30 abril 2014

Questão de postura

Lá se vai mais uma nota oficial, dessas tantas a que se acostumou a gestão Nobre em tempos de assessor que torce para o rival  ("o futuro mostrará a todos nós quem, em um momento crítico, jamais renegou sua própria origem"). Houve quem gostasse. A mim, não diz nada, a não ser mais uma demonstração do ego presidencial. Basicamente porque não manter relações institucionais com um inimigo de longa data é algo que se deveria esperar de qualquer palestrino desde os idos de 1942.

Isso posto, sinto-me impelido a fazer breves considerações:

Notas oficiais, por contundentes, bem escritas ou enfáticas que sejam, não têm valia se não forem acompanhadas de uma prática que corrobore a palavra empenhada. Para quem tem o poder em suas mãos, importa menos o discurso e mais a atitude.

E a postura da gestão que aí está é, desde o início, covarde, mesquinha e incompatível com um gigante como a Sociedade Esportiva Palmeiras. Como já enfatizado por este blog em textos anteriores, decisões recentes desta diretoria sinalizam para um Palmeiras que não mais se enxerga como o gigante que é. Negociações desastrosas, fracassos administrativos e discursos derrotistas ("não temos dinheiro, não temos dinheiro, não temos dinheiro...") apenas contribuem para reforçar junto a rivais ou inimigos e a quem interessar possa a dura constatação de que o Palmeiras de hoje não mais se comporta como protagonista.

É tudo, em suma, questão de postura. Pronunciamentos oficiais, por bélicos e peremptórios que sejam, de nada adiantam se não vierem acompanhados de ações enérgicas, de atitudes grandiosas e, o mais importantes, de medidas práticas.

Há exemplos incontáveis que podem ilustrar tudo isso, mas eu gostaria de me ater a um episódio específico, de tempos recentes, mas não cobertos por este blog:

Vocês haverão de lembrar do que fez um certo Marquinhos Chedid, presidente do Bragantino, por ocasião do duelo entre as duas equipes pelo Paulistão deste ano. Se não, eu vos digo que Chedid desafiou nossos dirigentes mais graúdos ao menos três vezes: na reunião do Conselho Arbitral da FPF; depois, de maneira reiterada, via imprensa; e, por fim, no vestiário do Pacaembu.

Chedid não fez isso porque abusado ou destemido; o cartola do Bragantino fez isso porque nossos dirigentes não têm atitude compatível com o tamanho do Palmeiras. Fez isso porque, no mundo do futebol, nossos dirigentes deixaram de ser respeitados. Fez isso por saber que poderia ir às últimas consequências sem que alguém o colocasse no devido lugar.

Fosse o Palmeiras dirigido por gente do ramo, e o Bragantino teria sido eliminado do Campeonato Paulista ainda na reunião do Arbitral, sem sequer entrar em campo. E Chedid, coitado, aprenderia da pior maneira possível que não se deve mexer com gente grande.

É tudo, afinal, questão de postura, de atitude e de exercer, na prática, o gigantismo do Palmeiras. Isso feito, nem será preciso perder tempo com notas oficiais.

29 abril 2014

Paulo Nobre, o juvenil

Vamos começar por onde terminou o post anterior:

“Se tivesse o mínimo de dignidade e respeito pela instituição, o mandatário desses tempos tão sombrios ou tomaria pé da situação e recolocaria o Palmeiras em seu devido lugar ou, em sendo incapaz disso, tomaria seu rumo, por infeliz que seja, e deixaria o Palmeiras para os que o têm como o gigante que ele é."

Nobre não fez nada disso. Muito pelo contrário. Veio a público para envergonhar ainda mais o palmeirense, em um pronunciamento que faria corar o seu antecessor (isso se ele tivesse domínio de suas faculdades mentais, é evidente) e que provocou um revide humilhante por parte do nosso inimigo.

O mandatário que aí está, entorpecido pelo próprio ego, comprometido com os mesmos erros que vêm pautando sua gestão desde o início e enclausurado entre os seus bajuladores, falhou até mesmo ao se posicionar sobre o assunto – pois o silêncio faria menos estrago. Se o fez de maneira precária e com um discurso fragilíssimo, isso se deve basicamente a um fator: sua gestão é inconsistente.

