10 dezembro 2014

Carta ao promotor

Sr. Dr. Paulo Castilho,

Assim, de início, um pouco de Chico Buarque para vossa excelência:

“Não é por estar na sua presença 
Meu prezado rapaz 
Mas você vai mal 
Mas vai mal demais” 

Eu bem gostaria de te escrever antes, no calor dos acontecimentos, mas há - eu nem sei bem como te dizer isso - quem precise trabalhar para ganhar a vida. Daí então que me manifesto apenas agora, alguns dias se passando desde o desserviço prestado pelo senhor servidor público na semana anterior.

Escrevo porque não pude deixar de notar os arroubos verborrágicos e os pronunciamentos estapafúrdios da última semana. Ninguém pôde. Se já vem de longa data vossa tendência a atacar o nosso estádio, a verdade é que dessa vez o senhor se superou. Se antes, voltando aos idos de 2006 ou de 2008, vossas imaginárias celeumas tentavam evitar que o Palmeiras pudesse mandar clássicos no seu estádio, eis que agora o senhor foi longe demais em sua obsessão por alguns (muitos) minutos de fama, fazendo ilações, criando cenários hipotéticos e atacando comportamentos inocentes.

Longe de mim fazer suposições sobre vossos interesses acerca da convocação de uma descabida coletiva de imprensa na última semana, mas fato é que o escarcéu foi tão grande (ainda maior que aquele do "barril de pólvora" de 2008) que não há quem seja capaz (não confundir as letras, ok?) de tomar como legítimas as suas proposições.

Primeiro porque, caro promotor, o ataque frontal a um comportamento estabelecido (o de nos reunirmos de maneira um tanto festiva antes de jogos disputados na nossa casa) em nada atenta contra a legislação estabelecida, conforme se pode depreender do parágrafo XVI do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil: "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente". Não à toa, sr. dr., o trecho acima consta do capítulo "Dos direitos e deveres individuais e coletivos".

Não resta dúvida, pois, sobre o quão descabido (pois sem amparo legal) foi o ataque feito pelo senhor, pertencendo mais ao terreno das vontades individuais ("Eu particularmente sou contra essa aglomeração", "Eu prezo por um entorno mais saudável", "Eu entendo que...", "Eu acho salutar...") e menos a uma defesa dos interesses públicos.

No mais, vossa proposição resvala em uma incoerência: se antes as críticas versavam sobre a necessidade de o estádio Palestra Italia se modernizar para atender aos requisitos de segurança de grandes eventos, eis que agora a arena que ali se ergueu foi pensada exatamente para se adequar a estes novos tempos. Das duas, uma: ou havia problemas antes, quando a praça esportiva era, sob a sua ótica, ultrapassada, ou há problemas agora, nesta era de arenas multiuso. Decida-se, pois.

À luz desta inadequação, fico aqui a imaginar, sr. dr., o que pensam vossos colegas promotores, procuradores e que tais sobre a performance da semana passada - que, na modestíssima análise deste que te escreve, beirou o ridículo. Fico a pensar comigo mesmo: seria o senhor, ali entre os seus, nos corredores da Riachuelo, motivo de escárnio, de uma quase comiseração? Ouviriam-se murmúrios, entre um café e outro, sobre o ocorrido? A conferir.

Você gosta de Chico Buarque, promotor?

Vai mais um trecho então:

“Eu não queria jogar confete
Mas tenho que dizer
Cê tá de lascar
Cê tá de doer”


Isso posto, devo dizer que, no domingo, nem mesmo a situação dramática dentro de campo impediu que cumpríssemos, fora dele, a nossa rotina. Enchemos a Turiassu. E a Caraibas. E a Diana. E a Tucuna. E todas as ruas adjacentes, paralelas, perpendiculares. Um mar verde. Com muita cerveja. Copos e mais copos foram erguidos em vossa homenagem. Garrafas foram derrubadas - no bom sentido. Amigos de longa data se encontraram, confraternizaram, lembraram de tempos idos. Celebramos, pois, a vida.

Não esperamos que o senhor, recluso em vossa incompreensão da felicidade alheia, vá entender isso. Nem queremos. Mas, para além de qualquer resposta aos absurdos preconceituosos que foram expressos em inexplicável coletiva de imprensa (ah, pobre mídia que ainda dá ouvidos a isso...) na semana passada, temos a dizer, pois, que nossos direitos não serão tomados, nem a partir das catacumbas do poder, nem a partir de qualquer outro âmbito.

Te asseguramos, ainda, que não aceitaremos ataques à nossa casa, à nossa gente, aos nossos espaços de convivência e à nossa cultura de torcedores de futebol. Resistiremos com todas as armas que nos estão disponíveis dentro da esfera legal. Entenda o seguinte, pretenso defensor da moral e dos bons costumes: não assistiremos passivamente à destruição da nossa identidade.

Vai mais um pouco de Chico, sr. dr.?

“Não sei se é pra ficar exultante
Meu querido rapaz
Mas aqui ninguém o aguenta mais”


Sugiro, pois, como se algum interesse tivesse em vê-lo feliz, que vossa excelência vá procurar o que fazer da vida. Até porque nenhum de nós aqui está muito preocupado com o que o senhor "acha que é salutar", com o que o senhor "preza" ou com o que o senhor "entende". Tampouco, senhor promotor público, contra aquilo a que o senhor é "particularmente contra". Inclusive porque, salvo engano de minha parte, vossos vencimentos de servidor público são regiamente pagos para que o senhor, a partir do necessário embasamento legal, defenda o bem público, e não vossos anseios mais particulares.

E fique tranquilo: se um dia resolver marcar uma festa na sua casa para vossos amigos (?), saiba que ninguém vai te incomodar. Nem mesmo os palmeirenses, porque cada um de nós vai estar aproveitando a própria vida sem pensar em como atormentar os outros.

20 novembro 2014

Para a posteridade

Que fique aqui registrado, para a posteridade, que o senhor Paulo de Almeida Nobre é o responsável por fazer a Sociedade Esportiva Palmeiras ir a campo, logo no retorno para casa, representada pelo mais fraco e incapaz time destes pouco mais de 100 anos de história.

Paulo Nobre, este que se apossou do gigante Campeão do Século XX, é o nome por trás de um Palmeiras que se apequenou na ambição, no planejamento e nos resultados.

Nobre, fracassado em tudo o que se aventurou a fazer, é aquele a quem devemos, todos os milhões de palmeirenses, a dor e o sofrimento infindáveis deste centenário arruinado.

Escrevo agora, na madrugada encabulada pela capitulação vexatória do gigante da - e na - Pompéia, porque não me resta nada mais que não seja fazer esse registro para a posteridade.

A começar pelo fato, pois, de que será ele para sempre lembrado como a criatura que arruinou o centenário do maior campeão que este país já viu. Que não seja lembrado pela catástrofe que hoje parece tão iminente - porque a camisa haverá de nos redimir -, mas que seu nome fique guardado como o daquele que não permitiu ao palmeirense um dia sequer de paz neste ano que deveria ser de festa.

Peço desculpas a cada um de vocês, mas não tenho a menor condição de escrever qualquer coisa sobre o retorno ao nosso estádio. Paulo Nobre tirou tudo o que podia do palmeirense: o direito às vitórias, o direito a sonhar com as vitórias, o direito a se sentir em casa novamente, o direito até mesmo a torcer contra os nossos inimigos. Ao palmeirense não se permite mais um dia sequer de paz. Sequer um dia. Eles se sucedem, dias, semanas, meses, como um pesadelo contínuo, como uma caminhada tortuosa e torturante rumo ao inferno. De novo.

Se é verdade que mesmo os grandes esquadrões podem sucumbir diante de adversários inexpressivos, é ainda mais verdade que a gestão Nobre se encarregou de banalizar tanto esses fracassos que já nem conseguimos mensurar o tamanho deles. E se as derrotas em casa contra times pequenos vinham antes acompanhadas de um tom de lamentação pertinente a um tropeço inesperado, este Palmeiras vergonhoso do centenário já entra em campo derrotado. O que antes eram resultados que passavam para a história como episódios fortuitos em meio a trajetórias vitorias agora são resultados inapeláveis, como se fizessem parte de uma rotina da qual não conseguimos mais escapar.

E, ao contrário de gente que me envergonhou hoje com aplausos à renda do jogo (?!?!?!?!?!?!?!?!), eu não posso compactuar com tudo isso que aí está. Os que fizeram isso são tão culpados quanto o dirigente que se apossou da Sociedade Esportiva Palmeiras.

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_Peço desculpas novamente, mas realmente não consigo escrever nada sobre o retorno ao Palestra. Ele não merecia nada disso.
Se o centenário já fora arruinado ainda antes de começar, a volta para casa, tão sonhada e merecida, corre o risco de acontecer em meio a mais uma tragédia alviverde. O futuro com o qual temos sonhado desde julho de 2010 parece desmoronar aos poucos, antes mesmo de chegar. 
O palmeirense, atormentado, tenta olhar para o futuro, mas se vê preso a um presente infeliz, insuportável e que insiste em violentar, rodada após rodada, todo um passado vitorioso.

_Domingo, não me perguntem exatamente por que, estarei em Curitiba. Aos interessados (como se isso fosse possível), informo que é possível comprar ingressos para o setor visitante pelo Futebol Card. Sai por R$ 95 a inteira e R$ 47,50 a meia (com Itaucard).

_Os trechos em itálico foram retirados do post "Passado, presente e futuro", o último antes deste aqui. Abaixo, mais dois parágrafos:

O Palmeiras destes dias tão sombrios parece nem mais pertencer ao panteão dos grandes. Sob Nobre, o alviverde imponente virou motivo de piada para torcidas as mais inexpressivas. Derrotas vexatórias se acumulam, jornadas desastrosas jogam o clube para o fim da tabela, recordes negativos são quebrados, marcas construídas ao longo de um século vão sendo solapadas, um passado glorioso vai sendo destroçado. Fracassos que antes eram encarados como eventos catastróficos são agora rotineiros, esquecidos antes mesmo da rodada por vir.

Seja homem uma vez na vida, Paulo de Almeida Nobre: tome vergonha na cara e deixe o Palmeiras em paz! E leve junto toda a corja de aduladores e mais o lixo que você trouxe lá do nosso inimigo.

28 setembro 2014

Passado, presente e futuro

"Não é brincadeira
Estão acabando com a história do Palmeiras"

2014. Segundo século, mês dois. Caminha para um desfecho trágico o centenário que já fora arruinado, desde o ano anterior, por Paulo Nobre e por sua corja de aduladores.

O palmeirense, maltratado como nunca antes, vislumbra o futuro em sua nova casa. Mas apenas vislumbra. O futuro que dever-se-ia apresentar tão promissor parece por demais distante para um torcedor que se vê assolado pelo que de pior existe em seu passado glorioso. O amanhã tão próximo parece obra de ficção, como que inalcançável para uma torcida que se tornou refém dos caprichos de um ególatra mimado.

