10 dezembro 2008

FÉRIAS

Caros palestrinos (e não só),

Devo confessar o meu alívio. A temporada foi cansativa como nenhuma outra, e eu me permito agora tirar 40 dias de férias deste blog. Pretendo retomar tudo apenas na abertura do Paulistão. Vejam que faz sentido, uma vez que esta página tem a arquibancada como inspiração e linha editorial; sem ela, não há muito o que escrever.

É importante ressaltar que a decisão já estava tomada há tempos, e eu até demorei alguns dias para efetivamente fazer o anúncio.

Admito que não será fácil ficar distante (eu já fracassei em tentativas anteriores), mas o descanso é realmente necessário. Não se trata de sucumbir ao desânimo (que é enorme) ou de desistir da luta, mas sim de uma pausa que se faz necessária para voltar com força em 2009.

Não que eu deva me justificar, mas o que se segue cumpre o papel de retrospectiva e também de auto-reconhecimento – que é, afinal, a única remuneração possível com este blog. Se jogadores, comissão técnica e diretores têm direito a férias, eu tenho até mais do que eles, pois a minha dedicação é incondicional, doentia e não-remunerada.

De início, digo que foram 50 jogos no estádio neste extenuante 2008. O número é inferior apenas ao registrado em 1999 e 2000, sendo que este último ficou marcado pela disputa de sete competições oficiais, tendo o Palmeiras alcançado quatro finais e duas fases decisivas. Tanto um quanto o outro não servem de parâmetro.

Os 50 jogos da temporada foram todos os 33 disputados na capital paulista (outro ano com 100% de aproveitamento em casa) e mais 17 fora daqui (Rio de Janeiro 3 vezes, Barueri 3 vezes, Santos 2 vezes, Ribeirão Preto 2 vezes, Belo Horizonte, Curitiba, Campinas, São José do Rio Preto, Piracicaba, Bragança Paulista e Jundiaí).

Por puro sadismo, houve ainda os cinco jogos extras, todos indiretamente ligados ao Palmeiras. Ao todo, somados estes e aqueles, fui a 17 estádios diferentes, mais do que em qualquer outro ano.

Mas isso não serve para compreender tudo. Basta dizer que um jogo não se resume às duas horas dedicadas pelos que ficam em casa, vendo tudo pela TV. Ir ao estádio representa o investimento de muitas e muitas horas, pelo menos cinco nos duelos no Palestra e um dia inteiro nas extenuantes caravanas para outros Estados.

E há ainda o tempo gasto pensando nos textos e na atualização deste blog, na resposta aos comentários e na leitura de outros blogs, jornais, sites, revistas etc. E mesmo no simples ato de refletir sobre o que fazem o Palmeiras e os seus rivais e inimigos. Minha cabeça já não dá conta de tudo e eu realmente preciso dessa parada estratégica, até para começar o próximo ano com um pouco de paz e disposição e com espaço para as novas ilusões que virão.

Sei que JK, a rede de blogueiros inimigos, o interino do Painel e o diário esportivo continuarão a aprontar das suas. Mas eles são pagos para isso, e eu realmente estou extenuado depois de tanta luta. O consolo é que há gente de bem – e com disposição de sobra – na Mídia Palestrina para prosseguir na batalha.

Volto, se nada der errado, na abertura do Paulistão.

Agradeço a todos pela audiência (que tem batido recordes nos dois últimos meses), pelos comentários todos e pela paciência de agüentarem tudo o que eu escrevo por aqui.

Até o Paulistão e boas festas a todos!

08 dezembro 2008

A justiça dos pontos corridos

Nunca se falou tanto em "mala branca" como nas últimas semanas. Encheu o saco, para ser bem claro. Duas análises são possíveis:

1. A imprensa esportiva mostrou pouca disposição para pensar em novas pautas e contentou-se em escrever sobre o nada;

2. Temos aí mais uma conseqüência nefasta dos pontos corridos.

Vou me ater ao segundo ponto. Vejam vocês que essa palhaçada toda não aconteceria em um campeonato disputado no sistema de mata-mata, pois todas as classificações se resolvem na base do confronto direto. Assim sendo, não há clubes mais ou menos interessados em determinadas partidas e fica difícil fazer certas manobras.

