11 dezembro 2009

Férias

Relendo o post em que anunciei as férias do blog no final de 2008, percebo agora que tudo o que está ali é válido também para o ano que se encerra agora: o alívio, o desânimo, o inconformismo. Com uma série de agravantes, pois a temporada atual foi ainda mais exaustiva e decepcionante que a anterior, e o cansaço de agora é proporcional ao tamanho de tudo o que foi jogado no lixo. Fosse apenas isso, e já seria dificil digerir a situação toda, mas 2009 ficou marcado ainda como o ano em que a diretoria do Palmeiras cuspiu na cara da própria torcida. Tantos foram os episódios de desrespeito explícito, e eu me permito aqui listar alguns deles: 

1. O palmeirense foi obrigado a pagar durante todo o ano o ingresso mais caro do Brasil: R$ 40 a arquibancada. O resultado está aí. 

2. O verdadeiro torcedor do Palmeiras foi impedido de ver em São Paulo os três clássicos disputados no ano contra o seu maior rival, o SCCP. Aos doentes que, como eu, não conseguem ficar longe do estádio, restou a alternativa de pegar a estrada três vezes para ir e voltar do Mato Grosso do Sul.

3. A diretoria atual detém a marca de deixar o clássico Palmeiras x Corinthians longe de São Paulo por dois anos seguidos. 

4. Saiu a BWA, mas os problemas com as vendas de ingresso não chegaram ao fim. Pelo contrário. Ficou na promessa. 

5. Em nenhum momento, a direção mostrou-se preocupada em solicitar a venda no Palestra dos ingressos para partidas disputadas fora da capital. O torcedor que viaja para incentivar o clube - e que deveria ter os bilhetes já aqui - teve de se matar para conseguir os ingressos, em situações quase sempre adversas.

6. Da mesma forma, nenhum dirigente se prontificou a questionar as seguidas mudanças promovidas pela emissora de TV na tabela dos campeonatos. E assim o torcedor ficou refém de decisões tomadas na calada da noite e sem qualquer respeito a ele. As tabelas de todos os campeonatos disputados por aqui continuam indo para o lixo. E o Palmeiras, vítima disso algumas vezes, não dá a mínima para o prejuízo ocasionado ao seu torcedor.

7. O Avanti foi a decepção sem tamanho que foi (1 e 2). Triste, muito triste. Chegamos assim ao fim de uma temporada que não deixa saudades, a não ser por uma ou outra atuação pontual. No meu caso, superando as marcas obtidas em 2000 e 2008, foram 53 os jogos no estádio (entre os 71 do Palmeiras). Foram todos os 32 no Palestra, 2 no Morumbi, 1 no Pacaembu, 1 no Canindé e mais 17 fora da capital: São Caetano, Santo André, Barueri, Santos (2 vezes), Guaratinguetá, Campinas, Itu, Ribeirão Preto, Presidente Prudente (3 vezes), Maracanã (2 vezes), Engenhão, Recife e Montevideo. Tinha tudo para ser um grande ano. Não foi. O blog volta na estreia do Paulistão. Até lá, os senhores podem conferir eventuais comentários no Twitter.

Bom fim de ano a todos. Que 2010 seja melhor.

10 dezembro 2009

2000-2009

A pergunta do penúltimo post rendeu 25 comentários até o momento. É quase unânime a preferência pelo time 1, que nada mais é do que a escalação-base do primeiro semestre de 2000, que deu início à década que finda agora. Um leitor solitário ficou com o time 2, que é logo o que acaba de perder o título mais ganho que o Palmeiras conseguiu perder na história. Há quem vote no time de 2000 mesmo considerando o de 2009 tecnicamente superior. Justo. 

Valia, como eu disse, qualquer critério, e é evidente que pesa agora a decepção com o fracasso alcançado pelo time 2. Ainda assim, nota-se claramente que as pessoas atribuem ao time 1 qualidades que não eram vistas pelo próprio palmeirense naquele 2000 que se iniciava sob enorme desconfiança. 

É curioso falar assim de um clube que conquistara no ano anterior o seu maior título, a Libertadores. Mas acontece que estamos falando de Palmeiras e outros fatores pesaram para que a torcida olhasse para aquele grupo com enorme receio. A perda do Mundial contra o Manchester (30.11.1999) e o vice-campeonato da Mercosul (20.12.1999) eram os principais, mas não os únicos. 