Pois a nova casa vai despontando imponente na zona oeste, quase pronta para nos ser devolvida, ao mesmo tempo em que, dentro de canchas outras, um bando qualquer envergonha nossa camisa do início ao fim de partidas as mais tenebrosas.

Ao palmeirense não se permite mais um dia sequer de paz. Sequer um dia. Eles se sucedem, dias, semanas, meses, como um pesadelo contínuo, como uma caminhada tortuosa e torturante rumo ao inferno. De novo.

A incompetente e inábil gestão orquestrada por Paulo Nobre não está apenas arruinando o centenário da Sociedade Esportiva Palmeiras. Está também comprometendo nossos próximos anos e as gerações vindouras. E está, jornada após jornada, violentando a história de um gigante que sempre passou por cima de todos os seus rivais, fossem eles grandes ou pequenos.

O Palmeiras destes dias tão sombrios parece nem mais pertencer ao panteão dos grandes. Sob Nobre, o alviverde imponente virou motivo de piada para torcidas as mais inexpressivas. Derrotas vexatórias se acumulam, jornadas desastrosas jogam o clube para o fim da tabela, recordes negativos são quebrados, marcas construídas ao longo de um século vão sendo solapadas, um passado glorioso vai sendo destroçado. Fracassos que antes eram encarados como eventos catastróficos são agora rotineiros, esquecidos antes mesmo da rodada por vir.

Fica fácil, pois, entender o que leva as torcidas rivais a já encararem os insucessos alviverdes com certo desdém, como se nada fossem. Não há mais gozação; no lugar disso, nos deparamos com um sentimento de pena, de uma quase compaixão. Nada pode ser pior.

Vejam vocês que Paulo Nobre tomou do palmeirense até mesmo o direito de torcer contra seus rivais diretos. Ao fazer do Palmeiras refém de uma gestão débil e comprometida com o erro, Nobre equiparou o alviverde não mais aos grandes como ele, mas às agremiações insignificantes que passam a vida lutando contra a degola. E é então que o palmeirense se pega não podendo sequer comemorar o gol de pequenos lá de baixo contra seus rivais diretos. Uma vergonha...

Se o centenário já fora arruinado ainda antes de começar, a volta para casa, tão sonhada e merecida, corre o risco de acontecer em meio a mais uma tragédia alviverde. O futuro com o qual temos sonhado desde julho de 2010 parece desmoronar aos poucos, antes mesmo de chegar.

O palmeirense, atormentado, tenta olhar para o futuro, mas se vê preso a um presente infeliz, insuportável e que insiste em violentar, rodada após rodada, todo um passado vitorioso.

Seja homem uma vez na vida, Paulo de Almeida Nobre: tome vergonha na cara e deixe o Palmeiras em paz! E leve junto toda a corja de aduladores e mais o lixo que você trouxe lá do nosso inimigo.

26 agosto 2014

100 anos, uma história, uma vida


















26 de agosto de 2014.

São 100 anos. De história, de lutas, de glórias. De vitórias extasiantes, de tardes e noites para lavar a alma, de decepções avassaladoras. De jornadas épicas, de arrancadas heroicas, de capitulações que tanta dor trouxeram. De gols que me deixaram sem voz por uma semana, de reações forjadas no canto de uma torcida apaixonada, de injustiças que nos perseguem por anos a fio. De clássicos em um domingo ensolarado, de viagens Brasil afora, de quartas-feiras chuvosas para poucos e bons. De Evair aos tantos jogadores esquecíveis, de inimigos valorosos a rivais insignificantes, da conquista da América ao calvário da Série B.

100 anos. De dignidade, união e glórias.

Um século. De muitos “Aqui é Palmeiras!”, de noites mal dormidas em um canto qualquer de aeroportos mil por toda a América, de caminhadas intermináveis na madrugada carregando nas costas uma derrota acachapante. De superações que só mesmo pela torcida, de Metrôs, trens e ônibus que tantas boas lembranças deixaram, de uma via Dutra cujos 400 km pareciam se multiplicar depois de derrotas em solo carioca. Das reuniões pré-clássico, da disputa por território na Roberto Gomes Pedrosa, do estrondo insuportável após um gol inimigo. De caminhadas que compartilhei com tantos guerreiros de alma verde, dos enquadros na Vila Mariana, dos confrontos que não houve como evitar. Das caravanas que duravam um dia, da longa espera para deixar estádios onde não éramos bem-vindos, das noites sem dormir em filas para comprar ingresso. Do olhar perplexo de civis a acompanhar 2.000 guerreiros marchando rumo ao clássico, do se sentir respeitado por torcidas de outros estados, dos vexames bem longe de casa.

Dez décadas. Algumas gloriosas, outras de penúria, ao menos uma perdida. Do êxtase que só se vive quando se faz parte de uma multidão que canta e vibra, da garganta arranhada pelo gosto e pelo cheiro da fumaça verde que tantas vezes tomou conta do Jardim Suspenso, da ardência nos olhos ao menor contato com as bombas dos bravos, valorosos e destemidos homens do 2º BP Choque. De chuva, de frio, de calores prudentinos. De quase dois mil posts em 11 anos de blog, das discussões com gente que eu nem conheço, da fortuna que já investi nessa paixão. Do “au, au, au, Edmundo é Animal” que irrompia de nossas gargantas, de São Marcos a nos abençoar a partir de solo sagrado, das ofensas uníssonas a vagabundos os mais diversos que ousaram nos enfrentar. Do gol do placar, do gol da piscina, do gás no vestiário do inimigo. Do reconhecimento a monstros sagrados de nossa história, dos pobres coitados defenestrados por uma torcida que é tão exigente quanto devotada, de todos os malditos árbitros.

Uma vida inteira de Palmeiras. De suados 1-0, de goleadas incontestáveis, de fracassos retumbantes. De noites felipônicas, de viradas nos minutos finais, de jogos esvaziados e de pouco valor. De um Palmeiras 1-0 Coritiba que, pavoroso para os de fora, adquire contornos épicos para os que lutamos a partir da arquibancada. De voos chegando quase na hora do jogo em cidades distantes, de aeroportos fechados na manhã seguinte, do não saber o que fazer após uma dura eliminação de Libertadores na fria madrugada de Montevideo. Das barraquinhas de pernil antes do jogo, do cheiro de amendoim molhado nas frestas da arquibancada, da provocação aos rivais nos tempos em que havia apenas uma corda a nos separar. Dos bandeirões da Mancha, das faixas que sempre impuseram respeito, das pedras e objetos outros atirados em nossa direção. De pós-jogos na Papa Genovese, de longas esperas por um ônibus no ponto da Venâncio Aires, de confrontos com a PM.

A vida pelo Palmeiras. A Mancha Verde, o Dissidenti, o saudoso Bonde Boulevard. A Turiassu, a Caraíbas, a Matarazzo. Os Lapas H e T, o Pompéia 478P, o Perdizes. O Vila Monumento 407M, o Metrô Ana Rosa, a Barra Funda. A rampa visitante do Morumbi, o setor lilás do Pacaembu, o portão 21 da Vila Belmiro. O Canindé, as despedidas do Olímpico, o Couto Pereira entre um 0-6 vergonhoso e um título épico. O Maracanã, o Mineirão, o Centenario. A Arena Barueri e até mesmo Prudente. De arenas multiuso a estádios que nem existem mais, de gigantes de concreto a barrancos interioranos. Os amigos, os ídolos, os inimigos.

100 anos.

Sim, passa um filme pela cabeça. É inevitável. Um filme de tantas nuances, de tantas cores, de um roteiro que soaria inacreditável nos dias de Ragognetti, Cervo, Marzo e Simone.

Neste filme, o meu, há Palmeiras em tudo.

A este gigante agora centenário devo muito do que sou hoje. Se foram meus pais que me prepararam para encarar a vida, foi com o Palmeiras, em tantas e tantas inesquecíveis jornadas, que ela se apresentou tal como é. Ao Alviverde Imponente devo os momentos mais grandiosos (para o bem e para o mal) que tive neste meu terço de século. Se vivi apenas 33 destes 100 que hoje se devem comemorar como se não houvesse amanhã, sinto como se os outros dois terços tivessem se incorporado à minha história de vida por influência dos antepassados que me transmitiram a melhor herança que eu poderia receber: a palestrinidade.

Porque o Palmeiras forjou o meu caráter, ensinou as maiores lições que eu poderia ter, me deu consciência de mundo. Se sou jornalista hoje, devo isto ao Palmeiras. Devo a ele não apenas o curso que escolhi, mas também a faculdade, a boa e velha Cásper Líbero, no coração da Paulista e a 15 minutos de ônibus do Palestra – e foram quatro anos, não me perguntem como, em que estudei à noite sem deixar de ir um jogo sequer.

Do Palmeiras empresto meus valores mais arraigados, minhas convicções políticas e todo o meu ideário para ser uma pessoa melhor. Por segui-lo a todos os lados e em quaisquer condições, convivi com palmeirenses de todos os tipos, cores, credos, origens, opções e classes sociais. Do doutor ao mendigo, do juiz ao delinquente, do presidente de empresa ao mais humilde operário. Minha visão de mundo tem muito a ver com o Palestra ítalo-brasileiro e popular que a todos abraçou, sem fazer distinção.

O Alviverde também me ensinou a ser tolerante em muitos aspectos, ficando toda a intolerância reservada àquilo que o envolve.

Foi o gigante Campeão do Século, enfim, que conferiu a mim muitos dos princípios que me são tão caros. É por ele que eu sou obstinado, é ele que me faz extrapolar os limites, é ele que me faz lutar, não desistir, resistir.

Imponente que ele só, o clube dos italianinhos do início do século XX me ensinou a lutar pelas vitórias até as últimas consequências e a encarar de cabeça erguida as derrotas. O Palmeiras legado pelos oriundi ensinou que as vitórias não vêm sem esforço e que mesmo todo o empenho do mundo pode não ser o bastante. Por lutar esses anos todos, entendi que devo estar ao lado dele em todos os momentos, mais ainda quando o fracasso parece inevitável. Afinal, parafraseando um grande amigo, “se você acha que seu time vai perder, ele vai perder; vá ao jogo assim mesmo”. Pela camisa alviverde, entendi que era preciso lutar, se manifestar e protestar contra tudo e contra todos que se colocarem contra ela.

Foi pelo Palmeiras, razão de viver, que eu percebi ser possível sentir saudade até do que eu não vivi. É por ele que me imagino presente em ocorrências de décadas passadas. É por ele que falo sobre 1942 como se lá tivesse estado. É por ele que suponho meus antepassados pegando em armas e nas trincheiras para expulsar os inimigos. É por ele que aprendi a conhecer a história e reverenciar os que se foram.

