29 maio 2006

Torcida ao pé do ouvido

Adianta falar sobre o que vimos ontem à noite no Palestra?

Evitarei perder meu tempo atrás de respostas. Poupo assim os olhos dos que ainda têm coragem de entrar aqui em busca de lamentações e indignações agora bissemanais. No lugar de desabafos rancorosos, desesperados e repetitivos, deixo-os com um texto publicado na Revista da Folha de ontem, que abriu espaço nobre para memórias de aficionados por futebol. No caso (que dá título ao post), de um torcedor da Associação Portuguesa de Desportos.

A conclusão fica por conta de cada um.


Torcida ao pé do ouvido
por Jorge Caldeira

As arquibancadas do Canindé são, cada vez mais, parte de um universo paralelo, algo baço e irreal que sobrevive numa dobra do tempo, num ponto do espaço que todos sabem onde fica mas ninguém consegue chegar. Falo delas por experiência, garanto que existem; e no entanto tenho a impressão de estar sendo lido como se tudo fosse a mais pura ficção. Mas não. São fatos, e vamos a eles: estive lá na última terça-feira, dia de frio e chuva.

Tenho poucas testemunhas, é verdade: meu filho Júlio e seu amigo são-paulino, o Banzo. Em tempos usuais, poderia ter mais. Meu pai, Jorge Alberto, não foi desta vez (mas vai sempre de terno e gravata, pois em jogos de meio de semana sai direto de seu consultório de oculista, levando guarda-chuva e galocha em sua pasta de couro) porque estava viajando. A ausência importa para a história. Em sua companhia vamos sempre para as cativas, inapelavelmente vazias.

As arquibancadas do Canindé, creiam, são freqüentadas. Alguma coisa em torno de umas 200 pessoas nessa noite. Todos de pé, para evitar o cimento molhado. E, para evitar o pior, a solidão, a trupe se junta atrás do gol onde a Portuguesa ataca. Aqui se entra em outra dobra. Ao contrário das arquibancadas normais, onde a presença se alonga no tempo e se comprime no espaço das pessoas grudadas, ver um jogo da Lusa é uma experiência peripatética: andar de um lado para o outro durante o jogo faz parte do programa.

Outra característica própria das arquibancadas do Canindé é a relação sentimental que liga os torcedores ao time. Com o perdão da expressão de inveja, qualquer imbecil pode torcer para um time grande. Mas é preciso um laço de outra espécie para estar na arquibancada de um time que mais perde que ganha, onde as horas amargas são inevitáveis. Faz parte do ritual de caminhadas do Canindé que, sentindo a derrota, metade da torcida parta em longas excursões até o outro lado do estádio, para xingar a diretoria.

Felizmente não foi o caso desta terça, onde apenas se ouviram alguns "senãos" depois que o Marília empatou. Ao contrário do usual, havia até uma certa confiança no time. Como se trata do Canindé, tal confiança se traduzia em silêncio, pois a gritaria de estádios comuns fica reservada para as horas piores. Tamanho era o silêncio que o são-paulino Banzo não suportou: passou a berrar para incentivar o time, como se estivesse no Morumbi. Conheceu outra faceta das arquibancadas do Canindé: seus gritos eram ouvidos pelos jogadores, assim como os gritos dos jogadores são ouvidos pelos torcedores.

Tudo no Canindé é comunicação pessoal, algo inteiramente desconhecido em estádios triviais. Mas isso é algo íntimo, que talvez não consiga explicar nem com recurso à imagem da televisão. Em tempos de globalização, o jogo foi gravado, e talvez até a torcida. O problema é que a imagem engana. Visto pela televisão, um jogo no Canindé se parece com outro no Maracanã ou no Camp Nou. A tela não mostra o que se passa de fato. Sei o que estão pensando: talvez a arquibancada do Canindé não exista. Ali, vida é sonho.


Jorge Caldeira, 50, é sociólogo, paulistano e torcedor da Portuguesa. Autor de, entre outros, "Mauá, Empresário do Império" (ed. Companhia das Letras) e "Ronaldo - Glória e Drama no Futebol" (ed. Editora 34).

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Exterminadores de tabus

Perdemos para o Grêmio na nossa casa.
Fato inédito em quase 70 anos.

Era o último grande sem vitória no Palestra Itália.

Mais um tabu que é exterminado sem dó.