A base de 2000, que foi escolhida como superior à atual pela maioria dos leitores, tinha acabado de perder peças fundamentais. De uma só vez saíram Evair, Oséas, Paulo Nunes, Zinho, Júnior Baiano, Cléber, Rivarola e Zé Maria. Uma debandada sem precedentes, marcando o início da era do “bom e barato”. Sim, porque a Parmalat estava de saída e a diretoria (lembram-se do Lapola?) anunciou que não faria contratações de peso. 

Edmundo, brigado com Eurico Miranda, queria sair do Vasco e ficou próximo do Palmeiras. O sapo-boi, no entanto, vetou a contratação (vivíamos sob um regime ditatorial, lembram disso?). 

No começo da temporada, o principal reforço, acreditem!, foi o atacante Basílio, então com 27 anos e já careca, vindo do Coritiba. Com ele, chegou também o zagueiro Índio. No decorrer do primeiro semestre, chegaram o zagueiro Argel, o volante Fernando (sim, aquele), o lateral Nenem (voltando de empréstimo) e os atacantes Marcelo Ramos (trocado por Jackson) e Luís Claudio. Pouco, muito pouco, diante dos nomes que deixaram o clube. 

Eis então que o Palmeiras se reapresentou sob protestos inflamados da Mancha, e chegou ao ponto de contar com apenas 15 jogadores profissionais para a estreia no Torneio Rio-São Paulo. Mas tínhamos Felipão, que, mesmo contestado pela maior organizada do clube (e este é o maior erro já cometido pela Mancha), era Felipão. 

Com ligeiras alterações em relação ao apresentado no post anterior, o time, completamente desacreditado, abriu a temporada em São Januário, contra o Vasco de Romário e Viola: empate heróico em três gols na noite (19h) de 23 de janeiro, um domingo. 

 Isso em nada atenuou o clima pesado para o primeiro jogo da temporada em São Paulo. Noite chuvosa, 27 de janeiro. Pacaembu, 20h30. SCCP x Palmeiras. O clássico foi visto por apenas 5.680 torcedores, então o menor público da história. Lembro-me nitidamente da conversa que tive com outros três amigos em plena avenida Paulista, no Pompéia (478P/10), a caminho do Pacaembu: o clima era de desolação e esperávamos por uma temporada bastante difícil. No jogo, derrota por 2 a 1; o pessimismo parecia se justificar. 

Três dias depois, já no Palestra, jogo contra o Fluminense. O time leva 0 a 2 no primeiro tempo (Roni e Magno Alves) e deixa o campo sob protestos virulentos da Mancha. No intervalo, Felipão apela para Basílio. A virada vem em seis minutos, com dois gols de Euller e um de Asprilla. No final, mais três gols (outros dois de Euller e um de Basílio) decretam o 6 a 2. Os protestos no meio do jogo, no entanto, fizeram estragos e Felipão chegou a declarar guerra à Mancha. 

Vieram então outras três vitórias incontestáveis: 2 a 1 no Vasco no Palestra (Basílio e Asprilla x Romário), 3 a 1 no dérbi no Morumbi (3 de Alex, para míseros 6.327 pagantes) e 2 a 0 sobre o Fluminense no Maracanã (e fomos com o time reserva). 

Contra o Botafogo, na semifinal, empate sem gols no Maracanã e vitória por 3 a 1 no Palestra (Sampaio, Euller e Alex). Na final, novamente o Vasco, com Edmundo, Romário e Viola. No Rio, 2 a 1 para o Palestra, com gols de Sampaio e Pena (sim, o Baixinho deixou o dele). Em SP, no Morumbi, na noite de 1º de março, a redenção, com uma das melhores atuações que eu já vi em um único tempo de jogo: 4 a 0, gols de Pena, Argel, Euller e Arce. Veio o título do Rio-SP quando menos se esperava algo do time. 

A temporada de 2000 foi, salvo engano improvável, a mais movimentada da história alviverde. Foram 92 jogos (45 vitórias, 24 empates e 23 derrotas) e sete competições diferentes (Rio-SP, Paulista, Libertadores, Copa do Brasil, Copa dos Campeões, Copa João Havelange/Brasileirão e Copa Mercosul). 