E aí não há espaço para mala branca, mala preta, tentativa de suborno ao juiz, ingresso para o show da Madonna ou o que for. Porque a disputa se dá efetivamente por quem busca o título e não por quem está na competição apenas para cumprir tabela.

Aí virão os defensores dos pontos corridos e mandarão o argumento solitário: “Os pontos corridos premiam a regularidade e fazem justiça com o time que enfrentou todos os outros em casa e fora”.

É o único argumento. E eu rebato mais uma vez:

Que tipo de justiça é essa que permite tantas malas brancas para um lado e para o outro? Que tipo de justiça é essa que permite a alguns enfrentar o Inter titular enquanto outros pegam o reserva? Que tipo de justiça é essa que permite a um time decidir o campeonato como se fosse mandante mesmo na condição de visitante? Que tipo de justiça é essa que faz todos os concorrentes ao título jogarem em Goiânia e um só em campo “neutro”? Que tipo de justiça é essa que permite que a final do campeonato tenha o local decidido não por critérios técnicos, mas por motivações políticas?

Pro inferno com os pontos corridos!

Ainda bem que acabou...

Em suas três passagens anteriores pelo Palmeiras, o Madureira precisou disputar 95 jogos no Palestra Itália para perder quatro vezes. Em 2008, bastaram 28 partidas para alcançar o mesmo número. Não à toa, todos os resultados negativos se deram sem que o time marcasse um gol sequer, em jogos em que a reação pareceu sempre distante.

Foi assim ontem mais uma vez e o Palmeiras conseguiu encerrar uma temporada decepcionante com nova derrota para os sem-salário do Botafogo. E só não foi um fracasso retumbante – mais um! - porque Caio Júnior, o bom moço, pagou ontem a dívida contraída um ano atrás no mesmo Palestra Itália.

Incomoda saber que dependemos de outros para alcançar um objetivo que parecia tão certo. E existe ainda a desolação por sabermos desde agora que a caminhada na Libertadores/2009 será um pouco mais complicada simplesmente porque Madureira, comissão técnica, elenco e dirigentes resolveram perder o foco na hora da decisão.

E isso não se aplica apenas ao ocorrido ontem, mas a toda a fase decisiva, pois o Madureira conseguiu, depois de abrir sete pontos de vantagem, deixar o Palmeiras a 10 pontos do título.

Não sei para vocês, mas o que fica de 2008 para mim é uma enorme decepção, a mesma que eu relatei após a derrota para o Flamengo. E eu não consigo enxergar nada que seja muito animador para a próxima temporada.

Nunca foi tão necessário entrar em férias...


***

Sobre o Vasco (e Edmundo), tento escrever depois. Mas estou tentando fingir que nada aconteceu em São Januário, pois é tragédia demais para uma tarde só...

04 dezembro 2008

A despedida


Crédito da imagem: Palestrinos

Temos um encontro marcado neste domingo, como acontece quase que semanalmente há mais de década. Será mais um entre os quase 400 que já tivemos. E não deveria ser tão importante, admito, a não ser pelo fato de que pode ser o último. Não o último de todos, o que soa alarmista, mas o encontro que pode encerrar uma era.

Por mais que o futuro próximo não esteja assim tão nítido, sabemos, você e eu, que as tais mudanças estruturais devem mesmo começar muito em breve, de tal modo que o encontro de domingo é provavelmente o último com cara de decisão. É isso que enseja o clima de despedida que transmito agora. Não gostaria que fosse assim, mas é inevitável, como muita coisa na vida.

Dizem por aí que é para o seu bem, e que não se pode contrariar os ares europeus de modernidade que sopram também pelos nossos lados. Dizem. Eu não sei. Só sei que gosto de você assim, do jeito que te conheci. Foi assim que aprendi a te amar.

Gosto de você assim pela tradição, pela beleza arquitetônica, pelos detalhes que remontam ao século passado. Porque suas alamedas exalam história e porque só você consegue ser grandioso e acolhedor ao mesmo tempo. Porque só no Jardim Suspenso, com a vista que você oferece sem fazer cerimônia, respira-se o ar vitorioso de tantas conquistas. E porque só aí, entre a vegetação de um lado e os arranha-céus do outro, é possível se sentir em vários lugares ao mesmo tempo.