Menos um.

Qual vai sobrar?

18 maio 2006

Ah, o mata-mata...


















Enquanto o Brasileiro segue em seu marasmo pré-Mundial, os torneios eliminatórios empolgam. Não preciso nem apelar para a grandiosidade por trás uma final de Champions League; fico com a nossa Copa do Brasil mesmo. Clássico estadual, Maracanã (ainda capenga, mas sempre Maraca), dois grandes jogos, rivalidade. Nada pode ser melhor.

Os 180 minutos de Vasco x Fluminense valem mais do que todos os 380 jogos necessários para definir um campeão em pontos corridos. Por que então disputar 38 intermináveis rodadas se o que interessa mesmo é o confronto direto? Por que tanta enrolação?

Dá-lhe Vasco!
Foi bonito!

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Se der a lógica, teremos a primeira final decente de Copa do Brasil desde 2003. E tem tudo para ser a melhor da história. Não só por colocar em jogo 10 títulos nacionais, mas por ser a primeira vez que o campeão sairá de um clássico estadual.

Vou me programar para ir ao Maracanã no segundo jogo!

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À espera de um milagre

Legal, temos um treinador. Dentro do possível, Tite era o melhor nome. Mas será que ele está pronto para fazer milagres?

Ainda sobre o Palmeiras:
Não admito o fato de negociar com rival. Mesmo se for para mandar uma bomba do tamanho do Lúcio para o outro lado do muro. Nem assim. Até porque, do jeito que eles têm sorte, é capaz de ele jogar bem...

04 maio 2006

A dignidade que faz mal

Sim, caímos de pé.
Com dignidade.
Em combate.
Lutando até o fim.

Mas caímos. E a dignidade que nos serve de alento é a mesma que amplia a dor. Que causa um estrago ainda maior. Pois a disparidade técnica entre as duas equipes não se fez assim tão clamorosa. Houve certo equilíbrio. Que trouxe esperança a um clássico de detalhes.

Sim, porque o nosso gol foi tão detalhe quanto o do adversário. Já fora assim no Parque. E os detalhes - malditos sejam - determinaram todo o jogo.

O definitivo veio dos pés de quem não poderia interferir. Um desarme de juiz. Um juiz armador. De confusões, mas também de jogadas. O desarme virou passe. Contra-ataque. Arrancada. E invasão da área.

Se foi pênalti? Eu daria. Vi só uma vez, mas estava de frente para o lance, atrás daquele gol. Na base do impressionismo, foi. Mas a mente já estava distorcida. Mais ainda a visão. Quem viu sem o olhar passional, é enfático: não foi pênalti. E quem sou eu, cego torcedor de arquibancada (ou cadeira ontem), para discordar?

Faltou discernimento a quem mais precisava.

Pênalti ou não, fato é que tudo começou errado. Dos pés de quem deveria ser neutro. Interferência maior não pode haver.

A esperança desabou por um mero detalhe. Centímetros. Um toque na bola e a história se repetiu. Como farsa ou tragédia, tanto fez. Não faltaram os requintes de crueldade. Restou a dignidade.

Mas, afinal, vale a pena perder com tamanha decência? Não seria melhor uma derrota contundente, sem margens para contestação? Sem honra, não seria menor o abalo psicológico?

Certeza, apenas uma: os deuses do futebol não existem - eu me enganei esse tempo todo. Se existissem, não teriam permitido tamanha injustiça. Tampouco a onipresença da sorte do nosso adversário.

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Quanta incompetência!
O 2º Batalhão de Choque é realmente incapaz de organizar qualquer tipo de evento. Segurança? Ah, pra quê? Os torcedores? Que cheguem atrasados. Que fiquem confinados no estádio até 1h15 da manhã. Que não tenham como sair pela rampa do amarelo. Que sejam obrigados a pular pelo placar - e que ainda apanhem por isso. Que sejam tratados como bandidos.

Fica aqui uma sugestão aos responsáveis pela escolta de ontem: basta um mapa de ruas para qualquer um saber que o caminho que vocês fizeram é simplesmente estúpido. Além de ser uma pilantragem com a gente, é claro. Tomem como exemplo o que aconteceu no ano passado, quando chegamos e saímos sem qualquer problema. Custava repetir o mesmo esquema?