É por este campeão sem fronteiras que conheci o Brasil – e algumas partes do mundo. Foi atrás deste “time de massa” que segui tantas vezes do Norte ao Sul, do Nordeste ao Centro-Oeste. Com o maior campeão nacional de todos os tempos, desbravei o país de carro, de ônibus ou pelos ares. Por este clube de todos os povos, fui a cidades que jamais iria conhecer se não fosse pelas 11 camisas verdes que sempre haverão de ascender ao gramado.

O Palmeiras me deu os melhores amigos que alguém poderia ter. Amigos que ao meu lado estiveram, estão e estarão nos momentos mais intensos, felizes ou infelizes, da minha existência. Porque não pode haver amizade mais sólida do que aquela que se constrói na arquibancada. É ali que se conhece o melhor e o pior de um ser humano. É ali que se forma caráter, e só entende o significado de uma amizade forjada no cimento de um estádio quem vive o futebol como nós vivemos.

Neste 26 de agosto de 2014, 100 anos transcorridos desde a fundação da Società Sportiva Palestra Italia, gostaria de agradecer imensamente aos senhores Ragonetti, Cervo, Marzo e Simone por terem mudado a minha vida e a de milhões de palmeirenses pelo mundo. Obrigado, senhores!

Obrigado, ainda, a todos os que fizeram o Palestra/Palmeiras crescer ao longo destas dez décadas. Aos que fizeram prosperar um clube vocacionado para as vitórias, aos que resistiram bravamente em 1942, aos que criaram grandes esquadrões, a todos os homens que fizeram engrandecer a nossa Sociedade Esportiva. Aos ídolos imortais, aos craques de uma temporada só, a cada um que honrou o manto alviverde. Aos treinadores, aos dirigentes, a todos os profissionais que lutaram pelo bem do Palestra. E também aos adversários e inimigos que sempre haverão de sucumbir diante do Alviverde Imponente.

Por fim, meu eterno e sincero reconhecimento a todos vocês com quem tive a honra de dividir a arquibancada ao longo das últimas décadas. A todos os que fizeram parte dos momentos mais inesquecíveis da minha vida nestes quase 800 jogos em 63 estádios e contra 116 adversários distintos. Aos grandes amigos que levo comigo para todo o sempre, a cada um dos conhecidos ou desconhecidos que abracei após cada gol, a todos aqueles que empurraram o gigante Palmeiras a vitórias possíveis e impossíveis.

A todos vocês, muitíssimo obrigado!

E obrigado, muito obrigado, Palmeiras. Do fundo do coração. Pelas vitórias e pelas derrotas, pelos títulos e pelos fracassos, pelas tardes de sol e pelas noites chuvosas. Pelo mundo que eu conheci por te amar tanto assim. Pelos amigos e inimigos que fiz. Pelas brigas que comprei e pelo tanto que lutei e ainda vou lutar. Obrigado. Pelos meus princípios. Pelo meu caráter. Pela certeza de que tudo isso vale a pena. Pelos valores que você me transmitiu. Pela pessoa que eu sou, pelo que penso, pelo que faço.

Que venham mais 100 anos. Que o Palmeiras, gigante como nenhum outro, seja Campeão de outro Século. Que seja sempre o Alviverde Imponente. Que seja sempre e cada vez mais Palmeiras.

Avanti Palestra!

25 agosto 2014

Reabrem-se as cortinas

*por Felipe Giocondo

Somos efêmeros. Vivemos pouco para tudo o que é preciso vivenciar. E talvez por isso a história seja sempre tão presente. Tomamos fôlego no passado para correr no futuro. Felizes aqueles que reconhecem seus erros e exaltam suas façanhas. Assim, somos melhores a cada dia. Quem sabe de onde veio saberá para onde ir.

2014 

A pedra fundamental do Palestra Italia tinha um objetivo claro: era preciso que um clube de futebol abraçasse o povo italiano em São Paulo. Não surgimos para segregar, sim para unir. Um em cada quatro paulistanos da época eram italianos, ou filhos. Oriundi, diziam. Discriminados como foram os nordestinos que desembarcaram na cidade na segunda metade do século passado. Como os africanos e chineses dos últimos anos. Como os bolivianos e haitianos de hoje.

O Palestra Italia surgiu deste sentimento. Naturalmente, cercou-se de início entre os seus semelhantes. Mas a Itália era pequena para a ambição do Palestra Italia. A cidade de São Paulo, idem. O estado logo foi superado. Difícil precisar exatamente quando. Porque, sabemos todos. Mas o Palmeiras, em pouco tempo, era Brasil.

Devo ser pretensioso, mas certo de ser preciso. Não há, em nenhum recanto do país, em nenhum discurso populista, em nenhuma preferência editorial, um clube mais genuinamente brasileiro do que o Palmeiras. E dobro a aposta.

Por 1942 e a bandeira empunhada. Por 1951 e o país vingado. Por 1965 e o Mineirão em festa.

Por ter 9 milhões de torcedores fora do próprio estado, ou por ser a camisa mais envergada Brasil adentro. Pelos seus inúmeros homônimos, todos, claro, em homenagem ao principal. O Palmeiras é um estandarte do país. Um pavilhão nacional.

Passamos a régua nos cem primeiros anos, vitoriosos e orgulhosos. Desnecessário repisar cada trecho épico dessa jornada. Necessário apenas dizer que tudo isso deriva de nossa vanguarda, do olhar pra frente que sempre nos acompanhou.

Mas nunca, jamais, podemos esquecer-nos de onde viemos. Só estacionamos quando deixamos de lado quem somos e a quem pertencemos.

Parabéns, Palmeiras. Cem anos de histórias, lutas e glórias.

2114 

O Palmeiras manteve-se leal a suas tradições e voltou a abrir os braços para o povo brasileiro. Nosso alviverde imponente rompeu com o pensamento retrógrado que permeava algumas de suas principais fileiras. Assumiu sua essência forjada em seu primeiro século de vida. Uniu e convergiu sua torcida.

O Palmeiras, em seu segundo século de vida, foi progressista. Quebrou o padrão engessado em cifras, aboliu as expressões mercadológicas do seu dia a dia. Isso não resultou, em momento algum, em times fracos e cofres vazios. Pelo contrário, o Palmeiras é hoje o clube mais rico deste país. Isso porque entendeu, antes de qualquer outro, que a essência do futebol é o torcedor. A paixão é algo de fora para dentro. O dinheiro não é meio, é fim. Quando soube respeitar a paixão dos seus aficionados, essa tropa só cresceu e se aproximou mais.

O Palmeiras confirmou sua vocação. É um time de massa, mas, essencialmente, um time de todos os povos. Abençoado o dia em que compreendeu isso plenamente. Feliz o ano em que o presidente não tinha sobrenome italiano. E nada contra a Itália, por favor. Mas foi nesse dia que tivemos a certeza que o Palmeiras elegeria o melhor para seu futuro, fosse ele europeu, nordestino, oriental ou tupi.

Os inúmeros títulos abarrotaram nossa imensa sala de troféus. Mas isso ainda é pouco, perto do orgulho que estampa o rosto de cada palmeirense. Os ídolos, abundantes no primeiro século, foram mais raros neste segundo. Sobre isso não podemos fazer nada, são os tempos. O importante, mesmo, é que a cada novo ano a camisa se sobressai ainda mais, porque é por ela que torcemos. Eles que joguem. Os onze são importantíssimos, mas os milhões do lado de fora são o essencial.

Parabéns Palmeiras. Duzentos anos de respeito, dedicação e amor ao seu torcedor.

21 agosto 2014

Paulo Nobre e o centenário arruinado

Leitores, conhecidos e amigos têm me procurado para pedir que eu escreva sobre a situação a que fizeram chegar o imponente Campeão do Século XX no mês de seu centenário. Digo, pois, que a incompetência de Paulo Nobre tem-me feito tão mal que consigo reunir forças apenas e tão somente para ir aos jogos e lá fazer a parte que me cabe. O bloqueio criativo às vésperas dos 100 anos do Palmeiras diz muito e me impede agora de produzir algo minimamente decente. A bem da verdade, não conseguiria acrescentar muita coisa ao texto que produzi recentemente para o 3VV (Paulo Nobre e o centenário arruinado). Se tanto, consigo acrescentar apenas o compêndio de propostas que, necessárias e imediatas, deveriam ser tomadas hoje por aquele que preside o Palmeiras:

Paulo Nobre: Agenda para esta quinta-feira

Dada a incapacidade administrativa que marca sua gestão desde o primeiro dia, presidente, estamos aqui para auxiliá-lo na tomada de decisões que devem ser executadas ainda hoje. Ou cairemos novamente, caso não tenham te avisado. 

Antes de continuar, contudo, queremos ressaltar que o senhor falhou. Fracassou. Arruinou um pouco da esperança que tínhamos. Que em breve chegue o dia do seu adeus a nosso clube e que o faça ainda na primeira divisão. Não se esqueça de levar o entulho que trouxe de Itaquera com você, aliás.  
Portanto, pegue papel e caneta e anote:

1. Demissão imediata de Brunoro e Feitosa.
a. Para seus lugares você contratará ainda amanhã um ex-jogador identificado com o clube para acompanhar as coisas lá do campo. Para o cargo administrativo, já que não escuta ninguém, você assume a bronca e dá a cara a tapa.

2. Devolução imediata dos atletas Bruno César, Josimar e qualquer outro que estiver por empréstimo. mas sequer consegue jogar nesse time horroroso que o senhor montou.
a. Para seus lugares, suba os moleques da base que tem vergonha na cara, já que a janela, presidente, a janela de transferências JÁ FECHOU. 


3. Separação dos atletas Leandro e Wesley por deficiência de caráter, de vontade, de “sangue na veia”.

4. Redução do preço dos ingressos já para a próxima partida, contra o Coritiba:
a. Tobogã: R$ 1
b. Arquibancada: R$ 5 

c. Laranja: R$ 10 
d. Os demais setores, faça o que quiser. Sugerimos cobrar R$ 1.200 pela cadeira azul, INCLUSIVE de conselheiros. 

5. Pergunte ao Ricardo Gareca se:
a. Quer ficar?
i. Sim! Dê o apoio necessário em uma entrevista coletiva anunciando tudo isso que está acima.
ii. Não! Contrate um veterano, experiente, que saiba lidar com times nessa situação imediatamente. Pague o que for preciso, agora não é hora pra economia. Anuncie em uma entrevista coletiva, com tudo isto que está acima.

b. O que mais precisa aqui?
i. Aceite toda e qualquer solicitação. Se for preciso trazer o Ronaldinho Gaúcho, que traga. Se for preciso dispensar 11 atletas, dispense. Se ele pedir que renuncie, o faça.

6. Reunião imediata com sua diretoria para determinar que:
a. Uma pessoa irá todos os dias à CBF analisar a tabela, nossos horários de jogos etc.
b. Outra irá todo dia a Comissão de Arbitragem lembrar todos os erros contínuos e constantes que acontecem contra nós. 

c. Um terceiro garantirá, em visitas diárias ao STJD, que não sofreremos punições absurdas.
d. Mais um irá a Rede Globo, mas desta vez com outro discurso: garantir que fique tudo como está e que eles NÃO transmitam mais nenhum jogo nosso esse ano. Chega de vexame nacional. 


