na arquibancada;
     
  • Em longo prazo, este processo de exclusão (ou de limitação da presença) da nossa torcida em outras praças tende a reduzir o apelo do clube pelo Brasil afora – e, no final das contas, isso se reverte em menos receita para a instituição. 
(...)

Como resolver isso?

  • De imediato: o valor cobrado pelo Gol Sul (e, por consequência, do visitante) precisa cair substancialmente, se equiparando ao valor do Gol Norte – e sobre isso eu já escrevi aqui. O Palmeiras não pode, em hipótese alguma, ser o único clube do país que cobra da torcida visitante um valor muito superior ao que é cobrado no setor mais barato do estádio. Além de moralmente condenável, já está mais do que comprovado que a conta acaba sendo paga pela nossa torcida e, em última instância, pelo próprio Palmeiras.
     
  • Em médio prazo: repensar o espaço destinado à torcida visitante (inclusive porque é privilegiada a exposição daquele espaço na transmissão televisiva).

12 abril 2015

É dia 19!

Chegamos à semifinal. Agora é guerra!

Sobre os ingressos (cerca de 1.800) que serão destinados à nossa torcida para o duelo no Itaquerão, breves considerações:

_Se tivesse obtido êxito na sua tentativa de impor um clássico com torcida única no dia 8 de fevereiro (o primeiro dérbi no Palestra em 40 anos), Paulo Nobre teria relegado o Palmeiras a disputar uma semifinal contra o seu maior rival sem torcida.

_É provável que, neste próximo domingo, tenhamos de pagar a conta pelos obscenos valores que têm sido cobrados das torcidas visitantes no Palestra. Já faz tempo que eu venho escrevendo sobre isso, e agora deve vir a fatura.

_No sábado último, a Ponte Preta recebeu os mesmos 1.800 ingressos para sua torcida. Eles foram distribuídos parte para as organizadas e parte para os torcedores mais assíduos no programa de sócio-torcedor do clube campineiro (grupos que, é bem verdade, acabam se confundido). Basta, portanto, boa vontade para que PARTE da nossa carga de ingressos vá para os melhores colocados no rating do Avanti.

_Gostaria de reforçar a palavra "parte" no item acima. É imprescindível que outra parte, substancial, dos ingressos seja direcionada para venda na bilheteria (do Palestra, e não do Pacaembu). Afinal, a presença das organizadas é essencial para garantir a logística e o apoio na arquibancada.

08 abril 2015

Reféns

Complete a lacuna com uma palavra:
“O palmeirense é um ___________ por natureza”.

Algumas opções: torcedor, apaixonado, fanático, otimista/pessimista, corneteiro, sofredor, exigente, aficionado, crítico, devoto, ensandecido, neurótico, bipolar, confiante/cético, intolerante, forte, guerreiro, vitorioso, maluco, vencedor, crédulo/incrédulo, determinado, empolgado, incansável, louco, doente, insistente, persistente, obsessivo, insano... 

Todas podem se aplicar – e algumas centenas mais. Afinal, não há um único tipo de palmeirense, mas vários. Os adjetivos e substantivos sugeridos traduzem, de certa forma, muitas das características normalmente associadas ao torcedor alviverde. São atributos que podem ser vinculados a cada um de nós em momentos distintos.

Mas qual seria a sua palavra se fosse necessário escolher apenas uma?

Antes de responder, sugiro, por favor, que você tenha em mente o significado de “natureza”: 













O que respondeu a criatura que temporariamente preside a Sociedade Esportiva Palmeiras?

Bom, a frase dele, em entrevista para a Folha de S.Paulo, foi a seguinte: “O palmeirense é um consumidor por natureza”.

Consumidor.

Para o mandatário de plantão, a natureza do palmeirense tem pouco a ver com sua atitude em uma arquibancada – ou em qualquer outro lugar. Segundo ele, a natureza do palmeirense não diz respeito a caráter, temperamento, comportamento ou o que quer que seja. Para o rentista que enxerga os frequentadores do novo Palestra não como torcedores, mas como cifrões, o palmeirense pode ser definido não por algo relacionado ao hábito de “torcer”, mas pelo ato de “consumir”.

É uma frase que diz muita coisa nesses tempos em que o torcedor palmeirense é extorquido na hora de entrar em sua própria casa.

Alguém aí haverá de dizer que estou dando muito peso a uma simples declaração, que estou tomando o todo pela parte, que estou fazendo uma interpretação maldosa da terminologia empregada. Sinto dizer, mas está longe de ser isso. Porque o senhor presidente do clube segue, dia após dia, contaminando o Campeão do Século XX, outrora conhecido pelo seu caráter inclusivo, com uma visão excludente e distorcida da realidade. Sequer os números, estes que pretensamente embasam suas demonstrações públicas de esquizofrenia, param em pé, como se pode depreender da mentira por trás dos "6.000 lugares perdidos", das muitas contestações ao obsceno preço dos ingressos e da análise sobre as despesas do novo estádio.

Sob Nobre, aquele que tem obsessão por ser refém (da construtora) ou não ser refém (do centenário, aquele que foi arruinado por seus erros), quem se torna refém é o palmeirense.

Tornamo-nos, todos, inclusive os asseclas, reféns de uma mentalidade elitista, altamente financista e que atribui valor ao palmeirense não pelo apoio que presta ao clube, mas pelo dinheiro de que dispõe para consumir. Tornamo-nos reféns de um presidente que, desconectado da realidade, enxerga o nosso estádio como seu brinquedinho particular – e, como tal, quer definir quem com ele pode ou não pode brincar. Tornamo-nos reféns de uma política de precificação doentia, que limita a capacidade de público do novo Palestra, segrega parte substancial da torcida e tenta excluir a torcida visitante pelo bolso.

Paulo Nobre, como se vê, não entende nada de futebol. Nem do que é ser torcedor. Nem de Palmeiras. E nem mesmo de números, pois tropeça neles a cada nova declaração.