Os números, que revelam certa irregularidade, não são fiéis aos resultados: dos sete campeonatos, o Palmeiras chegou à final em quatro, parou na semifinal em mais um e ficou em fases já avançadas em outros dois. Bastante razoável, convenhamos, para quem não esperava nada no início da temporada. 

O ano teve momentos marcantes (para o bem e para o mal): 

Rio-SP: o título acima mencionado. 

Libertadores: campanha irregular na fase de grupos, duelos sofridos contra o Peñarol (vitória nos pênaltis), vitórias consistentes contra o mexicano Atlas, a épica e inigualável eliminação do SCCP (desnecessário entrar em detalhes) e a perda do título apó dois empates contra o Boca. 

Paulista: campanha tortuosa nas fases anteriores e eliminação para o Santos na semifinal (depois de estar vencendo por 2 a 0 até os 25' do segundo tempo, conseguimos tomar três gols, um deles de Dodô aos 45'). 

Copa dos Campeões: um time destroçado, em fase de transição depois da saída de Felipão e da perda da Libertadores, foi ao Nordeste sem grandes pretensões. Eliminou Cruzeiro (3 a 1 e 1 a 1), Flamengo (1 a 2 e 1 a 0, com vitória nos pênaltis e o odiado Taddei como herói) e Sport na final (2 a 1, Asprilla e Alberto). 

Copa João Havelange/Brasileirão: a campanha pífia na primeira fase foi compensada pela reação dos últimos jogos e pelo fato de 12 times se classificarem. Nas oitavas, tivemos pela frente o SPFC, eliminado depois de empate em 1 a 1 no Pacaembu e vitória alviverde por 2 a 1 no campo da zona sul (com gol salvador, de novo, de Galeano). Veio então o desconhecido São Caetano. Dois jogos no Palestra: um 3 a 4 e um 2 a 2 eliminaram o Palmeiras, que, ainda assim, foi aplaudido pela torcida. 

Copa Mercosul: campeão em 1998 e vice em 1999, o Palmeiras foi derrubando todos os adversários até a final contra o Vasco (de novo). Depois de perder em São Januário (2 a 0) e vencer no Palestra (1 a 0, gol de falta de Nenem), tivemos o terceiro jogo. Vocês se lembram do que aconteceu, certo? 

Aí vocês podem estar agora se perguntando: porra, mas o que você quer dizer com isso tudo? 

Ok, confesso que não sei ao certo, porque tudo aqui parte de impressionismos. Mas eu diria que esse post nasceu de uma reflexão que coloca o ano 2000 como síntese de tudo o que viríamos a enfrentar nas temporadas seguintes até 2009: a alternância quase doentia de vitórias épicas, obtidas na base da superação, e derrotas vexatórias, quase sempre em casa e para times inferiores. 

O Palmeiras desta década, bem disse o meu amigo Galuppo, não perde para os grandes; o Palmeiras perde para os pequenos ou para ele mesmo. 

Infelizmente, é inevitável valorar o que de ruim aconteceu em uma década perdida: tabus destroçados, estatísticas maculadas, fracassos inexplicáveis, um pouco da grandeza ficando pelo meio do caminho. Um festival de altos e baixos que parece combinar bem com a nossa tendência quase bipolar de buscar intensidade em tudo o que fazemos. Para o bem e para o mal. 

Duas outras constatações: 

1. O palmeirense é exigente demais. Porque lá atrás, ainda à sombra do título da Libertadores, tratou como lixo um time que hoje é reconhecido como muito bom. 

2. O time que inaugurou a era do "Bom e barato" é considerado melhor do que o grupo dos milhões da Traffic. Não, eu não sou a favor da política do sapo-boi, tampouco vejo a Traffic como um câncer a ser extirpado. Só estou propondo o debate. Cada um que tire suas conclusões. 

Por fim, devo admitir que sou tomado por um enorme saudosismo, típico de cada encerramento de ano (e de década, no caso). Porque me vejo, então bem mais jovem, de volta àquela noite chuvosa de 27 de janeiro de 2000. Sentado no último banco do Pompéia (o bom e velho 478P/10), ao lado de amigos que não tiveram a mesma persistência que eu, mal sabia eu que viriam 10 anos (e quase 500 jogos no estádio) assim tão intensos. 

E então, como se tivesse o poder de voltar no tempo, gostaria de dizer apenas uma coisa para mim mesmo: "Te prepara, moleque. Esta noite é só o começo de muito sofrimento..."