7. Assim que fizer tudo isso, em prazo recorde, sugerimos que anuncie sua renúncia. Será nossa única alegria neste centenário.

DISSIDENTI


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Por fim, digo a vocês que venho apontando a inconsistência da gestão deste moleque mimado desde o começo do ano passado. Era possível ter evitado tudo isso desde o início. Deixo aqui alguns deles:

P.F.S. 

O exército da austeridade 
ROI*
Artigo 1º 
Questão de postura 
Compromisso com o erro (de novo!)
#centenariopopular 
O centenário arruinado 
A incompetência em números 
Paulo Nobre, o juvenil
Carta aberta ao presidente

28 julho 2014

Missão cumprida

"Era a brecha que o sistema queria..."


















É possível analisar o clássico desta tarde no estádio de Itaquera de maneiras muito distintas. Vou apresentar duas:

-Você pode, por exemplo, chegar em casa depois do jogo e ligar na TV Gazeta para presenciar as múmias do Mesa Redonda quebrando todos os recordes de reacionarismo, desinformação e preguiça. Barrigas robustas à mostra, Prado, Nogueira e Lang destilarão (como efetivamente destilaram) toda uma sorte de impropérios, mentiras e falácias, dignas de débeis figuras cujas bundas carcomidas há muito não sabem o que é uma arquibancada (ou uma cadeira, vá lá).

-Você pode acompanhar a 'cobertura' informal dos que lá estivemos ou, preferencialmente, do notável Gabriel Uchida, o fotojornalista responsável pelo FotoTorcida, este memorial da resistência da arquibancada. É do Uchida, que acompanhou nossa caravana até território estrangeiro, a foto, em primeira mão, que abre este post.

A meu ver, a opção por uma ou por outra é uma questão ou de caráter ou de inteligência. Ou as duas coisas, o que me parece mais provável.

Isso posto, gostaria de dizer o seguinte:

A tabela deste Campeonato Brasileiro foi divulgada em 7 de fevereiro. Era sabido, portanto, que o estádio de Itaquera receberia um clássico entre SCCP e Palmeiras no dia 27 de julho. Entre o anúncio e o jogo, quase seis meses se passaram. Seis meses para que as autoridades avaliassem a logística adequada para transportar uma torcida visitante até o novo campo. Seis meses!

O que fez o 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar? Simples: omitiu-se. Nada fez do ponto de vista programático, a não ser agendar uma reunião entre as duas torcidas e as demais partes envolvidas na sexta-feira que antecedeu o duelo. Ou seja: seis meses se passaram e a discussão ficou apenas para a véspera.

Daí então que os bravos, valorosos e destemidos homens do 2º BP Choque apresentaram impuseram uma solução que, para além de ineficaz, era inexequível: os 2.100 palmeirenses deveríamos chegar ao estádio de ônibus. Ou melhor: em 40 deles.

A imposição das autoridades pode ser conferida neste muito elucidativo vídeo do GloboEsporte. Veremos, mais adiante, como todos os argumentos (da PM e da CPTM, mais especificamente) caíram por terra.

Antes disso, no entanto, eu, jornalista que sou, gostaria de fazer o papel que, por desconhecimento de causa, não foi cumprido por nenhum de meus colegas da mídia esportiva. Pergunta simples: "Caro capitão, onde haveria espaço para estacionar os 50 ônibus?"

Estava em gestação um cenário que poderia muito bem provocar a ruptura que agradaria a tantos dos personagens acima citados: clássicos com torcida única. Dá menos trabalho, não é?

Coube à Mancha Verde, no entanto, a tarefa de contestar a decisão do Choque. A posição da organizada era a única viável do ponto de vista logística para a segurança de todos os envolvidos: trem expresso da Barra Funda até a estação Dom Bosco e caminhada com escolta nos 4 km até o estádio.

Ainda que com certa histeria, a imprensa cobriu bem o embate da última sexta - e contribuiu para a reversão do quadro. Ficou para a Mancha, em um primeiro momento, a imagem de intransigência - reforçada pela declaração de alguns bandidos bem graúdos. Se a reputação habitual costuma ser pior que esta, dos males o menor. Fica a mensagem, lá atrás e agora ainda mais, de que a entidade Mancha Verde se arriscou, quase em um ato de sacrifício, para cumprir a sua missão histórica de salvaguardar a torcida do Palmeiras.

Porque se o esquema imposto pelas autoridades poderia levar a uma catástrofe anunciada, eis que a organização da Mancha Verde garantiu que saíssemos, quase 2.000, da Barra Funda, ainda na manhã de domingo, para chegar em paz ao estádio de Itaquera - o mesmo acontecendo na volta.

Coube à CPTM (e possivelmente à PM, em acordo posterior) uma valiosa contribuição no sentido de garantir que os trens fizessem os percursos de ida e volta entre Barra Funda e Dom Bosco sem qualquer parada. Do início ao fim, sem baldeação, sem encontros com adversários, sem quaisquer transtornos.

Entre a estação Dom Bosco e o Setor Sul do estádio, funcionou bem a escolta da PM. Como se estivéssemos na Sumaré, entre o Palestra e o Pacaembu, seguimos tranquilamente por entre ruas tão desconhecidas quanto vazias. Se tanto, nossas baixas civis se resumem a contusões aqui e acolá dos vitimados pelas ladeiras de Itaquera.

Chegamos em paz. Saímos em paz. Voltamos em paz.

É bem verdade que foram 12 horas na rua - e apenas duas delas foram dedicadas ao jogo -, mas se este é o preço a se pagar para garantir clássicos como este com as duas torcidas em segurança, então podem contar com a gente.

A Mancha Verde, tão em baixa com a rasteira opinião pública, fez o seu papel; estão de parabéns todos os responsáveis pela estratégia adotada e pela execução precisa de toda a programação neste domingo. É bem provável que a logística de hoje seja adotada em todos os próximos clássicos (envolvendo também os outros grandes) no estádio de Itaquera. Basta que as autoridades responsáveis tenham boa vontade e disposição.


























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Constatações:

_Sobre o time, basta dizer que nosso primeiro e único chute a gol foi disparado aos 47 minutos do segundo tempo. Uma vergonha!

_Paulo Nobre: para quem torceu hoje o assessor de imprensa?

_Sobre o estádio, três breves considerações:
-Reafirmo a impressão: é muito feio.
-A acústica é ruim.
-Os banheiros são nojentos de tão limpos.

17 julho 2014

Está de volta o futebol



















Escuto, aqui e ali, alienígenas lamentando o encerramento da Copa do Mundo. Falam em luto até. Em saudades. Em crise de abstinência, vejam só vocês. Em desejos de Copa todo ano e coisa e tal.

Sim, foi uma grande Copa, mas ela teria mesmo de chegar ao fim. Daí então que o circo midiático se desfaz, os turistas (de fora e daqui) vão embora e os craques se despedem, até restar apenas e tão somente o futebol. Ah, o futebol...

O futebol volta agora para os que o vivemos intensamente dia após dia. Os alienígenas que tomaram de assalto nossos estádios (e outros espaços, inclusos os virtuais) neste último mês mergulham agora em mais quatro anos de puro ostracismo e desinteresse pelo esporte, com algum 'deslize' oportunista em uma final de campeonato – e conhecemos bem o tipo de sujeito que, ausente durante toda a temporada, nos procura pedindo ingresso para a decisão.

Chega de camarote, de networking, de colunas sociais escrotas. Chega de notícias sobre VIPs tomando o lugar dos torcedores de verdade, chega de múmias na tribuna de honra, chega de gente que só quer aparecer na porra do telão.

Chega de comentaristas de ocasião, de bajuladores, de cambistas de butique (idem para os que financiam a máfia toda). Um até nunca mais para banqueiros, altos executivos e canalhas congêneres que tanto conspurcaram o lugar do povo. Um basta para os colunistas e analistas de outras esferas a escrever absurdos sobre o que desconhecem por completo. Um ponto final para os credenciados, para os convidados e para quem só queria ver e ser visto.

Depois de uma Copa que eu, quase 800 jogos em 60 canchas, só pude ver pela TV, é chegada a hora de retornar aos estádios como eles são. Tem jogo hoje na Vila Belmiro, domingo no Pacaembu, quarta em Florianópolis, domingo no Itaquerão, quarta de novo no Pacaembu, domingo no Pacaembu... ah, já deu para entender...

Ingressos garantidos, pois - e não, não havia ninguém desesperado querendo entradas para jogos em horários e locais que não eram exatamente convidativos.

O futebol, livre deste Padrão Fifa vomitado por dez entre dez idiotas, retorna agora aos que o vivemos não como uma festinha privê para reunir a high society, mas sim como o esporte do povo por definição. Não é mais o evento de abastados que vomitam meritocracia sem refletir sobre o real significado da palavra, mas sim a manifestação popular que procura resistir ao elitismo descarado - e, acreditem, nós venceremos, não sem antes eu dedicar uma atenção especial ao excremento humano que cometeu o texto deste último link.

Voltar do exílio logo no estádio da Baixada Santista tem um significado todo especial. Porque os setoristas de banheiro de estádio (tem um aí reclamando até da qualidade das portas) entrariam em pânico se conhecessem um dia as instalações daquilo que o Santos FC chama de estádio. E horrorizados ficariam, eles todos, ao saber que, esgueirando-se entre degraus que mal chegam a 50 centímetros, não é possível enxergar o gol que fica logo abaixo.

Seja como for, lá estaremos. Porque o futebol prescinde da existência dos que dão a vida por um banheiro de estádio cheiroso - e é de se discutir até a necessidade de tais recintos, ainda que poucos compreendam a pretensa hipérbole aqui contida. O futebol é melhor sem os endinheirados, sem a corja toda que tem medo de tomar uma facada no baço, sem os brasileirinhos "com muito orgulho, com muito amor", sem os que "acreditam" (no que mesmo?), sem essa turminha do "tóis" (???).

O futebol não é para turistas, não é entretenimento, não é balada. Muito menos bizines, como gostariam alguns canalhas graúdos. E ele está de volta, senhores. Está de volta para quem vive por ele, para quem não mede esforços pelo seu time, para quem é da arquibancada - e nunca das malditas cadeiras numeradas.

Alienígenas, consumidores e torcedores de ocasião voltarão dentro de quatro longos anos. Que passem bem.

A arquibancada forma caráter.