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Recesso
Este é o último post do mês de maio. Entro em recesso, pois não quero permitir que tanta desgraça afete ainda mais a minha vida. Cumprirei a obrigação de comparecer a todos os jogos e incentivar o Palmeiras seja qual for o momento. Mas só isso. Não quero saber de imprensa babaca, indefinições sobre o novo técnico ou besteiras da diretoria. Tampouco de declarações infelizes, defuntos que escapam do túmulo ou coisas do gênero.

Preciso de distância. Vou apenas e tão somente a todos jogos - por mera obrigação. Sem comentários, debates ou discussões.

Estarei domingo em São Caetano. Também no Parque contra Cruzeiro, Santa Cruz e Grêmio. No meio, o SPFC de novo. Mas não escreverei uma linha sequer. Para o meu próprio bem.

03 maio 2006

LUTAR E HONRAR A CAMISA! ATÉ O FIM!

Pelo menos uma vitória é certa no dia que agora se inicia. E ela caberá aos destemidos guerreiros que acreditam no improvável. Que confiam não nos homens que ora nos representam, mas na camisa alviverde, de força inabalável.

A vitória caberá aos guerreiros que se mostram dispostos a empenhar a própria vida por um ideal. Que dedicam tudo o que têm por um amor, por uma bandeira, por um símbolo. Que se apegam à história para superar as mazelas de um presente pouco glorioso.

Lá estarão os guerreiros alviverdes. Muitos. Ou poucos. Mas lá estarão. Dispostos a tudo. Cantar. Pular. Vibrar. Chorar. Enfrentar a multidão do outro lado. Defender o manto alviverde.

Dentro de campo, pode até não vir a vitória. Pois ela não depende só de nós. Se dependesse, seria até covardia.

Peço desculpas se me forço agora a copiar as palavras de um post anterior, mas o fato é que o sentimento que me move é o mesmo de uma semana atrás. E eu sinceramente não seria capaz de escrever coisa melhor. Fica a mensagem final para mais este clássico decisivo:

Não é hora de esmorecer.
O momento é de união. De fé.

A fé que tiramos sabe-se lá de onde. Que vem repleta de irracionalidade, mas essencialmente de amor. Do mais puro amor. Do sentimento mais belo que pode existir por um clube, por um símbolo, por um ideal. A fé que nos leva a acreditar no inacreditável. Que nos leva a considerar possível o que não é. Que nos leva a sonhar com o irreal.

Sim, podemos morrer.
E é o mais provável.
Mas morreremos juntos.
Lutando.
Com dignidade.

Morreremos no campo de batalha.
Contra o pior inimigo.
De pé.
Amando.
E odiando.

Mas podemos também renascer...

O futebol nos permite sonhar.
Mais do que ele, o Palmeiras.

O Campeão do Século.
O maior entre os maiores.
O grande Palestra Itália.

Aquele que nunca fugiu à luta!
E que nunca o fará!

Será - se tiver de ser - um renascimento tão belo quanto a história que emoldura nossas poucas, mas sinceras, esperanças.

Difícil acreditar, mas faremos a parte que nos cabe.

Perservar!
Lutar!
Não desistir!
Resistir!

Porque nós somos Palmeiras!

E enquanto houver Palmeiras, haverá esperança!

À BATALHA, GUERREIROS!

***

Caravana da Mancha
Saída da Turiassu: 19h
/ R$ 10

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Olê, Olê...
Oleeeeeee, olê, olê
Eu canto
Eu sou Palmeiras até morrer!!!

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Aos que fogem à luta,

Deixar de ir à batalha de hoje é se acovardar. Pode parecer exagerado, eu reconheço, mas fica aqui um breve diálogo bélico extraído de Braveheart (1995). Na batalha de Stirling, algumas centenas de escoceses devem entrar em combate com milhares de ingleses. Com as devidas adaptações, vale a reflexão:

Guerreiro 1: We didn't come here to fight for them.

Guerreiro 2: Go home, the English are too many!

William Wallace: You´ve come to fight as free men, and free man you are. What will you do without freedom? Will you fight?

Guerreiro 1: Against that? No, we'll run, and we'll live.

William Wallace: Aye, fight and you may die! Run, and you will live. At least for a while. And dying in your beds many, many years from now, would you be willing to trade all the days, from this day to that, for one chance, just one chance, to come back here and tell our enemies that they may take our lives, but they'll never take our freedom!