Sobre cerveja e futebol

Cerveja e futebol: o tema já foi tratado inúmeras vezes neste blog, em especial porque dirigentes inaptos resolveram proibir aos poucos a venda de cerveja dentro dos estádios de futebol. Faz parte do processo que busca extinguir o futebol como manifestação popular, introduzindo-o em um conceito mais amplo, o do bizines. É, como gostam de dizer, o futebol moderno.

Acontece que os jornais de hoje inspiram uma nova discussão ou, ao menos, breves comentários por aqui. Fato é que o G4, que reúne os quatro grandes clubes paulistas, fechou acordo de patrocínio com uma empresa de bebidas. Daí então que, além do licenciamento de produtos, seria interessante poder vender cerveja nos estádios. Foi aí que clubes, executivos da empresa e até o padre Marcelo Rossi (!?) defenderam a venda de cerveja nos campos.

Vamos então a comentários pontuais deste blog sobre o que disseram alguns dos protagonistas do debate, que repercutiu em todos os principais jornais de SP:

1. Andres Sanchez foi o que se posicionou mais ativamente. Disse lamentar a perda de arrecadação dos clubes (já que somos obrigados a ficar do lado de fora bebendo até a hora do jogo), mas pisou na bola ao falar que "cerveja e champanhe deveriam ser liberadas". Porra, champanhe? O cara tá de brincadeira, né?

2. O que diabos passou pela cabeça dos dirigentes quando escolheram um padre como "garoto-propaganda" da parceria? Estariam loucos? Ou perceberam que há muita gente querendo transformar o futebol em uma igreja, tamanha é a repressão a tudo, e resolveram então chamar um padre de uma vez por todas? E como pode defender a cerveja alguém que não bebe?

3. A PM, por intermédio do tenente-coronel Almir Ribeiro, é contra. Não se poderia esperar nada diferente. Coloquemos as coisas como elas são, sem meias palavras: o 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado de São Paulo é incompetente, covarde e, por fim, desonesto em suas proposições. Se não são capazes de organizar um evento mesmo proibindo tudo e todos, fica mais fácil mesmo colocar a culpa na cerveja. São incompetentes todos os comandantes que vieram depois do Marinho (que, por canalha que fosse, ao menos segurava a bronca).

4. Paulo Castilho, o nosso amigo promotor, mostra também uma certa incapacidade argumentativa. Vejamos a sua declaração: "Desde quando um padre agora entende de violência em estádio? Ele não sabe que o cara bebe cerveja no estádio e depois briga, volta dirigindo alcoolizado para casa e bate na mulher, nos filhos? Ele não sabe?" Pois é, Castilho insiste em suas teses furadas e em sua perseguição ao torcedor de futebol, qualquer que seja ele. Esta teoria, que vincula violência e cerveja, é de uma grosseria sem tamanho. Só para lembrar: o torcedor que vai disposto a brigar no estádio não bebe. Porque quem bebe apanha. Simples assim.

***

Os senhores devem ter percebido que este post nada tem a ver com a pergunta do anterior. Pois é, acontece que o assunto surgiu hoje e merecia os comentários acima. Adianto que alcancei o meu objetivo com a pesquisa que deixei aqui; o post prometido, que é um pouco mais elaborado, fica para hoje à noite ou amanhã.

09 dezembro 2009

Pesquisa para o próximo post

Time 1: Marcos; Arce, Argel, Roque Júnior e Júnior; Rogério, Galeano, César Sampaio e Alex; Euller e Marcelo Ramos (Asprilla). DT: Luiz Felipe Scolari.

Time 2: Marcos; Figueroa, Maurício Ramos, Danilo e Armero; Pierre, Edmílson, Cleiton Xavier e Diego Souza; Obina e Vagner Love. DT: Muricy Ramalho.

Responda, caro palestrino, com os critérios que forem convenientes: de 1 a 11 (e mais o técnico), que time é melhor?

08 dezembro 2009

Geração perdida

O problema não foi a derrota para o Botafogo, que pode ser considerada normal, mais ainda em uma situação de total e definitivo desespero para o clube carioca. Não existe vexame nenhum no 1 a 2 do Engenhão, e é bom que isso fique claro. A vergonha que sentimos agora foi ainda maior e mais incontestável, pois construída ao longo das 10 rodadas anteriores. A despedida do campeonato (e da década) apenas não se fez suficiente para evitar um fracasso retumbante, com o qual temos de conviver desde agora e por toda a próxima temporada.