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Passei as últimas semanas lendo e ouvindo os maiores absurdos possíveis. De leigos assumidos - e até absolvo a maior parte - até pseudo-especialistas que ocuparam preciosos espaços midiáticos para, de maneira um tanto desavisada, proclamar ignorância e desconhecimento de causa. A imprensa esportiva teve lá seus bons momentos (gostei do papel desempenhado por alguns jornais), mas o que mais impressiona é a indigência de alguns colunistas aqui e ali, e mesmo dos articulistas de outras áreas (política e economia) que pareciam não saber muito o que escrever ao ganharem credenciais e/ou ingressos. Mais do que revolta como torcedor, fiquei constrangido como jornalista. Fui colhendo alguns links aqui e ali e alguns deles eu acabo de compartilhar no texto acima. Segue a vida.

08 julho 2014

Sobre Avanti, rating e burrice

A burrice me incomoda profundamente.
A burrice teimosa, ainda mais.

Antes de tudo, sugiro a leitura de dois posts (este e mais este) que apontam o absurdo por trás da incompreensível, ininteligível e injustificável fórmula de cálculo do rating do programa Avanti. 

Escrevo agora para atualizar o cenário:

No final de maio, por ocasião do último post, meu rating era 96%. Parecia ok, mas, como dito à época, sem a transparência necessária, era um número desprovido de significado. Eis então que, ao acessar novamente agora o sistema do Avanti, me deparo com o seguinte:







Notem o seguinte, senhores: eu fui a todos os jogos em casa desde que começou a contagem do Avanti, em setembro/2013, e meu índice despencou de 96% para 35% mesmo com o Palmeiras não tendo ido a campo em casa desde maio. Como pode isso?

Como pode, pois, o sistema apontar que está com 35% de rating alguém que vai a todos os jogos em SP e que viaja atrás do time mesmo nas situações em que esta gestão inapta resolve que o Palmeiras deve ser mandante bem longe de sua casa?

...

Pouco depois de ter escrito o post anterior, recebi uma ligação de um funcionário (Fábio, se não me engano) do Avanti. De maneira muito educada, ele tentou justificar a adoção da engenhosa fórmula adotada para calcular o rating. Foi um esforço tão hercúleo quanto inócuo. Toda a empolada argumentação sobre estudos e simulações foi desmontada ao ser confrontada com a simplicidade aqui contida: "número de jogos com presença do torcedor x número de jogos em casa". Eficaz, transparente e irrefutável.

Ocorre que a fórmula adotada pelos "matemáticos" do Avanti não é apenas incompreensível. Ela parece mesmo não ser aplicada da maneira correta, uma vez que não há fundamento lógico que faça alguém, de uma hora para a outra, despencar de 96% para 35% sem ter perdido nenhum jogo. É descabido - além de desrespeitoso.

O funcionário do Avanti havia me dito ainda que, em breve (?), o site disponibilizaria um simulador para que o torcedor pudesse entender a lógica (???) por trás dos números, além de acompanhar o aproveitamento jogo após jogo.

Nada disso aconteceu. Presumo eu que seja mesmo impossível colocar em um sistema aquela fórmula abjeta que foi criada. Presumo.

De tal sorte que torno a apresentar a única solução cabível: "número de jogos com presença do torcedor x número de jogos em casa". E eu poderia aqui perder mais alguns minutos da minha vida para apresentar todo o racional que justifica a adoção deste método, mas acredito que nem é necessário.

A verdade é que a Copa vai chegando ao fim e logo retornaremos à nossa rotina de jogos por aqui. Em questão de duas semanas, teremos clássicos contra Santos FC na Baixada e contra o SCCP no novo estádio dos caras. Duas oportunidades para colocar em prática o rating - desde que ele funcionasse.

A verdade inesgotável é que o tempo vai passando de maneira avassaladora e, quase um ano depois, os responsáveis pelo programa Avanti Palmeiras mostram-se incapazes de colocar em funcionamento uma simples contagem de presença de torcedores nos jogos do clube. São burros, teimosos e desonestos com o torcedor palmeirense.

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_Aos que não tiveram a oportunidade de conhecer tão intrincada metodologia, deixo aqui o link. Vejam se não é um troço deplorável.

_Vejam o exemplo dado pelo site do Avanti para demonstrar a vantagem de estar bem qualificado no ranking de presença:












Aí eu me sinto obrigado a perguntar: se eu, que vou a TODOS os jogos e viajo atrás do Palmeiras, sou "sócio Avanti 1 estrela", quem serão os caras mais assíduos? Como é possível isso?

02 junho 2014

A vida é mata-mata!

Italia 0 x 1 Inglaterra 
Uruguay 0 x 0 Costa Rica
Italia 0 x 0 Costa Rica
Uruguay 0 x 2 Inglaterra
Italia 0 x 0 Uruguay
Costa Rica 0 x 3 Inglaterra

Colômbia 0 (2) x 0 (4) Italia
Brasil 0 (4) x 0 (5) Italia
França 0 (3) x 0 (5) Italia
Espanha 0 (4) x 0 (5) Italia 


Dirão alguns que um cenário como este é por demais improvável, no que eu me sinto impelido a concordar. Não obstante isso, é uma campanha possível – ao menos do ponto de vista das estatísticas. E então, para consagração máxima (com décadas de atraso) do catenaccio, teríamos um (penta)campeão mundial que passaria todos os sete jogos sem marcar um gol sequer, tendo sofrido apenas um - puro requinte de crueldade, para que a campanha tivesse uma derrota em meio aos outros seis empates. 

Seria muito feio um campeão do mundo desse jeito, alguém haverá de dizer. Talvez sim, talvez não. Eu prefiro pontuar que tal façanha mereceria um reconhecimento à altura. E sigo em frente, chegando ao ponto que interessa, para dizer que tudo fica mais bonito quando envolve um mata-mata (ou, neste caso, apenas um “mata”).

Sim, os defensores dos malfadados pontos corridos haverão de apelar para o único – e desgastado – argumento a sustentar a predileção: a tal justiça que, desavisada, os acompanha por todos os cantos. Mas não se desesperem: poupá-los-ei, caros leitores, de toda a retórica furada em defesa dos pontos corridos para, tomando o futebol como uma bem acabada metáfora da nossa existência, dizer que a vida é um eterno mata-mata.

Se não, vejamos:

Fosse a vida um campeonato de pontos corridos, o funcionário assim justificaria um erro de grandes proporções para seu patrão: “Chefe, sei que perdi um contrato milionário por um descuido, mas veja o senhor que sempre tive um rendimento acima da média e, graças a essa regularidade, acumulei uma gordura que compensa esse e outros erros mais”. Ao que o patrão aquiesceria, benevolente e sabedor da justiça por trás dos pontos corridos.

Ou o marido, após um deslize conjugal, se sairia com essa: “Mas, meu amor, foram 25 rodadas de invencibilidade e eu não posso ser desclassificado por uma única derrota fora de casa. Seria injusto depois de tudo o que fiz até agora”. E a esposa, sem sequer se dar conta do linguajar do futebol a invadir o quarto do casal, declamaria Chico Buarque para o amado: “Logo vou esquentar seu prato/ Dou um beijo em seu retrato/ E abro meus braços pra você”.

Como se sairia com essa tese também o imberbe vestibulando, ao fracassar no primeiro mata-mata de sua vida: "Não posso ficar de fora da lista final! Sempre fui o melhor aluno da classe e tive desempenho quase perfeito em todos os simulados no cursinho". Ocorre, caro estudante, que a vida não é assim uma equação de segundo grau e o seu histórico escolar não conta para o vestibular. "Mas foi um erro bobo; só esqueci uma fórmula". Sim, claro; muitos campeonatos foram decididos em pênaltis bobos.

Justo ou injusto, certo ou errado, a vida não é pontos corridos. A vida, torno a dizer, é mata-mata.

A vida é superação dia após dia, é uma constante provação, é o risco iminente e insofismável de um tropeço que pode colocar em xeque toda uma reputação construída ao longo de décadas.

Sim, caros defensores da justiça no futebol, há derrotas que, tão acachapantes quanto conclusivas, podem solapar muitas rodadas de invencibilidade. E pode haver toda uma lógica quando um oitavo colocado bate o primeiro em duas partidas – e aqui eu gostaria de citar o Santos de 2002, que superou o líder SPFC com vitórias contundentes na Baixada (3-1) e no Morumbi (2-1), dali arrancando para um título que foi obtido, novamente, com duas vitórias sobre outro rival, o SCCP. Eu vos pergunto, justiceiros de plantão: como contestar um triunfo como o daquele Santos?

Por sinal, lá se vão 11 anos desde o dia em que resolveram roubar do torcedor deste país o direito às grandes tardes e noites de decisão. Acabaram com as finais inesquecíveis, com os heróis de um jogo só, com os craques que se tornam vilões em 90 minutos, com as grandes viradas, enfim. Acabaram, pois, com um pouco do que fazia o futebol brasileiro mais interessante. Mais imperfeito, é bem verdade, e sujeito a erros imensos, mas inegavelmente mais empolgante. Trocaram isso tudo por 38 rodadas modorrentas, que só prestam mesmo para um canalha qualquer proclamar que “todo jogo é uma decisão”.

Quanta bobagem, senhores. Evocar uma pretensa justiça logo em um esporte tão sujeito às intempéries é de uma pobreza de espírito comovente. Porque se a vida não funciona assim, por que haveria o futebol, esta manifestação popular nascida para a transgressão, de fazer isso? O discurso empolado de que a melhor campanha se mede pela somatória de pontos ao longo de 38 exasperantes e esquecíveis jornadas parece erigido por burocratas de plantão que ignoram o sentimento de uma vitória dramática em uma final.

Tenho para mim que os paladinos da justiça dos pontos corridos jamais tiveram a decência de comemorar uma vitória definitiva no estádio. Tenho para mim que desconhecem a sensação de viajar até o saudoso Olímpico porto-alegrense para lá buscar um triunfo improvável e revigorante. Que nunca antes foram à Ilha do Retiro como visitantes, que desconhecem o Maracanã a partir das finadas cadeiras inferiores azuis, que ignoram a catarse de um gol solitário a determinar o 0-1 do título no placar. Que nunca viveram a emoção de ver o seu time vitorioso em um clássico decisivo contra o maior rival. Tenho para mim que não sabem viver a vida.

A vida, devo dizer, não se mede por um acúmulo de conquistas menores e parciais. A vida não se mensura pela regularidade covarde de quem deseja justiça (e o que é justiça, afinal?) em um esporte tão afeito às surpresas, mas pelas demonstrações de força, pelos momentos de entrega, pela superação. Os tempos bons nem sempre são anteparo contra os maus momentos, e sim, acreditem, um tropeço isolado pode jogar por terra tudo aquilo que foi construído em uma vida inteira – que me perdoem os incomodados, mas o mundo não é justo.

A vida não se vive em uma pequena e esquecível vitória caseira na 31ª rodada; a vida se vive, isto sim, com um gol suado, de carrinho, sob chuva, fora de casa, aos 44 minutos do segundo tempo.

A vida é mata-mata!

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E assim, com um texto atemporal e que revive um pouco do espírito que me faz resistir com isso há mais de década, o blog volta ao seu necessário recesso. Aos novos visitantes, recomendo conhecer o espólio desta página. Obrigado.