Como inconsistente é seu discurso sobre a ética do nosso rival do Morumbi. Ora, ora, caro Paulo Nobre, quer dizer então é que somente agora, sete décadas depois, você descobriu que não se pode confiar no nosso inimigo? E só agora descobriu que jogadores não são confiáveis, que empresários não prestam e que o meio do futebol é sujo?

Igualmente inconsistentes são suas respostas furadas (quando não inverídicas), suas justificativas para negociações mal conduzidas e suas explicações tolas sobre falta de dinheiro (pois desconsideram a incompetência de quem é incapaz de trazer um patrocinador máster ou outras fontes de renda).

Curioso é notar que seus asseclas, os bajuladores que são igualmente responsáveis pela situação em que nos encontramos, tentam agora desviar o foco com infrutíferas declarações de guerra ao nosso inimigo eterno (sério mesmo?) e, claro, apelam para o mesmo expediente rasteiro já utilizado por essa gestão contra dois outros atletas que foram expulsos do clube em tempos bem recentes.

Enquanto isso, senhores, o Palmeiras é humilhado em praça pública. O discurso proferido pelo presidente rival (“Demonstra, infelizmente, o atual tamanho da Sociedade Esportiva Palmeiras, que, ano após ano, se apequena com manifestações dessa natureza”) não enseja propriamente uma declaração de guerra – até porque isto é o que nos define desde 1942 –, mas sim uma reflexão sobre o ponto a que chegamos: a mesquinharia dos que dirigem o Palmeiras nos levou a uma situação em que já nem podemos mais lamber nossas feridas; elas viraram munição para o inimigo.

27 abril 2014

O centenário arruinado

Pacaembu, sábado à noite.

O centenário da Sociedade Esportiva Palmeiras está arruinado por obra do senhor Paulo Nobre, dito presidente da instituição. Se sozinho ele toma as decisões que atentam contra a história alviverde, sozinho ele deve assumir a responsabilidade por tratar como pequeno um clube que é gigante pela própria natureza. Se sozinho ele comete os maiores descalabros administrativos, é assim que deve assumir a culpa por fazer chafurdar tão vergonhosamente o projeto a perspectiva (porque projeto nunca houve) de um centenário vitorioso.

A verdade inescapável, senhores, é que Paulo Nobre, esta figura que por tantos anos cultivou uma imagem mais calcada no exotismo do que propriamente em algo concreto, fez desabar, ainda em abril, todo o ano que poder-se-ia desenhar tão promissor. Em tão pouco tempo, jogou no lixo o sonho dos milhões que somos o Palmeiras.

Fez pior: humilhou, em praça pública e com requintes de crueldade, cada um de nós, palmeirenses, por conta de seus caprichos, de seu ego inflado e de sua inaptidão que transparece a olhos vistos.

Não que isso seja assim surpreendente, pois este mesmo e humilde blog já cumpria, quase um ano atrás, o papel de apontar as inconsistências, fragilidades e impropriedades não só do dito presidente, mas também de seus asseclas e de toda a rede de bajuladores - que devem, um a um, ser execrados na mesma medida do mandatário.

O centenário se põe arruinado, peço que me entendam, não por conta de um jogador específico (eles são todos descartáveis), tampouco pela situação em si, mas porque se assume o Palmeiras, por obra de alguns poucos, como um clube de postura pequena e mesquinha. Não é tanto o fato que conta, mas a imagem que se transmite (e o editorial do 3VV foi certeiro ao abordar isso). É a mensagem que se transmite para quem interessar possa: para o "mercado", para os possíveis patrocinadores, para os dirigentes rivais, para os jogadores, para as torcidas - a nossa e as outras.

O time que foi a campo nesta noite de sábado foi o símbolo que se poderia esperar de tão frágil gestão. A derrota é o de menos até, tanto quanto o mau futebol. O que pesa mesmo é a sensação de que, em não havendo gente do ramo à frente do clube, qualquer um pode chegar e fazer o que bem entender com nossos jogadores. Que qualquer um pode botar o dedo na cara dos nossos, que seus dirigentes não se dão ao respeito, que qualquer equipe de merda pode vir à nossa casa para um coletivo de luxo.

A sensação, na cancha municipal, foi de um jogo entre desiguais (com o Palmeiras por baixo).