É tão melancólica a situação que no domingo, enquanto acompanhava a frágil atuação do Palestra no gramado do Engenhão, eu não consegui torcer contra Flamengo ou Inter, de cujos insucessos dependeria um improvável título alviverde. Não me permiti fazer isso simplesmente por ter perdido a confiança no grupo que vestia a nossa camisa, e então era melhor evitar o risco de um desfecho calamitoso.

A vergonha que sentimos agora é proporcional à vontade de encontrar (e punir) os culpados, e o mais preocupante é que a responsabilidade não recai sobre uma pessoa ou sobre um grupo, mas sobre toda uma estrutura que nos conduziu ao desfecho trágico de uma década perdida. Difícil culpar só um jogador, só um dirigente, só um árbitro, ou quem quer que seja. Difícil chegar a um consenso sobre o que nos levou do título quase certo ao inacreditável quinto lugar (e à vaga na Sul-americana, Meu Deus!).

A propósito, tampouco se pode atribuir qualquer responsabilidade ao Santos (quem poderia confiar em um time que, além de comandado pelo Madureira, vegetou durante o campeonato inteiro?) e mesmo a Kléber, o Gladiador, ídolo palestrino que se encarregou de sepultar um time que não merecia mesmo qualquer tipo de reconhecimento.

Kléber fez a parte dele, na base do profissionalismo, mas é irônico que tenha, com um gol marcado na primeira jogada depois de dois meses fora de combate, sepultado também a chance de retornar ao Palestra na próxima temporada. Kléber, o profissional, matou o sonho de Kléber, o torcedor. Mas ele não tem culpa de um único clube concentrar tamanha incompetência. Kléber é ídolo, e isso torna ainda mais cruel tudo o que aconteceu.

As reflexões e pensamentos de agora refletem uma estrutura corroída, capaz de se sobrepor até aos acertos deste ano, e apontam perspectivas nada animadoras, sejam elas em curto ou médio prazo.

Eu não vivi os anos da fila assim tão intensamente, pois, ainda criança, não podia ir a todos os jogos no estádio, mas tenho para mim - e os mais experientes podem me corrigir - que havia uma diferença fundamental entre aquele período e o atual:

Nos anos 80, nossos times eram reconhecidamente bisonhos, mas chegavam os jogadores, um pior que o outro, com a camisa ensopada de suor ao final dos 90 minutos. Havia um comprometimento que parece inexistir hoje, e a torcida sabia que, mesmo ruins, aqueles atletas faziam tudo o que podiam. Era pouco, é verdade, mas era o limite, e mais não se podia cobrar.

Foi assim que o Palmeiras passou longos 17 anos sem título, tropeçando temporada após temporada, quase sempre nas próprias limitações e na inferioridade técnica. Foi assim que surgiu uma geração de guerreiros, de gente que hoje ainda frequenta a arquibancada do Palestra. Foi assim que surgiu a Mancha.

É diferente do que acontece nesta década perdida, em que times por vezes bem formados e tecnicamente qualificados vêm tropeçando seguidamente nas próprias pernas. E os erros, um mais grave com o outro, nunca são corrigidos, a despeito do que possa ser dito depois de cada derrota inexplicável.

Eu vivi na plenitude cada fracasso destes anos 2000. Temporada após temporada, a frustração insiste em nos tomar de assalto a cada dezembro. Da virada sofrida para o Vasco na Mercosul (e houve antes a eliminação para o Azulinho), passando por rebaixamento, perda de título, de vaga, de dignidade. É assunto para um outro post, que certamente terá como episódio final a perda do título de 2009, um vexame sem precedentes.

10 anos se passaram desde o último título significativo. Uma década. É uma geração que se perde entre ilusões, esperanças e decepções. Uma geração conformada, que se acostumou aos fracassos, às vergonhas e à aterrorizante percepção de que algo da nossa grandeza se perdeu. Uma geração, pior, que se vê obrigada a lutar contra a própria diretoria do clube, que não se cansou em 2009 de nos boicotar seguidamente. Uma geração que não pôde crescer (numericamente, entendam) porque os tempos são outros, e as pessoas perderam também os seus valores.