30 maio 2014

Carta aos matemáticos do Avanti

Nobres matemáticos do Avanti,

Faz 20 dias que eu escrevi este texto dirigido a vocês. Não tive qualquer retorno até o momento, nem mesmo um protocolar "estamos avaliando seu caso". Imagino que vocês estejam muito ocupados lutando contra a rebelião dos números que vocês criaram - eles podem ser criaturas traiçoeiras, não? -, mas me dei conta que, em sendo sócio Avanti (e também do clube), tenho direito a um esclarecimento.

Notei hoje que houve alteração nos números (voltei ao patamar de 96%), mas sigo sem poder confiar na validade deles. Em especial porque nem mesmo vocês devem entender a fórmula que foi criada para definir o rating, mas também porque há distorções que não se resolvem assim tão facilmente.

Em relação ao cenário apresentado no post anterior, gostaria de atualizar os dados para conferência de vocês:

-10/05, Palmeiras x Goiás, Pacaembu: OK
-14/05, Palmeiras x Sampaio Correa, Pacaembu: OK
-22/05, Palmeiras x Figueirense, Araraquara: OK
-28/05, Palmeiras x Botafogo, Prudente: não pude ir porque meu jatinho estava em manutenção.

Daí então que vocês me apresentam agora um índice de 96%, mas este número bem poderia ser 93%, 98%, 87% ou 91% (e não haveria como contestar). Há, por exemplo, caso de pessoas que perderam alguns desses jogos e têm 100%. De outra parte, há quem ostente números inferiores ao meu mesmo tendo ido aos mesmos jogos.

Resulta da absoluta falta de transparência, nobres matemáticos, a desconfiança em torno dos números.

Teremos agora dois meses sem jogos, e eu já me antecipo aos problemas: imagino que, em função da inexplicável fórmula que vocês inventaram, o rating de todos os sócios Avanti será prejudicado - e lembro que teremos um Santos/SP x Palmeiras logo no retorno da temporada. O absurdo é palpável: como alguém pode cair no ranking se foi a todos os jogos?

Assim, nobres matemáticos, gostaria de apresentar, para apreciação dos senhores, os seguintes questionamentos:

-O que impede que o rating seja apresentado com o mínimo de transparência? Qual é a dificuldade em manter, no cadastro individual de cada sócio Avanti, uma relação dos jogos contabilizados, com a informação sobre presença ou não do torcedor?

-Justifiquem, por favor, a adoção da incompreensível fórmula apresentada no site. Por que não se pode trabalhar de maneira simples? Por que não considerar a lógica “número de jogos com presença do torcedor x número de jogos em casa"? Por quê?

Obrigado.

29 maio 2014

Compromisso com o erro (de novo!)

















Presidente, prudente, voltou mais cedo de Chapecó/SC*.
Presidente, prudente, chegou a Presidente Prudente tranquilamente, como se nada fosse.
Presidente, nada prudente, deu para sair em fotinhos graciosas fazendo as vezes de piloto de rali ao lado de seu assecla, o sorridente CEO do ano e meio sem patrocínio máster.

O leitor mais perspicaz haverá de perguntar: como, afinal, conseguiu o nobre mandatário se aventurar sem sobressaltos pelos nebulosos aeroportos do Sudoeste do país enquanto o elenco alviverde sofria com uma logística desastrada?

Em seu jatinho particular, é óbvio. Talvez seja o único jeito de chegar e sair de Chapecó/SC, cidade que, conhecida nossa desde o ano passado, já deveria estar no radar da administração alviverde como um possível foco de (muitos) contratempos.

Longe disso; comprometidos com o erro, presidente, CEO e demais responsáveis (?) tomaram a decisão mais preguiçosa, covarde e temerária que poderia haver: jogaram no lixo um mando de campo do Palmeiras ao transferir um jogo nosso para Presidente Prudente.

Sobre Prudente, eu já escrevi incontáveis vezes desde 2009, quando começou esta esquisita obsessão, ainda com Belluzzo. Na sequência, a dupla Tirone/Frizzo seguiu com a tara, submetendo o Palmeiras a episódios grotescos, como aquela derrota para o Fluminense. Veio então o mandatário atual e a compulsão teve sequência, de maneira ainda mais inaceitável e com públicos decrescentes - culminando com os 5.681 desta vexatória derrota para o Botafogo.

Sem poder utilizar o Pacaembu nas duas últimas rodadas caseiras antes da Copa, o Palmeiras tinha muitas opções a considerar. O Canindé, por exemplo. Ou a Arena Barueri que nos enfiaram goela abaixo em 2012 - e que foi utilizada agora mesmo pelo Bahia, vejam só. Ou o estádio de São Bernardo. Ou Jundiaí. Até Itu, vá lá.

A decisão dependia de um mínimo de planejamento: estudar os cenários, avaliar os ganhos possíveis, levar em conta o respeito ao torcedor que vai a todos os jogos, privilegiar o sócio Avanti e, claro, pensar na opção menos desgastante para um elenco já diminuto e que enfrentaria alguns dias antes a malfadada viagem para Chapecó/SC.

Mas o Palmeiras da gestão que aí está não permite esse tipo de reflexão - para que pensar em logística quando se tem as migalhas de Prudente? Este Palmeiras que aí está é comandado por uma figura desconectada da realidade, que toma as decisões a partir de conceitos distorcidos - afinal, por que pensar em dificuldades de deslocamento para o torcedor quando se tem um avião particular?; e por que pensar que tem gente que pode não ter condições de pagar R$ 60 pela arquibancada quando se tem milhões na conta?

Presidente Prudente é um erro em qualquer circunstância. Mas Presidente Prudente é um erro ainda maior em um meio de semana entremeado por deslocamentos tão problemáticos quanto estes que se apresentaram (Chapecó/SC e Caxias do Sul/RS devem ter os aeroportos que ficam mais tempo fechado no país).

O presidente, nada prudente, tomou a decisão mais irresponsável possível. Assumiu o risco que acabou por se consumar. Submeteu o elenco a uma insuportável viagem de ônibus e transformou um mando do Palmeiras em transtorno para o próprio clube. Jogou contra a entidade, contra a torcida, contra a nossa história.

A derrota constrangedora sofrida para o Botafogo é responsabilidade dele. Como é culpa dele também a miserável arrecadação de R$ 170 mil, o estádio às moscas, o clima fúnebre que se instalou em um duelo importantíssimo para o alviverde e mesmo o desgaste que vai acompanhar nossos jogadores lá na Serra Gaúcha.

Sim, erros acontecem, e é preciso ter o mínimo de decência para reconhecê-los e buscar os ajustes necessários. O que não se pode aceitar é o compromisso com o erro de um presidente que vive desconectado da realidade que o cerca.

Eles definitivamente não são do ramo...

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*A ideia deste post parte surge desta primeira frase, criada pelo grande amigo Adriano Pessini.

26 maio 2014

Um a menos

Paulo César de Oliveira anunciou sua aposentadoria. É bem verdade que vai continuar vagando pelo submundo do futebol, como um fantasma falastrão em rede nacional, mas o que nos conforta é saber que nunca mais irá trilar seu apito contra o Palmeiras.

Não pude deixar de notar que o referido cidadão soltou algumas palavras ao vento para anunciar a despedida. Segundo ele, “foi uma trajetória vitoriosa”. Há torcidas por aí que devem concordar, tantos foram os dividendos decorrentes de suas atuações, mas é o caso aqui de apresentar um contraponto, relembrando um pouco de tão nociva carreira. A ficha corrida do sujeito é extensa, mas um bom resumo deve obrigatoriamente contemplar os seguintes episódios:

_1997, Paulistão, Palmeiras 2-1 Rio Branco
Os detalhes estão aqui, mas o importante a dizer é que, jogando em casa contra um time pequeno, o Palmeiras teve três jogadores expulsos (incluindo o goleiro) e mais sete cartões amarelos, além de um pênalti claro que deixou de ser anotado em seu favor. Foi a primeira aparição dele contra o Palmeiras; era um bom prenúncio do que enfrentaríamos nos próximos anos.

_1998, Rio-São Paulo
Zinho, nosso camisa 11, é ofendido pelo árbitro em questão pouco antes de ser expulso. Com um a menos, o Palmeiras sofre um gol e é eliminado nos pênaltis.

_1999, Paulistão, Palmeiras 4-3 Portuguesa
Foram anotados três pênaltis para a Portuguesa em jogo disputado no Palestra Itália. Para a Portuguesa!, vejam os senhores.

_1999, Paulistão, Palmeiras 4-4 SPFC
Foram dois jogadores expulsos (Agnaldo e Jackson) e mais um pênalti bastante questionável anotado aos 37 minutos da etapa final. No clássico do segundo turno, mais dois jogadores do alviverde (Roque Jr. e Jackson) receberam cartão vermelho e outros dois pênaltis foram marcados.

_2000, Brasileiro, Palmeiras 2-2 SCCP
Agnaldo é expulso; na sequência, veio o empate do rival.

_2008, Paulistão, Bragança Paulista.
Basta dizer que o sujeito expulsou São Marcos.

_2008, Paulistão, semifinal, jogo de ida.
No Morumbi, o árbitro garante a vitória do mandante com um gol de mão absurdo:





















_2010, Paulistão, Prudente
O Palmeiras enfrentou o Barueri de Prudente de Barueri (ou algo itinerante do tipo) em Prudente. Paulo César de Oliveira, este indivíduo de amarelo aí da foto, validou o lance que aí está, com o jogador do time da casa (?) mais de um metro à frente do nosso último zagueiro:


















_2011, Paulistão, semifinal
Sua última grande contribuição - depois disso, não me lembro mais de ele ter sido escalado para algum jogo do Palmeiras. Fato é que, durante esses 17 anos de tão nociva trajetória, os anúncios de Paulo César de Oliveira como árbitro de uma partida do Palmeiras provocavam reações as mais exacerbadas na torcida. O clima já ficava tenso nos dias que antecediam o jogo - mais ainda se fosse um clássico. Não foi diferente antes daquela semifinal em jogo único. Tirone e Frizzo nada fizeram para evitar a tragédia que se consumou no Pacaembu - e nem mesmo a notícia de que o sorteio da FPF foi dirigido teve algum valor. Naquela tarde de domingo, Paulo César de Oliveira subiu ao gramado com uma missão e a cumpriu com maestria: expulsou nosso melhor zagueiro já no início e, com ele, levou também nosso treinador. Um time brioso se superou com um homem a menos e quase venceu o jogo; nos pênaltis, veio a eliminação.

Um a menos. Mas faltam muitos mais.

22 maio 2014

Bem-vindo, Gareca!




