Foi assim, com suas arquibancadas apinhadas de gente, que vivi alguns dos momentos mais felizes da minha vida. Debaixo de sol ou chuva e sob frio ou calor. E não é fácil deixar isso tudo para trás.

Não é fácil saber que logo não poderei ter a visão das velhas chaminés ao fundo, lá na Matarazzo, em contraste com as modernas torres comerciais que surgiram depois. É bem difícil, tanto quanto será não mais poder me sentar lá atrás do gol e observar o que se passa nos caminhos que levam ao centro da metrópole, com seus edifícios que se sobrepõem uns aos outros e as luzes de carros e faróis a ocupar as largas avenidas que te circundam.

Tampouco será fácil perder o direito aos dias de folga na piscina do clube, olhando para suas arquibancadas vazias, como que em repouso, à espera do próximo encontro com a massa que te completa.

É tanto mais difícil porque, você sabe, eu tenho um pé no passado. É um defeito, eu bem sei, mas não consigo me livrar deste saudosismo enorme e do romantismo que me levam a te escrever agora.

E, confesso, não consigo entender porque as pessoas gostam tanto dessa tal modernidade. Eu aprendi a te amar quando você ainda tinha iluminação de boate, com estrutura precária e sem as reformas mais recentes, que te modificaram timidamente perto do que está por vir.

Aprendi a te amar ainda sem grades ou separações físicas na arquibancada e sem o setor elitista, o que me permitia migrar de um lado para o outro sem restrições, ainda que com o intuito pouco nobre de maldizer rivais ou inimigos que tantas vezes já vieram te visitar. Acima de tudo, o bom era exercer o saudável hábito de andar de um lado para o outro para encontrar os amigos.

É, tem isso ainda, os amigos. Tantos deles eu conheci por sua causa, e sei que estes serão, como você, parte da minha vida para sempre.

Difícil saber o que vai restar de você depois de tudo o que vemos nesses projetos tidos e havidos como inovadores e pioneiros.

Não sei mais se poderei passar pelo mesmo portão ou subir para a arquibancada pela mesma escada que uso hoje. Não sei se meu(s) lugar(es) continuará(ão) lá, tampouco se a visão do campo será igual à de agora. E as pessoas, mesmo essas, poderão ser outras, porque há um preço a se pagar por essa tal modernidade.

Certo é que nada mais será como antes.

Por isso, ao menos neste domingo, vou fazer tudo do mesmo jeito, como um ritual que exerço já sem a devida consciência. Entrarei pelo mesmo portão, passarei pela mesma catraca, usarei o mesmo banheiro, subirei pela mesma escada, encontrarei os amigos de sempre e ficarei no mesmo lugar (dentro do que hoje me é permitido).

E prometo olhar com um pouco mais de atenção e carinho para cada detalhe seu, pois quero guardar bem na minha mente a imagem de um Palestra Itália que meus filhos infelizmente não poderão conhecer.


Crédito da imagem: Palestrinos

02 dezembro 2008

De absurdo em absurdo

O Goiás resolveu cobrar R$ 400 por um ingresso para o jogo do próximo domingo contra o SPFC. É absurdo, e isso não se discute. Como absurdo também é que a partida decisiva do BR-08 seja disputada não por SPFC e Grêmio, os dois melhores times do campeonato, mas por um terceiro clube, sem pretensões e que, ainda por cima, foi punido com a perda do seu mando de campo.

STJD à parte, a decisão em campo neutro é uma dessas aberrações possíveis nos tais pontos corridos, sistema tão defendido pelos que pregam a justiça no futebol. Mas que justiça existe, pergunto eu, se o SPFC poderá fazer a decisão em campo neutro e, provavelmente, com mais torcida que o suposto mandante? Onde foi parar a isonomia?

Vejamos: todos os times enfrentaram o Goiás no Serra Dourada, exceção feita ao Botafogo e ao SPFC. Palmeiras (2 x 3), Flamengo (1 x 2) e Cruzeiro (0 x 3) foram derrotados em Goiânia; só o Grêmio (3 x 0) foi buscar os três pontos. Mas todos eles foram até a casa do Goiás, porque é assim que deve acontecer. Menos, vejam só, o clube do Morumbi e logo na última rodada.

