O primeiro tempo foi razoável até. Equilíbrio, jogo duro, chances de lado a lado. Dava para acreditar. Começa o segundo tempo. Bola recuada para os zagueiros. O camisa 22 se intromete, deixa a área e resolve mandar mais um dos seus 'lançamentos' que terminam sempre em contra-ataque do adversário. Pois o contra-ataque virou escanteio. E o escanteio se transformou em um vexatório gol olímpico, bem a caráter para um goleiro que se faz notar pelos braços atrofiados. Ele mesmo, poucos minutos depois, encolheria os braços, permitindo que um cruzamento rasteiro tivesse como desfecho o segundo gol do Guarani. E ele de novo, o camisa 22, enterraria o time de maneira definitiva nos últimos minutos, em uma falha ainda mais grotesca, a bola passando por entre seus braços encolhidos.
Quer dizer então que o camisa 22 é o culpado pela eliminação do Palmeiras em Campinas, é isso? Bom, sim e não. Sim, porque ele efetivamente falhou em todos os três gols sofridos no Brinco de Ouro. E não, porque o Palmeiras que aí está não é um time de homens. O Palmeiras que aí está não é um time de gente capaz de assumir a responsabilidade pela situação atual. Do presidente que nos faz passar vergonha atrás de vergonha ao decadente treinador, passando por quase todo o elenco.
O Palmeiras de hoje é um arremedo de time. É um bando de vagabundos que vive a desonrar a mais bela história entre todos os grandes clubes deste país. É um aglomerado de incompetentes que parecem se juntar para detonarem tudo o que foi construído durante quase um século. É uma completa zona, sem ordem, sem regras, sem o mínimo de organização. O Palmeiras de hoje, diria eu, é um fracasso em progresso. As humilhações se sucedem semestre após semestre, e o torcedor vai suportando um fardo que parece não ter fim - e ouso dizer que não terá.
Chegamos a este cenário, senhores, porque nenhum puto dentro do Palmeiras assume a responsabilidade por tamanho caos. Ficam repassando a bronca de lá pra cá, arrumando desculpas covardes e a coisa só faz piorar. E é então que eu faço algo necessário, mas muito doloroso pelo ídolo que se vai:
A culpa, senhores, é do Pacaembu.
"Porque o Pacaembu dá azar. Porque o Pacaembu é a casa dos gambás. Porque os jogadores não se sentem em casa lá. Porque o Pacaembu blá blá blá."
Notem, por favor: o Palmeiras começou a temporada com uma invencibilidade de 22 jogos e nada foi dito sobre a cancha municipal. Nada. Mas aí veio uma derrota cretina, a queda de desempenho avassaladora e o nosso treinador vem dizer que o problema é, vejam só, o estádio municipal.
"O Pacaembu não é nosso, é dos outros. Lá, sempre jogamos fora de casa. Eu não gosto, os jogadores não gostam. Não tem explicação, mas se perguntarem, nossos jogadores gostavam muito mais de quando marcávamos os jogos para o Canindé, do que lá."
Eu não vou perder tempo aqui elencando de novo toda a identificação histórica entre Palmeiras e Pacaembu. Não vou, porque não é preciso. Mas quero registrar que falta a quem está há dois anos ganhando R$ 700 mil mensais sem entregar nada em troca a dignidade de assumir a sua parcela de culpa e a dos jogadores. Em vez de lutar para justificar a confiança nele depositada, ataca o estádio municipal, ataca a nossa história e ataca o próprio palmeirense. Tem sido assim desde o fechamento do Palestra: basta vir uma sequência ruim e nego reivindica uma nova casa. Até a nova série negativa e a solução proposta é a mesma.
Afinal, não foi ele que disse que não importava muito o local do jogo? Não foi ele que até declarou que seria bom jogar em Campinas? Não foi? E agora, porra? E agora vem na entrevista coletiva e quer tirar o peso da derrota? Quer nos fazer crer que não aconteceu nada de grave? Quer menosprezar mais um vexame?
Chega, senhores! Já são dois anos, o time não tem padrão tático, não tem diferencial técnico, fraqueja na hora de decidir, tem problemas psicológicos, é covarde, é o caralho. É desculpa atrás de desculpa, e ninguém resolve nada.
Estou cansado de acreditar e de ter esperanças. Estou cheio de ficar correndo atrás de uma camisa que, infelizmente, já não consegue mais jogar sozinha. Estou exausto de ter o meu esforço pessoal sabotado por vagabundos. Estou cansado de tantos vexames absurdos, de derrotas improváveis, de fracassos que se sucedem. Já não aguento ter a minha alegria (mesmo que seja pela derrota de um rival) boicotada por um bando sem caráter.
Falo por mim, mas acredito que esse esgotamento se aplica a todos os que vivemos o Palmeiras com intensidade. Pude ver esse sentimento no olhar de cada um dos que estivemos hoje à noite na arquibancada do Brinco de Ouro. Inconformismo, ódio, rancor, dor, revolta, desolação, desesperança, tudo misturado...
Tínhamos tudo para viver um domingo perfeito. Tínhamos tudo para viver uma semana de expectativa e um próximo domingo de reconciliação em casa. Tínhamos. O bando que está aí, o técnico decadente e a direção inapta não mais permitem que o palmeirense tenha a sensação de torcer por um grande.
E vem coisa pior pela frente...
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_O camisa 22 já não deveria mais vestir a camisa alviverde desde aquele jogo contra o Fluminense no final de 2010. Alguém deveria ter tomado uma atitude desde então. Demissão por justa causa, empréstimo, rescisão de contrato, qualquer merda assim. Não tomaram, ele seguiu fazendo merda e devemos a ele agora uma eliminação para um pequeno do interior, mais uma.
_A culpa, penso agora, deve ser minha também. E sua. E de todos nós. Porque quase todos os vagabundos do time atual estavam em campo naquela derrota para o Goiás/GO no Pacaembu, provavelmente a mais vexatória de toda a história da S.E. Palmeiras. E sei lá que culpa nós podemos ter nisso aí, mas eu pelo menos sou homem de tentar assumir a responsabilidade por algo que, infelizmente, está fora do meu alcance. Porque os vagabundos que aí estão vão para qualquer merda de clube daqui a pouco. Mas nós estaremos sempre na mesma arquibancada. Porque ao menos nos resta vergonha na cara.
_Eu disse para não esperarem nada decente. Mas já escrevi coisas melhores e os textos que se seguiram à inaceitável derrota para o Goiás podem muito bem se aplicar ao momento atual. Fiquem com eles:
A dor (25.11.2010)
A dor que não passa (30.11.2010)
Uma torcida que não tem time (30.11.2010)