Abrir um post com a foto de alguém, seja lá quem for, não é muito do feitio deste blog. Mas hoje era necessário. Nem tanto pelo personagem que aí está, mas essencialmente porque o Palmeiras, por intermédio de seus dirigentes, se portou como o gigante que é. Esta página, normalmente tão crítica aos mandatários do alviverde, tem hoje o dever de parabenizar os senhores Nobre, Brunoro e Feitosa pela maneira como se conduziu a negociação para chegada do novo técnico - e, mais do que isso, pela postura de deixar a preguiça de lado, olhar para além do caminho mais fácil e fazer todo o esforço necessário para conduzir o alviverde imponente ao seu lugar.

A chegada de Gareca abre novas perspectivas para o nosso futuro próximo - talvez ainda para o Centenário. Elas dependem, é bem verdade, de se manter essa postura altiva em outras esferas. Dependem de reforços. Dependem de mais boas notícias. Dependem de ousadia para recuperar o que se perdeu. Mas já temos um ponto de partida, talvez um recomeço, um marco para que muita coisa fique para trás e para que se pense apenas no que vem pela frente.

À diretoria, parabéns. Isto é o Palmeiras.

Sim, pode dar tudo errado. Tudo mesmo. Mas aí será mais obra do imponderável, tendo a diretoria feito o que dela se esperava.

Que o novo comandante tenha paz para desenvolver seu trabalho. Estaremos ao lado dele.

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_Crédito da foto: Fábio Menotti/ Agência Palmeiras/ divulgação

11 maio 2014

A incompetência em números

A incompetência da gestão Paulo Nobre se faz revelar também nos pequenos detalhes. Uma vez que falta o tempo necessário para me dedicar a uma análise mais conjuntural das falhas que vêm arruinando o Palmeiras, vou me dedicar ao sistema de rating do Avanti, um pequeno exemplo da incompetência desta gente. Serei breve:

-O sistema de rating, essencial para priorizar os torcedores que mais vão aos jogos, foi implantado com enorme atraso, com seguidas promessas sendo descumpridas desde o ano passado. Não sei se por má vontade ou por inaptidão mesmo, mas fato é que somente em fevereiro deste ano tivemos a divulgação dos números que vinham sendo contabilizados deste setembro/2013.

-Qual seria a forma mais lógica de se definir o ranking de presença ao estádio? Bom, as pessoas inteligentes seguem o caminho mais simples - e fácil de entender, explicar e controlar: número de jogos com presença do torcedor x número de jogos em casa: o sujeito que foi a 31 partidas em 31 possíveis ficaria à frente do cidadão que foi a 28 em 31, por exemplo. Simples, direto e sem erro. Com o tempo, bastaria estabelecer um intervalo de corte (50 jogos, por exemplo) para eliminar os duelos mais antigos e permitir que novos torcedores construam um relacionamento sólido com o clube. É infalível.

-Os responsáveis pelo Avanti, no entanto, preferiram construir uma fórmula incompreensível para definição do rating. Ela já passou por alterações nos últimos meses, o que apenas contribuiu para torná-la mais complicada e sujeita a distorções. Querem tirar a prova? Pois cliquem aqui para desvendar a burra complexidade por trás dos cálculos. Notem, por exemplo, que um torcedor que se associar ao Avanti hoje e comparecer ao jogo de quarta ficará à frente de quem é sócio há anos e vai a todos os jogos. É ou não é estúpido?

-A "fórmula" mais simples e justa pode ser resumida em uma linha: "número de jogos com presença do torcedor x número de jogos em casa". Os imbecis, no entanto, preferiram apostar em um cálculo que, mais de 6 mil caracteres depois, não se faz compreender.

-Isso posto, devo dizer que, desde o início da contagem do rating, em setembro/2013, eu deixei de ir a apenas dois jogos com mando do Palmeiras, justamente dois que aconteceram bem longe de SP, em Londrina/PR (o primeiro) e em Campo Grande/MS. Ainda que a metodologia seja grotesca, eis que eu tinha 88% no ranking em março (meu nome estava naquela tal lista dos 700 que teriam prioridade para comprar ingressos para a Vila Belmiro contra o Santos). Ok. Depois disso, eu marquei presença em todos os jogos seguintes e, vejam só!, meu índice despencou para 63%:







Tal situação ocorreu com todos os torcedores com quem eu conversei, o que evidencia se tratar não de uma falha pontual (o que já seria inaceitável), mas de um erro sistemático (o que é ainda mais grave).

Como explicar isso? Como o índice pode cair se o aproveitamento subsequente foi de 100%? Como pode alguém contrariar os números de maneira assim tão despudorada?

Eu finalizo com a seguinte consideração: se essa corja que aí está se mostra incompetente até mesmo para fazer uma simples operação aritmética, que tipo de absurdo não vai fazer com assuntos mais sérios envolvendo o Palmeiras?

05 maio 2014

À deriva

















Há muito a ser dito nos próximos dias, mas, por ora, é o caso de fazer um breve registro sobre o que passamos neste último domingo no Maracanã. Não sobre o ocorrido dentro de campo - acreditem, é bem melhor assim -, mas sobre o que vivemos os que somos o Palmeiras, os da arquibancada.

Contudo, antes disso e ainda sob efeito do interminável retorno desde o Maracanã até SP, devo esclarecer aos leitores, aos amigos e aos inimigos que o "Forza Palestra" não voltou. A página continua em recesso (pelos mesmos motivos aqui relatados), mas eu não poderia me calar diante de todos os descalabros administrativos da gestão que aí está - porque a coisa extrapolou qualquer limite. De tal forma que os posts mais recentes - e os que virão nos próximos dias - representam não um recomeço, mas sim um esporádico e necessário contraponto a esta corja que vem arruinando o Palmeiras.

Sigo na rotina que me cabe como torcedor (estive no Maracanã, viajo a Salvador daqui a duas semanas, vou a todos os jogos no Pacaembu etc.), mas nada muda no cenário que me levou a suspender o blog. Como este presidente inapto e a corja de bajuladores segue vilipendiando o Palmeiras dia após dia, vou ainda publicar mais alguns posts antes de voltar à programação original. Farei isso na medida do possível, uma vez, torno a repetir, não vivo de renda.

Aguardem, pois.

Isso posto, me sinto no dever de informar que neste domingo último, com o Palmeiras enfrentando o seu maior rival fora de SP, a diretoria que aí está novamente virou a cara para o palmeirense. Os 1.803 que pagamos ingresso para empurrar este time destroçado pela mesquinharia do senhor Paulo Nobre não tivemos, por parte dos que comandam o clube, qualquer atenção. A torcida visitante (no caso, a nossa) teve direito a cinco mil ingressos, quase todos eles comercializados no Rio de Janeiro. Por que 'quase'? Bom, porque ao menos os que compraram o pacote da Futebol Tour tiveram facilidade para adquirir os seus. Ao palmeirense da arquibancada, tão maltratado por essa e por outras gestões, restou encarar o sufoco para comprar ingressos junto com a torcida inimiga no Maracanã.

O Palmeiras segue à deriva, vítima da reclusão e dos caprichos de um mandatário incompetente e de uma pequena corja de aduladores oportunistas.

01 maio 2014

#centenariopopular

Eu bem poderia rememorar um dos tantos textos que já escrevi sobre a elitização ora em curso no futebol brasileiro. Poderia voltar aos idos de 2007, quando proclamei, de maneira um tanto isolada, que a Copa do Mundo deste ano era o "atestado de óbito" do futebol neste país. Poderia. Investiria nisso um tempo de que não disponho e, ainda assim, os elitistas continuariam existindo. Não se acaba com uma praga assim tão facilmente.

Eis então que eu deixo de lado todo esse esforço para brevemente abrir espaço para a campanha #centenariopopular, nascida a partir da visão de quem enxerga o Palmeiras não a partir de um prisma deformado, mas sim como ele é: como um clube de massa e que deve abraçar todos os seus torcedores para continuar sendo gigante.

Em poucas horas, a iniciativa ganhou força e apoio do torcedor. O raciocínio é simples:

O Palmeiras vai a campo pela última vez em casa antes da Copa do Mundo no sábado, 10/05, às 18h30, contra o Goiás. Em tendo sequência a política de preços desta direção (ingresso a R$ 60), é de se esperar um público na casa de 9 a 12 mil pagantes, com renda girando em torno de R$ 380 mil a R$ 500 mil. Nada muito diferente, portanto, do que tivemos no duelo contra o Fluminense (11.189 pagantes para uma renda de quase R$ 475 mil).

Os apontamentos acima não são derivados de algum impressionismo, tampouco têm a superficialidade das análises feitas pela gestão atual para precificar os nossos ingressos. Eles se sustentam, isso sim, em uma base de dados de mais de 20 anos - porque se tem uma coisa que importa para mim é o público que vai ao estádio...

Pois bem, podemos ter a mesma renda com o estádio 30% cheio ou com o estádio 100% repleto. Há, de imediato, um benefício lógico, aquele que diz respeito à parte técnica: porque o time evidentemente entraria em campo mais motivado e, por consequência, mais chances de vitória teria. Existe, em conjunto, um segundo fator, o do arrefecimento na animosidade entre torcida e direção. Também, em paralelo, um ganho de imagem para o clube, pois estádio cheio rende melhores imagens na TV, favorece comentários elogiosos na mídia e reforça a auto-estima dos envolvidos. E, por fim, a vantagem mais importante diria respeito ao restabelecimento do vínculo entre o Palmeiras e seus torcedores humildes, aqueles que, de uns tempos para cá, se viram alijados do estádio por uma política de precificação que não se apoia em qualquer tipo de pesquisa, mas sim nos impressionismos e no bolso de um presidente desconectado da realidade - e, vá lá, de uma pequena corja que o bajula.

Basta querer o bem do Palmeiras para se engajar. Foi o que ocorreu com quase todos os que se manifestaram sobre a campanha.

Se houve exceções?

Sim, houve. Pouquíssimos se manifestaram contra a iniciativa.

Se você, por curiosidade mórbida, quiser conhecer a opinião destas pobres criaturas, sugiro fazer uma busca lá no Twitter mesmo. Vá lá. É um exercício antropológico, de conhecimento de tudo de mais podre que pode haver na raça humana.

De minha parte, eu me permito fazer uma divisão bem simplista desta corja. São dois os tipos divergentes:

-1. Os bajuladores
São os indigentes mentais que pensam dar algum tipo de suporte à gestão que aí está. Via Twitter e por outros meios, já apontei essas criaturas (vale conferir este post). Temos lá os deslumbrados, os interesseiros (sempre atrás de um espaço ou de uma carteirinha) e os puramente mal intencionados. Há três formas de reconhecê-los:
(I) pelo raciocínio débil e distorcido, digno de um indigente mental - tem uns aí que adoram falar em "antinobretes" (?); mal percebem o quanto isso revela sobre a condição de, como é mesmo?, "nobretes".
(II) pela fragilidade argumentativa, quase sempre repetindo terminologias como estas aqui.
(III) pela obsessão política - porque, preocupados unicamente com um conchavos baratos, haverão sempre de apontar motivações de ordem política em tudo aquilo que evidenciar a inaptidão da gestão que aí está. Atentem para isso, porque os que apontam "política" em tudo são exatamente os únicos preocupados com isso; a torcida mesmo está preocupada com um alviverde gigante.