O gigante Palmeiras é hoje tratado como pequeno por quem o administra. E a imagem, claro, é bem assimilada pelos "co-irmãos". Daí que o inimigo do Morumbi vem e alicia um jogador nosso quando bem entende, o dirigente de um pequeno do interior faz escândalo e bota o dedo na cara de quem nos deveria comandar, o Fluminense faz um coletivo com ingresso a R$ 60...

Paulo Nobre submeteu o Palmeiras ao jugo de seu inimigo mortal e nos colocou em uma situação de inferioridade nunca antes vista - porque mesmo nos piores momentos de nossa história, seguíamos lutando contra o inimigo. Agora, no entanto, a humilhação é tamanha que o dirigente de plantão lá pelos lados da zona sul vai à imprensa para dizer querer "manter a relação cordial" com o Palmeiras.

É muita humilhação!

Se tivesse o mínimo de dignidade e respeito pela instituição, o mandatário desses tempos tão sombrios ou tomaria pé da situação e recolocaria o Palmeiras em seu devido lugar ou, em sendo incapaz disso, tomaria seu rumo, por infeliz que seja, e deixaria o Palmeiras para os que o têm como o gigante que ele é.

02 abril 2014

Insustentável

Derrotas, tanto quanto a arquibancada, formam caráter. As derrotas vividas na arquibancada, um tanto a mais.

Mas há derrotas e derrotas...

Poucas coisas na vida têm efeito tão devastador quanto o estampido que se ouve do outro lado, por ocasiāo do gol de um adversário em partida decisiva. O gol do outro é ofensivo, é chocante, é mesmo aterrorizante. O caráter de um torcedor vai se formar aí, e nāo tanto nas vitórias.

Ocorre, no entanto, que o Palmeiras da última década e meia, um esboço do gigante Campeāo do Século XX, tirou do seu torcedor até o direito de sofrer  com insucessos diante de adversários à altura.

O Palmeiras desses tempos tão sombrios perde tantas e tantas vezes diante de seu torcedor sem que ele possa mais ouvir o estrondo que sucede o gol de um outro grande. Nāo há mais o alarido do lado de lá, nāo há mais uma dor dilacerante, nāo há mais o impacto de um revés para um rival odiado. Não há mais a derrota que forma caráter; em vez disso, sentimos vergonha de um vexame atrás do outro.

Nāo há mais uma metade de arquibancada a nos lembrar do que estamos perdendo, nāo há mais o barulho tenebroso das hordas inimigas, nāo há sequer uma pequena massa de oponentes a comemorar na nossa casa. Há, isto sim, um silêncio ensurdecedor do lado de lá.

Porque este Palmeiras que se esmera ano após ano na arte das derrotas improváveis nāo sucumbe mais ante seus semelhantes. Este Palmeiras do novo século é superado por clubes menores e mais inexpressivos a cada temporada.

Se antes perdíamos e ganhávamos de flamengos, cruzeiros e grêmios ou mesmo de nossos rivais da província, eis que agora nem a isso podemos aspirar. Antes mesmo do embate contra um dos nossos, costuma vir um fracasso contra ninguém. Em casa, é evidente.

Sequer podemos falar em decisão com casa cheia, porque o espaço destinado ao visitante encontra-se constantemente vazio. Temos fracassado, senhores, diante de aberrações como este Ituano, com seu vergonhoso amontoado de algumas dezenas a conspurcar o setor lilás da cancha municipal. Perdemos, uma vez mais, para um time que não tem torcida, tampouco história.

As derrotas agora não mais formam caráter. Quando muito, o que elas devem formar é uma geração envergonhada, que se vai acostumando à rotina de derrotas improváveis e, de tão comuns, até previsíveis.

É insustentável.

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Breves consideraçōes:

_Vou me eximir de uma série de comentários que emergiram ainda no Pacaembu, mesmo antes de se concretizar a tragédia. Mas nāo posso me abster de um, que já é recorrente: o cidadão que veste a camisa 19 não pode entrar em campo para "defender" o Palmeiras.

_De minha parte, eu sinceramente não credito à diretoria atual muita responsabilidade no que diz respeito à derrocada no Paulistāo. Mas a omissão diante disso e outros desarranjos na gestāo do alviverde não podem ser tolerados. São assuntos para outro post.

_Nāo, o blog nāo voltou. Mas, em nome da minha sanidade mental e como uma derrota dessas nāo pode ficar impune, este texto se fez necessário.