Entendam, pois, que eu estaria fazendo tal observação mesmo se fosse o Palmeiras a ser supostamente beneficiado com o duelo em campo neutro. Não se trata de advogar em causa própria, sugerir uma eventual tentativa de favorecimento (que eu não descarto) ou desmerecer o título do SPFC - que poderia acontecer mesmo em Goiânia -, mas sim de desmistificar um pouco o argumento único de quem defende a suposta justiça dos pontos corridos.

O sistema de pontos corridos representa, na minha modesta opinião e sem meias palavras, uma excrescência. A meu ver, a decisão de um título deveria efetivamente acontecer olho no olho, entre os melhores times, um jogo aqui e outro lá, como sempre foi. E como é a tradição do futebol brasileiro desde sempre.

Por que cazzo, pergunto novamente, deve o Goiás arcar com a responsabilidade de decidir o campeão? O que ele tem a ver com isso? E por que a decisão deve acontecer não no Olímpico ou no Morumbi, mas no Bezerrão? Por que o STJD pode ter tanta influência? Não seria mais digno SPFC e Grêmio se enfrentarem em dois jogos?

Reitero que defendo isso tudo desde 2003, ano da primeira disputa nesses moldes e da qual o Palmeiras sequer participou
. Desde 2003, quando ainda jogava minhas idéias no blog antigo. Posso depois procurar links mais antigos com outros argumentos, mas, de imediato, deixo este aqui, bem recente.

Para finalizar e concretizar a idéia lá do início e o título do post: sim, é absurdo que o Goiás cobre R$ 400 por um ingresso. Mas passa a fazer sentido a partir do momento em que o clube se vê proibido de jogar na sua casa e tem de ser coadjuvante de uma festa com a qual não tem nada a ver.
Absurdo por absurdo, este levado a cabo pela diretoria do Goiás é coisa pequena diante de todo o resto.

De absurdo em absurdo, vamos de pontos corridos mesmo...

***

Isto aqui é genial. Merece o link de atualização.

01 dezembro 2008

Boas e más intenções

Salvador, ontem à tarde: houve um pênalti para o Palmeiras e outro para os baianos. Bozzano, o filho, não marcou nenhum dos dois porque é ruim mesmo. É este também o problema de seus dois assistentes, que viram impedimentos inexistentes de Kléber, no primeiro tempo, e Alex Mineiro, no segundo, sendo que este último lance resultaria na expulsão do goleiro adversário, que já era o reserva. Não é o caso de se falar em má intenção, pois houve também o lance do Marcos, mas o essencial é que Bozzano é um daqueles árbitros ruins por definição, da safra dos bananas, tal qual o pai.

Acontece que os pobres de espírito têm sempre a (má) intenção de criar teorias conspiratórias e mostrar que o mundo se divide entre mocinhos e bandidos, de acordo com a conveniência. É este o papel de JK e sua rede de blogueiros. Sua coluna na Folha de hoje traz essa pérola: “Sorte do Palmeiras, que por pouco não ganhou e não perdeu do Vitória, em tarde fraca e confusa de Marquinhos, que o defenderá no ano que vem, contratado pela Traffic que, a exemplo do Grupo Sonda, vive óbvios conflitos de interesse, principalmente em relação ao que deva ser o espírito esportivo e a mulher de César, aquela que não basta ser honesta, precisa parecer.”

Eu vi um pouco de tudo no bom duelo de Salvador, mas não notei qualquer confusão na presença de Marquinhos, que armou o time, cruzou, chutou a gol e ficou em campo do início ao fim. Mas Juquinha, o leviano, tem aquele dom extra-sensorial de acompanhar todos os jogos da rodada de uma só vez, o que permite que, com a bunda bem instalada em frente à sua TV de última geração, veja aquilo que ninguém mais consegue ver.

De resto, e é isso que importa, valemo-nos dos tropeços de nossos rivais diretos para que a vaga na Libertadores ficasse em nossas mãos, em condições favoráveis ao extremo. E é claro que devemos estar vacinados depois de tantos e tantos tropeços inacreditáveis na nossa casa, mas este Botafogo não pode ser a versão 2008 do que foi o Galo em 2007. Até porque, é sempre bom registrar, Caio Júnior, o bom moço, aprontou das suas ontem no Maracanã.