-2. Os elitistas
Aí vai muito além da nossa torcida: os elitistas são como os racistas, uma praga que insiste em fazer do mundo um lugar pior. É o tipo de criatura que faz distinção social, que qualifica as pessoas pelas posses financeiras, que vive em um mundo muito particular, fora da realidade. É gente que ontem veio falar que "ingresso barato era para levar mendigo ao estádio", entre outros absurdos.

Alguns dirão que os bajuladores também são elitistas. No que eu devo concordar. Um pouco porque eu tenho o desprazer de conhecer alguns deles pessoalmente, outro tanto porque leio as opiniões sobre política e sobre a vida e só consigo sentir pena de tais criaturas.

O Palmeiras, senhores, é um clube de massa. Que seja, portanto, o Palmeiras de todos os torcedores: dos mendigos aos milionários.

Não há meio termo: ou se está a favor do palmeirense ou se está contra o palmeirense!

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Domingo é dia de seguir para o Maracanã. Teremos, os palmeirenses, direito a cinco mil ingressos, todos eles vendidos apenas no Rio. Gostaria de questionar o seguinte: por que cazzo nossa diretoria não fez qualquer solicitação ao Flamengo para que parte da nossa carga fosse vendida aqui em São Paulo?

30 abril 2014

Questão de postura

Lá se vai mais uma nota oficial, dessas tantas a que se acostumou a gestão Nobre em tempos de assessor que torce para o rival  ("o futuro mostrará a todos nós quem, em um momento crítico, jamais renegou sua própria origem"). Houve quem gostasse. A mim, não diz nada, a não ser mais uma demonstração do ego presidencial. Basicamente porque não manter relações institucionais com um inimigo de longa data é algo que se deveria esperar de qualquer palestrino desde os idos de 1942.

Isso posto, sinto-me impelido a fazer breves considerações:

Notas oficiais, por contundentes, bem escritas ou enfáticas que sejam, não têm valia se não forem acompanhadas de uma prática que corrobore a palavra empenhada. Para quem tem o poder em suas mãos, importa menos o discurso e mais a atitude.

E a postura da gestão que aí está é, desde o início, covarde, mesquinha e incompatível com um gigante como a Sociedade Esportiva Palmeiras. Como já enfatizado por este blog em textos anteriores, decisões recentes desta diretoria sinalizam para um Palmeiras que não mais se enxerga como o gigante que é. Negociações desastrosas, fracassos administrativos e discursos derrotistas ("não temos dinheiro, não temos dinheiro, não temos dinheiro...") apenas contribuem para reforçar junto a rivais ou inimigos e a quem interessar possa a dura constatação de que o Palmeiras de hoje não mais se comporta como protagonista.

É tudo, em suma, questão de postura. Pronunciamentos oficiais, por bélicos e peremptórios que sejam, de nada adiantam se não vierem acompanhados de ações enérgicas, de atitudes grandiosas e, o mais importantes, de medidas práticas.

Há exemplos incontáveis que podem ilustrar tudo isso, mas eu gostaria de me ater a um episódio específico, de tempos recentes, mas não cobertos por este blog:

Vocês haverão de lembrar do que fez um certo Marquinhos Chedid, presidente do Bragantino, por ocasião do duelo entre as duas equipes pelo Paulistão deste ano. Se não, eu vos digo que Chedid desafiou nossos dirigentes mais graúdos ao menos três vezes: na reunião do Conselho Arbitral da FPF; depois, de maneira reiterada, via imprensa; e, por fim, no vestiário do Pacaembu.

Chedid não fez isso porque abusado ou destemido; o cartola do Bragantino fez isso porque nossos dirigentes não têm atitude compatível com o tamanho do Palmeiras. Fez isso porque, no mundo do futebol, nossos dirigentes deixaram de ser respeitados. Fez isso por saber que poderia ir às últimas consequências sem que alguém o colocasse no devido lugar.

Fosse o Palmeiras dirigido por gente do ramo, e o Bragantino teria sido eliminado do Campeonato Paulista ainda na reunião do Arbitral, sem sequer entrar em campo. E Chedid, coitado, aprenderia da pior maneira possível que não se deve mexer com gente grande.

É tudo, afinal, questão de postura, de atitude e de exercer, na prática, o gigantismo do Palmeiras. Isso feito, nem será preciso perder tempo com notas oficiais.

29 abril 2014

Paulo Nobre, o juvenil

Vamos começar por onde terminou o post anterior:

“Se tivesse o mínimo de dignidade e respeito pela instituição, o mandatário desses tempos tão sombrios ou tomaria pé da situação e recolocaria o Palmeiras em seu devido lugar ou, em sendo incapaz disso, tomaria seu rumo, por infeliz que seja, e deixaria o Palmeiras para os que o têm como o gigante que ele é."

Nobre não fez nada disso. Muito pelo contrário. Veio a público para envergonhar ainda mais o palmeirense, em um pronunciamento que faria corar o seu antecessor (isso se ele tivesse domínio de suas faculdades mentais, é evidente) e que provocou um revide humilhante por parte do nosso inimigo.

O mandatário que aí está, entorpecido pelo próprio ego, comprometido com os mesmos erros que vêm pautando sua gestão desde o início e enclausurado entre os seus bajuladores, falhou até mesmo ao se posicionar sobre o assunto – pois o silêncio faria menos estrago. Se o fez de maneira precária e com um discurso fragilíssimo, isso se deve basicamente a um fator: sua gestão é inconsistente.

Como inconsistente é seu discurso sobre a ética do nosso rival do Morumbi. Ora, ora, caro Paulo Nobre, quer dizer então é que somente agora, sete décadas depois, você descobriu que não se pode confiar no nosso inimigo? E só agora descobriu que jogadores não são confiáveis, que empresários não prestam e que o meio do futebol é sujo?

Igualmente inconsistentes são suas respostas furadas (quando não inverídicas), suas justificativas para negociações mal conduzidas e suas explicações tolas sobre falta de dinheiro (pois desconsideram a incompetência de quem é incapaz de trazer um patrocinador máster ou outras fontes de renda).

Curioso é notar que seus asseclas, os bajuladores que são igualmente responsáveis pela situação em que nos encontramos, tentam agora desviar o foco com infrutíferas declarações de guerra ao nosso inimigo eterno (sério mesmo?) e, claro, apelam para o mesmo expediente rasteiro já utilizado por essa gestão contra dois outros atletas que foram expulsos do clube em tempos bem recentes.

Enquanto isso, senhores, o Palmeiras é humilhado em praça pública. O discurso proferido pelo presidente rival (“Demonstra, infelizmente, o atual tamanho da Sociedade Esportiva Palmeiras, que, ano após ano, se apequena com manifestações dessa natureza”) não enseja propriamente uma declaração de guerra – até porque isto é o que nos define desde 1942 –, mas sim uma reflexão sobre o ponto a que chegamos: a mesquinharia dos que dirigem o Palmeiras nos levou a uma situação em que já nem podemos mais lamber nossas feridas; elas viraram munição para o inimigo.

27 abril 2014

O centenário arruinado

Pacaembu, sábado à noite.

O centenário da Sociedade Esportiva Palmeiras está arruinado por obra do senhor Paulo Nobre, dito presidente da instituição. Se sozinho ele toma as decisões que atentam contra a história alviverde, sozinho ele deve assumir a responsabilidade por tratar como pequeno um clube que é gigante pela própria natureza. Se sozinho ele comete os maiores descalabros administrativos, é assim que deve assumir a culpa por fazer chafurdar tão vergonhosamente o projeto a perspectiva (porque projeto nunca houve) de um centenário vitorioso.

A verdade inescapável, senhores, é que Paulo Nobre, esta figura que por tantos anos cultivou uma imagem mais calcada no exotismo do que propriamente em algo concreto, fez desabar, ainda em abril, todo o ano que poder-se-ia desenhar tão promissor. Em tão pouco tempo, jogou no lixo o sonho dos milhões que somos o Palmeiras.

Fez pior: humilhou, em praça pública e com requintes de crueldade, cada um de nós, palmeirenses, por conta de seus caprichos, de seu ego inflado e de sua inaptidão que transparece a olhos vistos.

Não que isso seja assim surpreendente, pois este mesmo e humilde blog já cumpria, quase um ano atrás, o papel de apontar as inconsistências, fragilidades e impropriedades não só do dito presidente, mas também de seus asseclas e de toda a rede de bajuladores - que devem, um a um, ser execrados na mesma medida do mandatário.

O centenário se põe arruinado, peço que me entendam, não por conta de um jogador específico (eles são todos descartáveis), tampouco pela situação em si, mas porque se assume o Palmeiras, por obra de alguns poucos, como um clube de postura pequena e mesquinha. Não é tanto o fato que conta, mas a imagem que se transmite (e o editorial do 3VV foi certeiro ao abordar isso). É a mensagem que se transmite para quem interessar possa: para o "mercado", para os possíveis patrocinadores, para os dirigentes rivais, para os jogadores, para as torcidas - a nossa e as outras.

O time que foi a campo nesta noite de sábado foi o símbolo que se poderia esperar de tão frágil gestão. A derrota é o de menos até, tanto quanto o mau futebol. O que pesa mesmo é a sensação de que, em não havendo gente do ramo à frente do clube, qualquer um pode chegar e fazer o que bem entender com nossos jogadores. Que qualquer um pode botar o dedo na cara dos nossos, que seus dirigentes não se dão ao respeito, que qualquer equipe de merda pode vir à nossa casa para um coletivo de luxo.

A sensação, na cancha municipal, foi de um jogo entre desiguais (com o Palmeiras por baixo).

O gigante Palmeiras é hoje tratado como pequeno por quem o administra. E a imagem, claro, é bem assimilada pelos "co-irmãos". Daí que o inimigo do Morumbi vem e alicia um jogador nosso quando bem entende, o dirigente de um pequeno do interior faz escândalo e bota o dedo na cara de quem nos deveria comandar, o Fluminense faz um coletivo com ingresso a R$ 60...

Paulo Nobre submeteu o Palmeiras ao jugo de seu inimigo mortal e nos colocou em uma situação de inferioridade nunca antes vista - porque mesmo nos piores momentos de nossa história, seguíamos lutando contra o inimigo. Agora, no entanto, a humilhação é tamanha que o dirigente de plantão lá pelos lados da zona sul vai à imprensa para dizer querer "manter a relação cordial" com o Palmeiras.

É muita humilhação!

Se tivesse o mínimo de dignidade e respeito pela instituição, o mandatário desses tempos tão sombrios ou tomaria pé da situação e recolocaria o Palmeiras em seu devido lugar ou, em sendo incapaz disso, tomaria seu rumo, por infeliz que seja, e deixaria o Palmeiras para os que o têm como o gigante que ele é.