E eu sinceramente não vejo tantas pessoas fortes, persistentes e apaixonadas como eu e os (ainda) muitos doentes que se prestam a seguir lutando ano após ano e fracasso após fracasso, tudo para ver um final em que o Palmeiras perde para ele próprio. Ser palmeirense se transformou em um fardo muito pesado. Não é pra qualquer um...

07 dezembro 2009

Reciprocidade: para cobrar em 2010

Botafogo 2 x 1 Palmeiras. Renda: R$ 300.279. Público: 38.717. A arrecadação tão reduzida diante do elevado número de torcedores (ticket médio de R$ 7,75 ante os habituais R$ 47 do estádio Palestra Itália) foi possível porque os dirigentes do Botafogo reduziram para R$ 10 o valor do ingresso para o jogo de ontem.

Mas não para todo o estádio, é bom que se diga. Enquanto a torcida do time da casa pagou R$ 10 pelo ingresso de todos os setores, os palmeirenses, que ficamos em um espaço idêntico ao reservado aos mandantes, tivemos de pagar R$ 40!

R$ 40 x R$ 10! Pelo mesmo espaço, pela mesma cadeira de merda, pela mesma visão, pelo mesmo conforto, pelo mesmo acesso, pelos mesmos banheiros, pela mesma falta de cerveja dentro e fora do estádio, pela mesmíssima estrutura. Não há nada que diferencie o Setor Sul (o nosso) do Setor Norte (o da TJB) ou de qualquer outro ponto do Engenhão.

Nada, a não ser a canalhice dos dirigentes do Botafogo. Que, ressalte-se, foi possível apenas porque o Palmeiras tem uma diretoria inapta, omissa e descompromissada, que não dá a mínima para o seu torcedor. Tanto é assim que os ingressos não foram vendidos aqui em SP e que não houve, partindo da nossa diretoria, que é quem poderia nos representar, qualquer menção de protesto contra a arbitrariedade cometida pelos dirigentes cariocas. Silêncio, apatia, omissão, covardia, isso é tudo o que recebemos dos homens da arquibancada a R$ 40.

Este post, talvez um tanto deslocado, cumpre um papel pragmático por aqui. Porque o Botafogo virá nos visitar em 2010, entre maio e dezembro, e este blog, sinto informar, estará firme e forte quando o confronto chegar. E o que se espera é reciprocidade no tratamento destinado pelos nossos dirigentes à torcida do clube carioca.

Reciprocidade, nada além disso. Por respeito ao palmeirense, o mesmo que faltou neste domingo em que, mais uma vez, fomos abandonados à própria sorte pela nossa diretoria.

Fica aqui o post para cobrança posterior. O restante (desabafos, condenações, crônicas e o balanço da merda que foi 2009) fica para mais tarde.

O final perfeito

O fato de o Palmeiras ter chegado à última rodada com chances de título mesmo depois de míseras duas vitórias em 11 jogos dá a medida exata do que foi o título mais ganho que o clube conseguiu perder nesta década irremediavelmente perdida. Ao final da disputa, ficou ainda mais nítida a vantagem que se jogou no lixo logo no momento em que se vê a diferença entre vencedores e fracassados.

O time atual do Palmeiras concretizou neste domingo, no Engenhão, a quase inimaginável tarefa de transformar em um vexatório quinto lugar o que se encaminhava como um título certo e consistente. Este bando de fracassados conseguiu desnudar em público a alma sofrida, decepcionada e já um tanto conformada de toda uma geração de torcedores. E a Sociedade Esportiva Palmeiras, por obra de alguns poucos, tem sua imagem uma vez mais condenada ao escárnio público. Triste, muito triste...

E eu, recém-chegado do Engenhão, da deprimente despedida de uma temporada, mais uma, que nos presenteia com decepções em série, percebo que o final - do campeonato, do time e da década - não poderia ser outro que não este. Foi o desfecho adequado e, devemos admitir, esperado. Foi o final perfeito e bem resolvido de uma década de ilusões desfeitas e decepções sem fim. Nada além disso.

***

Todo o resto que precisa ser escrito - e há muito a dizer - fica para depois, de preferência quando minha mente estiver livre do efeito dos sons e imagens da festa que poderia ter sido nossa, no Engenhão, mas foi parar em um outro estádio, bem perto de onde estivemos. Não é coincidência; é tudo parte deste final perfeito a que tivemos direito todos os que acreditamos mais uma vez que a história poderia virar a nosso favor.